Coleções canônicas e autoridade dos bispos na alta Idade Média (original) (raw)

Dízimo e autoridade papal no desenvolvimento das coleções de direito canônico medieval (séculos XII-XIII) TITHES AND PAPAL AUTHORITY IN THE DEVELOPMENT OF MEDIEVAL CANON LAW COLLECTIONS (12 TH -13 TH CENTURIES

Resumo: O Direito Canônico medieval se transformou a partir de meados do século XII com a organização de inúmeras compilações que buscavam sistematizar o conhecimento jurídico do período e oferecer ao mesmo tempo ferramentas de estudo e uso prático. Ao acompanhar o percurso dessas coleções, particularmente a partir do lugar concedido à discussão sobre dízimos, podemos observar como se deu o envolvimento do papado no processo de consolidação do direito canônico como um instrumento importante de definição de autoridade e jurisdição. Abstract Medieval Canon Law was transformed from the middle of the 12 th century onwards with the organization of countless compilations that attempted to systematize the period ' s juridical knowledge offering, at the same time, tools for the study of laws as well as for their practical application. Following the development of these collections, particularly through the place given to the discussion on tithes, we can observe the papacy 's involvement in the process of consolidation of canon law as an important instrument for the definition of authority and jurisdiction.

O poder dos bispos no Império Português: São Paulo (1771-1824)

O livro investiga as formas cotidianas de relacionamento entre as autoridades laicas e eclesiásticas na porção americana do império português, especialmente na capitania e bispado de São Paulo. Estabelece comparações com outras experiências portuguesas e com algumas outras metrópoles, recolocando o lugar de Portugal no cenário metropolitano europeu, como tem feito recentemente a historiografia portuguesa, no que toca à administração religiosa na manutenção do poder imperial português. A obra retoma as relações entre os bispos, autoridades máximas da Igreja em terras coloniais, com algumas instituições importantes do Antigo Regime: o Conselho Ultramarino, a Mesa de Consciência e Ordens, alguns ministérios e a Coroa portuguesa. Em momentos oportunos as relações da Coroa com a Santa Sé também são retratadas. O período abordado é instigante, pois é o momento de grandes superações que levariam à destituição do Antigo Regime. Assim, a obra recompõe parte significativa da teia de comportamentos que conferia concretude, longevidade e perpetuação da monarquia de direito divino, na forma como era assumida em Portugal nas últimas décadas do século XVIII e início do XIX. Tal concepção de monarquia é fundamental para se pensar historicamente o imbricamento entre política e religião. A autora problematiza a assertiva de que o padroado foi o “cárcere de ouro” da Igreja colonial, leitura construída no século XIX em meio à discussão entre ultramontanos e o clero brasileiro do período, com duradoura ressonância nos estudos do século XX. Para a autora, os bispos não eram nem absolutamente submissos nem totalmente autônomos em relação à Coroa, aos govenadores e aos fiéis, mas ainda assim, partilhavam dos objetivos das outras autoridades coloniais que davam sustentação à monarquia. Entretanto, a situação vantajosa dos bispos em relação aos seculares fica demonstrada, em vista da perenidade dos seus cargos, da excelência de sua formação e da importância política do episcopado na manutenção da monarquia portuguesa. A leitura do O poder dos bispos no império português ampliará a compreensão do leitor do lugar ocupado pela Igreja na época moderna, especialmente na América portuguesa. Uma vez que, em geral, continua a predominar entre nós uma visão historiográfica, muito embora atenta aos elementos econômicos, sociopolíticos e culturais, que ainda tem dificuldade de entender a centralidade da Igreja no arcabouço da sociedade colonial.

