O abandono escolar pela comunidade cigana e seus reflexos nos tribunais superiores em Portugal (original) (raw)

Etnicidade e educação familiar : o caso dos ciganos

2005

The present article has the aim of reflecting on the results of an on-the-ground research (of a qualitative character) udeveloped in a Gypsy community in what the forms and processes of family socialization and education of children is concerned, in relation of the structuring of their primary habitus. The existence, in these families, of a valorization of certain kind of values and norms of behaviour is given importance. These values and norms, already realized in diverse studies, are attributable to forms and processes of family education that derive from the belonging to favoured classes. Taking into consideration that the families studied fit in the so-called disfavoured social classes, we defend that the family education that is realized in these families derives from an overlapping of an ethnic belonging over a class belonging, being simultaneously at the origin of a certain security for action and the maintenance of certain cultural characteristics that define the lifestyles ...

A integração/ exclusão social de uma comunidade cigana residente no Porto

As sociedades modernas baseiam-se em Estados-Nação que promovem a cidadania pressupondo um sistema democrático que salvaguarda o princípio básico da igualdade de todos perante os direitos fundamentais e no acesso a eles. Supõe-se a difusão de um capital d e saber universal que fomentado por uma escolarização prolongada é condição fundamental de acesso ao mercado de trabalho e, por consequência, a todas as condições de vida estruturantes, tais como a habitação, o acesso à saúde, ao mercado de trabalho, etc. (Giddens 1990(Giddens , 1997 Pinto 1995) Partindo do princípio que todos os indivíduos estão em igual posição perante as condições de acesso, a sociedade dominante normalmente propõe modelos únicos no sentido de promover a "normalização". No entanto, apesar de legalmente salvaguardados os direitos de todos, de facto, no "país real" o acesso aos direitos cívicos, sociais e políticos não é proporcionado de igual forma para todos os cidadãos (Pinto, 1995; Benavente et al.1997). É nesta posição que se encontram frequentemente os grupos étnicos minoritários desfavorecidos e entre eles a etnia cigana. Os ciganos, cidadãos de pleno direito na lei, vêem dificultado o seu exercício de cidadania perpetuando-se uma posição marginal relativamente ao poder. Ao contrário de outros grupos étnicos, os ciganos não têm quem os represente oficialmente. Não existem embaixadas, nem acordos bilaterais entre países, tal como acontece, por exemplo, com os imigrantes.

Etnia cigana e educação especial: representações e práticas da escola

2008

Palavras-chave: etnia cigana, escola pública, educação especial, diferença, desigualdade, metodologia etnográfica. Nesta comunicação apresentar-se-á um estudo que visa desocultar uma problemática ligada à diversidade cultural nas escolas e alertar para que se reflicta sobre o modelo de escola em que trabalhamos e a forma como olhamos em particular para os alunos ciganos. É uma pesquisa realizada no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação e Diversidade Cultural e pretende conhecer, num determinado contexto escolar, as representações dos docentes de alunos de etnia cigana com problemas de aprendizagem, integrados nos serviços apoio educativo, a concluírem o 1º Ciclo, bem como as representações que os pais dessas crianças têm da escola. Descrevemos o percurso metodológico realizado e desenvolvemos o estudo empírico, a partir dos registos da observação participante realizados, das entrevistas aos professores, aos professores de Educação Especial e aos pais dos alunos observados e, da análise dos processos escolares dos alunos, na procura das representações que os diferentes agentes fazem de si próprios, da escola, da Educação Especial e dos alunos ciganos. Pautando-se pela imposição de uma identidade única, entendida como "normal", a escola tende a considerar a diferença, enquanto anormalidade, como um desvio a tal padrão, procurando categorias, nomenclaturas e níveis. Nesta perspectiva, podemos dizer (não de uma forma explícita, uma vez que o conceito de deficiência se encontra muito associado a determinadas patologias clínicas e a desvios comportamentais graves), que a escola procura justificativas patológicas para compreender o insucesso escolar destes alunos ou, de outra forma, que a escola, ainda que de uma forma não totalmente consciente, tende a tornar a diferença como deficiência. This communication is to introduce a study aimed at uncovering a problem linked to cultural diversity in schools and to alert to the fact that the school model with which we are working and the manner in which we perceive pupils must be reflected upon, in particular those of gypsy origin.

Reflexo – Ferramenta pedagógica para uma nova relação entre a escola e as comunidades ciganas

Edição Coolabora, 2019

Os estereótipos, e consequente discriminação da comunidade cigana, são uma realidade que se mantém nos dias de hoje. Os obstáculos observados ao longo do processo de integração desta comunidade na cultura maioritária refletem-se particularmente no elevado abandono e insucesso escolares. Foi com base na constatação destes problemas que surgiu o Projeto Reflexo - Imagens Positivas que, numa perspetiva de educação intercultural, tem como objetivo colocar a comunidade cigana e não cigana a refletir sobre os seus valores e tradições, no sentido de potenciar o diálogo e um maior conhecimento e aceitação mútuos. Pretende-se, deste modo, através de uma escola mais inclusiva, empoderar jovens da comunidade cigana, levando a que reflitam sobre o que é valioso na sua cultura e de que forma se podem inserir na cultura maioritária sem perder a sua matriz própria. A escola aparece assim como instrumento de uma política emancipadora e espaço da educação política das novas gerações, procurando através da diferenciação e do multiculturalismo curricular promover uma maior justiça e equidade. Em suma, através da conceção, experimentação e edição de um recurso com atividades pedagógicas a ser utilizado nas escolas e envolvendo ativamente, neste processo, alunos e alunas, professores e professoras e ainda encarregados e encarregadas de educação, pretende-se contribuir para: – a permanência das crianças ciganas na Escola para além do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico, combatendo, assim, o abandono escolar nesta população; – o respeito de toda a Escola em relação à comunidade cigana, através da valorização das diferenças culturais e promoção de uma cultura de não discriminação no contexto escolar (ou seja, uma Escola inclusiva).

