Pós-Graduação Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

As dificuldades enfrentadas na vida científica podem ser explicitadas por inúmeros fatores. Dentre eles, destaca-se, nessa proposta reflexiva, àquelas advindas das relações acadêmicas, especialmente no que concerne aos conflitos disparados por interesses distintos, quando do pertencimento de um mesmo grupo de trabalho. Elege-se como objeto de estudo, um grupo de nove pesquisadores, colegas de um mesmo programa stricto senso, em fase de doutoramento. Dois pesquisadores do grupo, entusiasmados com a criação de um grupo independente de pesquisa, tal como incentivado por Bourdieu (2004) quando o autor discorre sobre os usos sociais da ciência, decidiram iniciar tal empreitada criando uma Revista Científica, inexistente até o momento no programa. Inspirados por Said (2004, p. 31) para quem o “objetivo da atividade intelectual é promover a liberdade humana e o conhecimento”, a empreitada foi levada a efeito e, mesmo no seu início, ainda sem identidade visual pensada para a Revista nem tampouco qualquer construção para o lançamento de sua primeira versão, a iniciativa foi introduzida junto aos demais integrantes do grupo, porém, imediatamente rechaçada. Estava instaurado o conflito, atravessado por dois interesses distintos. A parte que liderou a iniciativa da Revista não soube manejar a equipe para compor esforços em direção ao objetivo em comum. Do outro lado, os integrantes que não tomaram parte na concepção da ideia da Revista, sentiram-se preteridos e opuseram forte resistência à iniciativa. Em consonância com Bourdieu (2004, p. 66), é essencial organizar instâncias de discussão em que “todos os membros da instituição fossem levados a se exprimir e a pensar coletivamente e, para além de toda imposição ou sanção hierárquica”. Desta forma, a presente reflexão tem como objetivo examinar as estratégias utilizadas por parte dos dois polos do conflito, e, para tanto, elege como problemática de pesquisa os seguintes questionamentos, a saber: (i) como os líderes do projeto, que não souberam engajar o time, lidaram com a resistência de maneira a compor os interesses e tornar a Revista Científica um projeto coletivo? (Holstein; Starkey; Wright, 2018) e (ii) em que medida a resistência oposta pelo time instaurou uma reflexão mais ampla sobre as dinâmicas do grupo e foi capaz de reverter positivamente para a maximização da saudabilidade dos relacionamentos ali mantidos? (Hansen; Kahnweilwr, 1993). Como itinerários metodológicos, adota-se, em uma primeira etapa, o Estudo de Caso (Yin, 2002), tomando esse grupo de pesquisadores como objeto de estudo e, ainda, dentro da perspectiva qualitativa, propõe-se sejam empregadas entrevistas abertas com os membros da equipe, a fim de colher e analisar as suas percepções, para delinear as estratégias empregadas. Tal análise é feita a partir do arsenal metodológico da Análise de Discurso de Linha Francesa (ADF), com as contribuições de Bakhtin (2014), Orlandi (2013) e Baccega (1995), que permitem pensar a construção de categorias teóricas e empíricas para revelar as estratégias adotadas por cada integrante do grupo. O estudo demonstra a contribuição da narrativa como ferramenta tanto para construir as estratégias de resistência quanto as de engajamento. Ainda, a partir da compreensão dos sentidos implícitos nas narrativas de cada membro do grupo, foi possível entender o que mobilizava cada interesse individual e, com isso, traçar uma estratégia para a composição deles em torno do objetivo em comum da ciência, qual seja: a construção da Revista Cientifica. Sugere-se sejam realizados novos estudos sobre como as narrativas (e as histórias) podem ser usadas para expor as dinâmicas dos relacionamentos organizacionais – seja no âmbito educacional ou fora dele –, a partir de uma perspectiva crítica. Palavras-chave: relações acadêmicas; interesses individuais; pós-graduação; estudo de caso.