Porto Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

O Concelho da Maia foi, durante vários séculos, um território predominantemente rural e agrícola, com uma população bastante reduzida que, na sua maioria, procurava a sua subsistência nos recursos que esse dito território rural oferecia:... more

O Concelho da Maia foi, durante vários séculos, um território predominantemente rural e agrícola, com uma população bastante reduzida que, na sua maioria, procurava a sua subsistência nos recursos que esse dito território rural oferecia: os campos (extremamente férteis), as pedreiras (que abundavam e abasteciam a cidade do Porto) e os pinhais (sobretudo explorados no Inverno, por altura da menor intensidade agrícola). Era ainda um território socialmente heterogéneo, onde coexistiam pessoas com parcos recursos económicos, que habitavam em casas “térreas, baixas e acanhadas: os portais muito baixos, que qualquer homem quebrava a cabeça na padeeira, se não se abaixasse” (Azevedo, 2014, p. 136); com figuras de posições sociais mais elevadas, que habitavam sobretudo em quintas (algumas brasonadas), procurando na Maia a tranquilidade e o bucolismo que não encontravam em grandes centros citadinos.
A Quinta da Boa Vista, casa de campo seiscentista reformada, sita na freguesia da Maia (Concelho da Maia), é um desses vários exemplos. A génese da atual Quinta da Boa Vista remonta ao ano de 1648, momento em que uma propriedade conhecida como Casal da Granja é adquirida por Ana André Gramaxo e Simão Martins Ferreira. Deste casal, resultaram vários descendentes, que ao longo do tempo, ficaram na posse da Quinta da Boa Vista, ou a residir nela. A Quinta chegou a pertencer, a título de exemplo, ao Reverendo Vicente Gramaxo, detentor de várias propriedades na referida freguesia, tendo inclusivamente doado parte do terreno onde foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, datada de 1738 e que ladeia a Quinta da Boa Vista. Após a morte de Vicente Gramaxo (1752), a Quinta (vulgarmente conhecida como Quinta dos Gramaxo), passa para a posse de seu irmão, o Sargento-mor Diogo António de Andrade Gramaxo. Com a morte deste elemento da família Gramaxo, em 1805, que “dizião ser a creatura mais antiga da freguesia” (ADP, Registos de Óbito da Maia, 1795-1817, fls. 171v-172), a propriedade fica nas mãos de sua filha D. Ana Josefa de Andrade Gramaxo. Foi desde o século XVII, até aos nossos dias, que a Quinta da Boa Vista foi sendo legada de geração em geração, sempre radicada na influente família Gramaxo, que foi, ao longo do tempo, cimentando a sua posição social, tanto em cargos administrativos e culturais, como na celebração de matrimónios com outras influentes famílias do entre o Douro e Minho.
O objetivo deste trabalho é compreender a evolução da Quinta, tanto nos seus moradores e proprietários como nas suas transformações internas, na compreensão da história familiar dos Gramaxo e da sua teia. Para a elaboração deste estudo recorremos essencialmente a fontes paroquiais, a manuscritos, periódicos, bibliografia relevante sobre esta temática e a entrevistas com descendentes.