As vespas de Aristofanes e as questões da dramaturgia (original) (raw)
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Narracao e drama em Aristoteles
Artefilosofia, 2007
A Poética de Aristóteles se inicia pela afi rmação de que o tema a ser abordado pelo tratado que se seguirá, a saber, a arte poética, pode ser defi nido, de um modo geral, da seguinte forma: a poesia é uma arte mimética cujas espécies se diferenciam umas das outras, não por serem imitações (já que isso é justamente o que as aproxima), mas por se utilizarem, ou de meios distintos, ou de modos distintos, ou por tratarem de objetos distintos. Meios, modos e objetos constituem três critérios de diferenciação elaborados por Aristóteles para dar conta da diversidade dos tipos de poesia. O primeiro dos três critérios diz respeito aos elementos utilizados: ritmo, linguagem e harmonia. O segundo diz respeito à diferença entre narração e drama, e o terceiro diz respeito ao tipo de ação representada e aos caracteres das personagens envolvidas nas ações. De posse desses três critérios, o autor pode aproximar e afastar as espécies poéticas umas das outras de acordo com o ponto de vista adotado. Pois bem, o que nos interessa aqui é, especifi camente, o segundo critério de diferenciação, que diz respeito aos modos poéticos-narração (apangelía) e drama-, e que é responsável por distinguir, acima de tudo, a poesia épica das poesias trágica e cômica. Ao que parece, esse critério de diferenciação terá fortes conseqüências no que diz respeito a uma das principais questões tematizadas por Aristóteles no tratado, a saber, a comparação entre epopéia e tragédia, e o privilégio desta em detrimento daquela. Mais do que isso, essa questão ajudará a compreender por que o tratado que anuncia uma investigação da poesia acaba por se tornar quase que exclusivamente um tratado sobre a poesia trágica. Isso não signifi ca que a distinção entre narração e drama seja o único motivo para que Aristóteles privilegie a tragédia. Já no quinto capítulo, por exemplo, ele explicará que tragédia e epopéia têm em comum muitas partes, mas outras são próprias só da tragédia, o que acarreta o fato de que "quem quer que seja capaz de julgar da qualidade e dos defeitos da tragédia tão bom juiz será da epopéia" 2. Isso justifi caria, por si só, uma análise mais detalhada da tragédia. Entretanto, Aristóteles fornece outras justifi cativas para defender a superioridade da tragédia, e algumas delas derivam precisamente da especifi cidade de seu modo poético, a saber, o modo dramático. Retornemos, então, ao raciocínio desenvolvido pelo autor nos primeiros capítulos do tratado. Analisando-o, é possível afi rmar que, no momento em que Aristóteles estabelece os critérios de distinção entre as espécies poéticas, estabelece simultaneamente uma espécie de hierarquia entre elas. As principais delas, poesia épica, poesia trágica e poesia cômica, são postas lado a lado e, de acordo
Aristophanes wasps and the issues of drama
2018
Orientador: Veronica Fabrini Machado de AlmeidaAcompanha 1 DVD-R com gravação do espetáculo "As Vespas"Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de ArtesResumo: As releituras de textos da Comédia Antiga apontam para um conjunto de questões pertinentes aos procedimentos artísticos da Modernidade. Mapeando as questões teóricas e praticas, podemos verificar alguns temas caros à produção teatral contemporânea e que transitam entre a obra literária e os processos criativos do espetáculo. A pesquisa tem como objetivo a investigação experimental e teórica das operações texto/cena tendo como pré-texto uma obra da Comédia Antiga, As Vespas, de Aristófanes. Com o objetivo de situar e contextualizar o trabalho prático reunimos, em um primeiro núcleo, a investigação dos procedimentos ideológicos e estéticos que alimentam e situam o fazer teatral no âmbito da sensibilidade contemporânea. Nesse núcleo examinamos as questões teóricas que envolvem a constituição do e...
Notas sobre os dramas satíricos fragmentários de Eurípides
Santos, F.B. & Oliveira, J.K. (org.), Estudos Clássicos e seus desdobramentos: artigos em homenagem à Professora Maria Celeste Consolin Dezotti. São Paulo, Cultura Acadêmica., 2015
O drama satírico (σατυρικόν δρᾶμα, τὸ σατυρικόν), juntamente com o ditirambo, a tragédia e a comédia, constituiu um dos quatro pilares da cultura performática de Atenas no final do Período Arcaico e no Período Clássico. O gênero foi oficialmente introduzido nos festivais em honra a Dioniso no final do século VI a.C., mais ou menos na mesma época do ditirambo (507 a.C.), algum tempo depois da tragédia (534 a.C.) e bem antes da comédia (486 a.C.). De acordo com a Suda, o poeta trágico Pratinas (fl. 507-496 a.C.) πρῶτος ἔγραψε Σατύρους, 'foi o primeiro a compor dramas satíricos', 1 mas talvez seja mais prudente considerá-lo, por enquanto, apenas o introdutor desse gênero dramático em Atenas.
