Póslit: 40 anos de representação e acolhimento (original) (raw)
Tomar parte de uma das mesas do evento de comemoração do aniversário de 40 anos do programa de pós-graduação em literatura desta universidade foi uma das agradáveis surpresas que esta instituição me concedeu. Primeiramente, porque me senti lisonjeada e, ao mesmo tempo, agradecida pela indicação da linha de pesquisa Representação na Literatura Contemporânea, de forma que agradeço a todos os docentes por isso. Depois, porque isso me fez refletir sobre a minha trajetória na UnB, que já chega a quatro anos, um décimo do período de existência deste programa. Nesta reflexão, eu lembrei do dia em que, recém-chegada a Brasília e depois de fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre o programa, decidi vir buscar mais informações sobre ele. Naquele dia, fui muito bem recebida pela então secretária da pós, Ana Maria Nascimento, que apresentou o programa, falou das linhas de pesquisa e me encorajou a participar da seleção para o doutorado. Assim, Ana Maria, agradeço, publicamente, por ter aberto as portas e me apresentado esta casa. Sou grata, ainda, aos docentes que têm orientado minha pesquisa, em especial à professora Cíntia Schwantes, que é minha orientadora. E tenho muito a agradecer aos colegas discentes, que têm colaborado para meu crescimento acadêmico e pessoal. Uma pesquisa não se faz apenas com dados e teorias, mas também com afetos e trocas-e, no Póslit, eu construí amizades que ultrapassam os muros da universidade e vão além dos grupos de pesquisa. Outro motivo pelo qual me sinto honrada em estar aqui, tanto nesta mesa quanto neste evento, é o fato de eu ser uma mulher negra. A importância disto é estatística, considerando que, em 2005, um estudo do Inep apontou que, no Brasil, dos 63 mil docentes do ensino superior, apenas 251 eram mulheres negras, logo evidenciando a exclusão das mulheres negras nos bancos da academia. Felizmente, nos últimos dez anos, muita coisa mudou, mas ainda somos poucas, e minha presença nesta mesa, mesmo enquanto discente, também significa representação, exatamente como propõe a linha de pesquisa da qual faço parte. Em 2012, o Póslit acolheu minha pesquisa sobre a obra de Luís Cardoso, o primeiro romancista de Timor-Leste, um país localizado no Sudeste Asiático. Eu morei por dois anos em Timor, trabalhando no ensino de língua portuguesa. O país é uma ex-colônia de Portugal e, após a Revolução dos Cravos, não conseguiu de imediato a sua independência, como ocorreu com os países africanos. Timor-Leste foi invadido pela Indonésia e, somente em 1999, depois de 24 anos de luta sangrenta, seu povo conseguiu se tornar uma nação, adotando o português como língua oficial. Poucos timorenses falam a língua portuguesa, mas a maior parte deles se identifica com uma suposta comunidade formada pela CPLP. Minha pesquisa versa exatamente sobre o processo de formação da identidade em comunidades imaginadas e sobre o