SPFW busca inspira��o na cultura africana do passado e do presente (original) (raw)

12/07/2006 -09h38

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ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
da Folha de S.Paulo

A S�o Paulo Fashion Week, que come�a hoje e segue at� a pr�xima ter�a, ganhou uma imprevista tonalidade pol�tica. Ao eleger a cultura africana como tema do evento, a semana de moda jogou luz, para o mundo fashion, sobre a quest�o racial no Brasil, justamente no momento em que o pa�s discute a ado��o de cotas para negros nas universidades p�blicas.

O empres�rio Paulo Borges, organizador da S�o Paulo Fashion Week, diz que ainda n�o tem opini�o formada sobre o assunto, mas acredita que, "se [as cotas] s�o algo que abrem possibilidades para as pessoas, elas s� podem ser v�lidas".

Como todo o pa�s, os estilistas tamb�m se dividem sobre o tema. Modelos negros, por sua vez, defendem as cotas. Para a top Emanuela de Paula, o projeto "� um bom incentivo na luta contra o preconceito".

Durante sete dias, ser�o apresentadas 48 cole��es de 45 grifes, que prometem um ver�o de imagem forte, cores vivas e comprimentos reduzidos. No embalo da �frica, as misturas de estilos e culturas est�o em alta. Na pol�tica fashion, a miscigena��o � hype.

Redescobrindo a �frica

Em busca de sua identidade --muito discutida mas de contornos ainda pouco definidos--, a moda brasileira foi procurar na �frica as pistas sobre suas ra�zes e o seu futuro. Esse movimento de reaproxima��o com o continente n�o � in�dito, mas aparece agora com novo foco: a prioridade n�o � listar elementos de heran�as tribais, mas descobrir a cara mais pop da �frica contempor�nea.

"Vivemos um momento de trocas culturais, e os africanos interessam a todos com a sua riqueza cultural, sua vibra��o e energia criativa", afirma o empres�rio Paulo Borges, organizador da S�o Paulo Fashion Week, que nesta edi��o ter� a cultura da �frica como tema.

A inspira��o africana do evento n�o determina o estilo das 48 cole��es que ser�o mostradas de hoje at� ter�a, mas alguns estilistas decidiram abordar a �frica nos desfiles.

"O conhecimento que temos de nossas ra�zes � muito superficial. Estamos passando por um momento de revis�o", diz o estilista Mario Queiroz. Ele apresentar� uma cole��o com refer�ncias aos trajes cerimoniais africanos e � moda de Salvador dos anos 40. "Al�m dessa grande tend�ncia que � olhar para a �frica, acredito que esta ser� a primeira esta��o em que os modelos negros realmente ter�o grande destaque", aposta.

Para estilistas da SPFW, embora a moda n�o tenha participa��o primordial na luta contra preconceitos, ela come�a a refletir uma nova atitude em rela��o aos negros. "A melhor e mais nova atitude em rela��o a este problema est� vindo dos jovens. A gera��o globalizada est� assimilando a riqueza da miscigena��o de uma forma muito positiva", analisa a designer Cl� Orozco, da Huis Clos. "A moda sempre tratou a rela��o de Brasil e �frica de forma decorativa. Isso deve mudar", diz o estilista Ronaldo Fraga.

Moda e pol�tica

O destaque dado � �frica e � cultura negra na SPFW ganhou um imprevisto rumo pol�tico na �ltima semana, com as discuss�es a respeito da cria��o de cotas para afro-descendentes nas universidades.

Como no Congresso, os fashionistas tamb�m est�o divididos a respeito. "Sou a favor, mas n�o s� na universidade. Tem que come�ar na pr�-escola, onde se inicia o Apartheid", diz Ronaldo Fraga. "Defendo os aspectos positivos das cotas, mas s� isso n�o resolve a situa��o. Precisamos de um trabalho de base na educa��o", afirma Mario Queiroz.

J� Cl� Orozco e Amir Slama --que transferiu o desfile da Rosa Ch� para Nova York e participa apenas com a Sais, sua segunda linha-- s�o contra as cotas, que, para eles, podem aumentar o preconceito. "Deveria ser levado em conta o grau de pobreza e n�o o elemento racial", afirma Slama, que j� foi professor de hist�ria.

Paulo Borges ainda n�o tem uma posi��o pessoal sobre as cotas, mas comemora o fato de seu evento abrir certo espa�o para discuss�es sociais. "N�o � nossa inten��o fazer pol�tica, mas somos tamb�m uma esp�cie de alto-falante para a vida brasileira. A moda n�o � algo que se esgota nela mesma."

O quente do ver�o

Pol�micas � parte, na passarela o clima ser� de muito calor e muita cor. Os vestidos s�o destaque, e os comprimentos anunciam um ver�o ultraquente. "O desejo pelos curtos vem com for�a total", adianta Cl�.

J� os biqu�nis, como se viu no Fashion Rio, crescem um pouco. "O conforto vem tomando o lugar dos modismos. As pe�as de banho est�o ficando maiores", diz Amir Slama. Para o estilista, a cara da praia est� mudando. "Estamos vendo um novo conceito de sensualidade."

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