A propósito de uma obscura passagem de Tristes Trópicos ou um pequeno recanto perdido na cidade de São Paulo da década de 1930 (original) (raw)

OS “CAMINHOS” DOS TROPEIROS E O VALE HISTÓRICO DA SERRA DA BOCAINA (SP): UM ESPAÇO GEOGRÁFICO “DEPRIMIDO”

Revista Geográfica de América Central , 2011

O Vale Histórico da Serra daBocaina, na região do Vale do Paraiba paulista, apresenta uma paisagem exuberante, através da qual transitaram pelos seus caminhos, o ouro das Minas Gerais, os tropeiros e o café que por ali penetrou em São Paulo. As cidades da região da Bocaina viveram períodos de riqueza e decadência e a região se tornou “deprimida”. Os esforços recentes visam dinamizar sua economia pelo turismo, de modo trazer de volta os tempos de opulência.

O Olhar tropicalista sobre a cidade de São Paulo

RESUMO A Tropicália pode ser considerada um movimento cultural ancorado em São Paulo, pois foi a partir desta cidade que ele explodiu para o mundo, constituindo-se num dos capítulos mais importantes de sua história cultural. Foi resultante de uma conjuntura sociocultural específica, a agitação em torno dos festivais da canção e da retomada do ethos vanguardista nos anos 1960. O movimento tropicalista foi rapidamente enquadrado na tradição de ruptura que marcou a cidade de São Paulo a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.

Uma experiência “brutalista” nos Trópicos: o bairro Prenda (Luanda, década de 1960)

