Estética da subtração: o lugar de autor no documentário de Eduardo Coutinho (original) (raw)

Ficção e subjetividade no documentário de Eduardo Coutinho

Anuário de Literatura, 2012

Resumo: A literatura e o cinema sempre mantiveram abertas as fronteiras que os separam, cultivando, ao longo de suas histórias, o exercício semiótico. Considerando essa perspectiva de influência mútua, este ensaio analisa a construção da narrativa fílmica no documentário de Eduardo Coutinho e levanta questões que também são pertinentes ao âmbito da teoria da literatura. Embora o documentário tenha, em sua acepção mais comum, o caráter de objetividade, o trabalho de Coutinho subverte essa perspectiva e faz emergir desse gênero a subjetividade. O cineasta é bastante sensível ao fato de que algo, diante de uma câmara, não é mais algo em si mesmo; esse algo diante de uma câmera, diante do outro já é linguagem e, portanto, é representação daquela coisa. Em Coutinho, a construção do real se mostra a partir de uma construção ficcional. Isso nos aproxima da construção narrativa literária e, também, de uma noção de sujeito da Psicanálise, cuja constituição se dá pela linguagem e na linguagem e a partir de uma estrutura de ficção. Palavras-chave: Literatura. Cinema. Psicanálise. Eduardo Coutinho. Literatura e cinema se reinventam Segundo Eisenstein (2002), Griffith, nos primórdios do cinema, atribui à leitura da narrativa de Dickens, a sua "invenção" de uma nova narrativa cinematográfica que alterna as tomadas panorâmicas e os "closes". Essa dívida inaugural, no entanto, encontra, na escritura dos autores da "escola do olhar"-dentre eles, Allain Robbe-Grillet e Nathalie Sarraute-o seu avesso, pois esses autores foram influenciados em seus escritos, pelo movimento de câmera. Assim, cinema e literatura constroem interstícios no bojo de seus modus operandi para que um receba, do outro, marcas linguísticas ou formas imagéticas em seus campos distintos. De um início fecundante, a relação entre literatura e cinema insiste em manter aberta a fronteira entre esses dois campos, possibilitando, assim, o constante exercício metalingüístico. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

O documentário como encontro: entrevista com o cineasta Eduardo Coutinho

Galaxia Revista Do Programa De Pos Graduacao Em Comunicacao E Semiotica Issn 1982 2553, 2007

Foi concebendo o documentário, sobretudo, como uma prática de "escuta do outro" -uma "escavação" das mais distintas experiências humanas -que Coutinho acumulou prêmios e mobilizou grandes platéias em quase três décadas de atuação nesse gênero cinematográfico. Nesses anos, Coutinho consolidou o que seus próprios colaboradores definem como um estilo "minimalista" no documentário: sem o uso de qualquer imagem meramente "ilustrativa", evitando a incorporação de qualquer elemento que não esteja ligado ao próprio momento de captação, seus filmes consistem basicamente em grandes narrativas orais. Para ele, o documentário é, antes de mais nada, um extraordinário "acontecimento verbal" que se dá num encontro único e instantâneo.

A 'mise-en-scène' do documentário: Eduardo Coutinho e João Salles

In this essay we will examine two recent documentaries by Brazilian directors João Moreira Salles (Santiago) and Eduardo Coutinho (Jogo de Cena). The analysis of the films will draw upon phenomenological methodology, emphasizing the relationship between the subject holding the camera in the take and the world that reveals itself to him, which opens itself through his body (subject-of-the-camera) to the spectator. We use the term staging (reenactment) to describe this relationship between the world (which includes objects and people in motion) and the subject which embodies the camera machine. Mise-en-scène denotes the way staging is set in the take, including the material aspects that comprise the scene and its future narrative arrangement (in shots). Looking at the history of documentary film, we can see two structural variants of action in the take to the subject-of-the-camera. We will call constructed stagingany action or expression that has been prepared by the cameraman beforehand. The free action occurring in front of a camera, without direct involvement or direction from the subject-of-the-camera, will be called direct staging. In the case of a closeup through direct staging the uncertainty of the action is the physiognomy in itself, which figures affect or affection. In Jogo de Cena, Coutinho uses a variety of staging techniques which are combined in a deconstructivist way. In Santiago, Salles contrasts two historical types of staging in a movement driven by remorse.

Subjetivismo e pós-colonização no filme de Eduardo Coutinho

Seguindo o caminho da fi lmografi a do diretor Eduardo Coutinho, propomos estender uma observação de um dos aspectos de sua busca estética e estilística. Um ponto que se resumiria numa subjetividade expressa em gestos e palavras exteriores aos personagens reais escolhidos a conceder depoimentos em seus fi lmes documentários, como numa captação de uma performance cotidiana, habitual dos personagens e sua maneira de narrar a história íntima. Especifi camente, em O Fim e o Princípio (2005), fi lme paradigmático em sua carreira pela mudança brusca de seu método e temática, a busca pelo "interior" adquire não só uma hipótese psicológica da compreensão da vida camponesa, mas uma dimensão histórica, identitária, territorial, legível em um discurso da gravação do gestual desses personagens sertanejos do Nordeste brasileiro, localidade onde foi iniciado o processo de colonização do país -algo que permanece em uma memória viva do cotidiano e das paisagens e arquiteturas locais. Nosso trabalho tenta desvendar tal percurso e tais elementos de um passado e presente pós-colonial no fi lme citado, num confronto permanente de culturas e modos: entre a equipe moderna, aparato de fi lmagem, e realidade bruta primitiva, antiga, resistente. O tema reincidente do encontro e diálogo mediado pelo confl ito entre mundos diferentes se faz ao longo da narrativa documentária de Eduardo Coutinho, elevando a discussão e formas fílmicas a patamares experimentais: discurso opaco que o documentarista sugere atualmente em seus novos fi lmes, após O Fim e o Princípio.

