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Papers by Hélder Brinate Castro

Research paper thumbnail of A prosa poética de Os sertões

Revista De Letras Norte@mento, 2024

Os sertões, de Euclides da Cunha, além de consorciarem ciência e arte, fundem prosa e poesia. Seu... more Os sertões, de Euclides da Cunha, além de consorciarem ciência e arte, fundem prosa e poesia. Seu narrador assume a máscara de poeta e arquiteta um texto em que recorrem procedimentos compositivos da prosa poética. Nesse prisma, objetivamos analisar a presença e o papel da poesia na prosa euclidiana de maneira a desvelar a complexa hibridez presente em Os sertões. Ao examinarmos a interação entre prosa e poesia, buscamos não apenas compreender a estética e a estrutura da narrativa, mas também apreciar a maneira como Cunha utiliza essa fusão para transmitir suas ideias e reflexões sobre a realidade do sertão nordestino.

Research paper thumbnail of Entre a cruz e o rifle: o trágico em Pedra Bonita e Cangaceiros

Inventário, 2023

O Regionalismo surge com a intenção de retratar de forma fiel e objetiva as particularidades e as... more O Regionalismo surge com a intenção de retratar de forma fiel e objetiva as particularidades e as características distintas de determinada região, buscando representar de maneira imediata e documental a realidade rural, com suas nuances culturais e sociais. Assim, a crítica e a historiografia literárias brasileiras costumam interpretar os dramas explorados por essa estética como mera extensão especular de uma realidade local. Relegam-se a um segundo plano os profundos embates emocionais enfrentados pelas personagens, não os compreendendo como causas dos acontecimentos narrados, mas apenas como consequências das ações executadas. Essa perspectiva limitada pode obscurecer a potência trágica e emocional dos dramas vividos pelas personagens. Dessa maneira, a pretensão especular antecipada pela crítica parece embaçar suas lentes, fazendo-a desconsiderar a potência trágica de dramas experimentados por personagens, como as dos romances Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), ambos do escritor José Lins do Rego, sobre os quais este trabalho se debruça.

Research paper thumbnail of Poética gótica e fanatismo religioso: uma leitura d’o reino encantado, de Araripe Júnior

RESUMO: A poetica gotica e, antes de tudo, um fenomeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o I... more RESUMO: A poetica gotica e, antes de tudo, um fenomeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminismo, fomentando sentimentos de assombro e terror, projetou-se para outros paises e epocas. Na literatura brasileira, alguns topoi goticos sao encontrados, sobretudo, em obras que se desenvolvem em torno de tematicas rurais/sertanejas. Em O Reino Encantado: cronica sebastianista , o narrador atribui, como se analisara neste trabalho, aspectos tipicos do vilao gotico as personagens sebastianistas.

Research paper thumbnail of O Reino Encantado: Diálogos Entre Poética Gótica, Imprensa e Ciência No Brasil Oitocentista

Ao contrario do que a critica e a historiografia literarias dos seculos XIX e XX nos levam a supo... more Ao contrario do que a critica e a historiografia literarias dos seculos XIX e XX nos levam a supor, o Gotico faz-se presente na literatura brasileira. Estudos recentes vem demonstrando que a prosa regionalista desponta como uma ramificacao mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, principalmente devido a tematizacao de crencas e lendas de uma populacao isolada. Dessa forma, narrativas que ficcionalizam movimentos messiânicos emergem como possiveis exemplos de como o Gotico manifestou-se nas Letras brasileiras. Para compreender as relacoes entre a poetica gotica e a ficcionalizacao de messianismos na literatura brasileira oitocentista, o romance O Reino Encantado: cronica sebastianista (1878), de Tristao de Alencar Araripe Junior, sera tomado como objeto de estudo deste trabalho. Investigar-se-ao, pois, as estrategias narrativas e formais das quais o escritor se serviu para suscitar o medo como efeito estetico ao tematizar o movimento messiânico de Pedra...

