Teoria Crítica e Psicanálise (original) (raw)
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Teoria do Cinema e Psicanálise
Cinema e Psicanálise são continentes que sempre mantiveram uma atração mútua. A psicanálise formou-se em proximidade com a análise de grandes mitos da humanidade, possuindo, na raiz de seu método de trabalho, a suposição de uma estrutura narrativa. Em torno desta mesma necessidade narrativa, constitui-se o núcleo da tradição cinematográfica que, em sua forma mais típica, é chamada de classicismo narrativo ou narrativa clássica. O "motivo" psicanalítico tornou-se um grande gancho para a ação ficcional e Hollywood logo percebeu-se disto, apesar da resistência do próprio Freud ao uso "selvagem" de seu método. Paradigmático deste encontro "narrativo" entre psicanálise e cinema é o filme Psicose (Psycho, EUA, 1960) de Alfred Hitchchcock. Em sua simplificação do método psicanalítico, evidencia para o que serve a psicanálise na ficção cinematográfica. O próprio Freud acabou envolvido em uma trama similar na feitura de O Segredo de uma Alma (Geheimnisse Einer Seele, Alemanha, 1926), de Georg Wilhelm Pabst. O diretor trabalha em colaboração estreita com dois assistentes de Freud, Karl Abraham e Hans Sachs, na composição de um enredo recheado de passagens oníricas. A psicanálise aqui também exerce função explicativa (como motivação dramática), embora com um pouco mais de sutilezas que no padrão hollywoodiano. Freud depois iria desautorizar o filme. Em um mapeamento amplo das zonas de intersecção entre cinema e psicanálise creio ser este um primeiro ponto a ser realçado: o método psicanalítico pensado a partir de uma estrutrura causal linear (como motivação verossímil para a ação), dentro da estrutura narrativa que caracteriza o classicismo cinematográfico. Através da obra de seu fundador, a psicanálise desenvolveu um largo campo de análise de obras artísticas. Dentro de uma perspectiva autoral, a obra artística surge como manifestação do sintoma. A tradição da análise autoral psicanalítica teve campo largo no cinema. Cineastas como Eisenstein, Lang, Hitchcock foram trabalhados através do método analítico, tendo traços estéticos de suas obras interpretados na interação com aspectos biográficos, "psicanalisados" dentro da linha do inaugural trabalho de Freud sobre Leonardo da Vinci 1 . Ensaios clássicos neste sentido são o pioneiro e polêmico "Eisenstein -L'arbre jusqu'au racines" de Dominique Fernandez 2 , onde a autora trabalha os personagens e a composição imagética dos filmes e desenhos de Eisenstein a partir de ferramental psicanalítico; e o trabalho de Donald Spoto sobre Alfred Hitchcock, "The Art of Alfred Hitchcock" 3 . No cinema brasileiro, interessante estudo onde sente-se subterrâneo o veio psicanalítico, nesta mesma linha de trabalho, é feito por Jean-Claude Bernardet em "O Vôo dos Anjos: Bressane, Sganzerla -Estudo sobre a criação cinematográfica" 4 . Bernardet pensa a noção de paternidade, com pinceladas psicanalíticas, dentro de uma análise fílmica cerrada, tradição própria da reflexão acadêmica brasileira no campo do cinema. A psicanálise também serviu como base, durante os anos 60 e 70, para o desenvolvimento, na Europa e nos Estados Unidos, de uma tradição de análise fílmica plano a plano, carregada de teoria. Em particular podemos lembrar os trabalhos de Raymond Bellour e Thierry Kuntzel, onde uma análise descritiva próxima à imagem é utilizada para pensar questões teóricas mais amplas, como a dimensão edipiana inerente a toda narrativa (Bellour), ou o conceito de "trabalho fílmico" em sua relação com o "trabalho onírico" (Kuntzel) 5 . . 