Sir Walter Scott Research Papers (original) (raw)

Nos capítulos I e II, apresentamos um panorama do interesse pela poesia tradicional na Europa, das últimas décadas do séc. XVIII a inícios do séc. XIX, destacando o caso britânico, por ser aquele que, através de Almeida Garrett, mais... more

Nos capítulos I e II, apresentamos um panorama do interesse pela poesia tradicional na Europa, das últimas décadas do séc. XVIII a inícios do séc. XIX, destacando o caso britânico, por ser aquele que, através de Almeida Garrett, mais influenciou Portugal. E tentamos indicar o que, nos autores daquele país (nomeadamente no método editorial que escolheram para as suas obras), ajuda a ver a uma luz mais global o caso de Estácio da Veiga e dos seus retoques no “Romanceiro do Algarve”.
Nos capítulos III e IV, fornecemos elementos para uma história da recolha e da publicação da literatura oral portuguesa, dos inícios do séc. XIX até 1870, data da saída do “Romanceiro do Algarve”. Com esse panorama (sobretudo o relativo ao romanceiro, aquele que pudemos traçar com menos falhas, graças aos trabalhos dos que nos precederam) visamos situar a obra de Veiga no seu verdadeiro contexto, de modo a avaliar o que nela se liga à tradição editorial portuguesa (sobretudo garrettiana) e, ao mesmo tempo, as características arcaizantes que apresenta, ao sair (por motivos alheios ao seu editor), 10 anos depois de concluída, quando as iniciativas de Teófilo Braga já tinham marcado uma nova época no estudo da nossa poesia oral.
O capítulo V é dedicado à colecção de Estácio da Veiga, suas motivações (que, em boa parte, condicionam desde logo as características da obra publicada, sobretudo através do método editorial), datas e lugares em que foi levada a cabo, e inventário dos textos nela existentes, distinguindo os romances de que nos manuscritos há versões tradicionais daqueles que, pelo contrário, se vê terem sido inventados por Veiga.
No capítulo VI estudamos dois romances que, ao não existirem versões fidedignas suas no espólio, poderia pensar-se serem falsos, produto da invenção de Estácio da Veiga, mas que o não são. Analisamos também os principais aspectos do método editorial adoptado por Veiga, tal como se pode observar nestes textos.
Aos romances falsos (mais especificamente a três que Veiga traduziu do espanhol) dedicamos o capítulo VII, mostrando o modo como o autor procedeu, a fim de disfarçar a origem livresca desses textos. Dedicamos em seguida um capítulo (o VIII) à balada romântica e suas relações como “Romanceiro do Algarve”. A balada é um género mal conhecido, mas de grande peso na literatura escrita do nosso século XIX, que, pelas suas relações (bastante ambíguas) com a literatura oral, nos parece contribuir para perspectivar melhor a espinhosa questão dos romances falsos, escritos por Veiga mas por ele atribuídos à tradição. Analisamos aqui também dois dos romances falsos cuja temática mais claramente revela a influência da balada romântica.
No capítulo IX (e último), começamos por resumir uma polémica jornalística em que Veiga se viu envolvido, a qual mostra como, na época, os leitores exigiam um método editorial fortemente interventivo, a que o editor não teria podido fugir, mesmo que quisesse (e a verdade é que não queria). Falamos, depois, da dupla realidade que coexiste no “Romanceiro do Algarve” —os textos tradicionais (ainda que muito retocados) e os textos falsos, inventados por Veiga—, e mostramos que essa convivência foi escolhida pelo editor desde os primeiros artigos que publicou, podendo resultar, pelo menos em parte, das suas limitações culturais. Por fim, apontamos os caminhos que nos parece de seguir na exploração futura do espólio romancístico de Estácio da Veiga: por um lado, a publicação dos manuscritos originais (ou das cópias mais antigas, quando aqueles faltam) e, por outro, o estudo do método editorial do autor, para o que o espólio fornece condições muito boas. Tal estudo ganhará muito se tiver em atenção o que se sabe já sobre o método editorial adoptado em colecções de baladas de outros países europeus, e, por seu lado, poderá contribuir para um melhor conhecimento do método editorial de outras colecções, inclusive estrangeiras, sobretudo daquelas de cuja formação se tenham conservado menos manuscritos do que no caso algarvio.
A tese conclui-se com cinco apêndices, de que nos permitimos destacar os nºs 2 e 3, onde apresentamos os dois corpora (com a indicação bibliográfica de numerosas baladas românticas portuguesas e também de baladas traduzidas) em que se baseia o capítulo VIII. Pensamos que o primeiro destes corpora apresenta material de importância também para o estudo da literatura portuguesa (escrita) do Romantismo.

Palavras-chave: _Romanceiro do Algarve_ (1870); Estácio da Veiga (1828-1891); Romanceiro tradicional; Literatura oral portuguesa; Algarve; Recolhas da tradição oral portuguesa; História das recolhas da tradição oral portuguesa (1821-1870); J. G. Herder (1744-1803): suas teorias sobre a literatura oral; Thomas Percy (1729-1811): seu método editorial das baladas tradicionais; Walter Scott (1771-1832): seu método editorial das baladas tradicionais; Estácio da Veiga (1828-1891): seu método editorial dos romances tradicionais; Método editorial dos textos poéticos orais; Bibliografia ativa de Estácio da Veiga (1828-1891); O romanceiro artístico e os versos de redondilha em Portugal (1716-1823); O romanceiro espanhol (1768-1828); Baladas da tradição oral inglesa; Poesia romântica portuguesa; A balada no Romantismo português