Carla Indira - Academia.edu (original) (raw)

Papers by Carla Indira

Research paper thumbnail of Musicalidades das cabo-verdianas nas roças de São Tomé e Príncipe

Revista Estudos Feministas, 2016

Resumo: A migração cabo-verdiana para São Tomé e Príncipe, iniciada no século XX (de 1900 a 1970)... more Resumo: A migração cabo-verdiana para São Tomé e Príncipe, iniciada no século XX (de 1900 a 1970) num esquema de trabalho contratado para as então roças de café e de cacau, foi e permanece sendo construída no imaginário social cabo-verdiano como o retrato da "emigração forçada" e "má emigração". Com as artes de fazer tchabeta e as narrativas musicais dos coletivos Ouro Verde e Raiz di Tera, discuto o trabalho de criação desse território Cabo Verde em São Tomé pelas cabo-verdianas nas roças santomenses, como um lugar (entre outros) de onde falam e criam essas contranarrativas. Igualmente, como um locus donde falam e postulam narrativas de protesto inscritas num projeto de escrever as próprias histórias alusivas às condições das mulheres na sociedade santomense

Research paper thumbnail of “Somos Descendentes!” − Contranarrativas e Agenciamentos Musicais Dos Coletivos De Tchabeta Na Roça Agostinho Neto (São Tomé e Príncipe)

Sociologia & Antropologia, 2020

Resumo Cabo Verde, localizado na costa ocidental da África, é reconhecido como país marcadamente ... more Resumo Cabo Verde, localizado na costa ocidental da África, é reconhecido como país marcadamente migratório. Entre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e Príncipe foi concebida e narrada como o retrato da “pior migração” cabo-verdiana, por reverberar a experimentação da escravidão e reforçar uma negritude renegada. À luz da forma como a prática musicocoreográfica tchabeta aparece mobilizada no quotidiano das pessoas cabo-verdianas e os descendentes em São Tomé e Príncipe, as musicalidades constituem um mecanismo de reterritorialização e criação de um território existencial no arquipélago santomense. O que está em jogo é uma reatualização dos vários cristais de tempo: um batuko reprimido e silenciado do tempo colonial/do branco para um tchabeta que permite outros espaços e outros modos existenciais no território santomense.

Research paper thumbnail of Mobilidades e territórios impensáveis. Contranarrativas e afetos de cabo-verdianos nas roças de São Tomé e Príncipe

Revista De Antropologia, 2021

Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um territó... more Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um território atravessado e costurado pelas mobilidades a outros territórios, desde Europa, Américas e África. Dos vários territórios possiveis, São Tomé e Principe foi e continua sendo narrado como um território impensável. As multiplas narrativas elaboradas sobre os cabo-verdianos em São Tomé e Principe, quer os que experimentaram o acontecimento do trabalho contratado, quer os descendentes dessa experiência atroz, foi inscrita numa chave de regime depreciativo, criando nesse processo de produção de verdades, tentativas de silenciamento de vidas e narrativas que não importam. Em recusa, esse coletivo mostra como, no seu quotidiano, cria múltiplas contranarrativas reversas às narrativas hegemónicas, sinalizando não somente que não cabe nessa história narrada e, que ainda se narra, como também vidas foram construídas. E, as artes culinárias constituem, também, um desses lugares onde tais contranar...

Research paper thumbnail of Texto do artigoMobilidades e territórios impensáveis. Contranarrativas e afetos de cabo-verdianos nas roças de São Tomé e Princípe

Rev. antropol., 2021

Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um territó... more Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um território atravessado e costurado pelas mobilidades a outros territórios, desde Europa, Américas e África. Dos vários territórios possiveis, São Tomé e Principe foi e continua sendo narrado como um território impensável. As multiplas narrativas elaboradas sobre os cabo-verdianos em São Tomé e Principe, quer os que experimentaram o acontecimento do trabalho contratado,
quer
os
descendentes
dessa
experiência

atroz,
foi
inscrita
numa
chave
de
regime
depreciativo,
criando
nesse
processo
de

produção
de
verdades,
tentativas
de
silenciamento
de
vidas
e narrativas
que
não

importam.
Em
recusa,
esse
coletivo
mostra
como,
no
seu
quotidiano,
cria
múltiplas

contranarrativas
reversas
às
narrativas
hegemónicas,
sinalizando
não
somente
que

não
cabe
nessa
história
narrada
e,
que
ainda
se
narra,
como
também
vidas
foram

construídas. E, as artes culinárias constituem, também, um desses lugares onde tais
contranarrativas são elaboradas.