No final dos anos sessenta, Luanda, capital de Angola, tem 224.540 habitantes, resultado de um extraordinário crescimento demográfico que começou duas décadas antes, com novas ondas de imigrantes europeus. Este é o resultado mais visível das políticas migratórias do Estado Novo que, após a Segunda Guerra mundial e com o fortalecimento das reinvindicações independentistas, incentivam a fixação de uma população "branca", principalmente de classe média. A cidade carece, então, de uma estratégia de crescimento que permita acomodar estes novos habitantes. Neste contexto, começam a ser montados esquemas de planeamento que procuram, por um lado, resolver o problema destes habitantes recém chegados de Portugal continental e, por outro, o dos habitantes locais, principalmente os africanos que se instalam na periferia em bairros improvisados ou informais - os musseques. A unidade de habitação nº 1 do bairro Prenda (1963-65), concebida por uma equipa chefiada pelo arquitecto e urbanista Fernão Lopes Simões de Carvalho, surge neste enquadramento como um modelo de crescimento para novas áreas de expansão da cidade. O Prenda procura solucionar duas questões: a cidade "branca" de classe média e a cidade "negra" de uma classe mais desfavorecida. Simões de Carvalho – natural de Luanda – sabendo de antemão as dificuldades em propor um bairro completamente multi-racial, vai sugerir uma abordagem diferenciada, construindo blocos e torres residenciais para uma população colonial "civilizada" e um segundo nível de habitação, unifamiliar, pensada preferencialmente para a população pobre que já habita aquela área. Da conjugação destes dois níveis socio-económicos sairia, na visão do arquitecto, uma cidade racialmente mais integrada. Esta experiência excepcional no quadro colonial português acabaria por não ter continuidade após a independência. É de salientar, nesta intervenção, a elevada qualidade do seu desenho urbano e arquitectónico, concebido por um antigo colaborador de Le Corbusier, com uma vasta experiência em arquitectura tropical. Em 1956, Simões de Carvalho começa a colaborar no estúdio de André Wogenscky, sendo contratado para trabalhar especificamente na Unidade de Habitação de Berlim. Permanece até 1959, o que lhe permite participar em projectos relevantes do escritório, caso do Mosteiro de La Tourette ou do Pavilhão do Brasil na Cidade Universitária de Paris. O domínio apurado da linguagem moderna – principalmente daquela que ostenta uma marca béton brut, claramente apreendida na convivência com Wogenscky – irá reflectir-se nos projectos do seu "período africano". Paralelamente, Simões de Carvalho estuda urbanismo no prestigiado Institut d'Urbanisme de l'Université de Paris, na Sorbonne, onde sobressai a personalidade de Robert Auzelle, cujos princípios ministrados contrários à tábua rasa da Carta de Atenas e a importância dada à contextualização dos factores socio-económicos e demográficos, numa visão integrada e técnica, terão grande influência no seu trabalho quando regressa a Luanda em 1959. Este percurso profissional é relevante para se compreender a inovação que Simões de Carvalho traz como chefe do recém criado Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Luanda (1961), onde monta uma equipa de arquitectos, engenheiros, topógrafos, artistas, etc., reunindo a inteligência arquitectónica da cidade e desafiando-a a reflectir sobre o seu futuro. Este Gabinete propõe então a divisão de Luanda em bairros compostos por três a quatro Unidades de Vizinhança, cada uma com cerca de 5.000 a 10.000 habitantes. Cada bairro é traçado após detalhados inquéritos às populações e inventariação de equipamentos. Este paper pretende analisar o Prenda inserindo-o na corrente arquitectónica brutalista – buscando influências estéticas e teóricas –, bem como a sua génese histórica – onde a questão racial é o ponto de partida para uma solução integrada. Junto da população actual de Luanda, o Prenda continua a funcionar como um modelo urbano e arquitectónico desejado para a cidade do futuro, facto que justifica que continue a ser estudado e analisado, alertando para a sua necessária conservação. Palavras-chave: Brutalismo; Angola; Bairro Prenda At the end of the 1960s, Luanda, Angola's capital, has 224.540 inhabitants, a result of an extraordinary demographic growth that started two decades before, with new waves of European immigrants. This is the more visible result of the Estado Novo's migratory politics that, after the Second World War and with the strengthening of the independentist demands, encourage the settling of a "white" population, mainly middleclass. At that time, the city is in need of a growth strategy that allows for the accommodation of these new inhabitants. In this context, planning schemes begin to be assembled seeking, on the one hand, to solve the newcomers issue, and on the other, the residents issue, mainly the Africans who are installed in the periphery in informal or improvised neighborhoods – the musseques. The Prenda Neighborhood Unit No. 1 (1963-65), conceived by a team led by the architect and urban planner Fernão Lopes Simões de Carvalho, arises in this framework as a growth model to the new expansion areas of the city. The Prenda seeks to solve two questions: the middle-class "white" city and the underprivileged "black" city. Simões de Carvalho – born in Luanda – knowing in advance the difficulties of proposing a completely multi-racial neighborhood, suggests a differentiated approach, building residential slab blocks and towers to a colonial "civilized" population and a second housing proposal – single-family houses –, designed for the poor population that already inhabits the area. Through the combination of these two socioeconomic levels, in the architect’s vision, the city would become more racially integrated. This exceptional experience in the Portuguese colonial context would eventually not be continued after the independence. It is noteworthy, in this intervention, the high quality of its urban and architectural design, planned by a former employee of Le Corbusier, with a wide experience on tropical architecture. In 1956, Simões de Carvalho starts his collaboration in André Wogenscky studio, being hired to work in the Berlin´s Residential Unit. Remaining there until 1959, he participated in some of the office's most relevant projects, such as La Tourette Monastery or the Brazil's Pavilion at the Paris' University City. The ascertained mastery of the modern language, mostly that which displays a béton brut mark, clearly apprehended with Wogenscky, would be present in the projects of his “African period”. Simultaneously, Carvalho studies urban planning in the prestigious Institut d'Urbanisme de l'Université de Paris, at Sorbonne, where it stands out the presence of Robert Auzelle, whose taught principles – contrary to the tabula rasa of the Athens Charter and the importance given to the contextualization of socio-economic and demographic factors, in an integrated and technical vision – would have a great influence in Simões de Carvalho work when he returns to Luanda in 1959. This career path is relevant to understand the innovation that he brings as chief of the newly created Urbanization Office of Luanda City Council (1961), where he assembles a team of architects, engineers, topographers, artists, etc., gathering the architectonic intelligentsia of the city and challenging them to ponder about its future. This office then proposes the division of Luanda in districts composed by three to four Neighbourhood Units, each one with about 5.000 to 10.000 inhabitants. Each neighbourhood is designed following detailed inquiries to the population and inventorying of urban facilities. This paper intends to analyse the Prenda Neighbourhood, inserting it in its brutalist architectonic trend – searching for aesthetic and theoretical influences –, as well as examining its historical genesis – where the racial question is the starting point for an integrated solution. Among the current population of Luanda, the Prenda still works as a desired urban and architectonic model for the future city, a fact that justifies that it continues to be studied and analysed, alerting for its necessary conservation. Keywords: Brutalism; Angola; Prenda Neighbourhood

