"Aquisição Da Linguagem" Research Papers (original) (raw)
RESUMO LESSA, Adriana Tavares Maurício. Dissociação entre Tempo e Aspecto à luz da aquisição da linguagem. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de... more
RESUMO
LESSA, Adriana Tavares Maurício. Dissociação entre Tempo e Aspecto à luz da aquisição da linguagem. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015
Este trabalho investiga a representação linguística de Tempo e Aspecto a partir de um estudo de caso, de caráter longitudinal, dos estágios iniciais do processo de aquisição, com base em dados de produção espontânea e semiespontânea. Colocamos à prova as hipóteses de que (A) os morfemas de tempo e aspecto, ao emergirem, refletem apenas os traços de aspecto lexical, inerentes ao verbo, e (B) os traços de tempo e aspecto ocupam nódulos sintáticos distintos na estrutura sintática sentencial. Os resultados indicaram que o morfema de passado perfectivo se associa ao aspecto lexical culminação, ao emergir, no estágio de uma palavra, passando a se associar, também, a processo culminado e atividade no estágio de combinações múltiplas; o morfema de presente imperfectivo contínuo não progressivo, ao emergir, no estágio de uma palavra, associou-se ao aspecto lexical estado; e o morfema de presente imperfectivo contínuo progressivo, ao emergir, aos 24 (vinte e quatro) meses, durante o estágio de duas palavras, associou-se ao aspecto lexical atividade, passando a se associar, também, a processo culminado, aos 25 (vinte e cinco) meses. Logo, a hipótese A não foi refutada, pois, ao emergir, os morfemas de perfectivo, imperfectivo contínuo não progressivo e progressivo refletiam, respectivamente, os traços de pontualidade, estado ou duratividade do aspecto lexical. Para dar conta da associação do imperfectivo ao processo culminado, no estágio de duas palavras, propomos que a propriedade semântica telicidade é subespecificada nos estágios iniciais, de uma e duas palavras, indo de encontro à proposta de Li e Shirai (2000), de que esse traço ocasiona associação ao perfectivo. Defendemos que a proposta de classificação aspectual de Verkuyl (2002), privilegiando a composicionalidade aspectual, em detrimento da classificação ontológica de Vendler (1967), mostrou-se mais adequada para o tratamento dos dados. Assim, propomos um único traço de aspectualidade para o verbo, que, no estágio de uma palavra, indica, de forma restrita, transição de estado,
e, no estágio de duas palavras, passa a indicar, também, progresso dinâmico e não estatividade. Numa análise das diferentes formas verbais produzidas pela criança, verificamos a associação de morfemas diferentes a um mesmo verbo, além de representações sintáticas indicativas de movimento verbal ou checagem de traços, evidenciando que, no estágio de duas palavras, as formas gerundivas apresentam checagem de traços de aspecto gramatical, e, no estágio de combinações múltiplas, a forma perifrástica (“ser + -ndo”) apresenta checagem de traços de Tempo e Aspecto. Logo, a hipótese B não foi refutada. Defendemos, então, a dissociação entre Tempo e Aspecto, a partir da existência de um nódulo AspP, dominado por TP. Este estudo tem como diferencial a credibilidade de que os registros representam, de fato, as produções iniciais de Tempo e Aspecto e destaca a importância de uma análise que não se restrinja a verificar as associações entre o aspecto lexical e a morfologia de tempo e aspecto, incluindo o exame dos estágios de aquisição da linguagem e da emergência de outros elementos sintáticos e movimentos verbais, para validação das propostas acerca da camada funcional da estrutura sintática.
Palavras-chave: aspecto lexical, aspecto gramatical, tempo, aquisição da linguagem
ABSTRACT
LESSA, Adriana Tavares Maurício. Dissociação entre Tempo e Aspecto à luz da aquisição da linguagem. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015
This paper investigates the linguistic representation of tense and aspect upon a longitudinal case study of the initial stages of the acquisition process, based on spontaneous and semi-spontaneous speech data. We test the hypothesis that (A) when acquired, tense and aspect morphemes reflect only lexical aspect features, inherent to the verb, and that (B) tense and aspect features occupy distinct syntactic heads in the syntactic structure of a sentence. The results indicated that the past perfective morpheme is associated to the lexical aspect achievement, when acquired, at one-word stage, being also associated to accomplishments and activities at multiple-combination stage; the present tense and non-progressive continuous imperfective aspect morpheme is associated to the lexical aspect state, when acquired, at one-word stage; and the present tense and progressive continuous imperfective aspect morpheme is associated to the lexical aspect activity, when acquired, at 24 (twenty-four) months, during two-word stage, being also associated to accomplishments at 25 (twenty-five) months. So, hypothesis A was not refuted, because, when acquired, the perfective, non-progressive and progressive continuous imperfective morphemes reflected punctuality, state or duration features of the lexical aspect, respectively. To account for the association between the imperfective and accomplishments, at two-word stage, we propose that the semantic property telicity is underspecified during one and two-word stages, which is contrary to Li and Shirai (2000)´s proposal that this feature entails the association to the perfective. We defend that the Verkuyl (2002)’s proposal of aspectual classification, favouring aspectual composition over the ontological classification of Vendler (1967), appeared to be more adequate to data treatment. So, we propose one single feature of verb aspectuality, that, at one-word stage, indicates, in a restrictive form, state transition and, at two-word stage, begins to also indicate dynamic progress and non-state. In an analysis of the different verbal forms produced by the child, we
verified the association of different morphemes to the same verb, plus syntactic representations indicating verbal movement or feature checking, as evidence of the fact that gerundive forms present grammatical aspect feature-checking and, at the multiple-combination stage, periphrastic forms (“to be” + -ing) present Aspect and Tense feature-checking. So, hypothesis B was not refuted. Thereby, we support the dissociation between Tense and Aspect, based on the existence of an AspP node, dominated by TP. The distinguishing feature of this study is its reliability upon the fact that these records represent, indeed, the initial productions of tense and aspect and it highlights the importance of an analysis not restricted to verifying the associations between lexical aspect and tense/aspect morphology, including the scrutiny of the language acquisition stages and the emergence of other syntactic elements and verbal movements, in order to validate the proposals regarding the functional layer of syntactic structure.
Keywords: lexical aspect, grammatical aspect, language acquisition, syntactic tree