Delfim Santos, Da ambigüidade na metafísica (original) (raw)
Da ambigüidade na metafísica
Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofía (Mendoza 1949), Universidad Nacional de Cuyo, Buenos Aires 1950, tomo II, págs. 840-846.
(Sesiones particulares: I. Metafísica.)
Há problemas cuja reposição se impõe a cada filósofo. Sem essa reposição não se justifica o autêntico filosofar, que não é apenas busca de solução ou resposta, mas a fundamentação da própria interrogação que o problema presupõe. Um desses problemas, que muitos outros absorve, é a interrogação radical do que seja a metafísica. No nosso tempo, Heidegger interrogou-se e fez uma lição sobre o tema. Em vez da resposta à interrogação preferiu, porém, tratar de um problema metafísico. Mas um problema metafísico não é a metafísica, e a prévia determinação de um problema como metafísico pressupõe, pelo menos, um vago saber do que seja a metafísica. Parece que assim é, pois, no decurso da lição, Heidegger "atinge" a metafísica em função precisamente da determinação inicial e prévia do problema como metafísico.
Que vale a resposta de Heidegger? Sem dúvida é profundo e serio o seu esforço e o que por ele nos aponta é esclarecedor e fecundo. A sua resposta sugere-nos a prioridade da metafísica relativamente à ciência, ao conhecimento do sendo, à posição de qualquer algo. Como é sabido, o problema preferido é o Nada, mas se o Nada é problema metafísico, é sobre o Nada que nos fala e não pròpriamente sobre Metafísica. E foi isso mesmo que Heidegger, no decurso da lição, reconheceu e confessou. A sua lição poderia ser intitulada: "Tratado sobre o Nada". Não pomos em dúvida que tal tratado pertença específicamente a um género de especulação que convencionalmente se chama metafísica, pomos sim em dúvida, e com a confessada aquiescência de Heidegger, que um "Tratado sobre o Nada" possa ser considerado como resposta suficiente à interrogação radical sobre o que seja a Metafísica.
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