Public History Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
O presente trabalho tem por objetivo discutir as muitas memórias em disputa no Oeste do Paraná, tomando como base o Município de Santa Helena e as outras histórias que emergem dessa tensão. Produzidas em diferentes momentos, tais versões... more
O presente trabalho tem por objetivo discutir as muitas memórias em disputa no Oeste do Paraná, tomando como base o Município de Santa Helena e as outras histórias que emergem dessa tensão. Produzidas em diferentes momentos, tais versões referem-se a processos sociais desenvolvidos entre 1950 e 2005 e relacionam o local ao regional.
Abordo, inicialmente, o processo de constituição de uma memória na esfera pública de Santa Helena, trabalhando com fontes como livros de história, monumentos, materiais de imprensa e de divulgação do poder público local. Constituída, geralmente, a partir das “elites” do lugar, tal versão expressa projetos elaborados para o município.
Realizo um estudo relacional, a partir do olhar lançado por trabalhadores que vivem no município, sobre suas trajetórias de vida. Tomo suas narrativas como testemunhos vivos da memória e local privilegiado para captar, no lugar, as muitas versões em disputa. Esses sujeitos, então, realizam um trânsito, por entre as diferentes formas de perceber o passado e afirmam-se no lugar, a partir de suas memórias.
Intercruzando fontes orais, materiais jornalísticos e algumas fotografias, procuro observar as outras histórias que são constituídas nessa disputa. Abordo as maneiras de viver e trabalhar, constituídas localmente, em que muitos trabalhadores associam elementos rurais e urbanos, ao mesmo tempo em que vão constituindo, de maneira diversa e até contraditória, uma fronteira entre campo e cidade.
Trato das formas pelas quais eles utilizam suas lembranças, a fim de referenciar projetos e demandas que lhes são próprios. Suas recordações constituem-se, assim, em instrumento de luta social, tendo como foco principal à reivindicação da riqueza local, representada pela terra na década de 1970 e, a partir da década de 1990, pelos royalties
pagos pela usina hidroelétrica de Itaipu à Prefeitura Municipal de Santa Helena.
Observo, ainda, a partir da década de 1990, uma transformação ocorrida com relação ao trabalho em tais memórias. Nas versões produzidas na esfera pública, ele deixa de ser um centro convergente, passando a ocupar esse lugar a noção de “desenvolvimento”. Nas narrativas dos trabalhadores o labor é apresentado, porém, o foco principal das narrativas recai sobre o acesso à riqueza local, mediado pelo poder
público. Tal fator aponta para a historicidade dessas memórias e para sua constituição em meio às relações sociais.