Kafka, um poeta da "prosa miúda (original) (raw)
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Franz Kafka, Fernando Pessoa e Mário de Andrade: o alcance das pequenas literaturas
Revista Sociologias, 2018
Resumo Em seus diários, Franz Kafka formula a noção de pequena literatura, que servia para designar a produção de povos sem tradição literária. Nesse tipo de produção, Kafka percebeu a possibilidade de vocalizar uma cultura e contribuir para conferir-lhe coesão social. Embora Kafka não tivesse em mente a sua própria produção quando cunhou o termo-o que gerou um debate acalorado que permanece aceso, sobretudo após Deleuze e Guattari publicarem, em 1975, um ensaio sobre o tema-o propósito deste artigo é o de averiguar em que medida o olhar de Kafka, como analista da cultura (aquele que formula a noção de pequena literatura), enxerga na literatura de seu tempo um conjunto de atributos que a apresentam como um intérprete e um ator social e político. O alcance analítico dessa categoria é examinado num trabalho comparativo com o olhar lançado por Fernando Pessoa e Mário de Andrade a seus respectivos contextos culturais, de forma a alargar a noção de pequena literatura formulada originalmente por Kafka. Palavras-chave: Pequena literatura, Franz Kafka, Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Literatura e política.
O corpo-escrito e o corpo-lido de (e por) Franz Kafka
Revista Criação & Crítica, 2020
Da leitura da papelada que Franz Kafka deixou, um peculiar corpo se revela. Premido pelo que entendeu como o seu destino literário, ele engendrou para si mesmo, por meio da escrita, uma existência poética ao transformar os seus mundos interno e externo em um corpo escrito. Assim como outros que dedicaram suas vidas à arte, Kafka também manteve sua retórica de clausura, mas não há dúvida de que se valeu do mundo externo para nutrir o interno e elegeu a escrita para registrar a constituição de ambos que, fixados graficamente, compõem um corpo escritural que é dado a circular através da leitura. Nessa conjuntura, corpo-escrito e corpo-lido integram o desejo muito íntimo do autor de dar uma feição ideal ao seu próprio “eu”, de dar voz a uma existência que se sentia coagida ao silêncio e a encenar, por meios não tão óbvios, uma comunicação que se perdura no tempo. É recorrendo especialmente aos seus escritos íntimos, como as cartas e os diários, que este artigo pretende demonstrar que co...
Kafka e a escrita destinada ao pai: de uma Carta à letra
Universidade Federal de Minas Gerais, 2013
Às queridas Lúcia Castello Branco, Vania Baêta, Vera, Cláudia, aos Joãos e caros colegas das Letras, que, em torno de aulas, estudos, encontros, textos, muita poesia e boas conversas, indicaram o poder de aventura que uma carta pode guardar. Ao professor Ram Avraham Mandil, que com sua leitura/escuta atenta, sutil e precisa soube me orientar/acompanhar de modo raro e onde o texto mais exige. Ao professor Elcio Loureiro Cornelsen, por toda ajuda pronta e generosa, na busca de entendimento na babel das traduções de Kafka e pelas indicações bibliográficas decisivas. Aos membros da Banca, professor Elcio Loureiro Cornelsen, professoras Márcia Rosa Vieira e Lúcia Castello Branco, por terem aceitado o convite de participar dessa defesa. Aos meus amigos e companheiros na psicanálise, pela presença e interlocução valiosas que tornam possível uma comunidade analítica de Escola. À Raquel Pardini, entusiasmada e seduzida pela língua alemã, que aceitou a experiência de lermos juntas a Carta ao pai no original. Ao Wagner de Souza, pela presença amiga e por toda a assessoria filmográfica envolvendo os temas de Kafka explorados pelo cinema. À Vivi & ao Ângelo Vasconcelos e à Mônica Neves, que com seus verdes recantos cheios de lua fazem com que o planeta ainda seja a Terra, permitindo o silêncio de um mundo de sonhos e de escrita. Aos meus pais, Sônia e José, pela transmissão do gosto pelas artes, do sabor das letras e das línguas. Aos parentes, antepassados e agregados, que fizeram dessa transmissão uma outra linhagem. Aos meus queridos Inácio, Matheus, Carlos, Júlio e Cleô, a mais nova na família, pela alegria e amor cotidianos, e ainda, pelo apoio, interesse, gozações, traduções, sugestões e leituras preciosas. RESUMO Aos trinta e seis anos, já com a doença que o mataria, Franz Kafka escreve uma longa carta ao pai. Apesar de não ter sido entregue sabemos que essa carta, um testemunho literário, manteve seu valor para o escritor e foi publicada postumamente, assim como a maior parte de sua obra. Nessa epístola, Kafka se debruça sobre os conflitos com o pai e principalmente sobre o maior impasse de sua vida, o casamento. A partir dessa carta, que teve o destino de uma mensagem para o próprio remetente, pretendemos acompanhar o autor theco também em sua obra, diários e vasta correspondência, naquilo que revela ser a função da escritura e da letra em uma vida que, em suas palavras, se confunde com a literatura, na busca de uma saída.
