Fotografia Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

O tema geral do Congresso centrou-se nas artes e na criatividade, questionando os processos através dos quais, num mundo cada vez mais global, aberto, diferente e multicultural a criatividade artística é (re)definida, promovida, avaliada... more

O tema geral do Congresso centrou-se nas artes e na criatividade, questionando os processos através dos quais, num mundo cada vez mais global, aberto, diferente e multicultural a criatividade artística é (re)definida, promovida, avaliada e afirmada. Concentrando o debate na relação entre as artes e as sociedades plurais, por um lado, e sobre o lugar e o estatuto atribuído à arte pela nova retórica da agenda criativa e da economia criativa, por outro lado, o Congresso almejou debater criticamente o papel das artes como um pilar do desenvolvimento cultural, sócio-ecológico e socioeconómico, da coesão social e da cidadania ativa, bem como sobre os processos de construção de identidades. Assim, a abordagem incidirá sobre as diversas maneiras através das quais as artes são entrelaçadas com os processos de construção de identidade, a nível individual e coletivo, e sobre o reenquadramento material e simbólico das diferenças sociais, económicas e culturais nas sociedades contemporâneas. Um dos principais objetivos deste Congresso Internacional foi o de promover a colaboração e intercâmbio académico entre os estudiosos das artes, para apoiar a apresentação de novos projetos de pesquisa e oferecer inspiração para o desenvolvimento da sociologia, das ciências sociais e dos estudos culturais de matriz lusófona sobre as artes – e a este nível não poderia ter sido mais positivo, pois representou uma odisseia de oportunidades neste âmbito.
A sociologia das artes e da cultura tem conhecido grandes avanços em três domínios. O primeiro é a análise da estruturação dos campos culturais-artísticos; a identificação dos princípios do seu funcionamento autónomo e das relações que mantêm com os restantes campos sociais; e a explicação das formas assumidas pelas diferentes disciplinas, práticas e obras artísticas à luz da estrutura dos campos culturais respetivos (Dabul, 2014, 2016a, 2016b). O segundo domínio é a análise da relação social face à cultura, mostrando como ela varia de acordo, por um lado, com a legitimidade dos bens culturais e, por outro lado, com a condição dos atores sociais (Villas-Bôas, 2011, 2016a, 2016b). O terceiro domínio é a análise das políticas culturais. Mas o progresso nestes domínios contrasta com uma dificuldade recorrente em tratar sociologicamente os conteúdos culturais, artísticos e criativos. E essa dificuldade resulta de uma menor disponibilidade para encará-los plenamente como obras: textos, composições musicais, representações, graffitis, pichações, canções, filmes, esculturas, edifícios, performances, instalações, etc., que têm expressão e reconhecimento artístico nos contextos sociais e institucionais onde adquirem relevância, seja do ponto de vista da criação, seja do ponto de vista da consagração crítica ou patrimonial, seja do ponto de vista da receção. É como se a relação entre a prática e a obra artística, de um lado, e o conjunto das práticas e estruturas sociais, do outro, só pudesse investigar-se sociologicamente pela caraterização dos respetivos públicos, ou dos respetivos autores, instituições e mercados; e, fora disso, ficassem as práticas e obras artísticas reduzidas à condição de efeito (direto ou indireto e, neste caso, através de mediações mais ou menos complexas) das práticas e estruturas sociais (Bueno, 2010 e 2015). Ora, a capacidade de análise sociológica e o seu diálogo com outras abordagens interessadas em tornar inteligível a criação artística ficam muito penalizados com esta redução da obra de cultura à condição de efeito (Rodrigues, 2011; Rodrigues & Oliveira, 2016).