Derivações da arte pública contemporânea (original) (raw)

Arte (pública) contemporânea em espaços museológicos

Processos de musealização : um Seminário de Investigação Internacional : Atas do Seminário, 2015

Acontece com cada vez mais frequência assistirmos a obras de arte (pública) contemporânea que, de um modo literal, aspiram a influenciar a sociedade onde se inserem. É também cada vez mais recorrente assistirmos a essas mesmas obras serem integradas no museu como salvaguarda desse património artístico. Para refletir sobre a transferência de significados que essa deslocação implica convoco conceitos de arte (pública) contemporânea e discuto ideias sobre o enquadramento institucional de um objeto de arte. Incidindo sobre a obra paraSITE (1998-presente) do artista norte-americano Michael Rakowitz, assente num abrigo portátil para pessoas sem-abrigo distribuído por várias cidades do seu país de origem, e posteriormente apresentada em variados contextos museológicos, este artigo mostra como a musealização de obras de arte (pública) contemporânea requer a criação de estratégias de contextualização dentro do museu. Esse argumento é desenvolvido através da discussão das estratégias usadas na exposição Beyond green: towards a sustainable art (2005) com curadoria de Stephanie Smith, onde paraSITE foi uma das obras apresentadas.

Derivas e montagem, outra cultura da imagem

Revista Trama Interdisciplinar, 2014

Resumo-A partir do conceito de "imago" de Georges Didi-Huberman, este trabalho procura construir e estabelecer algumas indagações em torno de outra cultura da imagem numa linha de deriva intermitente que transita desde o conceito de Didi-Huberman (a imagem mariposa) e do conhecimento por montagem para ler criticamente algo das narrativas de Gonçalo M. Tavares entre movimento e contraviolência.

LEGADOS DO BOAL. NOVAS FORMAS DE ATIVISMO NAS ARTES CONTEMPORÂNEAS

Boal embaixador do teatro brasileiro. Rio de Janeiro, Editora Mundo Contemporaneo, 2017

A fama do Boal consagrou-se na militância internacional da década de 70, com o livro Teatro do Oprimido e outras estéticas políticas, traduzido em várias línguas, escrito quando o diretor buscava caminhos experimentais na prática de um teatro que, mesmo mantendo o engajamento, superava modalidades características da produção " politizada " da década de 60, especialmente no Teatro de Arena e no CPC da UNE. Ao invés disso, Boal começou a enten-der seu trabalho teatral como uma produção e multiplicação de ferramentas à disposição da luta política. A escrita de livros e peças de forte cunho auto-biográfi co (como Torquemada, 1971) acionou a opção por táticas de combate não violento: alternativas essenciais – neste momento da vida do Boal – à pegada em armas contra regimes totalitários, primeiramente contra a ditadu-ra militar que o aprisionou, torturou e exilou em 1971-72. Ao invés que um repertório de obras, Boal começou a acumular um acervo de técnicas teatrais; propriamente, um arsenal de armas para a resistência e luta dos oprimidos, conhecido como arsenal do Teatro do Oprimido, que foi agregando novas técnicas e variantes durante o exílio do Boal em países da América Latina e da Europa, em contato com diversos modos de opressão. Assim como a Pedago-gia dos Oprimidos do compatriota Paulo Freire, também exilado nesta altura, a metodologia do TO se fundamenta na compreensão de que os processos de socialização humana (tais como instrução, informação, institucionaliza-ção) incorporam condutas e normas induzidas ou impostas por dispositivos hegemônicos (tais como a escola, a mídia, o estado) que tendem a inibir a subjetividade e a mecanizar os corpos. A arte surge como um possível contra

Derivas acadêmicas em pós-graduação em artes na cidade do Rio de Janeiro

POIESIS

Desilha é uma plataforma de pesquisa e ação em arte e cidade, que inclui projeto de pesquisa e cursos regulares oferecidos pelo Programa de PósGraduação em Artes Visuais (PPGAV-EBA-UFRJ), sediado na Ilha do Fundão, onde se localiza a cidade universitária. O histórico da construção deste campus universitário reflete as dificuldades de assentamento e concretização do lugar da educação no Brasil, oscilando entre projeto oligárquico e regime autoritário, utopia e inacabamento. Reconhecendo a potência da universidade pública e gratuita como lugar de trocas e amplas transformações hoje, Desilha expandese e toma a cidade como palco para a construção de narrativas avessas à normatividade acadêmica, em uma cidade violentamente impactada pelo desmonte de políticas públicas e pelas consequências das reformas urbanas ocorridas entre a realização dos megaeventos Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016). Nessa direção, restaura forças vitais para empreender novas travessias em tempos de crise e a...

Arte e instituições contemporâneas

Revista Nava

Desde sua origem, o museu de arte se constituiu como um espaço autônomo de fruição estética, culturalmente responsável pelo oferecimento da possibilidade de se experimentar a arte em sua autonomia. Partindo desta constatação, o artigo reflete sobre o problema da descontextualização e do deslocamento de significados da arte em favor de sua absoluta autonomia, gerando uma noção de arte absoluta. Tal questão leva à reflexão sobre os processos de assimilação da crítica à instituição feita pelos artistas em suas proposições artísticas e sobre os processos de autocrítica do próprio museu. Decorrente destes processos, apura-se e problematiza-se uma nova autoridade do museu de arte.

