Fruticultura Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
O presente livro contém uma breve história das observações sobre uma viagem à África em 1973. Foi uma missão de estudos de técnicos do Banco do Nordeste do Brasil constituída de José Nicácio de Oliveira, chefe do Departamento de Estudos... more
O presente livro contém uma breve história das observações sobre uma viagem à África em 1973. Foi uma missão de estudos de técnicos do Banco do Nordeste do Brasil constituída de José Nicácio de Oliveira, chefe do Departamento de Estudos Econômicos do Nordeste, Pedro Sisnando Leite, chefe da Divisão de Estudos Agrícola do BNB, e Eduardo Bezerra Neto, chefe do departamento de crédito rural dessa Instituição.
Na década de 70, o Banco do Nordeste estava atuando com grande dinamismo na realização de estudos e formulação de políticas para o desenvolvimento regional, inclusive apoiando a SUDENE na condução dessas inciativas. Além do processo de industrialização que, desde a década de 60, vinha ganhando impulso com as políticas de incentivos fiscais e apoio creditício, a grande preocupação do governo federal era a modernização do setor agropecuário, que historicamente tinha desempenhado um importante papel na economia Regional.
Dentre as atividades promissoras desse setor, e que o BNB desejava atuar mais efetivamente, desta cavam-se a pecuária de leite e de corte, a cultura do caju e sua industrialização, as culturas oleaginosas, a fruticultura irrigada, com destaque para o abacaxi que se pretendia destiná-lo a exportação. Havia também entre os produtores agrícolas um grande interesse em difundir as culturas de sorgo e millet como matérias primas para a fabricação de forragens animal.
Por sugestão da FAO, que foi consultada sobre o assunto, os países com experiências de êxitos nessas atividades, e em similaridades com as condições do Nordeste, eram a África do Sul, Moçambique e Nigéria. Neste país um dos alvos de interesse era o Centro Internacional de Agricultura Tropical que estava desenvolvendo muitas pesquisas relacionadas com a chamada "Revolução Verde", que, na época, era uma dos assuntos constantes das mídias e periódicos especializados no assunto. Inclusive já havíamos visitado o México para conhecer essa experiência na produção de milho híbrido de alta produtividade.
Nesta oportunidade, conhecemos um dos mais famosos líderes desse movimento mundial de produção de alimentos de alta produtividade. Foi o cientista Dr. Norman Borlaug (Prêmio Nobel da Paz de 1970), diretor da Fundação Rochefeller, uma dos patrocinadores desse movimento de produção de alimentos para as populações carentes do mundo subdesenvolvido. Como estou escrevendo esta apresentação quarenta anos posterior a essa ocorrência, vale registrar algumas das consequências que decorreram dessa visita ao México, tantos anos antes. Vejamos o que ocorreu.
Durante o período de 1995-2002, tornei-me Secretário de Agricultura do Estado do Ceará e, dentre as atividades de modernização do setor primário do Estado que estávamos interessados em desenvolver, uma delas consistia no aumento da produtividade do milho por ser esta uma cultura muito importante no Estado. Os conhecimentos e orientações do que havia observado no México foram essenciais para o desenvolvimento de um Projeto para a produção de um milhão de toneladas desse cereal.
Para alcançar este objetivo, pela primeira vez se utilizou, no Ceará, a semente de milho híbrido de alta produtividade, como o Dr. Borlaug havia aconselhado fazer nas condições nordestinas.
Em 1999, encontrei-me novamente com o Dr. Borlaug num Congresso da Sociedade Brasileira de Economistas Rurais, em São Paulo, e contei-lhe o que estava fazendo no Ceará sobre a difusão das novas variedades de milho. Ele ficou surpreso, pois me disse que estava tentando fazer o mesmo em Gana, na África, porém, com baixos índices de adesão. Mas essa é uma história longa que não há espaço agora para desenvolvê-la.
O que poderia referenciar, nessa apresentação, é que a Missão à África, que estamos nos referindo agora, fazia parte de um programa de capacitação e observação das experiências internacionais de desenvolvimento da agricultura, principalmente quanto aos casos de sucesso que tivessem uma contextualização geográfica e populacional comparáveis com o Nordeste do Brasil. Porém, a cada visita, que os técnicos do BNB faziam ao exterior, havia um interesse específico. Vejamos alguns exemplos dessas missões das quais participei.
Várias missões realizadas em Israel tinham como interesse observar as experiências de superação de problemas em regiões do semiárido.
