Dom Pedro II: o Imperador tradutor (original) (raw)

Afonso X: o rei tradutor

A metáfora pode ser vista como produtora discursiva de semelhanças, implicando a identificação do mesmo no outro e do outro no mesmo. A tradução é um terreno ideal para a metaforização do mundo, por meio de tensões comparativas e construções de comparáveis. Principalmente no medievo, época em que o mundo era compreendido, em grande parte, por meio de metáforas e analogias, que longe de serem meros recursos linguísticos, constituíam-se então em produtoras de semelhança, de sentido e de presença. É sobre essas questões entre tradução, circulação e poder que esse trabalho visa contribuir. No caso de Afonso X, a escrita foi tratada como um patrimônio, inclusive material, para a posteridade. O rei sábio integrou suas obras em seu patrimônio régio, de caráter político, cuja expressão material são textos escritos com caráter oficial, compostos e custodiados como verdadeiros bens, inclusive hereditários. Portanto, o ato de traduzir na corte afonsina fazia a obra final adquirir um estatuto de verdade não apenas por ser fruto de uma oficina régia; desse modo, a tradução mobilizava todo um universo novo de categorias semânticas (com a aquisição de diversos vocábulos), de construções metafóricas e dos súditos a favor do rei e de seu imaginário.

O imperador tradutor: o processo criativo na tradução de Dom Pedro II do episódio de "Paolo e Francesca" da divina comédia

2012

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Florianópolis, 2012A pesquisa analisa o processo criativo na traducao, do italiano para o portugues, do episodio de "Paolo e Francesca" do canto V do "Inferno" da Divina Comedia de Dante Alighieri, feita por Dom Pedro II, ultimo imperador do Brasil. Investigam-se as estrategias utilizadas pelo Monarca no seu processo tradutorio. Do mesmo modo, averigua-se a razao da escolha do canto V, se houve motivacao politica ou de qualquer outra natureza para traduzir Dante. Por fim, objetiva-se demonstrar, atraves da analise dos manuscritos do tradutor, observando suas rasuras, anotacoes e pesquisando em materiais da epoca, que e possivel remontar ao processo de criacao e aos elementos que influenciaram na traducao, identificando normas e padroes na sua genese. A pesquisa fundamenta-se teorica e metodologicamente nos principio...

O tradutor como outro

BELT - Brazilian English Language Teaching Journal, 2020

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre um projeto didático executado em uma turma de Língua Inglesa do curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês de uma universidade federal do sul do Brasil. Neste projeto, os licenciandos ouviram falas de diversos profissionais da área de Letras – professora de inglês de escola pública federal, professora de inglês da escola privada e um tradutor Inglês-Português. Este artigo foca nas reflexões escritas na forma de ensaios reflexivos (reflective essays) por quatro estudantes da referida disciplina acerca do trabalho de tradutor. Pode-se afirmar que os participantes passam de uma visão idealizada do trabalho do tradutor (um intelectual cercado de livros, traduzindo literatura) para uma visão mais conectada com a realidade da maioria dos profissionais de tradução (um profissional realizando um trabalho técnico). Por fim, os participantes sugerem que esta experiência é significativa para sua reflexão sobre seu futuro profissional, não necess...

Um imperador estoico: o dom Pedro II de Heitor Lyra

2016

EnglishLyra was a diplomat and historian. He became member of Brazilian Historic and Geographic Institute after publishing his work, titled History of Dom Pedro II (1825-1891). Lyra can be characterized as a Brazilian Monarchy nostalgic. this assignment derives from his way of narrating the life of the Emperor, as well as his consideration made about the period of the Second Kingdon, which also have a strong character of exaltation. Among many biographies written about Dom Pedro II, Lyra’s work has its importance both because of the period of publication and the monumentality of his work, composed by three extensive volumes. His narrative refers to traditional political history, to offices, however, the literary emotional narrative also presents. So, understanding the image that Dom Pedro II and his reign conveyed in the writings of Heitor Lyra means unravel a historiographical trend which stayed till twentieth century, perhaps even till nowadays, and that built a complimentary vers...