Articulações a partir da arte moderna em duas propostas educativas com jovens da rede pública

2016

O presente artigo aborda as propostas educativas trabalhadas com os jovens de duas escolas publicas de Santa Maria (RS), articulando a tematica artistica – Arte Moderna e Culturas Juvenis – e as complexidades de definir o conceito de moderno. Atraves deste relato de experiencia educativa, proporcionada pelo Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciacao a Docencia) do curso de licenciatura em Artes Visuais apresentaremos duas experiencias de insercao no espaco escolar. Partindo do conhecimento previo dos estudantes sobre a tematica desenvolvida, tecemos desdobramentos, apresentamos definicoes e ressaltamos a importância deste movimento artistico-cultural brasileiro.

Arte Pública. Origens e condições históricas

Arte Pública e Envolvimento Comunitário. Atas do Colóquio Internacional, 2013

Concebendo-se como uma indagação às origens da Arte Pública Moderna, a nossa comunicação parte de uma referência sucinta aos movimentos artísticos “progressistas” do século XIX, a saber, os movimentos britânicos Pre-Raphaelite Brotherhood (1848), Arts and Crafts Society (1887), os movimentos belgas e holandeses La Société Libre des Beaux-Arts (1868), Les XX (1883), La Libre Esthétique (1893), L’Œuvre d’Art Appliqué à la Rue (1893), o Institut International de l’Art Public (1905-1912), as organizações francesas Société des Amis des Monuments Rouennais (1866), Société des Amis des Monuments Parisiens (1884) e as norte-americanas City Beautiful Movement (1893) e Public Art League (1895), para apurar os propósitos de renovação das belas-artes e de criação de uma Arte Nova, com impacto no desenho, no equipamento e na ornamentação do espaço público citadino, com propósitos de promoção social pela educação estética e pela emulação do “bom gosto”. O estudo que vimos fazendo, coloca como enfoque principal a elucidação do papel que as artes aplicadas e ornamentais tiveram na expansão do entendimento da noção de obra de arte de que dependeu o desencadear da modernidade, para lá do sistema académico das belas-artes e, mais radicalmente, da prevalência da produção individual/autoral. Neste sentido, apresentaremos alguns argumentos a favor de uma revisão do conceito (e do estatuto) das Artes Aplicadas no seio do sistema das artes, onde as mesmas ainda são depreciadas, mau grado o ideário que as mobiliza: a missão de devolver as artes a um público mais alargado do que o das academias e os salões, paralelamente reivindicando para a arte uma função social e educativa, ou seja, visando um desígnio ético. Historicamente coincidente com a agudização das tensões nacionalistas e rivalidades que antecederam a Grande Guerra, o movimento a favor da promoção da Arte Pública que desde a sua génese havia contado com o palco cosmopolita das Grandes Exposições Universais (Chicago, 1893; Bruxelas, 1898; Paris, 1900; Liège, 1905) viria a ser refreado, no início dos Anos 10, pelo desenvolvimento dos antagonismos político-económicos e consequente belicismo que conduziria à blocagem do movimento emergente a favor da Arte Pública, com o ideário democrático que a inspirava a ser travestido, no rescaldo da Grande Guerra, em arma de propaganda dos regimes ditatoriais e totalitários que viriam a instalar-se na Europa, alimentados pela crise económica e pela crispação político-social. Será necessário portanto esperar pela revisão das teses modernistas do entendimento da arte como produção auto-referenciada, de que a pós-modernidade se viria a encarregar, para situar e compreender corretamente as origens históricas da Arte Pública, corrigindo os desmandos iconoclastas que a crítica ao monumentalismo imposto pelas ditaduras e pelo totalitarismo haviam desencadeado, para abrir espaço a uma conceção contemporânea de Arte Pública, onde a mesma se entende como obra de arte total, convocando formas, conceitos, metodologias e valores, sob os bons auspícios da regeneração urbana e da participação cidadã, no reencontro e atualização do ideário democrático das Artes Aplicadas que presidiram à sua origem

Contravisualidades Na Arte Contemporânea

Revista da Fundarte, 2022

Resumo: Visualidades são formas de relação e produção de identidades individuais e pertencimento coletivo, onde escolhas e/ou determinaçãomaior ou menor autonomiasão motivadas, entre outros fatores, pelo excesso de telas e processos de ubiquidade digital, especialmente em tempos de pandemia, necropolítica (MBEMBE, 2018) e fake news presentes na dadosfera. No texto, destacamse os trabalhos da artista contemporânea Ana Teixeira, que reivindica o "direito de olhar" e não apenas "ver a realidade" (MIRZOEFF, 2011; 2016), visto que por meio das contravisualidades emergem práticas de resistência que se opõem ao poder e ao controle imposto pelas necropolíticas, permitindo-nos um novo olhar sobre a história recente do Brasil.