As rãs de Aristófanes: uma proposta didáctica
Mathesis, 2013
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O teatro euripidiano a partir da encenação
Chanting, no original. 19 The arrival of a χορός to anapests might justify this assumption, as it proceeds along an εἴσοδος into the ὀρχήστρα. But not all tragic χοροι arrive in the playing space to a script composed in anapests; in many cases, their opening script is for song and dance. Commentators ask the reasonable whether such χοροι arrived and then sang and danced or sang and danced as they approached. And there is no available answer to that. 20 The choral dancing was normally in formation, either rectangular or circular in basis, and, while might occasionally become quite wild and rapid, it was usually rather solemn and decorous, a style sometimes called ἐμμέλεια (literally, "harmony"). The dancing may have come to receive less emphasis in the course of the fifth century. The older rival of Aeschylus, Phrynichus, boasted "the dance offers me as many forms as a dreadful night of storms makes waves in the sea"; but later a comedian complains "The dancing was once a sight worth seeing; but now they do nothing. They just howl, stuck on the spot like paralytics!" Ancient Greek dancing was, in the broadest sense, mimetic or expressive. Using the hands, arms and body no less than the feet, it reflected the mood, emotions and character of its accompanying song.
Conversas com o Silêncio - Perplexidades da dramaturgia contemporânea
Com a ascensão do encenador, da criação colectiva e do conceito de performance, com as acusações que o pós-modernismo lançou sobre os discursos e a desconfiança em que caiu a noção de drama, o que resta ainda do papel do dramaturgo no teatro contemporâneo? Uma reflexão pessoal sobre os dilemas e caminhos de escrever hoje para o teatro.
Mecanismo de performance cênica nas comédias de Aristófanes: ponto e focalização
Acta Scientiarum: Language and Culture, 2017
Resumo: Este artigo objetiva evidenciar dois importantes mecanismos de performance cênica existentes nas peças de Aristófanes, autor de comédias gregas do século V a.C. Partimos do pressuposto de que é possível encontrar no texto elementos que são importantes para a operacionalização cênica das comédias daquela época. Neste artigo mostraremos que, no momento de composição, sabendo das condições materiais da realização cênica, o comediógrafo utilizava algumas interessantes estratégias, dentre as quais destacaremos duas: (i) ele inseria falas-lembrete nos cantos corais que serviam como um ponto para a coreografia dos coreutas, e (ii) ele usava o corpo coletivo do coro como um sinalizador que indicava ao espectador os elementos cênicos que são importantes para o desenvolvimento do enredo e que, por isso, mereciam atenção da plateia. Essas duas estratégias presentes na composição das peças são similares, não idênticas, aos conceitos atuais de ponto e focalização. ABSTRACT. In this article, we aimed to point two important mechanisms of scenic performance in the plays of the Greek comedy writer Aristophanes (V BC). Our start assumption is that it is possible to find in the text important marks for the scenic operationalization of those comedies. In the time when those comedies were composed, the author knew the material conditions of scenic performance and he used some interesting strategies, and we highlight two of them: (i) he inserted reminder-speech inside the sing of chorus to work as a prompter for the coreutas' choreography; (ii) he used the chorus' collective body to indicate to the spectator which scenic elements deserve the attention for being important for the progress of the plot. These two play composition strategies are similar, but not equal, to the contemporary concepts of prompter and focalization.
Pessoa dramaturgo: uma questão crítica
Revista Estranhar Pessoa, 2017
O artigo examina diferentes abordagens, pela crítica, das categorias " poeta dramático " e " dramaturgo " , originalmente propostas por Fernando Pessoa como chaves de leitura para sua obra. Num primeiro momento, discutem-se as posições adotadas por dois críticos teatrais; a seguir, são debatidos os juízos de estudiosos como Adolfo Casais Monteiro e Jorge de Sena. Neste percurso, verifica-se a recorrência de um mesmo argumento para fundamentar a rejeição àquelas autodesignações: o fato de o autor haver publicado apenas um texto de natureza estritamente dramatúrgica e que ainda escapa a convenções do gênero. Buscamos, porém, modalizar as habituais restrições ao Pessoa dramaturgo, prestando atenção às feições polivalentes do conceito pessoano de drama.