HEGEL E A TRADIÇÃO HERMÉTICA (original) (raw)
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A filosofia de Hegel se constrói sobre a base de um constante diálogo com diferentes modos de se fazer filosofia. Este diálogo consiste, por um lado, em uma espécie de reflexão filosófica sobre a tradição, desde seus primórdios antigos, e, por outro lado, em uma crítica contra as formas do pensar contemporâneas a ele, as quais por sua vez também discutem com a tradição. No que diz respeito à tradição, Hegel não se incomoda em nomear algumas vezes seus ilustres interlocutores, embora seja próprio de seu estilo transfigurá-los em simples e esquemáticas figuras da consciência; do espírito; da moralidade; da filosofia: Gestalten do próprio pensar ou formas do próprio saber. Mas em relação aos intelectuais de seu tempo, as referências explícitas se escasseiam, e é necessário apurar muito bem os ouvidos para identificar as vozes que se insurgem em importantes polêmicas, típicas de sua época. Essa identificação é difícil, não apenas por isto que chamo de recurso da transfiguração, mas sobretudo pela estratégia muito consciente de Hegel de absorver determinadas críticas contra sua própria forma de conceber a filosofia, de modo a resolvê-las, a partir de suas contradições próprias, e de, aprendendo com elas, evitar cair ele mesmo em paradoxos insolúveis. Alguns exemplos de temas polêmicos em voga na primeira metade do século XIX são a discussão em torno do ceticismo radical, ou sobre a impossibilidade da apreensão total da verdade; a discussão em torno do fenômeno da obra de arte; a questão sobre o absoluto, bem como sobre o seu saber; a polêmica sobre a relação entre filosofia e poesia e entre filosofia e religião; a questão da possibilidade de uma nova mitologia; a discussão a respeito da forma simbólica ou alegórica de se apresentar a filosofia, e muitos outros temas, incluindo aqueles especificamente de cunho político, como sobre o conceito de Estado ou sobre a possibilidade da revolução etc. A maioria destas polêmicas se deu entre os principais autores da filosofia clássica alemã, como Fichte, Jacobi, Schelling e Hegel e do movimento do primeiro romantismo, como Jean Paul, Friedrich Schlegel e Novalis. O principal trabalho que reúne de forma excepcionalmente sistemática estes e outros grandes temas polêmicos do período em torno da virada Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer
A TRADIÇÃO HESICASTA E O ÍCONE DA SANTÍSSIMA TRINDADE DE RUBLEV
Resumo: Hesicasmo é a tradição de vida monástica originada no século III, no deserto egípcio, e que nunca foi interrompida na Igreja oriental. Pregava a ascese e ensinava métodos de postura e oração contínua, para um esvaziar da vontade e do pensamento do monge, possibilitando que a luz incriada o penetrasse, transfigurando-o. Após o hesicasmo tornar-se dogma da Igreja ortodoxa, em 1351, passa a influenciar as artes tanto em Bizâncio como no mundo eslavo. A comunicação tem por objetivo apresentar a tradição hesicasta dos Padres do deserto e sua 'oração do coração'. Em seguida, observaremos a influência do dogma sobre o monge iconógrafo russo, Andrei Rublev que fora solicitado a escrever o ícone da Santíssima Trindade em homenagem a São Sérgio de Radonej, dada a afinidade do santo com a Trindade Santa. Verificaremos como Rublev contribuiu para a consolidação da tipologia do ícone trinitário e a forma que trabalhou os ensinamentos hesicastas em sua obra. Por fim, analisaremos a atualidade e a relevância da tradição hesicasta e sua oração para o terceiro decênio do século XXI.