Polêmicas em torno do modernismo e da arquitetura tropical no Brasil na década de 1930

XXV Congresso de Iniciação Científica da Unicamp, 2017

Polêmicas em torno do modernismo e da arquitetura tropical no Brasil na década de 1930 Isis da Silva Telles*, Josianne Francia Cerasoli Resumo Em visita ao Brasil em 1931, o arquiteto Frank Lloyd Wright participa de um contexto agitado de discussão sobre a arquitetura moderna, e realiza diversas conferências no Rio de Janeiro, a última delas na Sede da Associação dos Artistas Brasileiros (AAB). Dois anos mais tarde, é inaugurado o I Salão de Arquitetura Tropical, sediado pela AAB, que tem Wright como presidente de honra. A partir desses elementos, esta pesquisa problematiza o papel das discussões de Wright nos discursos sobre arquitetura tropical, com o objetivo de contribuir para o entendimento da história da arquitetura moderna do país, visto que são elementos pouco abordados por grande parte da historiografia do movimento moderno brasileiro.

Uma História Natural da Utopia: O Caso das Cidades Obscuras

Citação: Gomes, Miguel Ramalhete, "Uma História Natural da Utopia: O Caso das Cidades Obscuras", E-topia: Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia, n.º 12 (2011). ISSN 1645-958X. http://ler.letras.up.pt/site/default.aspx?qry=id05id164&sum=sim I Uma criança que passeie por um museu de história natural cumpre, sem o saber, um ritual centenário marcado pelo fascínio não só perante os objectos que ocupam as prateleiras ou aparecem suspensos no ar como também pelo espaço do próprio museu. Qual é o encantamento particular dos museus de história natural? Um dos motivos será certamente o facto de aí a natureza se oferecer como objecto lúdico. Empalhada ou transfigurada numa montagem de ossos fossilizados, a natureza desperta o instinto de brincar. Animais desaparecidos ou simplesmente perigosos quase se oferecem ao toque. Segundo a antropologia filosófica de Giorgio Agamben, o jogo nasce da apropriação de um ritual cuja utilidade se esvaziou; este repete-se, já para além de qualquer função, como mecanismo autónomo e lúdico (cf. Agamben 2002: 127-129). De certa forma, ao ser transformada em objecto inanimado, ao despojar-se da sua actividade própria, a natureza ganha também ela um lado lúdico. 1 Como Museum through a Lens (cf. Snell & Parry 2009), um volume recente coligindo fotografias tiradas ao Natural History Museum entre 1880 e 1950, demonstra, outro dos atractivos dos museus de história natural é o facto de o próprio museu ser um objecto histórico e poder preservar o contexto em que se elaborava história natural no século XIX. O desenvolvimento das ciências transformou necessariamente esse contexto oitocentista e remeteu-o ao domínio da museologia. O local onde se escreveu e montou alguma história natural foi ele mesmo alvo das contingências da história humana, entre elas a Segunda Guerra Mundial. A história natural exibe assim uma outra história, que é humana.