Montaigne: des règles pour l'esprit (original) (raw)

Raison d'état em Montaigne

Kriterion: Revista de Filosofia, 2012

Em "Do útil e do honesto" Montaigne indaga se, na defesa do Estado, haveria limites éticos para a ação do príncipe. O príncipe deve pautar-se pelo útil ou pelo honesto? Argumenta que o "devoir publique" é o limite da dedicação do súdito a um príncipe, o qual deve preservar a liberdade de julgamento. Ir além dos limites da consciência no serviço público é arriscar a confiança dos outros na veracidade de suas próprias palavras. Não há razão superior à razão de consciência. Enquanto para Maquiavel o conceito de utilidade é fundamental, para Montaigne o útil não é o honesto. Ainda que a utilidade pública, mesmo que por uma "razão mais geral", obrigue à desonestidade, a moralidade deve vigorar no espaço público. A honestidade, no interior do espaço público, é uma força instituinte da sociedade política. Todavia, a pretensão à verdade e o cuidado com a "paix publique" são definitivamente distintos. Montaigne afirma a incompatibilidade entre a moral ...

Montaigne, ceticismo e costume

Do costume e de não mudar à-toa uma lei respeitada" (I, 23) é um dos raros capítulos dos Ensaios em que, ao menos à primeira vista, o título parece espelhar claramente o conteúdo. Pois Montaigne busca, inicialmente, dimensionar o grande e variado poder do "hábito" ou "costume" na determinação de muitos aspectos da vida humana, reunindo exemplos que mostram sua ação, tanto sobre nosso corpo (ao determinar nossas capacidades físicas, alimentares ou nossa percepção sensível), quanto sobre a alma (modelando nossas crenças diversas, os valores que admitimos como "leis de consciência" e, mais do que isso, agindo sobre nossos raciocínios e julgamentos). E disso extrai, em seguida, uma crítica da temeridade com que os partidários da Reforma, cegos para tal ingrediente da ordenação do Estado, pretendem transformá-lo, contrapondo-se à autoridade institucional da Igreja tradicional. Contudo, se podemos assim brevemente descrever os dois principais momentos lógicos do ensaio, a clareza com que o título espelha a geografia do texto não é a mesma se mais de perto observamos seu conteúdo. Como exatamente se vinculam a investigação sobre o do costume e a norma de ação política que daí se segue? Qual o sentido desta aliança entre o reconhecimento do seu poder e a manutenção das leis aceitas? Digamos que a própria discussão sobre o assim denominado "conservadorismo" de Montaignetema costumeiro da exegese dos Ensaios que aqui não vamos abordar em seus próprios termos 1 -poderia ser vista como tentativa de enfrentar essa mesma dificuldade.

Hobbes, Montaigne et les animaux moraux

2016

Administração pública-Brasil. 2. Brasil-Política e governo. 3. Planejamento político. 4. Política pública-Brasil. I. Silvestre, Luciana Pavowski Franco. II. Série. CDD 320.60981 Elaborado por Maurício Amormino Júnior-CRB6/2422 O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. 2018 Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. www.atenaeditora.com.br APRESENTAÇÃO O e-book "Políticas Públicas no Brasil: Exploração e Diagnóstico" apresenta 131 artigos organizados em sete volumes com temáticas relacionadas às políticas de saúde, educação, assistência social, trabalho, democracia e políticas sociais, planejamento e gestão pública, bem como, contribuições do serviço social para a formação profissional e atuação nas referidas políticas. A seleção dos artigos apresentados possibilitam aos leitores o acesso à pesquisas realizadas nas diversas regiões do país, apontando para os avanços e desafios postos no atual contexto social brasileiro, e permitindo ainda a identificação das relações e complementariedades existentes entre a atuação nos diferentes campos das políticas públicas. Destaca-se a relevância da realização de pesquisas, que tenham como objeto de estudo as políticas públicas, bem como, a disseminação e leitura destas, visando um registro científico do que vem sendo construído coletivamente na sociedade brasileira e que deve ser preservado e fortalecido considerando-se as demandas de proteção social e de qualificação da atuação estatal em conjunto com a sociedade civil em prol da justiça social.

As razoes de Montaigne

2006

O presente texto guarda muito de sua origem como exposicao oral. Retomo nele, em parte, algumas ideias desenvolvidas em minha tese “Montaigne e seus duplos: elementos para uma historia da subjetividade” (USP, 2000). Agradeco a Profa. Miriam Campolina Diniz Peixoto, companheira no gosto pelos Ensaios, esta oportunidade. Resumo: O artigo pretende analisar a questao da convivencia, nos Ensaios de Montaigne, de uma aguda critica da razao, ao modo dos ceticos, com um intenso o uso da razao. Pretendemos mostrar que, ao inves de cair na chamada “contradicao do cetico”, o texto de Montaigne apresenta formas alternativas de racionalidade. Para tanto, identificaremos as diversas formas de critica e de uso da razao presentes nos Ensaios . Abstract: The article examines the issue of the presence, in Montaigne’s Essays, of a strong criticism of reason not unlike that of the skeptics, along with an intense use of reason. Our aim is to show that, rather than falling in the so called “skeptic’s sel...

