Capitalismo Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

Resumo: No Brasil atual, a violência estatal se mantém como um problema cotidiano, manifesto na repressão a movimentos políticos e à classe trabalhadora, especialmente nas periferias das grandes cidades e no campo; os movimentos sociais e... more

Resumo: No Brasil atual, a violência estatal se mantém como um problema cotidiano, manifesto na repressão a movimentos políticos e à classe trabalhadora, especialmente nas periferias das grandes cidades e no campo; os movimentos sociais e a classe trabalhadora são criminalizados, continuam presentes grupos de extermínio e se exacerba a violência " legal " da polícia, incluída a violência racial – criminalização dos negros, particularmente da juventude – e contra a mulher. Para explicar essa permanência, é preciso considerar que, se mesmo o estado mais democrático tem a violência como seu conteúdo central (já que é a outra face do capital), os patamares da violência não são idênticos em todas as formas de estado. De um lado, as formas particulares de objetivação do capitalismo apresentam diferentes condições de possibilidade da democracia; de outro, a violência se acentua conforme o capitalismo se torna uma base estreita demais para o desenvolvimento humano. Formas de objetivação do capitalismo economicamente mais excludentes não admitem a democracia política: manter a exclusão econômica exige maior intensidade de repressão. Pode ser pensada nesses termos a violência estatal presente no Brasil mesmo após o encerramento das ditaduras militares. O percurso de efetivação do capitalismo brasileiro, a via colonial, se caracterizou por uma industrialização hiper-retardatária, incompleta, sem ruptura revolucionária, e conciliada com uma estrutura agrária latifundiária exportadora, e, por decorrência, conservando e se apoiando na superexploração da força de trabalho e na subordinação ao capital externo que está em sua origem. O desenvolvimento desigual e combinado das unidades nacionais que compõem articulação mundial do modo de produção capitalista mantém essa atrofia do capitalismo brasileiro e o inacabamento de classe da burguesia. Esta não é capaz de integrar economicamente, mesmo nos limites inerentes a esse modo de produção, a classe trabalhadora, de sorte que o desenvolvimento econômico se efetiva em oposição ao progresso social. Aí se enraíza sua estreiteza política, sua incapacidade de dominar sob forma democrática. Desde os primórdios da república, o estado brasileiro assume caráter autocrático, oscilando entre sua forma explícita, o bonapartismo, e velada, a autocracia institucionalizada, em que há relativa ampliação de direitos políticos, sem ruptura com o núcleo político autocrático. O golpe de estado de 1964, que instituiu uma ditadura bonapartista, foi desencadeado contra a classe trabalhadora, especificamente contra a perspectiva de transformação configurada por uma plataforma nacional e popular, que, embora se mantendo no interior da lógica do capital, ameaçava a modernização subordinada e excludente, e delineava a possibilidade de uma efetiva democracia. A chamada abertura política, de fato uma auto-reforma conduzida pela própria ditadura, estabeleceu uma transição que manteve intocada a estrutura econômica subordinada e a superexploração da força de trabalho, e, com ela, o cerne do autocratismo burguês no plano político, ou seja, a violência. Concomitantemente, com a mundialização do capital e a perda do horizonte da revolução social, a barbárie do capitalismo quase não encontra barreiras. A lógica da concorrência (base da violência cotidiana que impera no capitalismo) impregna todas as esferas da vida, levando ao império da violência também nas relações cotidianas.