Imaginário social Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
Pensar a História. Pensar a Cultura. Colocar em relação os entremeios que atravessam as múltiplas possibilidades de se fazer História: os objetos que muitas vezes estão nas margens dos registros sociais; a metodologia que destrincha... more
Pensar a História. Pensar a Cultura. Colocar em relação os entremeios que atravessam as múltiplas possibilidades de se fazer História: os objetos que muitas vezes estão nas margens dos registros sociais; a metodologia que destrincha aspectos pouco visíveis, ou perceptíveis, numa primeira apreensão do fato. Na História Cultural, o rastro, o traço, o fragmento são indícios de aspectos da História que nem sempre são estudados nas vertentes historiográficas tradicionais: a memória, o imaginário, as representações. Aspectos muitas vezes invisíveis, sobre os quais os historiadores dessa vertente historiográfica procuram colocar luz. Tornar visíveis. Ao adentrar nesses espaços obscurecidos pelo tempo, a História Cultural pode recontar das tramas históricas outras versões. Iluminar outras possibilidades de interpretação. Resgatar projetos históricos perdidos, esquecidos, vencidos diante do discurso oficial. Assim, para além daquilo que se quer dizer, há aquilo que foi dito, mesmo que sem querer, através de gestos, olhares, palavras, indumentárias, grafismos... Isto é, pequenos detalhes que para esse pesquisador tornam-se entradas em mundos distantes. Narrativas outras, mas todas participantes de um mesmo processo histórico. Como lados diferentes do caleidoscópio social. Ao modo de um detetive, o historiador cultural junta essas pistas de um processo nem sempre visível, nem sempre datável ou registrável, e organiza-as e desorganiza-as; interroga-as; vasculha-as até poder recriar esse mundo possível, de regras nem sempre expressas, mas sempre observáveis após um longo estudo. Olhar o passado através dessas lentes é resgatar uma beleza e um horror de diferentes proporções: afinal, não há um campo de batalha nem armamentos, contagens de corpos e acordos finais. Há outros indícios, como fotos, cartas, músicas, mapas, romances, filmes, diários, pinturas, e tantas outras coisas por onde a imaginação humana achou por bem deixar registradas suas façanhas e percalços nesta aventura que é a vida. São dessas pequenas coisas que são feitos os artigos deste livro, que comemora os 15 anos de criação do GT
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História Cultural - ANPUH-RS. São autores da primeira e da segunda geração de doutores desse campo da pesquisa, que é um dos que mais crescem no Brasil. Organizados em duas partes, os textos apresentam uma variedade de objetos, mas com uma impressionante coesão, teórica e metodológica. Na Parte 1 – Visibilidades políticas, os textos de Carla Rodeghero, Cláudio de Sá Machado Júnior, Cleusa Graebin, Alessander Kerber e Mauro Gaglietti demonstram como a História Cultural nos permite chegar a uma nova abordagem do campo político. A partir de discursos literários, jornalísticos, musicais e até bíblicos, emergem novas questões sobre as intrincadas relações de poder numa sociedade. Quem sanciona os discursos vencedores? Como eles passam a imperar como norma numa sociedade? De que forma os diversos agentes sociais atuam na produção das verdades que são imaginariamente ratificadas? Mas como, porém, perceber as brechas desses discursos que, por mais que se esforcem, deixam sempre escapar as possibilidades que se procura apagar? Na Parte 2 – Visibilidades culturais, os textos de Alice Trusz, Nádia Weber Santos, Daniela Fialho e Miriam de Souza Rossini abordam sobretudo as imagens em seus diferentes formatos e suportes (filmes, fotos, mapas, caricaturas) para pensar os modos de expressar uma visão de mundo, para demonstrar um “estar no mundo”. Como vemos o outro, como somos vistos pelo outro. São essas dualidades que a imagem, por seus enquadramentos e articulações internas, expressa e que um olhar atento consegue resgatar, evidenciar. Desse modo, percorrer os textos desta coletânea é adentrar no campo da História Cultural e nos seus meandros, mas também conhecer mais sobre a produção de um grupo de pesquisadores que vêm atuando juntos em pesquisas, eventos, grupos de trabalho há mais de uma década. É uma geração de pesquisadores que afinou a sua percepção para fazer aquilo que sugere Walter Benjamim: ler a história a contrapelo.
Miriam de Souza Rossini
Cláudio de Sá Machado Júnior
Nádia Maria Weber Santos
Organizadores