5 De Thierry Kuntzel ver "Le Travail du Film". Revue Communications, nº19; "Le Travail du Film 2". Revue Communications nº23 e "Le Défilement". Revue d'Esthétique, nº 2-4. Kuntzel é um dos principais autores que trabalham neste cruzamento psicanálise e teoria do cinema nos anos 70, utilizando-se da metodologia de análise fílmica. Para Raymond Bellour ver o essencial "Le Blocage Symbolique" (contendo detalhada análise de Intriga Internacional de A. Hitchcock), publicado originalmente em Communications nº23 e depois em Bellour, Raymond. "L'Analyse du Film". Paris, Albatros, 1979. Também deste autor devemos citar "Psychose, névrose, perversion" publicado originalmente na revista Ça. nº17, janeiro 1979 e depois reproduzido em "L'Analyse du Film". O trabalho de Bellour é central para compreendermos a evolução da presença de psicanálise na teoria do cinema, tendo sido desenvolvido simultaneamente a um interessante aprofundamento O objeto deste estudo -é importante frisarmos de saída-não será a presença da psicanálise como motivo da ação narrativa cinematográfica, nem o estudo autoral de um artista-cineasta. Pretendemos fornecer um breve panorama do profícuo cruzamento conceitual entre um campo bastante pesquisado (o da psicanálise propriamente) e outro que permanece relativamente pouco conhecido: o da teoria do cinema. A teoria do cinema possui uma tradição, já quase centenaria, onde são pensados os pressupostos teóricos que envolvem a reflexão sobre a imagem em movimento em sua forma e mesmo alguns companheiros de viagem famosos como Merleau-Ponty, Erwin Panofsky, André Malraux, compuseram, na primeira metade do século, um campo conceitual próprio que manteve, nas décadas seguintes, um diálogo denso e contínuo com as principais tendências filosóficas de nossa época. Foi este substrato original que permitiu o trabalho em teoria do cinema de autores de tendências diversas como Mulvey e tantos outros. Dentro deste quadro, a psicanálise, principalmente em sua versão lacaniana, exerce, durante os anos 60 e 70, uma forte influência conceitual sobre a teoria do cinema, resultando em um intercâmbio com alguns traços curiosos. Noções caras à evolução da teoria do cinema na primeira metade do século, sofrem inflexão psicanalítica e passam a dialogar em termos ativos com o pensamento de tradição freudiana. A influência é tão forte que mesmo revistas originalmente voltadas para um público mais amplo, como a tradicional Cahiers du Cinéma, passam a ostentar artigos com conceitual psicanalítico pesado, exigindo um conhecimento denso deste referencial para sua compreensão. Em uma determinada altura, na virada dos anos 60, o Cahiers abandona inclusive a publicação de fotos, para centrar-se em emaranhados artigos teóricos. Ao lado do marxismo estruturalista, a teoria psicanalítica passa a ser a principal estrela da revista. São divulgados ensaios que dialogam com a tradição conceitual da teoria do cinema, deixando em segundo plano estudos autorais que utilizam ferramental psicanalítico. da metodologia da análise fílmica.
Psicanálise contemporânea à luz da teoria crítica
Impulso, 2018
Esta pesquisa preliminar discute os sofrimentos psíquicos contemporâneos abordados pela clínica psicanalítica, à luz da teoria crítica. Pretendemos retomar a crítica social subjacente aos conceitos da psicanálise, tendo em vista o confronto da noção de indivíduo, discutida por Horkheimer, Adorno e Marcuse, com a noção de sujeito da psicanálise. Ressaltamos a dimensão histórica da subjetividade moderna para evidenciar os mecanismos sociais que impelem os indivíduos às regressões psíquicas no capitalismo tardio, a partir da análise dos conceitos de narcisismo, ego, imaginário e gozo. O estudo da categoria indivíduo no que tange às suas contradições faz-se premente, pois essa se apresenta como um contramodelo em face das subjetividades contemporâneas imersas em condições sociais que as obrigam às demais formas de sofrimento psíquico, condizentes à irracionalidade objetiva. Trata-se do esforço de querer discutir, a partir da análise sobre as novas formas de mal-estar, os desdobramentos ...