A PEDAGOGIA DE HEGEL COMO EXPRESSÃO DE SUA CRÍTICA SISTEMÁTI-CA AO ILUMINISMO MODERNO
Ediovani Antonio Gaboardi
Hegel não dedicou uma obra sistemática específica sobre a Educação. Entretanto, seu vínculo profissional com a temática foi constante. Aos 23 anos, tornou-se preceptor em Berna, atividade que exerceu também em Frankfurt, até tornar-se Professor da Universidade de Jena em 1801. Obrigado a deixar Jena em virtude da invasão napoleônica, ele acaba assumindo o cargo de professor e diretor do Ginásio de Nuremberg, graças a seu amigo e protetor Immanuel Niethammer, então Conselheiro superior das escolas e dos cultos para a confissão protestante. Aliás, devido a essa circunstância, Hegel assume a incumbência de implantar as reformas de ensino planejadas por ele e outros na Normativa para a organização dos estabelecimentos de ensino público do Reino (FERNANDES, 1994, p. 7). Durante esse período (1808 a 1816), exerce também a função de Conselheiro escolar, o que o obriga a entrar em contato com as questões político-pedagógicas inerentes à organização das instituições de ensino. Depois destes 8 anos fora da universidade e vinculado ao ensino ginasial, Hegel finalmente recebe uma cátedra em Heidelberg (1816) e depois em Berlim (1818, substituindo Fichte). Em 1830, um ano antes de sua morte, torna-se reitor desta universidade, um símbolo da reforma humanista proposta por Wilhelm von Humboldt (LUZURIAGA, 1990, p. 184). Em função de sua atividade pedagógica, especialmente no período de 1808 a 1816, Hegel elaborou alguns textos tratando de questões educacionais na forma de discursos, cartas e relatórios, além de estudos apresentando didaticamente partes de seu sistema (reunidos na edição conhecida como Propedêutica filosófica). Hegel já havia escrito a Fenomenologia do espírito e nesse período publicou os três volumes da Ciência da lógica (1812, 1813 e 1816).
A DIALÉTICA DO COMEÇO NA LÓGICA DE HEGEL
2021
Resumo: O objetivo deste artigo é expor as determinações mais primárias da Lógica hegeliana a partir do sistema de mediações imanentes ao ser. Segundo a filosofia dialético-especulativa, o estatuto necessário do começo deve apresentar um caráter lógico-ontológico e assumir o movimento como núcleo de toda efetividade (Wirklichkeit), desde a contradição entre ser e nada que subjaz o puro intuir até as formas mais desenvolvidas do absoluto. O ponto de partida de Hegel é o indeterminado, que existe apenas como operação lógico-abstrata ou representação fixada no pensar, sem qualquer pressuposto ou arbitrariedade deletéria. Absolutamente vazio, sem conteúdo e indiferente, o puro ser é indubitavelmente o verdadeiro começo.
This work aims to analyze the historiographical conditions in which the Grundlage der Gesamten Wissenschaftslehre (1794) arrives at Hegel in his early period as academic in Jena. This work hypothesizes that the first hegelian text talking about the fichtean philosophy published, the so-called Differenzschrift, has a strong influence from the interpretation of J.G Fichte's philosophy as a subjectivism, a usual critique of the Wissenschaftslehre in that time. Therefore, first, the present research concentrates its efforts to explain the most famous debate about the question of (supposed) Fichte's subjectivism occurred between the F.H Jacobi and the Fichte himself between 1799 and 1800. Second, the research turns its attention to the introduction of Fichte's work in the Tübingen Stift, especially, to the interpretations by Hölderlin, Hegel, and Schelling and how these philosophers understand it and share them views with each other about it. Third and last, this work deal with how Fichte's philosophy arrives at Hegel and how the last one dialogue with his contemporaries about the problems of this philosophy. We believe that through this inquiry, the Hegel's reading of the Fichte's texts becomes clearer and, at the same time, shows the importance of the other contemporary authors to the construction of it.
