Imaginação, realidade e possibilidade na filosofia de Sartre (original) (raw)
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RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar uma das críticas de Mészáros à Sartre, qual seja, a da determinação negativa da totalidade. Partindo da distinção entre real e irreal regressamos à discussão entre o real e o imaginário e indicamos um terceiro elemento, o possível, como tessitura do real. O possível afere ao real como um movimento e denota este enquanto totalização. Assim, sempre como processo e possibilidade, o real e o total são compreendidos segundo a liberdade própria do sujeito. ABSTRACT: This article aims to analyze one of Mészáros' criticisms of Sartre, that is, the negative determination of totality. Starting from the distinction between real and unreal, we return to the discussion between the real and the imaginary and indicate a third element, the possible, as the texture of the real. The possible characterizes the real as a movement and denotes this as a totalization. Thus, always as process and possibility, the real and the total are understood according to the freedom of the subject.
Imaginação, Imaginário E Realidade Humana Em J. P. Sartre
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), 2018
Cabe lembrar que Sartre não desenvolve propriamente uma teoria estética, mas, como bem lembra Michel Sicard (Sartre et l'Esthetique, s/p), não há tema mais recorrente na obra do autor do que a questão da arte em geral-talvez apenas o tema da moral-, é nesse sentido que é pertinente falar em uma teoria estética sartriana. 28 SARTRE, O Imaginário, p. 245; ed. franc., p. 362. 29 Idem, Que é a Literatura?, p. 288. 30 MELO NETO, Obras Completas, p. 370. 31 No que tange ao estatuto do sonho na teoria sartriana do imaginário cabe uma menção ao excelente artigo O estatuto do sonho em O Imaginário de Sartre de Thana Mara de Souza. A autora explicita os equívocos presentes na leitura de Merleau-Ponty sobre o tema. É esclarecedora a forma pela qual Thana Mara de Souza utiliza a noção de estaticidade, visto que, por contraposição, essa noção desvela e remete a uma outra: a noção de tensão. Esta, a nosso ver, ocupa um lugar crucial no pensamento sartriano. Por fim, cabe destacar, e esse é o ponto principal, a perfeita distinção entre o caráter dinâmico e, simultaneamente, estático na análise da relação entre consciência imaginante e percepção quando a autora se refere à separação de direito, mas não de fato entre esses dois modos de atuação da consciência intencional.
Imaginação, imaginário e realidade humana em J. P. Sartre (Tese de doutorado - UNIFESP)
Imaginação, imaginário e realidade humana em J. P. Sartre (Tese de doutorado - UNIFESP), 2018
O objetivo do trabalho é discutir o lugar que a consciência imaginante e o imaginário ocupam no itinerário existencialista de Jean-Paul Sartre e também como estas instâncias se configuram como elementos necessários à constituição da própria realidade humana. Este intento exige mobilizar o conjunto do pensamento do autor, com especial destaque às obras de constituição das noções de consciência imaginante e imaginário em suas dimensões fenomenológica (A Imaginação e L’Imaginaire) e ontológica (L’Être et le Néant). Para tanto, é preciso tratar da implicação deste problema para a construção do método de apresentação da própria filosofia, algo que requer compreender a relação que se estabelece para o filósofo entre a criação ficcional (Literatura) e a reflexão filosófica (Filosofia). Tais problemas reclamam a análise dos desdobramentos destas noções de imaginação e imaginário no processo de composição e recomposição da história. Subjetividade e história, nesse registro, exigem-se mutuamente sem jamais se identificarem. Nesse sentido ainda é necessário ao filósofo construir um método capaz de abarcar simultaneamente a vivência concreta e as condições materiais da situação histórica; algo que surge em Questions de Méthode a partir do encontro entre psicanálise existencial e análise da história; mas que acaba, no registro de L’Idiot de la Famille, por requerer a criação de uma abordagem que mobilize, num mesmo movimento, psicanálise existencial, filosofia da história e criação ficcional.
Psicologia Fenomenológica da Imaginação em Sartre: A Eidética da Imagem
Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, 2018
Este artigo pretende investigar a crítica sartreana da teoria da imaginação tal como esta é esboçada em sua obra A Imaginação (1936): ver-se-á que Sartre pretende dar conta de uma nova variação eidética da consciência, a consciência imaginante, e de seu correlato, a imagem como modo específico que esta consciência imaginante possui para apreender uma presença a partir de uma ausência. Assim, a questão: o que deve ser uma consciência para que ela imagine um X qualquer que não está nem realmente e nem presentemente dado no campo fenomênico? Levando a cabo uma desconstrução teórica das psicologias e filosofias seiscentistas e setecentistas (bem como das psicologias positivistas do século XIX), Sartre espera renovar a teoria da imagem a partir de uma análise eidética: nesta toada, a imagem, como veremos, deixará de ser uma mera sensação renascente ou enfraquecida do objeto real. Além disso, a presente obra em curso de análise pretenderá, igualmente, operar uma crítica precisa à noção hu...
