“Vocês Não Sabem Sentir a Palavra!”: Desafios para a Escola Indígena do Povo Guarani Mbya no Rio de Janeiro (original) (raw)
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O Lugar Da Oralidade No Espaço Da Escrita: Desafios Para Educação Escolar Indígena Guarani Mbya - RJ
Periferia
Este artigo discute a relação entre oralidade e escrita na educação escolar indígena a partir da perspectiva de uma professora Guarani, que atua há mais de dez anos na educação escolar de seu povo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e os instrumentos metodológicos foram: levantamento bibliográfico, observação participante em encontros de formação de professores Guarani e realização de entrevista. De acordo com as análises realizadas é possível considerar que os desafios em torno da oralidade e da escrita no contexto da educação escolar indígena precisam ser compreendidos como uma tensão intercultural permanente centrada nas reflexões e práticas de professores indígenas.
Educação Escolar Indígena - A prática docente dos Guarani Mbya
RELACult - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, 2017
Este trabalho, vinculado a pesquisa de Mestrado em andamento, propõe o seguinte problema de pesquisa: o que o professorado indígena Guarani Mbya entende ser sua prática docente? Parte-se do pressuposto de que a educação escolar indígena, mais precisamente a partir de 1970, começa a ser ressignificada pelos próprios movimentos e organizações indígenasreestruturando uma instituição tipicamente não-indígena, norteada até então por princípios de catequização, civilização, integração e preservação-, e que sua reconstrução junto aos projetos de futuro de cada etnia se constitui potencialmente como inovação educacional, superando seu caráter colonialista. Esta pesquisa pretende verificar se a visão que os professores e professoras indígenas têm de suas práticas se fundamenta ou não no modo de transmissão dos saberes tradicionais de sua cultura. No primeiro caso, tais práticas estariam inscritas na luta por reconhecimento e seriam adaptadas à atividade escolar. No entanto, as práticas docentes podem também ser mera reprodução do modelo de ensino escolar predominante, originalmente não-indígena, ainda que se trate oficialmente de uma escola diferenciada. Para examinar essas alternativas, vêm sendo realizadas entrevistas e observação direta na Escola Estadual Indígena Gwyra Pepo, localizada na região de Parelheiros, no município de São Paulo. As informações recolhidas serão analisadas por meio das bases teóricas das pesquisas antropológicas sobre os Guarani e sociológicas sobre inovação educacional, bem como pelo recurso às produções da etnologia ameríndia a respeito da educação escolar indígena. Palavras-Chave: educação escolar indígena, guarani mbya, inovação educacional, prática docente. Resumen Este trabajo trata de las actividades desarrolladas a nivel de postgrado, para el cual se propone el siguiente problema de investigación: ¿cómo el profesorado indígena Guaraní Mbya entiende su práctica docente? Partimos del presupuesto que la educación escolar indígena, más precisamente a partir de los años 1970, comienza a ser re-significada por sus propios movimientos y organizacionesde modo a reestructurar una institución típicamente no indígena, guiada hasta entonces por los principios de la catequesis, la civilización, la integración y preservación-y que a lo largo del proceso de su reconstrucción, sumada a proyectos futuros de cada grupo étnico, se constituye potencialmente como una innovación educativa, superando de ese modo su carácter colonial. Este estudio investiga si los maestros indígenas basan su práctica docente en el modo de transmisión de los conocimientos tradicionales de su cultura. En este caso, dichas prácticas estarían inscritas en la lucha por el reconocimiento y se adaptarían a la actividad escolar. Sin embargo, las prácticas de enseñanza también pueden ser una mera reproducción del modelo de enseñanza escolar imperante, originalmente no indígena, aunque oficialmente se trate de una escuela diferenciada. Para examinar estas alternativas se han llevado a cabo entrevistas y una observación directa
Resumo: O artigo visa apresentar reflexões teóricas acerca do processo de implantação do primeiro Curso de Ensino Médio com Habilitação em Magistério Indígena Guarani do Estado do Rio de Janeiro, iniciado em 2018. O Curso é resultado de um Acordo de Cooperação Técnica entre o IEAR-Instituto de Educação de Angra dos Reis da UFF-Universidade Federal Fluminense e a SEEDUC-RJ-Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro. A discussão busca refletir sobre os elementos ou componentes curriculares do referido Curso que apontam para a preservação e fortalecimento da cultura e língua indígena, numa perspectiva decolonial de educação diferenciada além de analisar criticamente o contexto de crise e retrocesso nas políticas públicas em educação escolar indígena no Estado do Rio de Janeiro.
Tellus, 2017
Este artigo discute o desenvolvimento da educação escolar indígena no estado do Rio de Janeiro a partir de estudo de caso realizado junto aos professores indígenas Guarani Mbya. Analisa o processo de implementação de políticas educativas, os desafios inerentes à construção de uma escola intercultural bilíngue específica e diferenciada, e a tensa relação existente entre comunidade indígena e Secretaria Estadual de Educação. Também aponta como, apesar da situação descontínua e fragmentada que a educação escolar indígena se encontra no Rio de Janeiro, os professores indígenas procuram reafirmar saberes multidisciplinares produzidos e recriados a partir de suas práticas cotidianas.