Research paper thumbnail of As heroínas histéricas e vampíricas de Aluísio Azevedo

outra travessia, 2020

https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/2176-8552.2018n26p77 Este trabalho objet... more https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/2176-8552.2018n26p77

Este trabalho objetiva investigar, na prosa naturalista eivada por influxos da poética gótica, a personagem feminina, comumente descrita como vítima da histeria. Reavaliam-se, assim, tanto o Gótico, compreendido como uma poética que consubstancia uma interpretação pessimista do mundo em uma linguagem artística altamente estetizada, quanto o Naturalismo, cuja pretensão objetivo-científica mescla-se com heranças românticas e revela uma desilusão com os avanços científicos. Debruça-se ainda sobre o conto “Músculos e nervos” (1893) e sobre o romance O homem (1887), ambos de Aluísio Azevedo, de forma a analisar as figurações da personagem histérica na literatura brasileira.

Research paper thumbnail of Sombras gótico-decadentistas em Esquifes, de Dario Veloso

Revista de Estudos de Cultura, 2020

https://seer.ufs.br/index.php/revec/article/view/14168 A literatura gótica e a literatura decad... more https://seer.ufs.br/index.php/revec/article/view/14168

A literatura gótica e a literatura decadentista apresentam origens similares. Como o Gótico, que emergiu na contramão do discurso racionalista do Iluminismo, contrapondo-se a uma literatura com intuito de representação realista do universo burguês, o Decadentismo surgiu como um contraponto ao pensamento racional do Positivismo, tematizando as angústias e os medos decorrentes da pretensão científica e documental das narrativas naturalistas. Desiludidas com a racionalidade e pessimistas com a realidade, ambas as poéticas se ocuparam com a faceta obscura e funesta do homem e encetaram composições capazes de gerar efeitos de recepção negativos. Autores góticos e decadentistas criaram, assim, personagens cruéis e monstruosas, que, além de habitarem mundos viciosos e arruinados, desafiam os limites entre o natural e o sobrenatural, entre a razão e a loucura. Tais procedimentos, embora apagados pela crítica e historiografia literária brasileira, são encontrados em parte de nossa ficção, principalmente a do final do século XIX e a do início do XX. Com o intuito de resgatar os influxos do Gótico e do Decadentismo na literatura brasileira, este ensaio objetiva investigar as convergências entre essas poéticas, bem como suas manifestações na obra de Dario Veloso.

Research paper thumbnail of Euclides da Cunha: o equilibrista das Letras

Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, 2019

A obra de Euclides da Cunha, apesar de ofuscada pela grandiosidade de Os sertões (1902), revela q... more A obra de Euclides da Cunha, apesar de ofuscada pela grandiosidade de Os sertões (1902), revela que o vasto conhecimento sociológico, geológico, filosófico, jornalístico, artístico e literário do autor não se limitou às páginas dedicadas à Guerra de Canudos. Nos ensaios publicados aos finais do século XIX e aos princípios do XX, Cunha delibera
sobre assuntos distintos, mobilizando dicções ideológicas diversas e abordagens de variadas disciplinas para perquirir aspectos da realidade humana e invocar análise crítica dos problemas identificados. Como Os sertões, tais escritos evidenciam a acuidade estético-literária do engenheiro que, ao consorciar ciência, crítica e imaginação literária, interpela seus leitores a reexaminarem premissas nacionais a partir da natureza híbrida e inquietante do ensaio. Partindo de uma reflexão sobre a estrutura da prosa ensaística, o presente artigo propõe uma análise do estilo ensaístico de Euclides da Cunha em sua obra prima e em quatro ensaios publicados na imprensa periódica entre 1890 e 1904.

Research paper thumbnail of Espaços monstruosos: o Gótico na ficcionalização de Pedra Bonita e de Canudos

