Fazendo o caminho ao caminhar - a ideia comunista no século XXI (original) (raw)

Não há como negar o crescimento do interesse teórico pela “ideia comunista” em anos recentes, tendência, em parte, alimentada pelas contribuições de filósofos como Slavoj Zizek, Alain Badiou e Antonio Negri. A questão comunista é novamente objeto de debate na esquerda acadêmica, revertendo a aposentadoria compulsória imposta à temática após o colapso do assim chamado “socialismo real”. As crises gêmeas do início do século XXI – econômica e ambiental – parecem indicar os limites (internos e externos) da reprodução ampliada do capital, ao mesmo tempo que as novas tecnologias da informação apontam para formas alternativas de cooperação e coordenação social. A retomada de um projeto revolucionário precisa passar pelo confronto crítico com as tentativas – fracassadas – de construir o socialismo no século XX. Examinando os desafios levantados pela escola austríaca em economia, propomos que a ideia comunista deve ser reabilitada, mas que repensá-la exige o abandono do racionalismo construtivista em favor de certa “radicalidade pragmática”, que se dispõe a construir o caminho ao caminhar. Trata-se, portanto, de superar o modernismo da tradição socialista que, com sua fé ingênua na razão abstrata, subestimou o potencial do experimentalismo, do método de tentativa e erro, do uso disperso e descentralizado do conhecimento de circunstâncias particulares.