O documentário como encontro: entrevista com o cineasta Eduardo Coutinho

Galáxia, 2008

Eduardo Coutinho é hoje um dos mais respeitados documentaristas brasileiros. Foi concebendo o documentário, sobretudo, como uma prática de "escuta do outro" - uma "escavação" das mais distintas experiências humanas - que Coutinho acumulou prêmios e mobilizou grandes platéias em quase três décadas de atuação nesse gênero cinematográfico. Nesses anos, Coutinho consolidou o que seus próprios colaboradores definem como um estilo "minimalista" no documentário: sem o uso de qualquer imagem meramente "ilustrativa", evitando a incorporação de qualquer elemento que não esteja ligado ao próprio momento de captação, seus filmes consistem basicamente em grandes narrativas orais. Para ele, o documentário é, antes de mais nada, um extraordinário "acontecimento verbal" que se dá num encontro único e instantâneo. <b>Palavras-chave</b> documentário, encontro, ato verbal, fala <b>Abstract</b> Eduardo Coutinho is one of the most...

Cabra marcado para morrer: mosaico de fragmentos no documentário de Eduardo Coutinho

2008

O objeto deste estudo e o documentario brasileiro "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, do qual serao analisados os elementos constitutivos, que se apresentam em forma de fragmentos recuperacao da memoria dos personagens, cenas remanescentes do primeiro projeto que fora interrompido pela Ditadura Militar, depoimentos, imagens de arquivo, materias de jornais e como eles se articulam na construcao de um filme que visa retratar um periodo historico de forma alternativa, por meio da recuperacao de memorias individuais. As referencias utilizadas pelo cineasta provem prioritariamente de duas correntes do documentario o Cinema Verdade frances e o Cinema Direto americano , as quais terao algumas de suas caracteristicas descritas neste estudo, a fim de demonstrar como sua articulacao tambem auxiliou na sintaxe narrativa do filme de Coutinho. Por meio da descricao de como este documentario foi criado, pretende-se discorrer a respeito do problema central a ser desdobrado,...

O que é mise-en-scène no documentário: Eduardo Coutinho e João Salles

2014

RESUMO: Neste ensaio abordaremos dois documentários recentes dos diretores brasileiros João Salles (Santiago) e Eduardo Coutinho (Jogo de Cena). Para analisá-los, buscamos desenvolver análise, com inspiração de metodologia fenomenológica, colocando ênfase na relação entre o sujeito que sustenta a câmera na tomada e o mundo que a ele se oferece, abrindo-se pelo seu corpo (sujeito-da-câmera) ao espectador. Denominamos de encenação essa relação entre o mundo (com pessoas agindo e coisas) e o sujeito que encarna a máquina câmera. A mise-en-scène designa o modo pelo qual a encenação é disposta na tomada, levando-se em conta os diversos aspectos materiais que compõe a cena e sua futura disposição narrativa (em planos). Olhando para história do documentário podemos notar duas variantes estruturais na ação das pessoas para o sujeito-da-câmera. Chamamos de encenação-construída, a ação ou expressão, preparada, de modo anterior, pelo sujeito-da-câmera. Chamamos de encenação-direta a ação para a câmera solta no mundo, ocorrendo sem uma flexibilização direta pelo sujeito-da-câmera. No caso de um primeiro plano de encenação direta, a indeterminação da ação é a própria fisionomia, conformando-se em afeto ou afecção. Em Jogo de Cena estão dispostas diversas modalidades de encenação que interagem entre si articulando-se em um corte desconstrutivo. Em Santiago duas modalidades históricas do encenar contrapõe-se, num movimento animado pela má-consciência. ABSTRACT: In this essay we will examine two recent documentaries by Brazilian directors João Salles (Santiago) and Eduardo Coutinho (Jogo de Cena). Analysis of the films will draw upon phenomenological methodology, emphasizing the relationship between a subject holding the camera in the take and the world that reveals itself to him, openning itself through his body (suject-of-the-camera) to the spectador. We use the term staging (reenactment) to describe this relationship between the world (which includes objects and people in motion) and the subject which embodies the camera machine. Mise-en-scène denotes the way staging is set in the take, taking into account the material aspects that comprise the scene and its future narrative arrangement (in shots). Looking at the history of documentary film, we can see two

Quando o Santo é Forte: uma discussão sobre a insuficiência humana no documentário de Eduardo Coutinho

2014

Este estudo pretende investigar, a partir dos depoimentos dos personagens do documentario Santo Forte, de Eduardo Coutinho, a busca dos individuos pela felicidade e pelo preenchimento da insuficiencia humana, por meio de suas crencas e experiencias religiosas. Nesse sentido, visa evidenciar, com base no termo cunhado por Blaise Pascal e conceitualizado por Luiz Felipe Ponde - insuficiencia humana - que o homem necessita e e dependente do mundo sobrenatural, justamente, para preencher o vazio ao qual e inerente e que tanto o assola. Por meio de experiencias misticas e de sua trajetoria religiosa os personagens do filme evidenciam uma aceitacao maior de suas vidas em razao da comunicacao que dispoem com o sagrado. Em outras palavras, e notorio que essa relacao dos homens com deuses e entidades lhes garante esperanca diante de sua reserva infinita de sofrimento. Esta pesquisa visa igualmente tracar consideracoes acerca da dependencia dos homens em relacao ao sobrenatural, que se faz ne...