“Eu sou viado, sou gay, sou bichinha, eu sou isso mesmo”: sujeitos da educação profissional e enfrentamentos à cis heteronormatividade (original) (raw)

2021, Revista COR LGBTQIA+, v. 1, n. 1, p. 29-37, jul

Os Institutos Federais podem ser caracterizados como “instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurricular e multicampi, especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino” (BRASIL, 2008), passando a ter a obrigatoriedade de oferecer no mínimo 50% dos seus cursos de Educação Profissional, prioritariamente na modalidade integrada ao Ensino Médio, inclusive para o público de jovens e adultos, conforme disposto no artigo 8º da Lei nº 11.892/08, que cria os Institutos Federais. A formação profissional na Rede Federal é herdeira histórica da cultura "dos coronéis e bacharéis", de forte estigma escravocrata e de uma perspectiva filantrópica (MOURA, 2007). O Ensino Médio Integrado (Decreto nº 5.154/2004), enquanto modalidade curricular da Educação Profissional, carrega na sua concepção o desafio de superar a dualidade estrutural, ou seja, superar a prática de caminhos formativos diferentes segundo a classe social, desfazer a distância entre a “escola do dizer” e “a escola do fazer” (NOSELLA, 1995) - herdada desta antiga concepção de educação (FRIGOTTO, CIAVATTA; RAMOS, 2011). Atualmente, na perspectiva da autonomia e emancipação humana, o Ensino Médio Integrado ofertado nos Institutos Federais fundamenta-se teórico e metodologicamente em uma concepção de formação omnilateral, politécnica ou integral, cuja gênese está na obra de Marx e Engels, bem como na escola unitária de Gramsci (MOURA, 2013). A escola unitária elementar e média deve educar de forma conjunta para as atividades intelectuais e manuais e propiciar uma orientação múltipla em relação às futuras atividades profissionais, sem predeterminar escolhas (MANACORDA,1990). Assim, afirmamos que não é possível uma educação politécnica em uma escola unitária sem discutir diversidades de gênero, sexualidade e orientação sexual. Defendemos que, na perspectiva de contribuir para a superação das dualidades estruturais, fundada em uma condição de classe, é necessário articular outras dimensões da vida dos estudantes do Ensino Médio Integrado às categorias de gênero, orientação sexual, raça como importantes componentes para pensar a formação humana integral (NETO; CAVALCANTI; GLEYSE, 2018; GEMAQUE, 2020; NETO; RODRIGUES; CAVALCANTI; RAMEH-DEALBUQUERQUE, 2020).