O estigma da "impureza dos ciganos" e os modelos de discriminação no mundo português.

2016

Resumo: No presente artigo buscaremos refletir sobre a construção do estigma da impureza do sangue dos ciganos no mundo português, atentando para os modelos discriminatórios aplicados a este grupo étnico em Portugal durante o período moderno. Abstract: In this paper, we reflect towards the construct of the stigma of impurity of the gypsy blood in the Portuguese world, attempting to the discriminatory models applied to this ethnic group in Portugal during the Early Modern Age.

O multiculturalismo na escola: o caso dos alunos de etnia cigana

2007

Constru Construç ção de sentido ão de sentido ENTREVISTA AOS ALUNOS A1 27/03/2006 Entrevistador-Gostas de andar na escola? A1-Sim. Entrevistador-Que é que gostas mais de fazer na escola? A1-Fazer trabalhos. Entrevistador-Que trabalhos é que gostas de fazer? A1-De Língua Portuguesa. Entrevistador-E o que menos gostas de fazer? A1-Pintar. Entrevistador-Que outras coisas gostarias de fazer na escola? A1-Trabalhos. Entrevistador-Que trabalhos? A1-De L. Portuguesa e Matemática. Entrevistador-Diz-me uma coisa que não fazes e gostavas muito de fazer? A1-Os livros do 2.º ano. Entrevistador-Na sala de aula falas sobre a tua família? A1-Sim. Entrevistador-O que é que falas sobre a tua família? A1-Não sei. Entrevistador-O que vais fazer à escola? A1-Aprender. Entrevistador-Achas importante a escola para ti? A1-Sim. Entrevistador-Porquê? A1-Porque é bom, porque é muito bom. Entrevistador-Por que é que é boa a escola? A1-Para aprender. Entrevistador-O que é que gostas de aprender na escola? A1-Fazer os livros, fazer as fichas. Entrevistador-Gostas de aprender a ler e a escrever? A1-Sim. Entrevistador-Por que é que queres aprender a ler e a escrever? A1-Para aprender, para passar de ano. Entrevistador-Tens aprendido muito na escola? A1-Sim. Entrevistador-Contas à mãe o que aprendes na escola? A1-(Silêncio) Entrevistador-Contas à mãe o que aprendes na escola? A1-Não Entrevistador-Gostas de brincar com os teus colegas? A1-Sim. Entrevistador-Com quem brincas no recreio? A1-Com os meus amigos. Entrevistador-Quem são os teus amigos? A1-O A, a A, a C, o M e a F. Entrevistador-São todos alunos ciganos? A1-Sim. Entrevistador-Há outros meninos ciganos na tua escola? A1-Há. Entrevistador-É com eles que brincas? A1-Sim. Entrevistador-Brincas com mais alguém? A1-Não. Entrevistador-Gostas de brincar com outros meninos? A1-Não Entrevistador-E eles gostam de brincar contigo? A1-Não. Entrevistador-Gostas da tua professora? A1-Sim. Entrevistador-Porquê? A1-Porque ela trabalha bem. Entrevistador-Quem são os teus melhores amigos? A1-É o A, o M e à F. Entrevistador-São mais novos ou mais velhos que tu? A1-São mais novos. Entrevistador-O A. é mais novo que tu? A1-Silêncio. Entrevistador-Tem mais idade que tu? A1-Tem. Entrevistador-Na sala quem é o teu colega de carteira? A1-Estou sozinho. Entrevistador-E se esta escola tivesse só alunos ciganos. Tu gostavas? A1-Sim. Entrevistador-Achavas bem? A1-Sim. Entrevistador-Porquê? A1-Porque gosto muito dos meus amigos. Entrevistador-Com quem fazes trabalhos na sala de aula? A1-Ca professora. Entrevistador-De quem gostas mais na escola? A1-Da professora. Entrevistador-Vives com a mãe? A1-É. Entrevistador-A tua mãe vem à escola falar com a tua professora? A1-Vem Entrevistador-Que é que ela vem fazer à escola? A1-Vem assinar o papel. Entrevistador-Então é a mãe que vem buscar as tuas notas? A1-É Entrevistador-A tua mãe já esteve em alguma festa na escola? A1-Esteve em casa. Entrevistador-E na escola já esteve em alguma festa? A1-Não. Entrevistador-E tu já estiveste em alguma festa na escola? A1-Já. Entrevistador-Em que festas já estiveste aqui na escola? A1-Não sei. Uma da nossa sala fez anos. Entrevistador-E não estiveste em mais nenhuma festa? Entrevistador-O que tens aprendido na escola? A2-As tabuadas. Entrevistador-Sabes ler? A2-Também mais ou menos. Entrevistador-Contas aos teus pais o que aprendes na escola? A2-Acena com a cabeça que não. Entrevistador-Gostas de brincar com os teus colegas? A2-Sim. Entrevistador-Com quem brincas no recreio? A2-Com o A. e com a C. Entrevistador-São meninos ciganos? A2-Sim. Entrevistador-Há outros meninos ciganos na tua escola? A2-Há é o A. que anda no 4º ano, a F. e o A.