O Campo Discursivo Da História Da Loucura (original) (raw)

História da Loucura e danação da norma

Geruza Valadares Souza, 2020

Based on the genealogical analysis of Foucault (2014) in History of Madness: in the classical age, we find that psychiatry is legitimated as a science supported by the moral discourse of the classical era in the 17th and 18th centuries. In the work of Machado et al. (1978) Danação da norma: medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil, a history of the emergence of social medicine and psychiatry in Brazil is presented. Foucault (2014) notes that the classical era is marked by the condemnation and exclusion of poverty, through the enclosure and practice of forced labor imposed on subjects considered unproductive by society. In this context, segregation and the use of the labor force are an important technology of control and subjection of the subject, which became appropriate by psychiatry in the 19th century. This research will be conducted in two parts. In the first, we will present an analysis of the work as a control technology of madness and madness as advocated by Foucault (2014). In the second part, we will demonstrate how the fight against idleness and social disorders, which are subject to control in 17th and 18th century Europe, becomes an object of domination in 19th century Brazil, a context in which psychiatric discourse and practices in Brazil are constituted. In this article, we will investigate how work as a tool to control madness and madness appears to legitimize the new psychiatric science, through the idea of therapy. In this field, we question the naturalization of the use of activities as a therapeutic resource and the theoretical-practical foundations that direct therapeutic interventions today. KEYWORDS: Genealogy, History of psychiatry, Control technology, Work.

Arqueologia da Loucura

2021

Inaugurado no início do século XX, o Hospital Colônia de Barbacena (MG) foi laboratório e arquétipo no aprimoramento das políticas públicas voltadas para a saúde mental em Minas Gerais. Porém, muito mais que isso, a instituição apresentou-se como mantenedora da ordem social ao segregar e controlar um heterogêneo grupo de sujeitos indesejáveis. Para isto, fazia uso de uma gama material composta pelas edificações e objetos móveis institucionais, os quais são analisados nesta tese sob a perspectiva teórico-metodológica da Arqueologia da Arquitetura e da abordagem hermenêutica dos artefatos. Por outro lado, as/os pacientes fizeram uso dessas mesmas materialidades para criar movimentos de liberdade e subversão dentro da ordem hospitalar imposta. Esta tese parte da análise conjunta das materialidades que compunham o Colônia, de fontes documentais e relatos de ex-internas/os e ex-funcionárias/os, para compreender a consolidação e impacto da assistência psiquiátrica mineira durante o século XX, bem como os discursos que resultaram na criação social do sujeito louco.

A Loucura Como Problema Histórico

História, Memória, Oralidade e Culturas. Vol III, 2016

A loucura, já faz algum tempo, deixou de ser tema exclusivo da área médica ou especifi camente da psiquiatria; deixou de estar restrita ao círculo hermeticamente fechado, composto por especialistas e teóricos e de estar condicionada às práticas institucionalizadas de produção de conhecimento empírico, realizadas nas clínicas, enfermarias, hospitais psiquiátricos e manicômios. Em processo contínuo e ininterrupto, ela entra como objeto de discussão em salas de aulas não especifi camente das Faculdades de medicina e/ ou direito (quando referente à medicina e psiquiatria forense). Mas, das áreas das ciências humanas, a saber: das ciências sociais, antropologia, história e das linguagens artísticos e cul-turais, como na literatura, artes visuais, cinema, pinturas, performances teatrais. Fóruns de debates, simpósios temáticos, encontros-como o que propomos realizar-são indícios de que o processo de discussão so-bre a loucura alastra-se nos âmbitos social e acadêmico mediante uma simples e inequívoca constatação: a loucura está presente no cotidiano dos indivíduos. Está hoje e sempre esteve no passado, embora em tem-poralidades anteriores à contemporaneidade, a forma como a loucura era percebida e concebida não estava em pauta de discussões ampla-* Profª Dra. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). Programa Nacional de Pós-Doutora-do PNPD-CAPES-MAHIS/UECE. Coordenadora do GT História, Saúde e Doenças (ANPUH-CE).

A Retórica Da Loucura Em Quincas Borba

Brasiliana- Journal for Brazilian Studies

Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é possível que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que antes um que outro,questão prenhe de questões, que nos levariam longe...(Assis, 2000: 214) A ironia, carcaterísitca sempre ressaltada na obra de Machado de Assis, começa com em Quincas Borba no próprio título, incitando o leitor a refletir sobre as várias camadas de interpretações e intenções possíveis, tanto do narrador, do autor implícito assim como de seus personagens. Esta primeira indagação e possível confusão suscitada logo no título do romance encadeia uma lista de elementos e características relacionados à cisão, confusão ou ao dualismo de idéias, que predominam não só na loucura de Rubião, mas na narrativa do livro e seus temas. De supetão e paradoxalmente somente ao final do romance Quincas Borba de Machado de Assis, o narrador levanta a "questão" irônica do título. Já no prefácio, assumindo o livro como fazendo parte de uma trilogia que começa por Memórias Póstumas de Brás Cubas, o leitor pode presumir que o título se dá devido ao homem Quincas Borba das Memórias. Este homem morre no início de Quincas Borba e deixa seu nome como herança em seu cachorro. Por outro lado, o romance se desenrola em torno do personagem de Rubião, o herdeiro (de bens materiais) universal de Quincas Borba, o homem. Cabe a pergunta, que o narrador deixa para o final do livro: por que não Rubião como título ou por que o cachorro como elemento principal da história? Esta 1 Visiting Assistant Professor of Portuguese and Brazilian Studies. Hispanic Studies. Oberlin College, USA.

