Lúcio Cardoso Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

O livro de Denilson Lopes desenvolve, em uma perspectiva sócio-histórica e transdisciplinar, a relação entre melancolia e neo-barroco. A melancolia – sensibilidade estética, catastrófica, antiutópica – se define pela aflição diante da... more

O livro de Denilson Lopes desenvolve, em uma perspectiva sócio-histórica e transdisciplinar, a relação entre melancolia e neo-barroco. A melancolia – sensibilidade estética, catastrófica, antiutópica – se define pela aflição diante da passagem do tempo. Trata-se de uma sensibilidade cristalizada como um imaginário no período barroco e que retorna na segunda metade do século 20 como neo-barroco.
Dentro da fragmentação do texto é possível vislumbrar cinco partes: neo-barroco, camp, dandismo, viagens e leveza. E para sua análise o autor escolheu três romances – A Menina Morta, de Cornelio Penna, Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso, e Ópera dos Mortos, de Autran Dourado – e quatro filmes – O Leopardo, Ludwig e Violência e Paixão, de Luchino Visconti, e Salão de Música, de Satyajit Ray.
A partir das categorias tempo, espaço e subjetividade, a obra é realizada por duas mediações: a imagem material, poética e cronotópica da casa como ruína, labirinto, teatro do mundo (espetáculo e artificialidade); e o personagem alegórico dos herdeiros e príncipes despojados de poder. Linhagem que inclui os poetas ultra-românticos, os dândis decadentistas, os punks góticos e todos aqueles que não se adequam ao império da velocidade e efemeridade contemporâneas. Os que delicadamente se afastam do centro das atenções.
Os romances traduzem uma tradição do Barroco no Brasil, distinta da expressa na literatura hispano-americana contemporânea. Já os filmes, ao diluir ou perverter as fronteiras entre cinema clássico e moderno, constituem um solo sobre o qual pode ser pensada uma narrativa de pós-vanguarda.
Para além de interesses acadêmicos, o livro é um acerto enviesado e pessoal com os anos 80, uma viagem pela dor e pela solidão, um confronto com a fugacidade dos afetos e uma busca quase desesperada de beleza e leveza. Para Denilson Lopes, a melancolia constitui, neste fim de século, uma porta de entrada para repensar nossa época por meio da arte, o que levaremos para o próximo milênio, o que queremos.
Silviano Santiago escreve a respeito de Nós os mortos: “A melancolia foi tomada no belo trabalho de Denilson não como tema objetivo extraído de textos teóricos e de obras artísticas, mas como matéria para um narrador em primeira pessoa escrever uma prosa ficcional erudita. Para evitar o suicídio da estirpe dos melancólicos, exige-se a autocontemplação estilizada dos pares. A pulsão de morte do narrador neutraliza a pulsão de vida do leitor. Nós os mortos. “O que somos sem essa pedagogia da morte?” – o narrador pergunta