Editar livros com os índios: caminhos do pensamento vivo (original) (raw)
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FÁBRICA DA FLORESTA: A edição de livros indígenas como prática orgânica
FÁBRICA DA FLORESTA: A edição de livros indígenas como prática orgânica, 2021
Fruto das lutas e conquistas políticas dos povos indígenas do final do século XX há hoje uma vasta bibliografia de autoria indígena no Brasil. Parte dela, identificada nesta tese como Literatura Indígena, tem sido publicada, desde a década de 1990, por editoras comerciais; a outra, aqui chamada de Livros da Floresta, é realizada no contexto das escolas diferenciadas indígenas desde o final dos anos 1970. A presente tese se dedica ao estudo dessa bibliografia do ponto de vista de suas características editoriais, comparando os modos de produção industrial por meio da qual a Literatura Indígena é publicada ao modo orgânico e coletivo da edição dos Livros da Floresta. Sem buscar criar hierarquias de valor entre elas, a comparação visa demonstrar como ambas são complementares do ponto de vista político. Dedicando-se ao aprofundamento das características editoriais dos Livros da Floresta, demonstra como a edição é deslocada de uma trajetória histórica do uso da escrita e do livro como ferramentas de colonização, e passa a ser um método de reflexão e revitalização de conhecimentos e línguas indígenas. Para tanto, tendo como fonte bibliográfica principalmente os paratextos editoriais presentes em tais publicações, realiza uma descrição dos processos de edição dos Livros da Floresta, dando destaque à construção da autoria – por meio do nome de autor – e ao trabalho de preparação de textos. A tese inclui dois apêndices contendo, o primeiro, a relação dos Livros da Floresta estudados ao longo dos capítulos e, o segundo, um levantamento bibliográfico das publicações indígenas contemporâneas no Brasil.
Professores indígenas: atores de pesquisa e autores de livros
Nesse artigo, apresento um panorama da educação escolar indígena na Bahia, dando ênfase aos primeiros resultados obtidos com a realização de programas de formação inicial e continuada de professores indígenas, com os mesmos passando a assumir, de forma autônoma, a condução do processo educacional em suas aldeias. Destaco ainda a importância desses programas em relação ao domínio pelos professores indígenas de teorias e métodos de pesquisa mais adequados ao registro da tradição oral e a produção de matérias didáticos para suas escolas.
Antes o mundo não existia: imaginário das línguas e livros de autoria indígena
Raído
Ainda que permaneça demasiadamente aberta a pergunta sobre o que seja um livro indígena (seja pela presença indígena como tema, autoria, personagem, etc), tais livros ocupam cada vez mais a cena literária brasileira. É sabido que apenas a partir do final da década de 1970, a figura do autor indígena surge no mercado editorial brasileiro. A literatura de autoria indígena, registrada e transmitida por meio de livros, como ato político, tradutório e (inter)cultural por excelência, permite-nos pensar a escrita literária como índice identitário, isto é, como construção de imagem de si e como abertura ao outro, como relação? Por essa via, propomos a leitura dos livros de autorias indígenas, como ato performático que deseja dialogar de modo emancipatório com uma comunidade de leitores, em meio a diferenças culturais irredutíveis e em meio à invenção de regimes discursivos heteróclitos, verbais e visuais. No momento em que a pergunta sobre a autoria indígena parece se colocar, por fim, como...
Literatura de autoria indígena no Brasil
Revista Todas as Musas, 2023
Outras formas de ler a literatura de autoria indígena no Brasil estão também presentes nos modos como os artistas indígenas criam suas artes visuais e nos convidam a pensar uma literatura que sempre esteve fora do livro, fora do lugar, expandida. Essas noções - literatura expandida (PATO, 2012), literatura fora do lugar (BRAVO, 2014), literaturas pós-autônomas (LUDMER, 2007) ou literatura fora de si (BRIZUELA, 2014) – são continuamente utilizadas hoje para tratar das artes relacionais e do modo como a literatura possui uma série de outras composições que a expande, criando paisagens e lugares inespecíficos para seus circuitos, ao mesmo tempo em que traduz o que seria sua presença neles. Mas quais são essas outras paisagens, essa presença, essas outras tecnias? Quais são as principais perspectivas teóricas e críticas que emergem da leitura dessas produções? Como pensar o/a indígena artista escritor/a? Para refletir essas questões, apresento e discuto como essa literatura vem sendo produzida pelos artistas visuais indígenas que hoje são referenciados no mercado das artes dentro e fora do Brasil.
Conversações sobre povos indígenas em práxis autobiográficas
Pontos de Interrogação — Revista de Crítica Cultural
Desde a promulgação dos seus direitos na Constituição de 1988, as assinaturas coletivas dos povos indígenas no Brasil são representativas de uma série de narrativas identitárias configuradas pelos próprios indígenas para dizerem quem são, onde e como querem viver e como desejam ser vistos e respeitados. Há, no entanto, uma lacuna significativa na abordagem dessas textualidades quando pensadas como práticas (auto) biográficas, produzidas tanto no protagonismo coletivo dos povos em suas lutas políticas, quanto na emergência autoral do sujeito histórico indígena, no campo da crítica etnográfica e literária no Brasil. É na esteira desse cenário que pretendemos apresentar uma discussão sobre os povos indígenas em práxis biográficas e autobiográficas, analisando o que dizem as assinaturas coletivas, presentes nessas narrativas, e como os nomes próprios dos chamados índios no Brasil são construídos e significam em nome do grupo.
Resumo No decorrer do século XIX, ocorreu uma acirrada discussão sobre o lugar do índio na constituição da sociedade brasileira. Podemos destacar duas vertentes principais de abordagem: a Romântica e outra vertente, à figura de Varnhagen. Assim, o presente trabalho tem por intenção discutir as modificações e permanências desses discursos, a partir de uma análise do livro de leitura " Através do Brasil " , escrito por Olavo Bilac e Manoel Bomfim, publicado pela primeira vez em 1910. Os li-vros de leituras, materiais escolares utilizados no período republicano estipulado, foram de grande importância para a construção de uma determinada memória so-bre os indígenas brasileiros, principalmente a partir da noção de memória coletiva. Abstract During the 19th century a ferocious debate took place in Brazil, about the place of the American Indian in Brazilian society. Two tendencies can be emphasized: the Romantic and another one, linked to Adolfo de Varnhagen. Thus, the present paper in tends to discuss the modifications and persistence of these discourses, based on the reading book (livro de leitura) analysis of " Através do Brasil " , written by Olavo Bilac e Manoel Bomfim, published for the first time in 1910. The reading books, a kind of school material which was used in the republican period, were important to create a public memory about Brazilian indians, especially referring to a collective memory notion. Indian People Through Reading: narrative possibilities about indian people in " Através do Brasil " , by Olavo Bilac and Manoel Bomfim**