Avaliação psiquiátrica em candidatos à cirurgia bariátrica: além do "laudo tradicional" (original) (raw)
A obesidade tem sido considerada uma das doenças mais sérias e de mais rápida disseminação em países desenvolvidos . Um terço da população adulta nos Estados Unidos está obesa , e no Brasil, onde até recentemente esta condição não era considerada epidêmica, 17,5% da população adulta já é obesa e cerca de 50 % está acima do peso, segundo o Ministério da Saúde. De forma geral o tratamento da obesidade mórbida costuma ser frustrante e atualmente a cirurgia bariátrica é considerada o único tratamento efetivo e duradouro para estes casos. Uma quantidade substancial de transtornos psiquiátricos ou perfis psicológicos anormais acomete os candidatos à cirurgia bariátrica, aumentando o risco de desfechos pós-operatórios desfavoráveis, que variam desde a perda de peso abaixo da esperada ou o reganho precoce de peso, até a piora da condição psiquiátrica ou psicológica de base. Embora avaliações psiquiátricas e psicológicas já façam parte da rotina da maioria dos serviços de cirurgia bariátrica, elas se concentram mais na verificação da capacidade do paciente tomar uma decisão responsável e compreender/seguir as orientações médicas (o “laudo tradicional”) do que nas múltiplas interações entre psicopatologia e a evolução do tratamento cirúrgico da obesidade, um terreno no qual há pouco ou nenhum consenso entre os especialistas. Da mesma forma, os critérios psiquiátricos para a contraindicação do tratamento cirúrgico para a obesidade costumam incluir casos graves de alcoolismo ou uso de drogas ilícitas, sintomas ativos de esquizofrenia e retardo mental severo, mas as condutas envolvendo a grande maioria dos candidatos à cirurgia com alguma comorbidade psiquiátrica, que abrange portadores de transtornos do humor, transtornos ansiosos, transtornos do comportamento alimentar e história de ideação e/ou tentativa de suicídio, para citar apenas alguns, são muito variáveis. O presente texto tem por objetivo revisar e discutir as relações entre psicopatologia e tratamento cirúrgico da obesidade e se concentra em questões como até que ponto variáveis psicológicas e psiquiátricas influenciam a perda ou o reganho de peso após a cirurgia bariátrica, quais as chances da cirurgia bariátrica piorar ou melhorar condições psiquiátricas pré-existentes ou deflagrar sintomas psiquiátricos em quem nunca os teve e quais seriam as contraindicações psiquiátricas relativas e absolutas para a cirurgia bariátrica.