Research paper thumbnail of MUSICALIDADES DAS CABO-VERDIANAS NAS ROÇAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Estudos Feministas, 2016

Esta obra está sob licença Creative Commons. a 1970) num esquema de trabalho contratado para as e... more Esta obra está sob licença Creative Commons. a 1970) num esquema de trabalho contratado para as então roças de café e de cacau, foi e permanece sendo construída no imaginário social cabo-verdiano como o retrato da "emigração forçada" e "má emigração". Com as artes de fazer tchabeta e as narrativas musicais dos coletivos Ouro Verde e Raiz di Tera, discuto o trabalho de criação desse-território Cabo-Verde em São Tomé pelas cabo-verdianas nas roças santomenses, como um lugar (entre outros) de onde falam e criam essas contranarrativas. Igualmente, como um locus donde falam e postulam narrativas de protesto inscritas num projeto de escrever as próprias histórias alusivas às condições das mulheres na sociedade santomense Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Migração cabo-verdiana; Batuko; Narrativas musicais; Modos de existências. Menina onde está tua virgindade? Menina onde ficou tua virgindade? Menina te pedi e te negaste a me dar. Menina te quero muito e negaste a me querer. Agora já te enganaram, tomaram tua virgindade, não te quero mais. Trocaste tua virgindade pelo dinheiro, não te quero mais 1

Research paper thumbnail of População e Sociedade 87 A experiência migratória de cabo-verdianos para as roças de São Tomé e Príncipe: pesquisa de campo The migratory experience of Cape Verdeans to the plantations of São Tomé and Príncipe: field research

População e Sociedade , 2020

Resumo: Dentre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e... more Resumo: Dentre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e Príncipe foi narrada como o retrato da "pior migração" cabo-verdiana, por reverberar a experimentação da "escravidão" e reforçar uma negritude renegada por estes. Com as narrativas dos que vivenciaram não só a fome, como os efei-tos dela, o acontecimento e a experiência da migração cabo-verdiana para as roças de São Tomé e Príncipe, este artigo discorre sobre os múltiplos lugares de enunciação desta experiência e acontecimento, sobre o quotidiano de fome, bem como, da "decisão ou não" de alistar-se para as roças santomenses. Argumenta-se que as discur-sividades e as práticas coloniais sobre as fomes propiciaram a criação dos modos de existência e de quotidianos de fomes, em que, como mote para a migração cabo-verdiana para as roças de cacau e café em São Tomé e Prín-cipe, a migração contratada constituiria "a única alternativa possível" às fomes e à eminência das mortandades. Palavras-chave: Trabalho contratado; migração forçada; São Tomé e Príncipe; Cabo Verde; roças. Abstract: Among the various destinations of Cape Verdean people, the migratory experience in São Tomé and Príncipe was narrated as the portrait of Cape Verde's "worst migration", as it reverberated the experimentation of "slavery" and reinforced a renegade blackness. With the narratives of those who experienced not only hunger, but the effects of it, the event and the experience of Cape Verdean migration to the gardens of São Tomé and Príncipe, this article discuss the multiple places of utterance of this experience and event, about everyday of hunger, as well as the "decision or not" to join the São Tomé plantations. It is argued that the discourse and practices of the colonial authorities on famines led to the creation of modes of existence and daily famines, in which, as a motto for Cape Verdean migration to the cocoa and coffee fields in São Tomé and Príncipe, contracted migration would constitute "the only possible alternative" to famines and the imminence of death tolls.

Research paper thumbnail of "SomoS deScendenteS!" − contranarrativaS e agenciamentoS muSicaiS doS coletivoS de tchabeta na roça agoStinho neto (São tomé e PrínciPe