Mesmo assim, o desenvolvimento inicial desse país foi apoiado na agricultura. No Japão, porém, procuramos conhecer as forças organizacionais e propulsoras de um rápido crescimento sem precedentes até a década de setenta, quando o próprio Nordeste já conseguia registrar taxas similares de evolução da renda. Ocorreu, nessa época, no entanto, um fato curioso. Quando os japoneses observaram o que estava acontecendo no Nordeste vieram aqui para observar o nosso milagre econômico. Recentemente, eu e o Dr. José Nicácio de Oliveira publicamos um livro intitulado de "A Economia do Nordeste; Propostas de Políticas na Década de Setenta, LCR, 2014", narrando essa história.
Participei de outras missões ao longo dos anos com colegas do Departamento de Estudos Econômicos e de outros setores do BNB. Vale destacar a missão à França, para estudo dos processos de desenvolvimento polarizado, concebidos pelos Profs. François Perroux e Jacques Boudeville, assim como dos projetos de irrigação do Sul desse país.
Participei também de três viagens de estudo e observação na Itália, especialmente na região do Mezzogiorno, onde ocorria um amplo programa de desenvolvimento regional que, inclusive, serviu de modelo para o que foi concebido para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Outro caso de estudo muito importante para ampliar o nosso conhecimento dos graves problemas de pobreza extensa foi o referente à Índia, e outros países visitados, ao longo de 30 anos, para aprender a partir das experiências vividas por esses países.
É bom frisar que os casos mencionados referem-se a missões oficiais no âmbito de minhas atividades no Banco do Nordeste do Brasil. Como professor da Universidade Federal do Ceará, ou como Secretário de Estado da Agricultura durante oito anos, tive oportunidades de realizar diversas outras visitas e programas de observação no exterior, assim como de reuniões e eventos que foram muito enriquecedores. Acredito que o leitor poderá, agora, fazer uma ideia porque fizemos essa viagem à África, além dos comentários que farei a seguir.
O Texto desse livro contém um resumo das observações que fizemos durante a nossa visita à África. Por exigência protocolar do BNB, preparei um relatório detalhado das observações técnicas e de sugestões de possível aproveitamento com relação ao Nordeste do Brasil. Fui o responsável pela preparação desse relatório, tendo em vista que era Chefe da Divisão de Estudos Agrícola e me cabia essa responsabilidade. Infelizmente documentos dessa natureza são administrativamente recolhidos a arquivos que, com o tempo, são descartados.
Desse modo, este livro é uma compilação de anotações esparsas anotadas pelo Dr. Eduardo Bezerra Neto, membro da Missão, e do Dr. José Nicácio de Oliveira, além das minhas próprias anotações que preservei cuidadosamente e nas quais muito me apoiei na preparação deste texto. Desse modo, mesmo reconhecendo a fundamental importância da colaboração dos meus colegas de viagem, respectivamente, Dr. José Nicácio de Oliveira e Dr. Eduardo Bezerra Neto, os conteúdos deste livro são de minha inteira responsabilidade, pois eles sequer leram o texto agora transformado em livro.
Para melhor contextualizar a leitura do roteiro da viagem de que estamos tratando, lembro que a África do Sul se localiza no extremo Sul do continente africano e é banhada pelos oceanos Atlântico e Índico. A economia é caracterizada por uma agricultura tradicional e o setor industrial tem por base os seus recursos naturais abundantes.
Como principal produtor mundial de ouro, é também um dos lideres na produção de diamantes. Tinha uma população de 40 milhões de habitantes, quando fizemos a nossa visita no início da década de setenta, e ocupa um território de 1.220 mil km². Destacam-se a Cidade do Cabo (legislativa) e Pretória (administrativa). O foco da visita à África do Sul foi conhecer a atividade pecuária, a fruticultura e as oleaginosas, especialmente o gira sol, que estávamos pensando introduzir no Nordeste.
No caso de Moçambique, na época era uma colônia de Portugal e está localizado no sudeste do continente africano. Tem uma área de 799 mil km² e uma população até então de 10 milhões de habitantes. O interesse da vista a Moçambique eram as plantações de caju no intuito de procurar obter cooperação técnica para o enxerto de caju anão no Ceará, já que nosso Estado possui amplas áreas de cajueiros tradicionais de baixa produtividade.
A Nigéria era o mais populoso país do continente africano, com uma população na época de 100 milhões de habitantes e um território de 923 mil km². A atividade agrícola era extensiva e a base da economia dependia do petróleo.
O objetivo principal da viagem à Nigéria era conhecer as pesquisas do Instituto Internacional de Agricultura Tropical instalado em Ibadan. Este Instituto era apoiado pela Fundação Ford, que nos aconselhou a visitá-lo. O foco das suas pesquisas era o desenvolvimento de milho, sorgo e millet, que eram culturas de muito interesse para o Nordeste.