A escrita do deslocamento: intelectuais exilados e literatura de exílio (original) (raw)
Related papers
Algumas reflexões introdutórias sobre exílio e literatura (À guisa de apresentação)
Revista Conexão Letras, 2020
Exílio – pequena palavra em que cabe uma numerosa diversidade de ocorrências, situações, realidades concretas. Quantas vivências, representações e imagens nela ressoam? Quantas impressões, evocações e associações ela contém? Quantas emoções, sentimentos e ressentimentos ela condensa? Quantas alegrias e felicidades, quantos abalos, feridas, traumas, destruições? Uma infinidade!Porém, se nos circunscrevermos à caracterização do fenômeno e à definição lexical do termo, constata-se que a polissemia do vocábulo costuma remeter a três tipos de situação, causa ou motivação do exílio.
Apontamentos sobre o exílio: ou a literatura como um reino
Scriptorium, 2017
Este estudo visa discutir o tema do exilio por meio da vida e obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena e Jose Saramago, escritores portugueses do seculo XX. Tambem serao abordados, em dialogo, outros autores e pensadores marcados pelo degredo. Entretanto, pretendemos privilegiar o romance Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, como objeto de analise, a fim de iluminar nocoes menos convencionais de exilio.
Figurações do deslocamento nas literaturas das Américas
Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, 2007
Por um conceito de deslocamento Em Física, o deslocamento de um corpo é definido como a variação de posição de um móvel dentro de uma trajetória determinada. O deslocamento representa a porção da trajetória pela qual o móvel se deslocou. No espaço cartesiano, o vetor do deslocamento une o ponto de partida ao ponto de chegada. A palavra tem também o sentido de migração por perseguições ou violência (ex: los desplazados, na Colômbia) e, em psicologia, remete a um mecanismo subconsciente de defesa que faz com que um sujeito desloque, por exemplo, o objeto de seu afeto de um ser a outro.
2021
Resumo: A temática da migração está intimamente vinculada à história humana, desde a narrativa bíblica da expulsão do paraíso. O ser humano não apenas empregou técnicas cada vez mais sofisticadas para a violência, como também transmitiu, através dos séculos, técnicas de conservação e uso de seu saberconviver. Nesse sentido móvel da história, e em consonância com as literaturas do mundo, a partir de suas diversas origens, é possível dizer que existe um "Homo migrans" desde que existe o "Homo sapiens". Assim, é possível afirmar que as ideias territoriais ou territorializantes com proveniência histórico-espacial permitem, vez ou outra, reconhecer seus esforços para filtrar e isolar a dimensão histórico-móvel e vetorial da história como narrativa, para tentar construir, com a ajuda de ideias estáticas, novos lugares da promessa ou da perda, da abundância ou da queda. Palavras-chave: Migração; saberconviver; literaturas do mundo. Resumen: El tema de la migración está estrechamente vinculado a la historia de la humanidad, desde la narrativa bíblica de la expulsión del paraíso. El ser humano no sólo ha empleado técnicas cada vez más sofisticadas para ejercer la violencia, sino que también ha transmitido, a lo largo de los siglos, técnicas de conservación y utilización de su saberconvivir. En este sentido móvil de la historia, y en consonancia con las literaturas del mundo, desde sus diversos orígenes, se puede decir que hay un "Homo migrans" desde que existe el "Homo sapiens". Así, es posible afirmar que las ideas territoriales o territorializadoras de procedencia histórico-espacial permiten, una y otra vez, reconocer sus esfuerzos por filtrar y aislar la dimensión histórico-móvil y vectorial de la historia como narrativa, para intentar construir, con la ayuda de las ideas estáticas, nuevos lugares de promesa o de pérdida, de abundancia o de caída. Palabras clave: Migración; saberconvivir; literaturas del mundo.
Revista do Centro de Estudos Portugueses
Resumo: Como é que três escritoras oriundas de Angola e Moçambique representam, em três romances escritos em 2009 e 2011, o movimento de retorno forçado a Portugal em 1975? Como se articulam memórias individuais e história? Quais as implicações da focalização narrativa? Estas e outras questões decorrem do quadro histórico e teórico representado nos romances: o do Portugal colonial e pós-colonial. O conceito de “retorno” permite aprofundar a questão da identidade individual e nacional e avançar algumas reflexões sobre um tema que ganha se cruzarmos diferentes ferramentas teóricas: estudos pós-coloniais, imagologia, estudos de género e narratologia.Palavras-chave: retornados; identidade; subjetividade; colonialismo; pós-colonialismo.: How do three women writers from Angola and Mozambique represent, in novels written in 2009 and 2011, the historic movement of forced return to Portugal in 1975? How are individual memoirs and history articulated, and what are the implications of narrativ...
