A atualidade das obras De Mendacio (“Tratado sobre a mentira”) e Contra Mendacium (“Contra a mentira”) de Agostinho de Hipona em tempos de fake news, pós-verdade e deepfake (original) (raw)
A Literacia Digital Frente ao Discurso Anticiência e às Fake News
Revista UFG, 2020
Resumo: A era da pós-verdade caracteriza-se por uma conjuntura sociocultural em que fatos objetivos têm menos influência em mol-dar a opinião pública do que apelos a crenças do indivíduo. Essa cri-se epistemológica é um cenário fértil para a propagação de notícias falsas, o que afetou também a comunidade científica, que tem sofri-do com a expansão de discursos pseudocientíficos e anti-científicos nas redes sociais, com o escopo de minar a credibilidade pública de instituições envolvidas na produção de conhecimento. Tal postura foi adotada, inclusive, por políticos e membros do governo brasilei-ro, que disseminaram conteúdo falso para justificar determinadas medidas políticas. O trabalho aborda o problema a partir do método indutivo, por meio da pesquisa de revisão bibliográfica. Propõe-se a literacia digital como meio de combate às fake news, efetivação da cidadania e, especificamente, permeabilização da comunidade ex-terna ao conhecimento produzido no meio científico.
Revista Fênix, 2024
RESUMO: O presente artigo propõe realizar uma série de reflexões sobre a estrutura e a forma do conto "Campaniça" (1940), de Manuel da Fonseca, confrontando-o com o contexto sociopolítico em que foi escrito. A pequena hipótese explorada é a de que, tanto no plano da mensagem, quanto no da forma, o autor produz uma antítese, uma antípoda, um contradiscurso sólido e organizado, que em tudo se contrapõe ao discurso oficial, produzido pelo regime salazarista por meio do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), encabeçado por António Ferro no que diz respeito à vida no campo, nas aldeias. Para efetivar essa análise contrastiva, toma-se como caso arquetípico da narrativa oficial salazarista o concurso "A aldeia mais portuguesa de Portugal", promovido pelo órgão.
Liin em Revista, 2021
Este trabalho pretende delinear uma perspectiva ampliada sobre o fenômeno das fake news para problematizar o ambiente (des)informativo e revisionista em curso. Partimos do pressuposto que há uma proliferação cada vez mais proeminente de narrativas-que aqui definimos como "historiográficomidiáticas"-capazes de reconfigurar o ecossistema informacional, evidenciando a conformação de novos atores, formatos e linguagens no cenário contemporâneo. Desta forma, propomos alguns olhares interpretativos sobre a produtora de conteúdo Brasil Paralelo, empresa que vêm se destacando com um reconhecido protagonismo na construção de narrativas deliberadamente revisionistas sobre a história recente brasileira. Como uma estratégia de embate político, estas narrativas serão pensadas sob um viés que as tensionem para além das notícias e do jornalismo propriamente dito, nos mostrando como a noção de (pós)"verdade" está circunscrita a uma problemática que envolve questões de ordem social, política e epistemológica, responsáveis por incitar - nos espaços comuns propiciados pelos ambientes digitais - a profusão de agendas específicas e muito bem delimitadas.
A análise agostiniana da mentira
ethic@, 2013
Critico a reconstrução de Gareth Matthews da análise agostiniana da mentira, e forneço uma reconstrução alternativa. Palavras-chave: Agostinho, mentira, teoria da definição.
ÉTICA E JORNALISMO: na era da Pós-verdade
Revista Observatório, 2018
RESUMO Jornalismo e ética precisam andar juntos. Este artigo é sobre essa relação que vive em constante duelo e aproximação. Com uma defesa clara de que separálos, sob qualquer justificativa, é tornar essa prática legitimada pela sociedade mera produtora de conteúdo difuso. Em alguns casos, irresponsável e nocivo. Assim como pode fazer qualquer cidadão com acesso às novas tecnologias de comunicação e informação. Mais do que nunca se a pós-verdade ganha espaço, voltemos a discutir sobre a construção social da realidade sobre a proteção dos compromissos éticos com a informação.
As notícias falsas e a reconfiguração do campo jornalístico era da pós-verdade
Revista de la Asociación Española de Investigación de la Comunicación, 2020
Resumo: O artigo propõe o estudo da reconfiguração do campo jornalístico em função da nova ambiência eleitoral de 2018, quando os fluxos midiáticos foram marcados por alterações em suas dinâmicas. O trabalho visa a oferecer um contributo de reflexão, apontando dados e sistematizando aspectos ligados ao fenômeno das fake news. Neste sentido, cumpre entender conceitos de midiatização e abordar perspectivas de embasamento da realidade política do país, sobretudo o papel dos campos, como o do jornalismo, colocado em xeque numa época em que a pós-verdade assume lugar de destaque na sociedade. Para a realização da pesquisa, foi desenvolvida uma análise de conteúdo das matérias da agência de checagem Lupa, durante o período de 23 a 28 de outubro de 2018.
