Um museu «instrutivo e agradavel». José de Figueiredo e a (re)organização do Museu Nacional de Arte Antiga (1911-1937): conceitos e práticas (original) (raw)
Em junho de 1911 José de Figueiredo (1871-1937) tomou posse da direção do recém-instituído Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), formado por extinção do antigo Museu Nacional de Belas-Artes. A sua nomeação para este cargo, ocorrida na sequência da reorganização artística e patrimonial republicana (decreto de 26 de maio de 1911, do qual foi um dos mentores), foi o reconhecimento da sua ação enquanto membro da Academia Real de Belas-Artes de Lisboa e marcou início de 26 anos de ação à frente daquela instituição. Depois de tecer, ao longo dos seus primeiros anos de atividade, fortes críticas à desorganização dos museus portugueses e à falta de teor pedagógico na apresentação das suas coleções, Figueiredo tinha agora a oportunidade de levar a cabo um programa ambicioso que tinha como objetivo melhorar o MNAA «tanto quanto possível» (O Século, 26 de julho de 1911), tornando-o «simultaneamente instrutivo e agradavel, educando sem cançar (sic)» (carta de José de Figueiredo, 9 de fevereiro de 1936). À frente daquela instituição a sua ação ficou recordada como a «revolução de Figueiredo», não só devido à modernização museográfica que fomentou , mas também devido ao incentivo que deu ao desenvolvimento de todas as áreas funcionais do museu (investigação, conservação e restauro, divulgação, educação). Nesta comunicação propomos dar a conhecer o processo de reorganização do Museu Nacional de Arte Antiga no período da direção de José de Figueiredo (1911-1937). Será dado especial enfoque à base conceptual que esteve por trás da sua ação, marcada pelos discursos identitários nacionalistas que pautavam o desenvolvimento da historiografia da arte europeia, e concretizada através da constante tentativa de apresentar as obras de arte num ambiente que as enaltecesse artística e esteticamente, sem prejuízo da sua valorização científica, histórica e pedagógica. Analisaremos também como as suas ideias e práticas se enquadraram no contexto de desenvolvimento da museologia da arte europeia nas primeiras décadas do século XX, período em que esta disciplina, simultaneamente entendida como «ciência» e «arte» (VERNE, 1932), se definiu na aceção moderna do termo.