Kafka metamorfoseado em quadrinhos
Revista Veredas - Revista de estudos lingüísticos, 2008
RESUMO: Considerando linguagem como um sistema de signos que pode compreender mais que a comunicação verbal, pode-se afirmar que histórias em quadrinhos possuem uma semântica e uma sintaxe próprias . A partir da versão quadrinística de A metamorfose, procura-se ilustrar como alguns elementos visuais desses dois eixos são utilizados concretamente e seus efeitos em relação à narrativa.
A literalidade e a lei infame em Franz Kafka
As obras de Kafka são como as estruturas magistrais daquilo que jamais será consumado. (Maria Pujnamova) Em seu ensaio dedicado à obra de Franz Kafka, Anotações sobe Kafka (escrito entre 1942Kafka (escrito entre e 1953, o filósofo Theodor Adorno aproxima a produção da obra deste escritor a uma experiência com a psicanálise, apresentando uma tese paradoxalmente elucidativa e enigmática:
A novela de Kafka "O veredito" não termina apenas pela queda do filho, mas também pela do pai, cujo baque sobre a cama ele ouve em sua carreira para o rio onde vai executar a condenação saltando a amurada da ponte. Entre a vida e a morte, na Rússia distante, convulsionada pelas revoluções, resta o fantasmagórico amigo de Petersburgo. Das relações sociais e econômicas e afetivas na pátria, apenas a maquinaria do tráfego sobre a ponte. Um tráfego "infinito", onde infinito indica, em sua falta, o horizonte que funda a experiência trágica. Essa indicação do infinito pressupõe para ele uma presença, ainda que no negativo, que só é possível se considerarmos que, para além do tráfego sobre a ponte, há no fim não outro sobrevivente, mas alguém que nasce no "afogamento": o duplo do amigo de Petersburgo, um outro fantasma: o escritor. É esse fantasma que alcança essa presença desde onde é possível apontar a falta em seu mundo, o mundo capitalista do século XX, do que garante a experiência trágica. A análise se encerra pela aproximação entre duas construções que são aparentemente as mais díspares: a ponte de Kafka (Die Brücke) e a ponte de Heidegger (Construir, habitar, pensar). Palavras-chave: O veredito -A ponte -Kafka -Heidegger.
Kafka e o Estranho Mundo da Burocracia
Agradecemos a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para o desenvolvimento deste livro. O primeiro agradecimento é ao editor Manuel Robalo, responsável pela edição portuguesa. Foi o seu entusiasmo pela exploração da vida organizacional, a partir da perspectiva de Franz Kafka, que nos levou a concretizar um projeto que permanecia há anos em nossas cogitações. Da mesma forma, agradecemos ao editor brasileiro, Aílton Brandão, por ter abraçado a causa e ajudado a disseminá-la. Agradecemos também aos colegas com os quais partilhamos discussões sobre burocracia e modernidade, especialmente Stewart Clegg e Mary Uhl-Bien. Finalmente, registramos que a dívida maior e mais óbvia é creditada ao próprio Franz Kafka, o grande escritor que alterou profundamente nossa percepção sobre os meandros da vida organizacional. 4 APRESENTAÇÃO Vivemos em uma sociedade de organizações, de grandes organizações, e quase todas elas são burocracias. Estes notáveis sistemas nos proporcionam serviços e produtos essenciais, porém também nos vitimam com a má qualidade de seu atendimento, com seus vícios e com suas idiossincrasias. Como funcionários, clientes ou cidadãos, todos colecionamos verdadeiras histórias de terror, fruto de nossa convivência com as burocracias.