Mercado Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

É através do corpo que os indivíduos se manifestam no mundo e revelam sua posição na sociedade, posição esta que se transforma ao longo do tempo e se difere entre culturas. Estar fora do padrão de beleza leva ao sentimento de exclusão e... more

É através do corpo que os indivíduos se manifestam no mundo e revelam sua posição na sociedade, posição esta que se transforma ao longo do tempo e se difere entre culturas. Estar fora do padrão de beleza leva ao sentimento de exclusão e inferioridade, o que é agravado quando se trata de uma pessoa gorda, simultaneamente colocada fora dos padrões de beleza, de saúde e de moralidade. Assim, o indivíduo gordo é, ao mesmo tempo, feio, doente, desleixado e sem amor próprio. Essa questão é importante, uma vez que a saúde é vista, atualmente, como responsabilidade do individuo e não uma fatalidade, assim, o indivíduo gordo, julgado como doente, é também condenado como irresponsável. Dentro desse processo de produção de subjetividade, a insatisfação é reforçada nos indivíduos através dos meios de comunicação de massa ao mesmo tempo em que é a insatisfação e o consequente desejo de mudança que favorece e movimenta um mercado bastante diversificado que incluem academias, moda, cirurgias, alimentos específicos e suplementos, revistas, programas de TV, remédios, shakes, chás milagrosos, etc. O que efetivamente se vende é a possibilidade de ter um corpo magro, que vem com adjetivo de saudável, belo e jovem e, nesse contexto, a magreza se sobressai como um valor em si mesma. Para compreender como esses aspectos da cultura contemporânea se manifestam na vida cotidiana, analisamos as práticas de
consumo de mulheres gordas, uma vez que o consumo comunica pertencimentos,
vínculos, distanciamentos e subjetividades. Ressaltamos que esta comunicação traz os resultados parciais de uma pesquisa maior sobre gordofobia e o cotidiano de mulheres gordas e, nesta comunicação, priorizamos a análise do consumo. Em termos metodológicos, pesquisamos em redes sociais, blogs, grupos e páginas pessoais. Coletamos depoimentos que nos possibilitaram vislumbrar as vivências cotidianas de mulheres gordas na vida cotidiana através de suas práticas de consumo, muitas vezes limitado, às vezes excludente, outras vigiado e ainda, tais mulheres eleitas como público alvo de produtos, sobretudo os que prometem emagrecimento ou a o resgate da autoestima como a moda plus size. Em termos teóricos, utilizamos os referenciais da sociologia e antropologia do corpo, sociologia do cotidiano, estudos de consumo e estudos culturais. Confrontando as matrizes teóricas e os dados construídos empiricamente, construímos a base para a reflexão sobre o consumo de mulheres gordas e o que isso representa e comunica enquanto um dos aspectos da cultura contemporânea. A proposta desse trabalho foi desvendar as relações entre consumidoras e mercado, tanto quando são excluídas como quando inseridas nesse processo de compra e venda. Os resultados apontaram que mulheres com corpos maiores do que os corpos considerados desejáveis sustentam diversos nichos de mercado que tendem a crescer, tanto quanto cresce as taxas de sobrepeso e obesidade em níveis mundiais: o consumo plus size, o império conhecido como light, diet, o crescimento de academias e técnicas terapêuticas, medicina e ramos de profissionais da saúde, e a indústria pornográfica. Vale ressaltar que a existência desses mercados, os que negam ou os que supostamente valorizam o corpo gordo, não incluem todos os sujeitos que se podem abarcar pelo rótulo de gordos, uma vez que se trata, em maioria, de mercados pouco acessíveis às camadas populares, o que é agravado pelo fato da associação simbólica entre forma física e classe social, sendo o corpo gordo mais comumente identificado como típico de estratos sociais mais pobres. Em suma, propusemos a reflexão sobre o que as ações de consumo comunicam a partir das narrativas das protagonistas que se reconhecem como
gordas e se encontram fora de um padrão estipulado por vários mercados e ao mesmo tempo, o impulsionamento de outros nichos para incluir esse perfil feminino que vem sendo gradativamente maior na sociedade contemporânea em toda diversidade que lhe singulariza.