No tempo das fake news e da pós- verdade -política, democracia e literacia midiática
Literacia, Media e Cidadania – Livro de Atas do 5.º congresso, 2020
Resumo: Este artigo aborda a informação e as novas mídias na contemporaneidade na relação com a literacia midiática. Por um lado, diagnostica a socieda-de considerando-se o existir-no-mundo conforme o arcabouço tecnológico digital que ajunta o ser humano e o mundo numa realidade marcada pela instrumentalidade técnica e pelo consumo técnico dos objetos e ainda numa compreensão de realidade também ela marcada por esse arcabouço. Nele as tecnologias da info-comunicação, as imagens técnicas, as novas mídias, acentuadamente, são entendidas como elementos fundamentais para a es-truturação da sociedade contemporânea e para o ordenamento mundial. A cultura telemática global, que tem na internet sua face visível e celebrada, existe graças aos fluxos informacionais que como fibras constroem o teci-do social ao promoverem inusitadas formas de sociabilidade, de interação comunicativa, de construção/desconstrução de realidade e de verdade. Por outro, a partir da visibilidade que as fake news adquiriram na história recente da política brasileira (eleições 2018), pretende-se problematizar a relação da literacia midiática com a democracia a partir do contexto do uso do WhatsA-pp. Essa ferramenta foi escolhida pela importância que teve naquele sufrágio. Os estados democráticos de direito contemporâneos e seus cidadãos estão enfeixados pelas infovias e pelos instantâneos fluxos informacionais. Isso faz com que cada indivíduo apareça como potencial emissor e receptor nas interações proporcionadas pelas diferentes redes sociais. Permite também a rápida disseminação de informações, em distintos formatos, construídas como narrativas a partir de elementos falsos ou distorcidos, ou seja, a partir da desinformação, a qual se mostrou capaz de mover a opinião pública no âmbito das escolhas políticas. Assim, as fake news, na conjuntura da pós-verdade, problematizam o uso ético das tecnologias, o sentido de demo-cracia e da cidadania, e também apontam alguns problemas associados às técnicas utilizadas de persuasão digital e às ferramentas de amplificação digital (como bots e disparos massivos, por exemplo). Na dramaticidade dos acontecimentos recentes da política brasileira ficou evidente que tão rele-vante quanto a capacidade para aceder, ler, significar e produzir informações continua a ser o aprender a ler e significar o mundo, no caso, o mundo inter-ligado da sociedade em redes.
Fake News: O Que São e Como Inter(Agem) Na Era Da Pós-Verdade
fólio - Revista de Letras, 2019
A pós-verdade tornou-se algo condicionante na eleição presidencial de 2018 no Brasil, travou-se nesse evento uma verdadeira guerra híbrida, ideológica e discursiva em torno do poder político, econômico e cultural. Por isso, as informações foram conduzidas estrategicamente a fim de fomentar a discórdia entre a elite hegemônica detentora do capital financeiro e político e os grupos com representação política minoritária que apesar de serem numerosos são hoje os mais afetados pelas decisões governamentais e políticas de cunho conservador, ultraliberal, autoritário e entreguista. Dessa forma, neste artigo, descrevo e analiso à luz da análise de discurso crítica a constituição multimodal e ideológica do discurso político da direita conservadora, reacionária e elitista brasileira em prol da campanha presidencial de Jair Messias Bolsonaro, materializado na reprodução de algumas Fake News compartilhadas nas páginas Brasil Verde e Amarelo e Brasil, teu povo acordou. A análise multimodal crít...
A hegemonia do fake: o regime político das verdades inventadas
Nós: tecnoconsequências sobre o humano, 2020
São Paulo, 22 de novembro de 2019. Chovia em São Paulo quando saímos da sessão de cinema no Itaú Augusta após ver "Parasita" (2019, 132 minutos), do diretor sul-coreano Bong Joon Ho. A história mostra duas famílias: os quatro membros da família Kim, desempregados e vivendo num porão sujo e apertado, e os quatro membros da rica família Park. Lembro-me de Raquel Rolnik quando diz em seu livro "O que é cidade" sobre as condições de habitação no começo do século XX em que nos romances de Zola e Victor Hugo vemos a cidade industrial marcada pela fumaça preta das chaminés das fábricas, e pelos buracos que servem de moradia. Sinto-me angustiada em ver o buraco que mora a família Kim, retratada no filme em pleno 2019. Avançamos pouco na melhoria do humano. Resolvemos comer pizza, no Pedaço da Pizza, que fica descendo na própria calçada, sentido Augusta/centro, enquanto procuro o significado de "Parasita" no dicionário. "Organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano" ou "indivíduo que vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça". Grande ganhador do Oscar na noite de 09/02/2020, por Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro, além de Direção e Roteiro, o filme retrata a distopia vigente, o morar precarizado, a busca por wi-fi grátis para existir no tempo fluxo, a vida fake e a falta de perspectivas da família Kim, que sobrevive fazendo embalagens para pizza e veem uma mudança possível de vida quando o filho Ki-Woo consegue um emprego para lecionar inglês para os Park. "Parasita" também arrebatou a Palma de Ouro em Cannes em 2019. Na mesa ao lado, um casal comenta o filme. Também acabaram de sair do cinema. O homem, de barba e idade na faixa dos 40 anos, diz que essa realidade é muito coreana, nada a ver com a nossa. Penso baixinho com vontade de puxar conversa, que é um equívoco, pois retrata uma realidade global. A família Kim poderia ser uma família de classe baixa morando na periferia de São Paulo, por exemplo. Saio da pizza com um nó na garganta, que me acompanha até o metrô. Entro no trem da linha verde pensando que o fake é o parasita do século XXI. Volta a minha mente a definição do dicionário para parasita: "organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causandolhe dano", o que poderia ser -a meu ver -uma das definições de desinformação.