A CONSCIÊNCIA NA INTRODUÇÃO DA FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO DE HEGEL
Resumo: O objetivo do presente estudo é traçar uma compreensão da Introdução da Fenomenologia do Espírito, obra publicada em 1807 pelo filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830). O que irá nortear essa compreensão é o conceito de Consciência, que nos possibilita entender o sentido da trajetória da Consciência descrito nessa introdução. Para tanto, utilizaremos a 4ª edição, publicada em 2007, da tradução feita por Paulo Meneses, publicada no ano 2002. Palavras-Chave: Consciência, Verdade, Ciência. presente texto é um estudo da Introdução à Fenomenologia do Espírito, obra publicada em 1807 pelo filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830). O que irá nortear esse nosso estudo é o conceito de consciência, que nos possibilita entender o sentido da trajetória da Consciência descrito nessa introdução. É Jean Hyppolite, clássico comentador da obra hegeliana, quem nos esclarece acerca desse conceito de Consciência, originário provavelmente de uma interpretação e desenvolvimento da filosofia kantiana. Quando o entendimento empírico conhece seu objetoisto é, a natureza -, e pela experiência descobre a multiplicidade das leis particulares, imagina conhecer um outro que não ele mesmo; entretanto, a reflexão que constitui precisamente a crítica da razão pura mostra que tal conhecimento de um Outro só é possível por meio de uma unidade originária sinteticamente, de tal modo que as condições do objeto, da natureza precisamente, sejam as condições mesmas do saber dessa natureza. No saber da natureza, portanto, o entendimento sabe-se a si mesmo; assim, seu saber do Outro é um saber de si, um saber do saber, e o mundo é o "grande espelho" onde a consciência descobre a si mesma 1 . A partir do exposto podemos entender que para Hegel Consciência é precisamente consciência de si, autoconsciênciaseu saber do Outro é um saber de si. A palavra consciência denota conhecimento, 1 HYPPOLITE, Jean. Gênese e estrutura da Fenomenologia do espírito de Hegel. Tradução de Sílvio Rosa Filho. São Paulo: Discurso Editorial, 1999. O SILVA, Samuel -2 -"Existência e Arte"-Revista Eletrônica do Grupo PET -Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei -Ano IV -Número IVjaneiro a dezembro de 2008. 1946/1999, p. 38). Quer dizer, Consciência é o saber (de si) para si própria, ao mesmo tempo que a Consciência é o saber de si enquanto sendo a verdade, ela é consciência (saber) desse saber de si enquanto verdade. Sendo assim, ela possui dois momentos: o momento do saber, que é o modo como a Consciência existe para si; e o momento da verdade, que é o modo como a Consciência é em si. Apesar de só possuir o saber da verdade no fim do processo, a Consciência é a própria dicotomia entre saber e verdade. Pois, como já foi dito, seu saber é um saber de si, e a verdade só é ela mesma, ou seja, tudo se dá na forma de uma relação interna de si consigo mesma; essa é a solução. A princípio, Hegel chama esse saber de conceito e a verdade de objeto, para efeito de uma distinção, mas, adiante alega que a denominação é algo de pouca importância. O importante é que entendamos que ambos são apenas duas facetas de uma mesma Consciência, onde uma (a verdade, o ser-em-si da Consciência) é o padrão de medida da outra (o saber) no movimento de construção da ciência da Consciência. E a meta desse movimento é o momento em que ambas se correspondem na mesma medida, em que o conceito corresponda ao objeto e o objeto ao conceito (Hegel, 1807/2007, p.76).
HEGEL E A DIVINA NATUREZA DA LINGUAGEM HEGEL AND THE DIVINE NATURE OF LANGUAGE
REVISTA REFLEXÕES, 2023
Trata-se de revisitar o capítulo dedicado à certeza sensível, na Fenomenologia do espírito, de Hegel, a fim de reconstruir seus argumentos e mostrar o caráter incontornável da linguagem, o qual consideramos o solo pré-fenomenológico do Espírito. O hegelianismo, segundo a expressão de Lebrun, passa a ser compreendido como uma formidável máquina de linguagem. A Certeza Sensível é a primeira etapa de uma consciência singular (ingênua/natural) em direção ao Saber Absoluto, no qual se expõe uma tentativa de destruir a imediateidade, ou seja, o isto. O imediato é retido sob a forma da mediação, e não há, em última instância, uma singularidade imediata que, de algum modo, poderia se preservar do domínio da linguagem: não existe silêncio ontológico! Aliás, apenas a linguagem é capaz de dizer o silêncio. Noutras palavras, é preciso realizar inúmeras mediações para conceber o que se pretende como imediato. Portanto, o verdadeiro saber não está ao lado de uma experiência cega e tateante do imediato, mas ao lado da universalidade da linguagem.