A escolarização pelo plano do xamanismo: Reflexões entre os Guarani-Mbyá do Rio de Janeiro
education policy analysis archives, 2020
This paper is the result of anthropological research conducted among the Mbyá - Guarani, from the Southeast of Brazil and Northern Argentina. Based on the ethnographic method, the paper analyzes indigenous schooling through the shamanism plan and the different conceptions of body, knowledge, and notions of indigenous persons. This study discusses the conflicts between school and alterities, human and nonhuman, understanding that the notion of schooling crossed by cosmic entity and sensible logic deconstructs the normative and rational models of indigenous education that has populated America Latin America and Caribbean. This study finds that there is an invisible and cosmological world that subsumes the schooling processes. Invisible worlds are understood, in this context, as essential and indivisible conditions for the understanding of Guarani curriculum, organization, and alterity.
RESUMO: As experiências pedagógicas e epistemológicas implementadas no curso de Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás têm colaborado sobremaneira com o desvelamento de aspectos importantes concernentes à educação escolar indígena inserida na contemporaneidade das relações interculturais em que os povos indígenas brasileiros interatuam e, cada vez mais, tornam-se seus protagonistas. Muitos, no entanto, ainda são os desafios enfrentados na consecução da tão aclamada educação escolar específica, diferenciada e em coerência com os projetos de vida e de sustentabilidades dos povos indígenas, direito garantido constitucionalmente no Brasil. No que concerne precisamente à gestão pedagógica da educação escolar, a elaboração e a implementação do currículo é, sem dúvida, uma das principais dimensões destes desafios. Neste contexto, propõe-se neste trabalho a apresentação das bases para a construção das matrizes curriculares a partir da experiência de Estágio Pedagógico de professores indígenas karajá xambioá e guarani, destacando-se a dimensão contextual dos conhecimentos locais desde uma perspectiva intercultural e transdisciplinar. PALAVRAS-CHAVE: Educação escolar indígena; Currículo; Terra Indígena Karajá Xambioá.
Este artigo apresenta a Educação Indígena de duas etnias brasileiras: GuaraniMbyá do Paraná e Tremembé do Ceará, revelando sua historicidade, seus saberes ancestrais e o contexto escolar. Lança também uma reflexão sobre o papel e a dinâmica da escola, que perpassa o ambiente familiar e comunitário. O povo Guarani-Mbyá da Ilha da Cotinga no Paraná tem seu processo educativo baseado nas relações de reciprocidade e na busca por fazer valer seus direitos fundamentais. O povo Tremembé de Almofala no Ceará analisa a sua educação como parte de seu processo de resistência e de luta, que são aspectos presentes na sua espiritualidade. Percebemos que as duas etnias referem-se à educação como uma vivência cotidiana onde o ensino e o aprendizado ocorrem nas relações afetivas que estabelecem entre si, com a natureza e com a sociedade em geral. Concluímos ressaltando que a Educação Indígena Guarani-Mbyá e Tremembé evocam o diálogo intercultural inerente a teia de relações em que estão imersos, e que a escola como um ponto de conexão facilita o posicionamento afetivo, político e espiritual destes povos.
Horizontes, 2018
Este artigo apresenta algumas reflexões em torno do termo “escola indígena”. A investigação esforçou-se em identificar os aspectos considerados inovadores em uma experiência de escolarização de um coletivo indígena guarani. Procurar-se-á problematizar os modelos explicativos derivados das teorias consagradas ao contato interétnico, a partir de uma pesquisa etnográfica realizada entre os Guarani Mbya da capital paulista. Partindo de um campo de pesquisas que considera a escolarização de pessoas indígenas uma fronteira étnica, sugere-se aqui que a escola indígena é uma arma(dilha), um espaço de conflitos e redefinições, não necessariamente associada à construção identitária ou étnica.
Cadernos Ceru, 2014
Os fundamentos religiosos da cultura Guarani Mbya e o espaço mítico religioso das kyringue (crianças) recriam-se nas propostas dos Centros de Educação e Cultura Indígenas (os CECIs), voltados para a educação indígena infantil, em 3 aldeias de São Paulo. Define-se uma proposta pedagógica mantida pela Prefeitura Municipal comprometida com os critérios legais de diversidade e de interculturalidade da educação indígena. O conteúdo dos projetos e das práticas educativas situam um comprometimento com a memória e a oralidade dos Guarani Mbya, onde os educadores indígenas representam suas próprias identidades estabelecendo um ambiente de auto afirmação étnica das kyringue diante dos conhecimentos e sabedorias antigas (arandu, yma guare), e do mundo vivido por seus ancestrais. As experiências do letramento e do mundo regido pela escrita (mbopara) são consideradas como importantes e necessários no convívio com o não-índio (o jurua) e com um meio de progresso para os aprendizes (nhembo'ea kuery).