Historic Interiors Decoration Research Papers (original) (raw)

Pretende-se, a partir de documentação escrita e da análise dos objetos identificados, narrar a história da decoração do Quarto da Rainha do Palácio Nacional da Ajuda. A correspondência entre o Conde da Ponte, Vedor da Casa Real e o... more

Pretende-se, a partir de documentação escrita e da análise dos objetos identificados, narrar a história da decoração do Quarto da Rainha do Palácio Nacional da Ajuda.
A correspondência entre o Conde da Ponte, Vedor da Casa Real e o Visconde de Paiva Ministro Plenipotenciário em Paris, existente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, revela-nos as intensões, o gosto, as escolhas e por fim as aquisições por parte da Casa Real Portuguesa. Esta documentação indicia também as restrições orçamentais, a urgência e os imprevistos, que acabam por influenciar o resultado final da decoração deste quarto, ainda hoje intacta.
Mandado construir sob a regência do Príncipe real D. João em 1796, o Real Paço da Ajuda só veio a ser residência oficial da família real portuguesa no reinado de D. Luís I (1861-1889).
A partir de 1862, data do casamento do rei com a princesa de Sabóia, D. Maria Pia iniciaram-se as grandes reformulações dos seus interiores. A nova disposição e decoração das salas acompanharam as tendências estéticas, de conforto e higiene, próprias da mentalidade burguesa da segunda metade do séc. XIX.
Pouco antes do casamento real , a 27 de setembro de 1862, por procuração em Turim, iniciaram-se os trabalhos de decoração dos futuros aposentos da rainha.
A aquisição do mobiliário, incluindo o leito nupcial de Sua Magestade, foi comissionada ao Visconde de Paiva, então Ministro Plenipotenciário de Portugal em Paris, pouco mais de dois meses antes da chegada da futura rainha a Lisboa.
Paris continuava a ser o centro de produção das artes decorativas, em particular de mobiliário, onde as Casas Reais Europeias e as elites se abasteciam. Possuir um objeto marcado “ a Paris” era uma forma de distinção.
Ebanistas de vários pontos de França, assim como marceneiros estrangeiros, radicavam-se em Paris, onde abriam as suas casas comerciais e ali apresentavam propostas de qualidade diversa, variadíssimos estilos e preços díspares para agradar a um leque abrangente de clientela.
Qualidade, riqueza e bom gosto foram os fundamentos apresentados pelo vedor da Casa Real, quiçá instruído pelo rei D. Luís, ao requisitar os serviços do Ministro em Paris para a aquisição do mobiliário, e de alguns objetos decorativos, para os aposentos de Sua Magestade.
Perante a enunciação de tais qualidades, o Visconde de Paiva entendeu escolher a Maison Racault et Cie, umas das mais conceituadas Casas Comerciais Parisienses, estabelecida pelos irmãos Krieger desde 1826, e fornecedora das Casas Reais europeias.
A seleção dos objetos e, mais tarde, a sua aquisição, não se concretizaram porém sem alguns embaraços causados pela estreiteza de tempo, o constrangimento orçamental e a estagnação momentânea da industria parisiense, devido à exposição Universal de Londres no ano transato. Condicionantes que, em boa verdade, tiveram uma influência definitiva naquilo que se veio a adquirir.
O mobiliário, e certos objetos decorativos, chegam a Lisboa pouco menos de um mês antes da rainha D. Maria Pia. Por consideração ao rei, seu marido, ou por apreço à decoração, esta foi a única sala que se manteve praticamente intacta durante a sua vivência no Palácio da Ajuda.