Gragoatá (UFF), 2018

Gragoatá, Niterói, v.23, n. 47, p. 910-925, set.-dez. 2018 910 Resumo Ao contrário do que a críti... more Gragoatá, Niterói, v.23, n. 47, p. 910-925, set.-dez. 2018 910 Resumo Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a crer, a literatura brasileira apresenta influxos góticos. Nesse contexto, a prosa regionalista desponta como uma ramificação mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, em que o interior do país, especialmente os sertões, se transforma em um autêntico locus horribilis. Nos romances O reino encantado: crônica sebastianista (1878), de Araripe Júnior, e Os Jagunços: novela sertaneja (1898), de Afonso Arinos, os narradores, ao utilizarem uma retórica macabra e horrorizante para descrever, respectivamente, os movimentos messiânicos de Pedra Bonita e de Canudos, constroem uma paisagem nordestina lúgubre e macabra. Em ambas as narrativas, o espaço não é apenas o palco em que se praticam e sofrem as atrocidades das tramas, mas também é o principal responsável pela constituição de uma atmosfera opressora e funesta. Enquanto O reino encantado descreve o sítio dos rituais da seita de Pedra Bonita de forma a provocar sentimentos de horror e ojeriza, Os Jagunços utilizam-se da natureza sertaneja para explicitar o terror dos soldados republicanos diante dos canudenses. Palavras-chave: poética gótica; loci horribiles; literatura brasileira; movimentos messiânicos.

Research paper thumbnail of Poética gótica e movimentos messiânicos: o caso de Canudos

Anais eletrônicos do Congresso Internacional ABRALIC 2018, 2018

A crítica e a historiografia literárias brasileiras, ao examinarem narrativas que tematizam movim... more A crítica e a historiografia literárias brasileiras, ao examinarem narrativas que tematizam movimentos messiânicos, atêm-se mais à documentação de tais organizações sociorreligiosas do que aos recursos formais e estéticos utilizados pelos autores. As análises dos recorrentes eventos sobrenaturais e das descrições lúgubres dos rituais místico-religiosos não costumam, pois, apreender o seu potencial estético e sua possível relação com a poética gótica. Tencionando preencher tal lacuna, pretende-se averiguar técnicas ficcionais do Gótico – sobretudo a conformação de loci horribiles e de personagens monstruosas – manejadas por Afonso Arinos em Os Jagunços: novela sertaneja (1898) e por Euclides da Cunha em Os Sertões (1902).

Research paper thumbnail of O Reino Encantado: diálogos entre poética gótica, imprensa e ciência no Brasil oitocentista

MEMENTO - Revista de Linguagem, Cultura e Discurso, 2018

Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a supo... more Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a supor, o Gótico faz-se presente na literatura brasileira. Estudos recentes vêm demonstrando que a prosa regionalista desponta como uma ramificação mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, principalmente devido à tematização de crenças e lendas de uma população isolada. Dessa forma, narrativas que ficcionalizam movimentos messiânicos emergem como possíveis exemplos de como o Gótico manifestou-se nas Letras brasileiras. Para compreender as relações entre a poética gótica e a ficcionalização de messianismos na literatura brasileira oitocentista, o romance O Reino Encantado: crônica sebastianista (1878), de Tristão de Alencar Araripe Júnior, será tomado como objeto de estudo deste trabalho. Investigar-se-ão, pois, as estratégias narrativas e formais das quais o escritor se serviu para suscitar o medo como efeito estético ao tematizar o movimento messiânico de Pedra do Reino. Ademais, com o objetivo de perquirir prováveis ligações entre o espírito da época e a poética gótica, propõe-se estudar, por meio de análises de tratados antropológicos que versem sobre fanatismos religiosos e de jornais publicados à ocasião do movimento, como a manifestação sociorreligiosa de Pedra Bonita foi recebida e interpretada pelo século XIX.

Research paper thumbnail of O sobrenatural no regionalismo brasileiro do final do século XIX e do início do XX

Revista Versalete, 2018

Na tradição regionalista brasileira, o intenso misticismo da população rural não apenas expressa ... more Na tradição regionalista brasileira, o intenso misticismo da população rural não apenas expressa a discrepância do interior do país em relação a sua costa, mas também se torna fonte para a suscitação do medo como efeito estético. Explorando crenças no sobrenatural e em lendas locais, algumas narrativas desvelam as singularidades das regiões interioranas enquanto as caracterizam como amedrontadoras e ameaçadoras, tal como ocorre no enredo dos contos " Acauã " (1893), de Inglês de Sousa, e " Feiticeira " (1921), de Afonso Arinos.

