A Cleópatra de Alessandra Negrini (original) (raw)

Cleópatra e o Sagrado Feminino

O texto investiga a história da lendária rainha do Egito através de suas principais adaptações para o cinema de ficção e de documentário. Com o objetivo de entender o personagem histórico e explicar o mito, o trabalho compara as versões com informações arqueológicas e históricas. Observa, ao final, que o mito de Cleópatra encanta tanto seus críticos que tentam encobrir e diminuir sua importância apresentando-a como uma mulher ambiciosa e sedutora, quanto seus admiradores, que não conseguem perceber seu comportamento vil, maquiavélico e dominador.

Mulher e Alástor: Clitemnestra no Agamêmnon de Ésquilo

Apresentação no VII Colóquio do grupo de pesquisa Estudos sobre o Teatro Antigo, USP/CNPQ, agosto de 2019: A Caracterização no Drama Antigo., 2019

Apresentação no VII Colóquio do grupo de pesquisa Estudos sobre o Teatro Antigo, USP/CNPQ, agosto de 2019: A Caracterização no Drama Antigo. Nas versões mais antigas do mito, presentes na Épica, Clitemnestra não é a protagonista do assassinato do marido, mas sim Egisto. No canto III da Odisseia, Nestor, o rei de Pilos, conversando com Telêmaco, filho de Odisseu, atribui a morte de Agamêmnon a Egisto 1. No canto IV (519-535), Telêmaco ouve também de Menelau que Agamêmnon fora assassinado pelo amante de Clitemnestra. No canto XI (387-439), Odisseu narra aos Feaces a consulta que

Des-orientar Cleópatra: um tropo moderno da identidade

Resumo Este artigo propõe um estudo da representação de Cleópatra ao longo do século passado, situando o debate sobre sua aparência e origens no âmbito da dominação colonial, das lutas anti-coloniais e das fricções raciais pós-coloniais que, como se tenta mostrar, acrescenta uma outra dimensão para entender o investimento na identidade de Cleópatra.

Cleópatra Prostituída Ou a Evocação Histórica a Serviço Da Sátira

DOAJ (DOAJ: Directory of Open Access Journals), 2016

Resumo Olavo Bilac (1865-1918), um dos principais poetas do parnasianismo brasileiro, publicou centenas de poemas satíricos em periódicos cariocas e paulistanos. A Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, foi o veículo principal dessa produção que criticava principalmente a vida social e política da então Capital Federal. Como intelectual orgânico dos grupos dirigentes, Bilac, em suas crônicas e sátiras, apoiava as iniciativas por vezes truculentas do poder público, que, nos primeiros anos do regime republicano, procurava controlar e disciplinar as chamadas "classes perigosas". No texto "Cleópatra (ode moderna)", publicado em 5 de maio de 1896 (p. 1, 6. col.), o poeta, sob o pseudônimo Fantasio, comparou uma prostituta carioca, expulsa da rua Senhor dos Passos pela repressão policial, à célebre rainha do Egito, amante de Júlio César e Marco Antônio. A comparação burlesca procurava expor ao ridículo a meretriz, mas a ironia do enunciado atingia até mesmo a autoridade policial. Em sua "ode moderna", Bilac fez uso paródico de um dos principais motivos explorados pelos parnasianos: a evocação da Antigüidade.

Superbo triumpho e triumpho magno: versões da Cleópatra em Horácio e Suetônio

Nuntius Antiquus, 2024

Este artigo busca analisar e comparar as representações da Cleópatra VII na ode I, 37, de Horácio e em trechos selecionados dos livros de Júlio César e de Augusto na obra De Vitis Caesarum, de Suetônio, estes com tradução original. Para tanto, primeiro apresenta-se informações gerais sobre os autores, as obras e a rainha egípcia, levando em consideração, para a análise, elementos literários, linguísticos e históricoculturais. O artigo também tem o intuito de situar os textos entre outros da literatura latina que representam Cleópatra, trazendo debates acerca da visão sobre mulheres e estrangeiros pelos romanos e como se dá o caso particular dessa rainha. Conclui-se que tanto a ode I, 37 quanto o De Vitis têm distanciamentos das características gerais da Cleópatra, respectivamente, da literatura augustana e de outras obras historiográficas; ademais, especula-se que a discrepância entre os textos parece ir além da questão dos gêneros literários diversos.

A Mística Rediviva de Clarice Lispector - por João Alfredo Montenegro

ABC Editora, Fortaleza, 2006

Análise da obra de Clarice Lispector, particularmente de seu romance "A Paixão Segundo G.H.", pelo prof. João Alfredo Montenegro, que o examina através de uma lente filosófica, com foco na mística e no processo de transcendência. Montenegro explora como a narrativa de Lispector, repleta de símbolos, imagens e temas existencialistas, oferece uma visão de mundo complexa que desafia a racionalidade tradicional e explora a busca por um sentido mais profundo da existência. O autor argumenta que a obra de Lispector, ao invés de se fixar em uma transcendência puramente espiritual, aborda uma mística terrena, onde o transcendente é encontrado dentro do próprio real, através da experiência e da busca incessante pela verdade. A análise se aprofunda em temas como o papel do corpo e da alma, a busca pela identidade, a natureza do sofrimento e da dor, a transcendência do imanente, e a complexa relação entre o ser e o não-ser. O texto busca, portanto, desvendar a mística presente na obra de Lispector e compreender como ela oferece uma nova perspectiva sobre o homem e o seu lugar no mundo.

CLARICE LISPECTOR: ESCRITA E SILÊNCIO

Revista Pistis&Praxis (PUC-PR), 2021

Este trabalho visa um estudo hermenêutico da problemática do silêncio na obra de Clarice Lispector, a partir de uma intersecção entre Filosofia e Literatura. Já evidenciado pela crítica ser o silêncio uma questão chave em sua obra (Benedito Nunes, 1989), tipificando uma inquieta e persistente busca pelo inexpressivo, nossa investigação situar-se-á nas "margens" que Clarice deslocou e fez delas o seu centro, demonstrando nelas os desdobramentos e as manifestações do silêncio, que se encontram com a própria escrita, mas que também conduzem a uma profunda e violenta confrontação com a própria autora. Palavras-chave: Clarice Lispector. Silêncio. Escrita. Errâncias. //// Abstract This work aims at a hermeneutic study of the problem of silence in the work of Clarice Lispector, from an intersection between Philosophy and Literature. As has already been evidenced by critics, the theme of silence is a key issue in his work (Benedito Nunes, 1989), typifying a restless and persistent search for the expressionless, our investigation will be located on the "margins" that Clarice displaced and made them its center, demonstrating in them the developments and manifestations of silence, which are found in the writing itself, but which also lead to a deep and violent confrontation with the author herself.

Negrinha Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma-"dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral", dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:-Quem é a peste que está chorando aí? Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.-Cale a boca, diabo! No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer... Assim cresceu Negrinha-magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.-Sentadinha aí, e bico, hein? Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.-Braços cruzados, já, diabo! Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas-um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante. Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim. Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo-não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim-por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida-nem esse de personalizar a peste... O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...