O bispo e o patrimônio eclesiástico no reino visigodo: análise comparada entre as atas conciliares toledanas e provinciais (séculos VI-VII)

Este trabalho diz respeito ao processo de institucionalização do clero cristão niceno e seu patrimônio no reino visigodo na Península Ibérica. Percebemos em finais do século VI a ascensão do Cristinismo niceno ao posto de principal produtor ideológico do período. Simultaneamente, a afirmação da autoridade episcopal adota contornos senhoriais, com o processo de incrementação de suas propriedades e poder político em âmbito local. Isto leva a uma constante tensão entre o crescimento do domínio pessoal dos bispos e a perda do caráter administrativo de seu cargo. No entanto, devemos compreender que esta complexa relação entre poder pessoal e poder institucional não significa um desvio à norma legislativa ou alguma forma de corruptela do cargo diocesano, muito pelo contrário, é inerente a esta posição.

(2019) SILVA, P.D. Pregação, festa e poder: bispos em ação na Primeira Idade Média (440-580).

2019

Considerações iniciais Nos últimos cinco anos, diversas publicações nacionais trouxeram à tona a "pregação medieval" como tema de investigação. Dentre outros, do livro autoral do professor André Miatello (2013) às obras coletivas organizadas pelas professoras Néri Almeida e Eliane Silva (2014) e, mais recentemente, pelo grupo coordenado por Igor Teixeira (2017), o estudo dos sermões esteve no centro da atenção de pesquisadores com variados interesses e formações. 154 O interesse editorial no assunto é concomitante à publicação de artigos 155 em periódicos de amplo alcance. A nosso ver, a afirmação dessas pesquisas se associa à consolidação desse campo no âmbito internacional-sobre a qual falamos em outra ocasião (SILVA,

Os bispos de Portugal e do império (1495-1777)

Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006

Nesta obra apresenta-se uma interpretação de história política, social e religiosa do episcopado de Portugal e do seu império, no período compreendido entre os reinados de D. Manuel I e de D. José I, isto é, os cerca de três séculos que decorreram entre 1495 e 1777. É um estudo que procura conhecer um conjunto de 386 indivíduos que ocuparam a cúspide da hierarquia da Igreja portuguesa, isto é, uma elite detentora de um amplo e forte poder, e foi nessa óptica que ele aqui foi perspectivado. Uma elite que combinava autoridade religiosa, poder político, estima social, prestígio cultural, riqueza material e várias formas de status e distinção, regularmente representadas ritualmente em variadas cerimónias, o que cedo estimulou os monarcas a dominar tão importante corpo, numa época de robustecimento do Estado. Do que aqui se tratou foi de investigar como se processava o mecanismo da escolha dos bispos - tanto na perspectiva das diligências a efectuar em Roma, como das movimentações de alta política que para o efeito se desencadeavam pela coroa portuguesa - quais eram os modelos que deviam inspirar e conformar o múnus episcopal e como se caracterizava, do ponto de vista do seu perfil social, formação e carreiras pré-episcopais este amplo universo de pessoas que ocupou o topo da hierarquia eclesiástica portuguesa, em espaços tão distintos como Braga, Elvas, Cabo Verde, Rio de Janeiro, Goa ou até Pequim. No fundo, as grandes dúvidas que aqui se procuram solucionar são saber por que caminhos repletos de jogos políticos e de interesses clientelares e familiares se chegava a estes lugares, quem foram os bispos e qual a doutrina que era suposto guiá-los no seu desempenho.

A acção dos bispos e os outros poderes até 1911

in PAIVA, José Pedro (coord. científica) - História da Diocese de Viseu. Viseu; Coimbra: Diocese de Viseu e Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, vol. 3, pp. 285-356