Fernando Pessoa, tradutor discreto

ufjf.br

RESUMO: Este artigo procura demonstrar que a produção de Pessoa como tradutor de poemas para o português possui interesse para a leitura da sua obra poética autoral. A escolha dos poemas a serem traduzidos e o modo como realiza estas traduções são indicativos de posturas estéticas assumidas pelo poeta português. O artigo interpreta, ainda, a tradução de um poema do autor inglês Walter Savage Landor erroneamente tomado por muitas edições como um texto de autoria do próprio Pessoa, analisando as implicações deste equívoco.

O Intérprete-tradutor como Mediador Intercultural

Revist ade Administração Pública de Macau, 2020

I. Esclarecimento em torno do conceito de "intercultural" O novíssimo compromisso das sociedades democráticas é a construção da escola intercultural em contexto educativo multicultural ou o "dilema pluralista" da educação, como o designou Bullivant (1981). 1 E dilema porque, de facto, a grande questão que se coloca a todos os sistemas educativos de todos os povos e nações é como fazer para celebrar o pluralismo cultural, decorrente da globalização/mundialização, dos fluxos migratórias interfronteiriços e da internacionalização do business, e manter, ao mesmo tempo, a unidade e a coesão sociais e até nacionais. Por outras palavras, tal "dilema pluralista" pretende fundamentalmente encontrar resposta para a questão seguinte: que projectos educativos conceber que se dirijam tanto à diversidade como à unidade de um país? (Rocha, 1998). 2 Naturalmente que a questão é complexa, porque mesmo a aparente unidade de ensino em muitos países revela-se muito particularista e diferenciadora de escola para escola, pois existem escolas organizadas em função do sexo, da classe social, da religião, dos resultados académicos, etc. Cada grupo social que inscreve os filhos em determinada escola tem em mente perpetuar os seus valores, conhecimentos, formas de estar e mundividências; e mesmo quando algumas * Investigador. Doutor em Educação e Interculturalidade.

Transposição didática: traduttore, traditore

Matices en Lenguas Extranjeras, 2021

Este texto retoma as ideias essenciais da conferência plenária proferida na terceira edição da conferência estudantil Vozes nas Margens[1] sob o tema «Tradução: uma ponte entre culturas». Procurou-se, de certa forma, estabelecer uma ponte entre a atividade do tradutor e do didata das línguas quando este participa na definição do currículo, na tradução do conhecimento científico para a seleção dos conteúdos e das metodologias para o ensino de uma língua, recorrendo ao conceito de transposição didática. Poderemos verificar que a transposição do saber cientifico-acadêmico para um saber pedagógico não está isenta de problemas, podendo, por isso, associar-se-lhe a máxima traduttore, traditore, muitas vezes aplicada à tradução. Não obstante, a equacionar-se a possibilidade de traditore, o mesmo sucede por se adequar, em sala de aula, os conteúdos a ensinar às características dos discentes e não por infidelidades aos conteúdos e às competências dos programas curriculares. [1] http://www....

A angústica do tradutor

Quanto mais a mim se revelam os inúmeros significados da palavra 'juramentada', tanto mais os adornos do manto (Benjamin: 2008) da promessa prestada a mim se tornam visíveis, desfilando cruéis e impunemente ao asseverarem minha dívida, minha missão, minha tarefa (Derrida: 2006) e, por conseguinte, minha angústia. Como que em vigília, passo a empreender uma breve investigação, refletindo acerca do meu ofício de Tradutora Juramentada. Coloco-me a examinar a relação que se estabeleceu entre mim, a lei e o texto original. Em várias ocasiões a literatura relativa aos estudos da tradução faz constar adjetivos atribuíveis àquele que traduz, descrevendo-o penosamente como o que trai, transgride, violenta o texto (Rajagopalan: 2000), faz o espírito humano passar de um povo para outro [1] (Hugo apud Venuti: 2005), um sujeito que se acha imediatamente endividado pela existência do original (...), obrigado a fazer alguma coisa pelo original e sua sobrevida (Benjamin apud Derrida:?). Blanchot (1997), por sua vez, descreve o (hábil) tradutor como aquele que preserva um sentimento de imperfeita comunicação e, em L'Amitié (1971), segue afirmando "... Le traducteur est un homme étrange, nostalgique, qui ressent, à titre de manque, dans sa propre langue (...)". Assim, com a estranheza de um forasteiro, vejo todos estes traços ratificarem meu estado de angústia perante a atividade tradutória e tudo o que ela engendra.