sociol. antropol., 2020

Os arquivos do contrato administrativo para as roças de São Tomé e Príncipe 1 apontam para milhar... more Os arquivos do contrato administrativo para as roças de São Tomé e Príncipe 1 apontam para milhares de cabo-verdianos que, desde finais do século XIX até o último quartel do século XX, se inscreveram na lista dos que foram aliciados à necessidade de contratar para as roças santomenses, com a homologação dos enunciados jurídico-oficiosos. Conforme decreto-lei de 8 de fevereiro de 1903, o processo de recrutamento da mão de obra barata e escravizada nas então colônias − Moçambique, Angola e Cabo Verde −, visava: "salvaguardar as roças [em São Tomé e Príncipe] de monocultura de café e posteriormente de cacau, após a abolição da escravatura em 1869" (São Tomé,1903). Em paralelo com o recrudescimento, no espaço cabo-verdiano, do capi-talismo colonial nas corporações/companhias agrárias e dos decretos-leis fab-ricando realidades marcadas pela "possibilidade de escolha", quotidianos de escravidão e de relações escravistas habitavam e irrompiam as relações sociais nas roças de São Tomé e Príncipe. Relações ancoradas a um processo de criação do enunciado de que a "única saída possível" a um quotidiano de fomes e a eminência de mortes era a evasão e o "alistamento" às roças santomenses. Os informes demográficos de Carreira (1984: 177) são muito esclarecedores quan-do assinalam que Cabo Verde, em 1947 com a população em cerca de 160 000 habitantes, tinha 128 000 (80%) tidos como os "necessitados" do país. Diante disso, o território Cabo Verde experimentava os efeitos do capi-talismo moderno e a experiência das práticas escravistas − novamente o terror Não estavam de mãos dadas, mas as sombras deles estavam. Seth olhou para a sua esquerda e as sombras deles três deslizavam pela areia de mãos dadas. Talvez ele tivesse razão. Uma vida.

Research paper thumbnail of NOÇÕES ESTÉTICAS NA PERFORMANCE DO BATUKO: EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA COM O GRUPO DE BATUKADEIRAS DE SÃO MARTINHO GRANDE (ILHA DE SANTIAGO - CABO VERDE

Mixagens em campo: etnomusicologia, performance e diversidade musical, 2012

Research paper thumbnail of The erotic grammars of Cape Verdean Batuko

Hawó, 2020

Resumo: Batuko, gênero músico-coreográfico de Cabo Verde, país africano, tem sido recriado enquan... more Resumo: Batuko, gênero músico-coreográfico de Cabo Verde, país africano, tem sido recriado enquanto um espaço marcadamente feminino, ainda que haja alguma presença masculina. Visando pensar como pode agregar modos diferenciados de ver o mundo, particularmente das mulheres batukadeiras, através das formas diferenciadas de construção dos corpos e desejos, proponho uma associação entre a gramática erótica do Batuko e o conceito deleuze-guatarriano de máquinas desejantes. As noções estéticas do dar Ku Torno, as noções de desejo e, de erotismo acionadas pelas mulheres kutornadeiras, em algum momento, subvertem e destabilizam os espaços micropolíticos cabo-verdianos dos sujeitos. Palavras-chaves: Batuko. Ku Torno. Desejos. Cabo Verde. Abstract: Batuko, a music-choreographic genre from Cape Verde, an African country, has been recreated as a markedly feminine space, although there is some male presence. Aiming to think how it can aggregate different ways of seeing the world, particularly of women drummers, through the different ways of building bodies and desires,

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Revista Estudos Feministas, 2016

Resumo: A migração cabo-verdiana para São Tomé e Príncipe, iniciada no século XX (de 1900 a 1970)... more Resumo: A migração cabo-verdiana para São Tomé e Príncipe, iniciada no século XX (de 1900 a 1970) num esquema de trabalho contratado para as então roças de café e de cacau, foi e permanece sendo construída no imaginário social cabo-verdiano como o retrato da "emigração forçada" e "má emigração". Com as artes de fazer tchabeta e as narrativas musicais dos coletivos Ouro Verde e Raiz di Tera, discuto o trabalho de criação desse território Cabo Verde em São Tomé pelas cabo-verdianas nas roças santomenses, como um lugar (entre outros) de onde falam e criam essas contranarrativas. Igualmente, como um locus donde falam e postulam narrativas de protesto inscritas num projeto de escrever as próprias histórias alusivas às condições das mulheres na sociedade santomense

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Sociologia & Antropologia, 2020

Resumo Cabo Verde, localizado na costa ocidental da África, é reconhecido como país marcadamente ... more Resumo Cabo Verde, localizado na costa ocidental da África, é reconhecido como país marcadamente migratório. Entre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e Príncipe foi concebida e narrada como o retrato da “pior migração” cabo-verdiana, por reverberar a experimentação da escravidão e reforçar uma negritude renegada. À luz da forma como a prática musicocoreográfica tchabeta aparece mobilizada no quotidiano das pessoas cabo-verdianas e os descendentes em São Tomé e Príncipe, as musicalidades constituem um mecanismo de reterritorialização e criação de um território existencial no arquipélago santomense. O que está em jogo é uma reatualização dos vários cristais de tempo: um batuko reprimido e silenciado do tempo colonial/do branco para um tchabeta que permite outros espaços e outros modos existenciais no território santomense.