Há circunstâncias em que quem tem posições de mando é confrontado com transformações repentinas e radicais, criadoras de cenários inesperados e distintos daqueles em que projectara agir 1 . Assim sucedeu com D. Francisco Alexandre Lobo (1820 -1844), que assumiu o governo da mitra numa das épocas de mais profundas transformações da história de Portugal. O seu tempo seria o da desagregação final do Antigo Regime e da turbulenta afirmação de uma nova ordem política, social, económica, cultural e mental, com amplos impactos nas crenças religiosas e na vida da Igreja, consequência da revolução liberal iniciada no Porto em Agosto de 1820. Abria -se um ciclo em que a Igreja teve "que combater os erros da descrença e da modernidade anti -religiosa" 2 , numa época de sucessão de ataques anticlericais e de questionamento das verdades de fé, uma época de "pouca fecundidade da crença católica", como também já foi classificada 3 . É dificultoso enfrentar estes ciclos de mudança, repletos de acontecimentos surpreendentes, alguns e para alguns de sentido trágico, e quando aquilo em que se acreditava como firme e certo é posto em xeque e até vituperado. Foi nos alvores desta nova era que se desenrolou o longo episcopado deste prelado, no qual é possível identificar cinco fases de actuação, todas bastante condicionadas, senão determinadas, por ocorrências da ordem do político, às quais o prelado teve que reagir.

O poder episcopal e a Misericórdia de Viseu (1516-1720)

Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra

Entre 1516 e 1720, a esmagadora maioria dos antístites de Viseu foi provedor da Misericórdia de Viseu. Noutras cidades, sede de cátedra episcopal, os bispos assumiram igualmente funções de responsabilidade nas confrarias. O facto de as Misericórdias terem sido dirigidas por bispos revela que as relações de proximidade entre confrarias o poder episcopal eram efetivas. Com este estudo pretende-se entrever a forma como essas relações se materializaram em Viseu.

Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central.

Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central. São Paulo: Annablume. , 2011

"'Colunas de São Pedro' divide-se em duas partes que, de acordo com o título, dão sustentação à própria instituição da Ecclesia: territorialidade do poder e o poder sobre o tempo. Embora essas duas colunas de sustentação sejam aparentemente familiares àqueles mais versados na historiografia da Igreja medieval, o fato é que reside justamente nelas o grande desafio que o autor propõe: perceber esses sustentáculos de forma diferente. Não se trata de diminuir sua força, mas de mostrar que o material de sua composição é outro. Para tanto, foi necessário partir de uma profunda análise da historiografia - sem dúvida, um dos pontos altos do livro. A forma como os historiadores da Igreja e do político foram solidificando explicações e conceitos, a ponto de naturalizá-los, requer do pesquisador um refinado trabalho de crítica, permanente. Entre os muitos exemplos que vão surgindo ao longo do livro, destacamos o problema do conceito 'instituição', o qual Leandro Rust teve de enfrentar logo no início de seu trabalho. Se, por um lado, o conceito poderia adquirir uma feição explicitamente anacrônica, por outro, havia a dificuldade de definir seu conteúdo, uma vez que na experiência da pesquisa cabia quase tudo. O autor deixa entrever ao longo do livro os caminhos escolhidos - o método - para desentranhar o conceito às fontes. Um belo exercício de história que nos permite entender a instituição papal na Idade Média como 'poder decisório dos papas', por meio de registros já sobejamente conhecidos: sínodos e concílios. A pedra basilar, entretanto, assenta-se na maneira como o historiador olha para esses documentos/monumentos. Não como instituições 'já prontas', universais, mas com a curiosidade daquele que quer entender como é que se chegou à redação desse texto e o que ele quer dizer no momento da sua produção. A política que pulsa nas instituições." Trecho da resenha da Maria Filomena Coelho.

Discussão bibliográfica acerca do monacato galego na Idade Média Central

Medievalis, Vol. 1 (2), 2013., 2013

Este trabalho apresenta um recorte de minha monografia, que pretende apresentar os resultados da pesquisa individual desenvolvida durante o curso de Bacharel em História, no âmbito do Programa de Estudos Medievais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nossa proposta é estudar as relações existentes entre o desenvolvimento do monacato no noroeste peninsular e a produção hagiográfica dessa região no contexto do século XII. Partindo deste objetivo, analisaremos aqui o ideal monástico apresentado na Vida e Milagres de São Rosendo, buscando na narrativa de vida deste venerável, e articulando-a à história da fundação do Mosteiro de Celanova, reconhecer que elementos constituíam tal ideal na perspectiva do autor da obra.