Shakespeare e Montaigne

Viso: Cadernos de Estética Aplicada, 2023

O artigo defende que o extenso debate sobre a relação de Shakespeare e Montaigne deve ser pensado a partir da história da recepção dos dois autores. Com base em uma consideração sobre o desenvolvimento desse debate desde o final do século XIX até os dias atuais, é analisado o mais aceito caso de intertextualidade entre obras dos dois escritores, um trecho de "Dos Canibais" citado em A tempestade. The paper argues that the extensive debate about the relationship between Shakespeare and Montaigne should be considered from the perspective of the history of the reception of the two authors. Based on a evaluation of the development of this debate from the end of the 19th century to the present day, the discussion is centered on the most accepted case of intertextuality between works by the two writers: an excerpt from "On the Cannibals" quoted in The tempest.

Montaigne e a lei: sobre o do costume e de não mudar facilmente uma lei aceita (i, 23) (e da experiência (iii, 13). / Montaigne and the law: about of custom, and not easily changing an accepted law (i, 23) and of experience (iii, 13)

REVISTA QUAESTIO IURIS, 2015

Este artigo quer ressaltar a dimensão jurídica dos Essais que, por muitos anos tendeu-se a negligenciar. Para tanto, examinaremos questões críticas trazidas por Montaigne, para uma melhor compreensão do discurso jurídico e de sua interação com a ética. O debate que ele realiza acerca da lei e da justiça se apresenta aos leitores como um problema paradoxal: a base da lei é frágil, mas é necessário obedecê-la. Argumenta que, na lógica da multiplicação das leis, é possível criar uma lei para cada ser humano, todavia esta infinidade de leis não esgota a possibilidade de julgamentos distintos, visto que não há conformidade entre os atos e as leis, pois os primeiros são mutáveis ao passo que as últimas são fixas e estáticas. Assim, ele pede uma simplificação das disposições legislativas. O exame racional das leis, dos governos, e dos costumes revela suas precariedades; são produtos humanos históricos e não têm nenhum fundamento natural ou sobrenatural. O autor se apresenta como um crítico temível, que destrói as instituições, e, simultaneamente, como um político prudente, registra que há a necessidade da obediência política, por imperfeitas que sejam as instituições e as ações dos governos, e sustenta que a autoridade da lei não depende da sua justiça. Palavras-chave: Lei; justiça, Subjetividade; ceticismo; Montaigne. INTRODUÇÃO Os Ensaios foram lidos possivelmente, no Brasil, desde o Romantismo na busca de uma identidade brasileira. Assim, não é estranho que a influência do espírito de tolerância de Montaigne, em nosso país, seja percebida na iniciativa de se criar uma lei contra a discriminação racial, conhecida como Lei Afonso Arinos. Na realidade essa lei constitui o primeiro código brasileiro a incluir entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceito de raça e cor da pele (FILHO, Souza 2012). De acordo com Villey (2005), o advogado Montaigne tem consciência de estar em oposição com seu século. Nosso autor critica o fundamento da lei, a multiplicação das leis, bem como as interpretações da lei. O debate que Montaigne realiza acerca da lei e da justiça se apresenta aos leitores como um problema paradoxal: a base da lei é frágil, mas é necessário obedecê-la, em razão do bem público. Assim, neste estudo, nossa ideia não é aprisionar Montaigne, e sim tentar acompanhá-lo em seus

Ceticismo e tolerância em Montaigne

Montaigne's skepticism in the practical and moral realms is characterized by the lack of criteria or rules of conduct so that one could attain a general pattern of behavior or tradition. The period in which he lived was propitious to reinforce the following scenario: the religious wars in France and all over Europe and the discovery of the peoples in the New World were fundamental factors for the growth of philosophical doubts regarding individual behavior and organized society. Nevertheless, Montaigne denounces the cruelties committed in his time, whether among the indigenous people or between Catholics and Protestants, and often argues in favor of freedom of conscience and opinion. In this paper I will show that Montaigne's Philosophy, despite his skepticism, is susceptible to a general idea of tolerance that traspasses different peoples and individuals, even though the concept of tolerance is not systematized in his writings and such a defense seems incompatible with a certain kind of skepticism.