Crítica Do Valor Research Papers (original) (raw)
A relação entre Hegel e Marx sempre foi objeto de discussão, esta, no entanto, raramente partiu diretamente da análise da mercadoria e de seu fetichismo. Nos últimos anos, no entanto, mais e mais pensadores tem se debruçado sobre esta... more
A relação entre Hegel e Marx sempre foi objeto de discussão, esta, no entanto, raramente partiu diretamente da análise da mercadoria e de seu fetichismo. Nos últimos anos, no entanto, mais e mais pensadores tem se debruçado sobre esta análise e declarado que sua conclusão mais importante é a existência de uma abstração real que se origina na relação mercadoria. O valor não é algo externo aos homens ou próprio das coisas, mas um fenômeno prático que depende igualmente da consciência humana para existir. Também não é algo subjetivo, mas sim uma relação dotada de objetividade social, como o dinheiro no qual se expressa, constituindo um “sensível supra-sensível” (Marx). A mercadoria, que se desenvolve na relação de capital, é uma abstração que domina a realidade prática ao impor sobre ela sua forma, constituindo um sujeito automático que molda a realidade capitalista. Sua forma puramente quantitativa, que pressupõe uma abstração das qualidades materiais, institui uma espécie de realidade conceitual. Segundo autores analisados, é justamente esta realidade conceitual que molda nossa percepção do Em si, “filtrando” por meio deste “mundo suprassensível” - expressão utilizada por Hegel – aquilo que nossos sentidos nos passam. O suposto idealismo de Hegel e o materialismo do Marx maduro aqui convergem em uma realidade que tem estrutura de conceito ou de uma abstração que é, no entanto, real. Esta estrutura paradoxal do mundo humano comportaria assim uma forma “especulativa” de abordagem, na qual se parte da consciência e se desenvolve rumo ao ser, bem como ao mesmo tempo, uma forma “materialista”, na qual se parta do ser rumo às determinações da consciência. A análise da mercadoria guarda assim não apenas mera semelhança ou identidade de método, mas uma verdadeira homologia estrutural com o desenvolvimento do espírito hegeliano, como se uma abordagem se tratasse da imagem especular da outra.