Estado da India Research Papers (original) (raw)
The aim of this thesis is to study the government of the “Estado da Índia” by D. João de Castro (governor and viceroy between 1545 and 1548). His rule witnessed a period of political and military tensions, during the war with the... more
The aim of this thesis is to study the government of the “Estado da Índia” by D. João de Castro (governor and viceroy between 1545 and 1548). His rule witnessed a period of political and military tensions, during the war with the sultanate of Gujarat (its peak being reached with the siege of the Portuguese fortress of Diu, in 1546) and Bijapur, and the reinforcement of the policy and strategy of king D. João III for the Indies. Castro’s government was marked by the military campaigns he enforced and the image of power that he himself projected. Thus, this thesis is aimed at understanding the role of the government of D. João de Castro in the construction of the “Estado da Índia” and the Portuguese presence in Asia. At the same time, it surveys the historiography about this figure of the Portuguese expansion in search of an understanding of the processes by which Castro was made into a myth, along with offering a critical and objective vision of his government.
To this purpose, the thesis divides into four, departing from an overall account of the history of “Estado da Índia” to come to an analysis of the government of D. João de Castro. The first part reassesses the previous knowledge about the Portuguese presence in Asia during the first half of the 16th century, highlighting the main elements in the formation of the “Estado da Índia” as the setting the second part, D. João de Castro’s government. The second part thus utilises a more narrative approach to the personal background and career of D. João de Castro, beginning with his cursus honorum before nomination as governor of the “Estado da Índia” in 1545. From this point onwards, his government is chronologically analysed. The third and fourth parts are the core of the critical and historiographical evaluation of this government. Here, warfare organization and administration are discussed, evaluating the human, material and financial means, with the aim to reconstruct and understand the process by which D. João de Castro sustained his campaigns logistically. Following this, the political and symbolic impact of his rule is examined, focusing on the building of a princely court in Goa, assessing the practices of government, the reinforcement of the networks maintained by the governor and the construction of an imperial image for the “Estado da Índia”. All these elements were aimed at centralising and strengthening the real and symbolic power of the Portuguese king through his highest official in Asia. Lastly, the thesis analyses the ways in which the memory of this governor and of his governance were created, lasting in the Portuguese collective memory, from its origins in chronicles from this period and from projects commemorating D. João de Castro led by his grandchildren, who used his memory for their self-aggrandising.
More than a historiographical exercise of revision, this thesis seeks to contribute to the understanding of the formation of the “Estado da Índia” and the Portuguese maritime empire in the 16th century. The government of D. João de Castro is then understood as part of the strategy of king D. João III to organise a vast Empire of which the “Estado da Índia” was but one component, a piece projected into a diversified whole.
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A presente tese de doutoramento tem como objecto de estudo a governação do “Estado da Índia” em tempo de D. João de Castro (governador e vice-rei, entre 1545 e 1548). A sua acção decorreu num conturbado período de tensão político-militar, no âmbito da guerra movida aos sultanatos do Guzerate (cujo principal momento se materializou no cerco à fortaleza portuguesa de Diu em 1546) e de Bijapur, e de reforço da política e da estratégia Joaninas para a Ásia. Este governo ficou indelevelmente marcado pelas campanhas militares empreendidas e pela imagem de poder que o próprio Castro consolidou. Assim, esta investigação procura compreender qual o papel do governo de D. João de Castro na construção do “Estado da Índia” e da presença portuguesa na Ásia. Paralelamente, pretende-se também revisitar a historiografia sobre esta figura da Expansão portuguesa e captar os processos pelos quais foi mitificada, permitindo uma visão crítica e objectiva quanto à sua acção governativa.
Para tal, organizou-se o estudo em quarto partes, passando de uma visão ampla da história do “Estado da Índia” para um estudo analítico da governação de D. João de Castro. A primeira parte reavalia aquilo que sabemos sobre a presença portuguesa na Ásia na primeira metade do século XVI, destacando as principais linhas de força na formação do “Estado da Índia”, delineando assim o pano de fundo sobre o qual a governação em estudo se foca. A segunda parte, de carácter narrativo, segue o percurso pessoal e a carreira de D. João de Castro, explicitando o seu cursus honorum antes de ser nomeado capitão-mor e governador do “Estado da Índia” em 1545, e avaliando exaustivamente o seu governo, seguindo a sua evolução cronológica. A terceira e quarta partes constituem o cerne da avaliação crítica e historiográfica deste governo. Num primeiro momento debruçamo-nos sobre a organização e administração da guerra. Procuramos reconstituir e apreender o processo pelo qual D. João de Castro conseguiu sustentar logisticamente as suas campanhas, avaliando os meios humanos, materiais e financeiros para tal. De seguida, examinamos o impacto político e simbólico deste governo. Observando a estruturação de uma corte em Goa, visámos compreender as suas práticas governativas, o reforço das redes clientelares de o Governador e a construção de uma imagem imperial do “Estado da Índia”, elementos que concorreram para centrar e fortalecer o poder, real e simbólico, do mais alto oficial régio na Ásia. Por fim, analisámos a forma como a memória deste governador e do seu governo se firmou na memória colectiva portuguesa, fruto da cronística da época e de alguns projectos memorialistas dos seus netos, que procuraram aproveitar a figura de D. João de Castro para engrandecerem a sua própria acção.
Mais do que um simples revisionismo historiográfico, esta tese pretende contribuir para a compreensão da formação do “Estado da Índia” e do próprio Império Marítimo Português no século XVI. A governação de D. João de Castro é assim entendida como parte de uma estratégia de D. João III na estruturação de um extenso Império em que o “Estado da Índia” era compreendido como uma dos componentes enquanto peça projectada e concretizada num todo plural.