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Título: Revista: um objeto de estudo (quase) por desbravar Palavras-chave: estudos do jornalismo; imprensa; revista A revista só recentemente começou a ser privilegiada como objeto de estudo académico e é nos Estados Unidos que a maior... more

Título: Revista: um objeto de estudo (quase) por desbravar
Palavras-chave: estudos do jornalismo; imprensa; revista
A revista só recentemente começou a ser privilegiada como objeto de estudo académico e é nos Estados Unidos que a maior parte da investigação se concentra. David E. Sumner, professor na Ball State University, estuda este campo há décadas e decidiu prestar homenagem à influência e ao poder das revistas ao longo do século XX, dando o título The Magazine Century, ao seu livro sobre a história deste género de imprensa nos Estados Unidos, nos últimos 100 anos. Na Europa, destaca-se o trabalho de algumas universidades britânicas, como Cardiff, Falmouth, Lancashire, Londres, Sheffield e Sunderland, sendo também de assinalar o trabalho desenvolvido na comunidade académica brasileira. Este estudo pretende dar a conhecer as razões que justificam investigar o objeto revista no âmbito dos Estudos do Jornalismo, motivando a academia portuguesa para um campo de análise (quase) por desbravar, sem escamotar as dificuldades que este impõe.
Tim Holmes e Liz Nice sublinham que “não existe nem pode haver uma abordagem unificada à investigação e estudo desta forma de média”, uma vez que “as revistas são artefactos culturais polimórficos e polissémicos, incapazes de serem analisados através de uma única vertente teórica ou uma única metodologia de desconstrução” (Holmes e Nice, 2012: 142). As académicas americanas Sammye Johnson e Patricia Prijatel também definem as revistas como “artefactos culturais que refletem as regras sociais, as tendências demográficas, espelhando interesses de género, preocupações étnicas e os eventos da atualidade” (2007: 74), sem esconder um segundo nível de funcionamento: como instrumentos de marketing que procuram atrair leitores. Para as autoras, é o facto de se situarem nesta interseção entre o marketing e cultura que torna as revistas importantes enquanto construtoras de memória social, uma perspetiva de análise também explorada por Carolyn Kitch, da Temple Unversity (Kitch, 2005: 3).
Apesar da riqueza deste campo de investigação, muitos teóricos que se dedicam ao estudo do jornalismo continuam a usar a palavra ‘revista’ de forma quase pejorativa (Holmes e Nice, 2012: 2). As revistas de consumo, em particular, são vistas por alguns investigadores com um prolongamento do universo da publicidade, o que significa que não podem ser inseridas no campo científico do jornalismo (Jeremy Tunstall, apud Holmes e Nice, 2012: 2).
Para além daquilo que Holmes, Nice e Johnson classificam como “snobismo académico”, a ausência de interesse da comunidade científica pelo território das revistas também pode ser considerada um tipo de sexismo, uma vez que a maioria dos estudos mais conhecidos nesta área dizem respeito a revistas femininas e são maioritariamente elaborados de uma perspetiva feminista (Holmes e Nice, 2012: 158,159). Por outro lado, Sammye Johnson queixa-se da resistência académica a estudos sobre a revista que explorem vertentes de análise mais práticas. A teórica aponta ainda o facto de o reduzido número de estudiosos dedicados a esta área terem formações muito distintas, o que resulta numa multiplicação de abordagens teóricas e de metodologias de análise, tornando difícil perceber quais são as mais apropriadas e passíveis de facilitar a publicação em revistas científicas (apud Holmes e Nice, 2012: 159).
Para Joy Jenkins, da Universidade do Missouri, a multiplicidade de abordagens teóricas ao objeto revista revela a necessidade de encontrar uma nova definição para este tipo de publicação (Jenkins, 2013: 23). De acordo com a académica americana, as revistas têm sido analisadas como 1) publicações (onde predominam as análises de conteúdo); 2) instituições (enquadram-se aqui os estudos históricos) e 3) organizações (análises económicas). Uma nova definição de revista tem de traçar fronteiras que incluam as três perspetivas e ainda o impacto da Internet neste tipo de publicação. Jenkins faz uma proposta: uma revista é “uma organização focada na distribuição de conteúdo envolvente com um ponto de vista particular dirigido a uma audiência específica, seja alargada ou especializada, através de veículos como um produto impresso, uma publicação digital, um website, ou uma aplicação móvel, com o potencial de refletir a história, estimular a mudança, e influenciar os leitores” (Jenkins, 2013: 23,24). Os itálicos da autora pretendem sublinhar a abrangência desta nova definição e mostrar a riqueza deste campo científico.
Referências bibliográficas:
Holmes, T., & Nice, L. (2012). Magazine Journalism. Sage.
Jenkins, J. (2013). Magazines in the new millennium: A concept explication (pp. 1–33). Apresentado na Association for Education in Journalism and Mass Communication, Washington DC. Obtido de http://citation.allacademic.com/meta/p669701_index.html
Johnson, S., & Prijatel, P. (2007). The Magazine from Cover to Cover (2a ed.). Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press.
Kitch, C. (2005). Pages from the Past: History and Memory in American Magazines. Chapel Hill: University of North Carolina Press.
Sumner, D. E. (2010). The Magazine Century: American Magazines Since 1900 (1.a ed.). Peter Lang Pub Inc.