Representation Research Papers - Academia.edu (original) (raw)
O presente estudo tem com objecto a produção de fotografia de teatro em Portugal entre 1868, data das primeiras fotografias, em série, associadas a uma determinada peça, e 1974, que corresponde, simultaneamente, à extinção da companhia... more
O presente estudo tem com objecto a produção de fotografia de teatro em Portugal entre 1868, data das primeiras fotografias, em série, associadas a uma determinada peça, e 1974, que corresponde, simultaneamente, à extinção da companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (RC-RM) e ao fim do regime do Estado Novo. Neste contexto histórico, de aproximadamente cem anos, identificam-se as mais significativas práticas da fotografia de teatro, a partir de um vasto trabalho de levantamento e de sistematização de imagens fotográficas, que se disponibiliza a fim de possibilitar uma leitura dinâmica entre texto e imagem. Com recurso a instrumentos de análise emergentes de vários campos teóricos, da história da arte, dos estudos de cultura visual e de teatro, problematiza-se a fotografia de teatro enquanto objecto teórico, procurando identificar modelos distintos da sua compreensão e a afirmação do seu espaço discursivo, tendo em conta a efemeridade do seu referente. A investigação colocou o enfoque no reconhecimento de três modelos distintos de fotografia de teatro, que articulam de forma diferenciada os seus elementos essenciais: o actor, a cena e o fotógrafo. Inicialmente, explora-se a produção de retratos de actor em personagem nos estúdios dos fotógrafos, devido, fundamentalmente, a questões técnicas, como exemplo das primeiras formas de evocação da cena, desde a década de 1860. Num segundo momento, o destaque é dado à realização de fotografias de cena, produzidas directamente a partir dos palcos dos teatros entre os finais do século XIX e inícios do seguinte e que encontra nas modernas revistas ilustradas um estimulante espaço de difusão que será, pelo menos em parte, responsável pela sua generalização. Finalmente, a investigação dá conta de um caso de estudo absolutamente emblemático que permite afirmar uma nova linguagem na fotografia de teatro: o vasto arquivo fotográfico da companhia RC-RM, em grande parte da responsabilidade do fotógrafo José Marques, numa colaboração quase exclusiva ao longo de mais de 25 anos. Não obstante o permanente desejo de fixar o momento efémero do evento performativo, a análise desenvolvida revela a impossibilidade das imagens fotográficas, fruto do seu dispositivo, de sustentarem essa memória.