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Revista De Antropologia, 2021

Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um territó... more Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um território atravessado e costurado pelas mobilidades a outros territórios, desde Europa, Américas e África. Dos vários territórios possiveis, São Tomé e Principe foi e continua sendo narrado como um território impensável. As multiplas narrativas elaboradas sobre os cabo-verdianos em São Tomé e Principe, quer os que experimentaram o acontecimento do trabalho contratado, quer os descendentes dessa experiência atroz, foi inscrita numa chave de regime depreciativo, criando nesse processo de produção de verdades, tentativas de silenciamento de vidas e narrativas que não importam. Em recusa, esse coletivo mostra como, no seu quotidiano, cria múltiplas contranarrativas reversas às narrativas hegemónicas, sinalizando não somente que não cabe nessa história narrada e, que ainda se narra, como também vidas foram construídas. E, as artes culinárias constituem, também, um desses lugares onde tais contranar...

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Rev. antropol., 2021

Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um territó... more Cabo Verde aparece na memória social e nas práticas de pessoas cabo-verdianas enquanto um território atravessado e costurado pelas mobilidades a outros territórios, desde Europa, Américas e África. Dos vários territórios possiveis, São Tomé e Principe foi e continua sendo narrado como um território impensável. As multiplas narrativas elaboradas sobre os cabo-verdianos em São Tomé e Principe, quer os que experimentaram o acontecimento do trabalho contratado,
quer
os
descendentes
dessa
experiência

atroz,
foi
inscrita
numa
chave
de
regime
depreciativo,
criando
nesse
processo
de

produção
de
verdades,
tentativas
de
silenciamento
de
vidas
e narrativas
que
não

importam.
Em
recusa,
esse
coletivo
mostra
como,
no
seu
quotidiano,
cria
múltiplas

contranarrativas
reversas
às
narrativas
hegemónicas,
sinalizando
não
somente
que

não
cabe
nessa
história
narrada
e,
que
ainda
se
narra,
como
também
vidas
foram

construídas. E, as artes culinárias constituem, também, um desses lugares onde tais
contranarrativas são elaboradas.

Research paper thumbnail of MUSICALIDADES DAS CABO-VERDIANAS NAS ROÇAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Estudos Feministas, 2016

Esta obra está sob licença Creative Commons. a 1970) num esquema de trabalho contratado para as e... more Esta obra está sob licença Creative Commons. a 1970) num esquema de trabalho contratado para as então roças de café e de cacau, foi e permanece sendo construída no imaginário social cabo-verdiano como o retrato da "emigração forçada" e "má emigração". Com as artes de fazer tchabeta e as narrativas musicais dos coletivos Ouro Verde e Raiz di Tera, discuto o trabalho de criação desse-território Cabo-Verde em São Tomé pelas cabo-verdianas nas roças santomenses, como um lugar (entre outros) de onde falam e criam essas contranarrativas. Igualmente, como um locus donde falam e postulam narrativas de protesto inscritas num projeto de escrever as próprias histórias alusivas às condições das mulheres na sociedade santomense Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Migração cabo-verdiana; Batuko; Narrativas musicais; Modos de existências. Menina onde está tua virgindade? Menina onde ficou tua virgindade? Menina te pedi e te negaste a me dar. Menina te quero muito e negaste a me querer. Agora já te enganaram, tomaram tua virgindade, não te quero mais. Trocaste tua virgindade pelo dinheiro, não te quero mais 1

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População e Sociedade , 2020

Resumo: Dentre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e... more Resumo: Dentre vários destinos das pessoas cabo-verdianas, a experiência migratória em São Tomé e Príncipe foi narrada como o retrato da "pior migração" cabo-verdiana, por reverberar a experimentação da "escravidão" e reforçar uma negritude renegada por estes. Com as narrativas dos que vivenciaram não só a fome, como os efei-tos dela, o acontecimento e a experiência da migração cabo-verdiana para as roças de São Tomé e Príncipe, este artigo discorre sobre os múltiplos lugares de enunciação desta experiência e acontecimento, sobre o quotidiano de fome, bem como, da "decisão ou não" de alistar-se para as roças santomenses. Argumenta-se que as discur-sividades e as práticas coloniais sobre as fomes propiciaram a criação dos modos de existência e de quotidianos de fomes, em que, como mote para a migração cabo-verdiana para as roças de cacau e café em São Tomé e Prín-cipe, a migração contratada constituiria "a única alternativa possível" às fomes e à eminência das mortandades. Palavras-chave: Trabalho contratado; migração forçada; São Tomé e Príncipe; Cabo Verde; roças. Abstract: Among the various destinations of Cape Verdean people, the migratory experience in São Tomé and Príncipe was narrated as the portrait of Cape Verde's "worst migration", as it reverberated the experimentation of "slavery" and reinforced a renegade blackness. With the narratives of those who experienced not only hunger, but the effects of it, the event and the experience of Cape Verdean migration to the gardens of São Tomé and Príncipe, this article discuss the multiple places of utterance of this experience and event, about everyday of hunger, as well as the "decision or not" to join the São Tomé plantations. It is argued that the discourse and practices of the colonial authorities on famines led to the creation of modes of existence and daily famines, in which, as a motto for Cape Verdean migration to the cocoa and coffee fields in São Tomé and Príncipe, contracted migration would constitute "the only possible alternative" to famines and the imminence of death tolls.

