Teogonia Research Papers - Academia.edu (original) (raw)

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Quando convidada a apresentar as relações entre Mito & Filosofia, lembrei-me imediatamente de um texto (inédito), "Marcuse's Mythos", apresentado por Andrew Lamas no VI Encontro da International Herbert Marcuse Society, em 2009, na York University, de Toronto, Canadá, o que levou-me à escolha do tema, quer dizer, a discorrer sobre a utilização feita por Herbert Marcuse do mito de Medusa. Fazendo uso de algumas de suas ideias e da bibliografia trabalhada por Lamas, concentrei-me nos aspectos estéticos do mito, lembrando que, nas reflexões de Marcuse, estética e política estão bastante unidas. A beleza, como objeto de desejo, encontra-se no terreno das pulsões primárias, observa Marcuse no Ensaio sobre a libertação. 1 No mito de Medusa, o prazer e o terror provocados pela beleza aparecem entrelaçados. Em suas palavras, A beleza tem o poder de coibir agressão: ela barra e imobiliza o agressor. A bela Medusa petrifica quem a confronta. "Poseidon, o deus de azul cabeleira, deitou-se com ela em uma campina macia numa cama com flores da primavera." Ela é assassinada por Perseu, e do seu corpo despedaçado surge Pégaso, o cavalo alado, símbolo da imaginação poética. 2 Conforme observou Lamas, a apresentação assim sumária de Medusa mantém o estilo tradicional da Beócia, região da Grécia central, cuja tradição épica separou-se da homérica: em contraste com Homero e seus sucessores, "os poetas épicos beócios não são principalmente contadores de histórias. Como a poesia extensa precisa estar contida em alguma moldura, favorecem o catálogo e a genealogia: quem é quem, o que é o que, e como tornaram-se; e ainda, a moral: porque as coisas são assim e o que fazer". 3 Com a narrativa minimizada em favor da identidade do personagem, Medusa é apresentada por Hesíodo como uma das Górgonas que, com suas irmãs Sthenno e Euryale, são monstros "de quem não se deve aproximar, a quem não se deve descrever". 4 Nessa versão, a bela 1