Especulações feministas (original) (raw)

Esse ensaio parte da filosofia crítica, chamada por Viveiros de Castro (2017, p. 47) de "golpe palaciano", pois, quando o cientificismo de Copérnico tira a humanidade do centro, a filosofia transcendental de Immanuel Kant a reintroduz, através do seu representante semiempírico, o Homem, notadamente, o branco e heterossexual, corporificação do lógos ocidental, para falar como Donna Haraway (2009, p. 83). A filosofia de Kant marcou-se por esse traço: a reinauguração do Homem como o representante da Cultura, que exerce o seu domínio na Natureza, através de máquinas de produção cultural. As diferenças sexuais são essencializadas, assim como há a essencialização da natureza, apontada como causa da "fraqueza natural" das mulheres, a fim de se "preservar a espécie" (Kant, 2000), argumento que remonta a Aristóteles 2 , para quem as fêmeas são "machos mutilados" (Louis, 2002).