Entre Linhas e Percursos: Os Territórios e Deslocamentos Da Loucura

Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 2

A presente escrita versa sobre a prática do Acompanhamento Terapêutico (AT) no campo da Psicologia, por meio de um olhar que sinaliza seus percursos, territórios e deslocamentos. Para tanto, nos movemos pelo andarilhar metodológico da Cartografia, que nesta escrita nos possibilita delinear uma composição teóricocrítica mobilizada pela ética da diferença. Com efeito, narramos algumas linhas de experimentação de uma prática desenvolvida no contexto do AT e suas reverberações enquanto dispositivo clínicopolítico. Nesse percurso, acreditamos que a prática do AT, assim como a cartografia, nos coloca diante de uma posição de recusa de reproduções identitárias e da afirmação do direito à diferença das formas-de-vida, potencializando gestos, encontros, descobertas e acontecimentos. CAPÍTULO

A Ordem Discursiva Na Cidade Dos Loucos e Das Rosas

Macabéa - Revista Eletrônica do Netlli

O presente artigo tem como objetivo analisar como os sentidos e a memória dos enunciados “Cidade das Rosas” e “Cidade dos Loucos” se movimentam, se confrontam e se integram à ordem discursiva de Barbacena. O município, que serviu de palco para a criação do Hospital Colônia, onde milhares de pessoas foram internadas como “loucas”, também se tornou famoso pelo cultivo de flores e rosas. Como resultado, a cidade foi apelidada com os dois adjetivos. Para alcançar o objetivo desta pesquisa, foi selecionado como corpus cinco fotografias atuais da cidade, divididas a partir da identificação das sequências discursivas as quais elas pertencem. A análise está embasada teórico-metodologicamente na Análise do Discurso Materialista, principalmente nas contribuições de Orlandi (1999, 2003, 2007ª, 2007b, 2014), no que diz respeito à análise de como as cidades produzem sentidos e Lagazzi (2015), na compreensão de que as imagens são materialidades significantes. O trabalho permite a identificação de...

A Loucura Entre Três Fontes Históricas

2014

RESUMO Os discursos sobre a loucura têm longa trajetória documental e bibliográfica, com ampla inserção nas narrativas científicas, médicas, psiquiátricas, jurídicas, memorialistas, sociológicas e literárias. Produzidas no mundo ocidental, sobretudo na França, Itália, Alemanha, Inglaterra e nos Estados Unidos, em fins do século XVIII, as ideias científicas sobre a loucura adentraram no Brasil, notadamente a partir das teses produzidas pelas faculdades de direito e de medicina e ganharam espaço no Ceará do século XIX, através de discursos produzidos em jornais e publicados sob a forma de ensaios. Este artigo visa analisar três fontes sobre a temática da loucura cujos gêneros narrativos são distintos. São eles: um tratado médico-filosófico, dez cartas escritas em um jornal e um ensaio de cunho sociológico, produzidos pelo psiquiatra francês Philippe Pinel, pelo médico cearense Ribeiro Delfino Montezuma e pelo literato e advogado cearense Gustavo Barroso, respectivamente.

A Paisagem Enquanto Campo De Batalhas Dircursivo

Caderno de Geografia

A abordagem que explora o simbolismo na paisagem representou a transcendência da materialidade em um contexto de ruptura frente ao objetivismo positivista. Traz, no contexto dessa transcendência, a possibilidade de interpretarmos as marcas expressas na paisagem como produto e estímulo à agência humana, em uma concepção bastante enraizada na Nova Geografia Cultural. No interior da discussão simbólica, apresenta-se como pauta muito importante a reflexão de como a gestão do arranjo paisagístico pode servir para a manutenção do status político-social. Nesse sentido, o artigo parte da perspectiva do entendimento da paisagem enquanto um campo de batalha discursivo, mas, ao mesmo tempo, rejeita as abordagens totalizantes que visam compreender os símbolos como expressão e interpretação de uma mítica coletividade monolítica. Objetivamos, assim, refletir de que forma as forças hegemônicas e contestatórias se coadunam na paisagem, com o foco centrado nas identidades em detrimento da coletivida...

As Propriedades Discursivas Da Quadra Popular

Travessias, 2016

RESUMO: O tema central desta pesquisa é o estudo do gênero, mais especificamente, delimitase ao estudo dos aspectos discursivos que caracterizam a quadra popular. De modo geral, busca refletir sobre o gênero quadra popular a fim de compreender, essencialmente, como ela se caracteriza discursivamente. Especificamente, verifica-se como se caracteriza a quadra popular "Batatinha, quando nasce", observando aspectos relativos à instabilidade estilística da forma que compõe o gênero assim como aspectos temáticos, enunciativos e composicionais. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica que descreve qualitativamente o corpus determinado. Nessas condições, este artigo apresenta os conceitos de gênero do discurso e a função dialógica da linguagem segundo os pressupostos teóricos de Bakhtin e seu Círculo. Conclui-se, portanto, que a quadra popular, em vista da intencionalidade comunicativa do enunciador, das situações de enunciação, dos tons avaliativos e dos significados temáticos que a revestem discursivo e estilisticamente se caracteriza como mais uma das modalidades de gênero do discurso.

A Loucura Histérica e a Psicose

Neste artigo analisa-se as relações entre o quadro clínico da ¿loucura histérica¿, surgido no século XIX, em contraste e comparação com a concepção psicanalítica da psicose. O objetivo é mostrar que se trata de uma variante pouco tematizada da estrutura histérica, tal qual foi investigada por Lacan. Para mostrar a utilidade clínica e diagnóstica representada por esse quadro, recupera-se a especificidade da noção de loucura em Lacan. Os resultados sugerem que a indistinção entre a apresentação clínica da ¿loucura histérica¿ e a psicose pode induzir a uma trajetória de internamento e a cronificação psiquiátrica indesejável e desnecessária.