Trivium: Estudos Interdisciplinares, 2016
Fragmentos de tragédia e de psicanálise", eis o subtítulo escolhido por Antonio Quinet para o seu novo livro Édipo ao pé da letra, recém lançado pela editora Zahar. Um e outro, o título e o subtítulo, são fieis ao que o leitor encontrará, na medida em que for virando suas páginas. Porém, mais do que isso, suas páginas testemunhariam, se necessário fosse, que não vivemos para além do Édipo, como não vivemos para além do inconsciente, nem mesmo da psicanálise. Mas, para caminhar com seus próprios pés, é preciso tomar o Édipo ao pé da letra. Esta seria talvez a melhor síntese de todo o livro. Arriscaria dizer que a ideia da escrita por meio de fragmentos dá ao livro um toque singular que nos permite tratá-lo como uma sessão de análise, como se estivéssemos escutando algo assim: "Sim, comece de onde você quiser. Quer voltar atrás? Então volte, quantas vezes você quiser. Já não dizia Fernando Pessoa que é preciso navegar?!" Tome a direção que tomar, você irá surpreender-se. Se o autor nos adverte de que encontraremos algumas frases repetidas, verificamos, no entanto, que a repetição nunca é repetição do mesmo, pois este livro, simultaneamente leve e erudito, é acima de tudo um cuidadoso trabalho de decifração de enigmas. Com ele, tomamos conhecimento dos diferentes modos de se ler a tragédia de Édipo, aprendemos como traduzir os mais variados termos da língua grega, e descobrimos o sentido, por vezes trágico, do gozo de lalíngua. São ao todo cinco partes: Édipo em Freud, Édipo em Lacan, Retorno a Sófocles, O enigma da Esfinge e A tragédia grega. Cada uma é composta por um número variável de capítulos, e este chegará a 23 na última parte. Composto por uma série de fragmentos, nem por isso se trata de um livro fragmentado. Qual Sherlock Homes, ele nos deixa a impressão de que Quinet se deixou guiar de ponta a ponta por uma pergunta misteriosa: Por que Sófocles não se debruçou sobre o crime de Laio? E seus desdobramentos: Por que Freud e Lacan tampouco o fizeram? Por que, principalmente, omitiram este crime que se estende como uma maldição pelas gerações subsequentes e põe fim aos filhos de Édipo e de Jocasta sem deixar herdeiros? A bem da verdade, desde a orelha do livro, somos informados de que Antonio Quinet, com seu Édipo ao pé da letra, vai em busca da "preteridade velada", desta que só advirá em ato, mediante o inevitável retorno do recalcado. Ao revirar o Édipo pelo avessoseguindo uma orientação bem lacaniana, por sinal-ele descobre a origem do vaticínio do oráculo de Delfos: "Matarás teu pai e dormirás com tua mãe!" Ela está no crime de Laio, o homem do pé torto. Para quem não sabe, o avô do Édipo se chamava Labdaco, isto é, pé manco, seu pai,
Eleuthería - Revista do Curso de Filosofia da UFMS, 2022
O presente artigo foi publicado por James Jackson Putnam em 1913, no Zentralblatt für Psychoanalyse und Psychotherapie, alguns meses após a publicação da resenha crítica de Reik sobre a conferência de Putnam intitulada Sobre a importância da formação e das perspectivas filosóficas para o desenvolvimento futuro do movimento psicanalítico. Para mais informações
Algumas relações entre arte e psicanálise a partir da teoria crítica
This research points some limits of the interpretation about art realised by Freud, mainly in his essay "Dostoiévski and parricide", starting from the theoretical reference of Frankfurt's School. The central point of that critic is the excessive emphasis given to the artist in the elaboration of his work, ignoring other elements that compose it. It tries to promote a reflection about sublimation in Freud, his limitations to describe the art of the 20 th century, and Adorno's attemption in elaborate a new expression concept. It was also considered the author's analysis of Kafka's work, what allow a comprehension of several moments that constitute his work as the artist's function and what goes besides him, analysis that help to think about the limitations of Freud's interpretation of Dostoiévski. Finally, the reflection about the relationship between art and psychoanalysis allows to understand that last one can bring light to the understanding of the art, but it can also obscure some important aspects of a work, that are left back as overcome by the science progress.
Teoria Crítica e Psicanálise. Entrevista com Amy Allen
ELEUTHERÍA – Revista do Curso de Filosofia, 2022
Com mais de duas décadas de intensas pesquisas e produções filosóficas, Amy Allen é uma importante filósofa feminista vinculada à quarta geração da teoria crítica e é professora de filosofia e estudos de gênero, mulheres e sexualidade da Universidade Estadual da Pensilvânia.
A Psicanálise como Crítica da Metafísica em Lacan
Resumo Neste artigo examinamos o estatuto da anti-filosofia em Lacan de modo a mostrar como ela representa um método crítico da metafísica e uma forma de aproximação com o campo da ciência. Considerando comparativamente a posição de Freud e de Lacan diante a ciência mostramos como psicanálise é uma prática que se aproxima da atitude de Espinosa ao criticar a metafísica como discurso que encobre o buraco constitutivo da política. Resumo In this article we examine the scope of anti-philosophy in Lacan in order tho explain how it acts as a method of critics of metaphisiscs and a way to come near Science as na epistemological position. We compare the position of Freud and Lacan in relation to Science claiming that psychoanalysis is a kind of a practice that is close to Espinosa´s position as a critics of metaphisics as a discourse that covers the hole that constitute the field of politics.
Críticas à psicanálise: Uma bibliografia comentada
Este texto relaciona e comenta a grande maioria dos livros mais destacados e parte expressiva dos artigos que criticam a teoria psicanalítica e a eficácia da terapia psicanalítica., proporcionando informações básicas obtidas em muitas fontes.