Pensar Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
Resumo: A radicalização da problemática fenomenológica da intencionalidade atinge o seu clímax no conceito de Ereignis, que não tivera lugar em Ser e Tempo, mas constitui o cerne da meditação dos Beiträge. Nele está pensado o tempo... more
Resumo: A radicalização da problemática fenomenológica da intencionalidade atinge o seu clímax no conceito de Ereignis, que não tivera lugar em Ser e Tempo, mas constitui o cerne da meditação dos Beiträge. Nele está pensado o tempo cairológico do mútuo apropriar-se do ser e do aí em que toma forma: o erigir-se dos humanos em ser-o-aí (do ser) no instante propício do mais próprio dar-se do ser. O acontecimento desta apropriação recíproca manifesta-se de muitas maneiras: em palavra, gesto, acto, obra. Mas, no último Heidegger, tem a sua máxima expressão naquilo a que chama «pensar»: o «pensar-propício» (Ereignis-Denken), aquele que não é calculador nem metafísico, que é «outro» relativamente ao já sido, filosoficamente desenrolado, e que, em última instância, é um gostar (mögen) de ser (do ser), que torna possível (möglich) e grato (dankend) o novo, que só assim pode propiciar-se. O mesmo acontece no amor, enquanto apropriação que expropria e enquanto é apropriado para a diferença. O presente trabalho explora este vínculo entre pensar e amar, como âmbito propício ao acontecimento do novo e defende a sua irredutibilidade à concepção inicial de qualquer objecto intencional. Palavras-chave: Apropriação – pensar – amar – propiciação – Acontecimento A motivação para o presente desenvolvimento temático surgiu-me há anos, quando trabalhava na tradução dos poemas de Heidegger integrados no epistolário com Hannah Arendt. O Ereignis de que aí é questão, se bem que tendo um contexto claramente erótico, expõe o sentido da «apropriação» e do seu kairós como relação instituinte e originária. Não me pareceu alheio ao que, nos Beiträge, se dava a compreender. Mais recentemente, ao investigar a questão da pobreza, nos textos de meados dos anos 40, as referências ao amor são, se não abundantes, pontualmente importantes. A minha hipótese da presença sub-reptícia do amor na concepção heideggeriana do Ereignis reavivou-se. A estas duas pontas da questão, junta-se a conhecida resposta heideggeriana a Binswanger acerca da inerência do amor ao cuidado, em SeT, se bem compreendido. Embora atravessando um longo período da produção heideggeriana e da sua experiência vital e pensante, a questão da «apropriação» que se dá como acontecimento originário ou Ereignis afigura-se