Significações de memórias: uma proposta de tipologia a partir de narrativas de filhos e filhas de sobreviventes da Shoah (original) (raw)
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Histórias de vida: marcas do trauma em narrativas de sobreviventes da Shoah
Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG
Neste artigo, as narrativas de judeus sobreviventes do Holocausto são analisadas em sua estruturação textual, tendo como viés a compreensão psicológica das dificuldades de elaboração de vivências traumáticas. Considerando a desestruturação psíquica decorrente dos sucessivos traumas sofridos, notamos o déficit da capacidade aperceptiva durante o choque advindo das situações de violência e trauma. Em nosso entender, faz-se necessário reestimular essa capacidade a fim de auxiliar na reelaboração e reestruturação do psiquismo. Baseados em revisões de literatura, bem como em entrevistas levadas a cabo em nossa pesquisa de campo desdobrada em estudos de caso junto a sobreviventes, apresentamos algumas marcas nas narrativas de sobreviventes do Holocausto características dos traumas rememorados. A estruturação textual e a pontuação são alguns dos recursos que evidenciam essas marcas e o gradativo avanço na enunciação das dores rememoradas.
Memórias e testemunhos: a Shoah eo dever da memória
2008
Este ensaio objetiva refletir sobre o dever da memória no que diz respeito a Shoah, levando-se em consideração a constituição de memoriais e testemunhos ea crescente onda de revisionismo histórico e anti-semitismo na contemporaneidade. Palavras-chave: Memória; Testemunho; Shoah; Literatura; Arte.
A Shoah na 2ª geração: significação e ressignificação de memórias traumáticas
Anais do X Encontro Regional Sul de História Oral, 2019
A Shoah, o genocídio de cerca de 6 milhões de judeus (junto a outros grupos perseguidos) pelo regime nazista foi um evento paradigmático a nível global, mas especialmente para as vítimas, constituindo-se como memórias traumáticas. Os “trabalhos da memória” (JELIN, 2002) são, no entanto, conflituosos e dinâmicos. Assim, as formas como os indivíduos atribuem sentido a essas memórias não são óbvias. O cenário se complexifica ainda mais quando analisamos não mais as próprias vítimas, mas pessoas que viveram esses acontecimentos “por tabela” (POLLAK, 1992, p. 201), no caso, filhos de sobreviventes da Shoah. O presente trabalho parte de entrevistas realizadas com 12 filhos e filhas de sobreviventes da Shoah residentes no Paraná para discutir as possibilidades de significação desse passado traumático. Articulando conceitos como memórias literais e exemplares (TODOROV, 2000), elaboração e acting-out (LACAPRA, 2005) e comemoração e rememoração (GAGNEBIN, 2006), aponto para relações entre a forma de narrar a Shoah, as múltiplas possibilidades de dar sentido ao passado traumático e um potencial ético que essas memórias podem ou não concretizar.
A separação das famílias na Shoah: vínculos na memória e na identidade judaica
Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG
A desumanização dos judeus imposta pela política de Estado nazifascista enfocou, em seus marcos, o desmembramento familiar. Com esta medida, advinda de um olhar coisificado sobre os judeus, a fragilidade de suas defesas individuais e coletivas foi atingida em cheio. Esse esfacelamento é aqui ilustrado nos relatos de sobreviventes que viveram as dolorosas separações impostas às famílias judias durante o Holocausto, em condições dilemáticas e traumatizantes. O vazio dessas perdas familiares é parte significativa da identidade e da memória coletiva do povo judeu na contemporaneidade, que busca aludir aos que pereceram dando-lhes um lugar em suas memórias e na retransmissão da história da Shoah.
Memórias para a (in)diferença: reflexões sobre a possibilidade de usos éticos do passado da Shoah
Revista de História da UEG, 2020
Esse artigo tem por objetivo analisar as possibilidades de memórias traumáticas serem mobilizadas para o combate à indiferença e à construção de uma ética da alteridade. Em um primeiro momento, discuto o conceito de indiferença. Após isso, tomando como exemplo o conjunto de 12 entrevistas realizadas com a metodologia da História Oral com filhos de sobreviventes da Shoah, procuro refletir sobre a problemática inicial dessa pesquisa. Concluo que as memórias não tomam um caminho único e verifico a presença ao mesmo tempo de narrativas que realizam essa operação de combate à indiferença, mas também de diversos entraves para a formação dessas memórias, entre os quais se destacam o próprio trauma transmitido de pais para filhos-que dificulta sua elaboração-e a relação entre memória e identidade, que se apresenta como um obstáculo para a constituição de memórias voltadas para o Outro.
Aedos, 2019
A Shoah se tornou um marco da identidade coletiva judaica na segunda metade do século XX. Os objetivos dessa pesquisa podem ser resumidos como analisar o processo de construção dessas memórias e os diferentes significados a ela atribuídos. Para isso foi analisada uma revista comunitária chamada O Macabeu, editada entre 1954 e 1970, observando a frequência com que o tema era abordado e as mensagens que esses textos procuravam transmitir. Até o julgamento de Eichmann em 1961 a Shoah era um tema menos frequente e geralmente associado à memória da resistência armada. Esse quadro se altera a partir de 1961, quando essa visão passa a compartilhar e disputar espaço com a valorização da figura da vítima e com uma proposta de memória exemplar, na qual a Shoah é uma chave de entendimento e atuação em questões contemporâneas. Concluo que a memória da Shoah se forma no cruzamento de diversos processos históricos, entre os quais a própria Shoah, a migração, a relação com o Estado de Israel, o contexto social brasileiro e a passagem geracional.
No meio dos escombros, a memória. Shoah e o trauma na Queda
Literatura e Autoritarismo, 2021
Literature and history have many affinities. Because both are constituted as narratives, they have the art of storytelling. We would like, with this work, to defend that it is also possible to study and reflect on some historical fact through the literary genre as if they were two margins that touch and mix. Thus, we list as object of study the novel published in 2011, authored by Michel Laub, entitled Diary of the Fall . The work in question brings the conflicts of the characters and their relationship with trauma and memory, as a result of the exposures to the shock experienced by the characters in Second World War. Our proposal is to reflect on this period, whose ruins still pulsate in the time-of-here-now . Finally, we intend to answer these questions in the course of our research, mainly based on the theories of Gagnebin (2009), Arendt (2012) and Adorno (1995). It is concluded, through the discussions presented, that there is a need to discuss Shoah in Brazil, since this atroci...
Memória ficcional da Shoah: Peças em fuga
Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG, 2007
Resumo: Ler um romance rigorosamente como ficção é o nosso dever de leitores; produzir ficções capazes de desafiar o nosso senso de realidade, a nossa visão do mundo e da história, é, por assim dizer, o estrito ofício do escritor. No romance Peças em fuga, de Anne Michaels, três homens, Jakob, Athos e Ben-suas criaturas de papel-, se entregam a esse ofício. Este artigo analisa, nesse romance, a memória ficcional da Shoah.