Políticas na exterioridadenotas sobre o exílio de escritores latinoamericanos
… de Pós-Graduação em História da …, 2009
Resumo: O artigo analisa alguns escritores latinoamericanos obrigados a deixar seus países por perseguições políticas nos séculos XIX e XX. O exílio como imposição política é notadamente distinto da emigração, esta última geralmente decorrente de conjunturas econômicas mas também por opção pessoal. A condição de escritor exilado constituiu uma dupla exterioridade: Ao mesmo tempo em que interferiu na atuação política e na vida privada destes escritores, o exilio também influiu na respectiva produção e divulgação da literatura latinoamericana.
Reinvenções de si: o exílio como deslocamento e crítica
Resumo A partir das trajetórias intelectuais de Otto Maria Carpeaux, Villem Flusser e Stefan Zweig, três exilados da perseguição nazista dos anos de 1930, esse artigo propõe uma reflexão sobre a experiência exilar. Como membros de uma comunidade instável de deslocados, as obras desses intelectuais são fundamentais para entendermos os tempos agudos de intolerância política que marcou a história do século XX. Abstract From the intellectual trajectories of Otto Maria Carpeaux , Villem Flusser and Stefan Zweig , three exiles from Nazi persecution of the 1930s , this paper proposes a reflection on the exile experience. As members of an unstable community of displaced people, the works of these intellectuals are fundamental to understand the acute times of political intolerance that marked the history of the twentieth century.
Narrativas de Deslocamento na Literatura Brasileira Contemporânea
O conceito de viagem, de acordo com Caren Kaplan, Questions of Travel: Postmodern Discourses of Displacement (1996), se transformou em uma referência a movimentos populacionais, bem como em uma metaforização de processos de questionamento identitários essencializados. Nesse sentido, Kaplan parte do pressuposto de que a subjetividade moderna sempre valorizou a mobilidade e de que, se a viagem foi tão central para a constituição desta subjetividade, uma análise do deslocamento deveria se tornar uma prioridade para o discurso crítico da contemporaneidade (32). Tomando como pressuposto esta necessidade crítica, este trabalho tem como objetivo discutir as implicações do deslocamento transnacional no contexto da literatura brasileira contemporânea. Mais especificamente, a base para esta discussão está estruturada em dois romances: Viagem ao México 1995), de Silviano Santiago (1936 -) e Berkeley em Bellagio (2002), de João Gilberto Noll (1946 -). Apesar de suas diferenças específicas, esses dois romances constituem a metáfora do deslocamento como um gesto de confrontamento de formações autoritárias, de identidade cultural e de sistema político. Em Silviano Santiago, o deslocamento aparece como um mecanismo de produção de conhecimento histórico sobre a formação cultural latino-americana. Nesse sentido, Viagem ao México funciona como revelador dos modos de resistência, assimilação e transformação do eu e do outro[1]. Esta recuperação histórica da formação discursiva latino-americana na escrita de Silviano Santiago constitui, portanto, uma representação do debate pós-colonial no contexto da América Latina, trazendo à tona uma dimensão teórica que pode ser considerada metanarrativa, a partir da nomenclatura de Linda Hutcheon (1988). Viagem ao México realiza uma discussão sutil e astuciosa das tensões em torno do projeto civilizatório Ocidental diante do desafio do encontro entre o euporeu e o latino-americano, bem dos próprios latino-americanos entre si. No caso de João Gilberto Noll, a metáfora do deslocamento funciona como a representação de uma viagem aos processos subjetivos que constituem seus personagens, mas sem a dimensão histórica construída por Silviano Santiago em Viagem ao México. A viagem rumo ao espaço do outro torna-se o desencadeador de um processo de auto-análise, a partir do reconhecimento da diferença que constitui toda identidade. A viagem em João Gilberto Noll é feita para conhecer o outro, que está fora do sujeito, mas que, em certo sentido, está nele próprio (Kristeva, 1991; Young, 2001: 425) [2]. Apesar dos traços distintivos presentes nesses dois romances, um elemento unifica essas duas performances representativas do deslocamento: dramatiza-se nestes romances o percurso de constituição dos sujeitos na/pela linguagem. É fundamental assinalar que tais gestos representativos revelam também uma reflexão sobre o próprio ato de narrar a viagem e o encontro com o "novo" e com a diferença. Esses dois romances brasileiros contemporâneos constituem suas especificidades, enquanto discurso literário, conscientes das implicações do eu na construção do outro e em busca de formações culturais menos autoritárias.[3]