Sartre: a tenção dialética entre a realidade e o imaginário
2015
O presente trabalho tem por objetivo elucidar o conceito de imaginário em seu tenso contraste com o a realidade na filosofia de Sartre. Para isso, acompanhamos as situações vividas pelo personagem Roquentin de A Náusea (1938) em sua busca por “salvação”. O protagonista do romance passa a sofrer crises de Náusea a mediada que o mundo real lhe é revelado como contingente. A esperança de “salvação” da contingência surge quando o personagem descobre a possibilidade de construção de uma obra artística imaginária. Há aqui um impasse ontológico-epistemológico: não é possível explicar as coisas reais, não é possível reduzi-las aos limites do pensamento, deve-se então buscar uma saída estética que é a obra imaginária, a história sobre o que não existiu. A questão sobre como o imaginário pode ser uma “salvação” da realidade nos leva ao seguinte problema moral: o imaginário, ao negar o real e produzir o inexistente, não seria uma fuga, uma recusa de enfrentar o mundo em sua contingência? Como veremos, o imaginário é algo muito mais complexo que um mero instrumento de fuga do real
Sartre e a relação entre real e irreal na obra de arte
Outramargem, 2015
A obra de arte, sendo imaginária, é criada a partir de um afastamento do real, mas pressupõe sempre uma realidade em relação a qual ela é afastamento. Há uma dialética entre real e irreal na obra de arte. Cada artista, e mesmo cada espectador da obra, colocam de maneira distinta a imagem de acordo com a situação concreta em que se encontram. A obra imaginária pode ser colocada na relação com um mundo no qual se procura lutar por uma nova sociedade ou justificar a existente, exaltar a elite ou zombar dela, esquecer os problemas cotidianos ou tentar compreender uma existência que se revela absurda.
REALISMO E CONSCIÊNCIA PERCEPTIVA EM SARTRE
REALISMO E CONSCIÊNCIA PERCEPTIVA EM SARTRE, 2023
Resumo: Objetiva-se, no presente artigo, apresentar um percurso em alguns textos e obras de Sartre que antecedem à ontologia de 1943, L'être et le néant, que indica elementos de um pensamento realista, isto é, que mantém algum estatuto irredutível no mundo. Para isso, valemo-nos de textos como a dissertação sartriana, de 1927, sobre a imagem para a obtenção do Diplôme d'Études Supérieures, tal como o breve ensaio sobre a intencionalidade de Husserl, publicado em 1933. Em relação às obras, utiliza-se La transcendance de l'Ego, L'imagination e L'imaginaire, no intuito enfatizar os elementos que envolvem a ambiguidade da noção de consciência perceptiva, a qual envolve a atividade e espontaneidade referente à consciência, além de relacionar a passividade e receptividade inerentes à percepção. Visto isso, pode-se concluir que no empreendimento de Sartre em superar o idealismo e realismo tradicionais, mesmo o autor radicalizando a teoria de Husserl, ele indica um "novo realismo" que, de certo modo, está relacionado às ambiguidades da consciência perceptiva.
Entre a Literatura e a Filosofia em Sartre: a realidade do irreal ou algo sobre criar pássaros
Sartre Hoje Vol. 1, 2017
O problema da imagem e do imaginário sempre ocupou lugar central no itinerário sartriano. Não seria um abuso afirmar que é a partir de suas análises acerca da consciência imaginante que o autor desenvolve seu principal conceito filosófico, a liberdade. Com sua crítica à maneira pela qual o problema foi tradicionalmente enfrentado, inaugura-se um novo paradigma na historiografia do conceito. Instaura-se a necessidade de se considerar a imagem como um ato da consciência, realizando assim a definitiva cisão com a tradição substancialista da imagem. Doravante, não se pode mais, impunemente ao menos, considerar a imagem como uma coisa que habita a subjetividade humana. A imagem se configura, para Sartre, como um ato intencional da consciência imaginante.
Da irredutibilidade e inseparabilidade entre percepção e imaginação em Sartre
Revista Educação e Filosofia, 2018
Pretende-se mostrar, nesse artigo, como se dá a relação entre percepção e imaginação na filosofia de Sartre a partir de suas obras iniciais, principalmente A imaginação e O imaginário. Veremos como o ponto de partida – a irredutibilidade das consciências, que leva à separação radical de direito entre percepção e imaginação; leva o autor à conclusão da inseparabilidade dinâmica entre elas. Longe de constituir uma contradição, o pensamento sartriano aponta para uma tensão entre os termos e para a manutenção dos aspectos estático e de direito e ao mesmo tempo, dos aspectos dinâmicos e de fato; sem que um anule o outro.
Sobre a imaginação: de Sartre a Merleau-Ponty
O artigo investiga o modo pelo qual Merleau-Ponty compreende a experiência do imaginário ao longo de sua obra. Buscamos analisar dois momentos decisivos. No primeiro, enfatizamos a proximidade com a filosofia de Sartre – a despeito das diferenças que os separam, por conta da centralidade do corpo próprio na Fenomenologia da Percepção –, a qual nos convida a pensar a imaginação enquanto exercício da liberdade da consciência. Num segundo momento, Merleau-Ponty se dá conta do idealismo inerente à proposta sartreana e abre campo a uma nova abordagem do imaginário: o filósofo analisa o caráter corpóreo e passivo das produções imaginárias, tendo por referência a psicanálise freudiana e a abordagem do simbólico empreendida por esta.