Research paper thumbnail of "SomoS deScendenteS!" − contranarrativaS e agenciamentoS muSicaiS doS coletivoS de tchabeta na roça agoStinho neto (São tomé e PrínciPe

sociol. antropol., 2020

Os arquivos do contrato administrativo para as roças de São Tomé e Príncipe 1 apontam para milhar... more Os arquivos do contrato administrativo para as roças de São Tomé e Príncipe 1 apontam para milhares de cabo-verdianos que, desde finais do século XIX até o último quartel do século XX, se inscreveram na lista dos que foram aliciados à necessidade de contratar para as roças santomenses, com a homologação dos enunciados jurídico-oficiosos. Conforme decreto-lei de 8 de fevereiro de 1903, o processo de recrutamento da mão de obra barata e escravizada nas então colônias − Moçambique, Angola e Cabo Verde −, visava: "salvaguardar as roças [em São Tomé e Príncipe] de monocultura de café e posteriormente de cacau, após a abolição da escravatura em 1869" (São Tomé,1903). Em paralelo com o recrudescimento, no espaço cabo-verdiano, do capi-talismo colonial nas corporações/companhias agrárias e dos decretos-leis fab-ricando realidades marcadas pela "possibilidade de escolha", quotidianos de escravidão e de relações escravistas habitavam e irrompiam as relações sociais nas roças de São Tomé e Príncipe. Relações ancoradas a um processo de criação do enunciado de que a "única saída possível" a um quotidiano de fomes e a eminência de mortes era a evasão e o "alistamento" às roças santomenses. Os informes demográficos de Carreira (1984: 177) são muito esclarecedores quan-do assinalam que Cabo Verde, em 1947 com a população em cerca de 160 000 habitantes, tinha 128 000 (80%) tidos como os "necessitados" do país. Diante disso, o território Cabo Verde experimentava os efeitos do capi-talismo moderno e a experiência das práticas escravistas − novamente o terror Não estavam de mãos dadas, mas as sombras deles estavam. Seth olhou para a sua esquerda e as sombras deles três deslizavam pela areia de mãos dadas. Talvez ele tivesse razão. Uma vida.

Research paper thumbnail of NOÇÕES ESTÉTICAS NA PERFORMANCE DO BATUKO: EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA COM O GRUPO DE BATUKADEIRAS DE SÃO MARTINHO GRANDE (ILHA DE SANTIAGO - CABO VERDE

Mixagens em campo: etnomusicologia, performance e diversidade musical, 2012

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Hawó, 2020

Resumo: Batuko, gênero músico-coreográfico de Cabo Verde, país africano, tem sido recriado enquan... more Resumo: Batuko, gênero músico-coreográfico de Cabo Verde, país africano, tem sido recriado enquanto um espaço marcadamente feminino, ainda que haja alguma presença masculina. Visando pensar como pode agregar modos diferenciados de ver o mundo, particularmente das mulheres batukadeiras, através das formas diferenciadas de construção dos corpos e desejos, proponho uma associação entre a gramática erótica do Batuko e o conceito deleuze-guatarriano de máquinas desejantes. As noções estéticas do dar Ku Torno, as noções de desejo e, de erotismo acionadas pelas mulheres kutornadeiras, em algum momento, subvertem e destabilizam os espaços micropolíticos cabo-verdianos dos sujeitos. Palavras-chaves: Batuko. Ku Torno. Desejos. Cabo Verde. Abstract: Batuko, a music-choreographic genre from Cape Verde, an African country, has been recreated as a markedly feminine space, although there is some male presence. Aiming to think how it can aggregate different ways of seeing the world, particularly of women drummers, through the different ways of building bodies and desires,