Research paper thumbnail of O gótico na literatura brasileira: o caso da ficção regionalista

Revista Fantástika 451, 2018

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Research paper thumbnail of Poética gótica e fanatismo religioso: uma leitura d'O reino encantado, de Araripe Júnior

Mosaico, 2017

A poética gótica é, antes de tudo, um fenômeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminism... more A poética gótica é, antes de tudo, um fenômeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminismo, fomentando sentimentos de assombro e terror, projetou-se para outros países e épocas. Na literatura brasileira, alguns topoi góticos são encontrados, sobretudo, em obras que se desenvolvem em torno de temáticas rurais/sertanejas. Em O Reino Encantado: crônica sebastianista, o narrador atribui, como se analisará neste trabalho, aspectos típicos do vilão gótico às personagens sebastianistas.

Research paper thumbnail of “O Sertão é sem Lugar”: Figurações do Gótico Colonial na Literatura Sertanista Brasileira

Revista Rascunhos Culturais, 2016

O sertão constitui-se mais como uma “ideologia geográfica” do que como um espaço geograficamente ... more O sertão constitui-se mais como uma “ideologia geográfica” do que como um espaço geograficamente limitado. Sua concepção é fugidia, dependente do contexto histórico e formulada a partir de uma perspectiva exógena: a do homem citadino. Nos fins do século XIX, a elite intelectual do Brasil, guiada pelos pensamentos positivistas de “ordem e progresso”, voltou-se para o interior do país, vendo-o como uma ameaça ao desenvolvimento, pois se distanciava dos processos de modernização ocorridos no
litoral. Reproduzindo essas ideias, muitos escritores da Literatura Brasileira tematizaram o sertão sob lentes urbanas, transformando-o em um espaço primitivo, supersticioso, habitado por uma população mestiça e selvagem. Não são raras as narrativas que descrevem o sertão como um locus horribilis, palco de atrocidades humanas e sobrenaturais, aproximando a literatura regionalista à poética gótica. Tais narrativas, que caracterizam o sertão como uma ameaça à ordem da cidade e ao homem urbano, possuem aspectos do denominado “Gótico Colonial”, um desenvolvimento da literatura gótica que explora os medos e as ansiedades causados pelas culturas das colônias nas metrópoles. Neste artigo, os contos “Praga” (1890) e
“Os velhos” (1896), ambos de Coelho Neto, serão analisados como demonstração das figurações do Gótico Colonial em terras sertanejas da literatura brasileira.
Palavras-chave: Literatura gótica – Gótico Colonial – Literatura Brasileira – Sertão.

Research paper thumbnail of Entre árvores e sangue: a natureza sublime do Sertão

Anais do V Colóquio de Estudos em Narrativa: A ficcionalização do medo na narrativa (CENA IV), 2015

Em diversas narrativas góticas, a natureza, por seu caráter grandioso, destruidor e incontrolável... more Em diversas narrativas góticas, a natureza, por seu caráter grandioso, destruidor e incontrolável, reveste-se de um certo terror, podendo se configurar como uma das principais fontes do sublime. São recorrentes, portanto, descrições de cenários naturais intimidadores e aterrorizantes, como vastas paisagens, florestas sombrias e selvagens, estrondosas cachoeiras e abismos colossais, frente aos quais as construções humanas, fadadas a se tornarem ruínas, e o próprio homem, em sua pequenez e fragilidade, sucumbem. Coelho Neto, por meio de uma retórica de excessos, em seu conto “A tapera” (1897), expõe um sertão brasileiro que, além de ser um locus de atraso e inóspito, recobre-se de uma selva arrebatadora, destruindo o que fora uma próspera fazenda e reduzindo o proprietário desta a um ser silvestre. Imponente, essa floresta ganha tons sublimes e sobre-humanos, situando o interior do país como um espaço narrativo favorável à manifestação da poética gótica. O presente trabalho visa, pois, a analisar como se dá o sublime sobrenatural no sertão coelhoneteano e suas consequências na construção e concepção de um cenário interiorano contrário à civilização e ao progresso. Como fundamentação teórica, pautar-se-á na teoria de sublime desenvolvida por Edmund Burke em Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo.

Research paper thumbnail of A “Praga” do Sertão: aspectos do Gótico em Coelho Neto

Estudos do Gótico. SILVA, Alexander Meireles da; BARROS, Fernando Monteiro de; FRANÇA, Júlio; COLUCCI, Luciana (Org.) , 2017

Na Literatura Brasileira, o espaço narrativo do sertão é concebido, muitas vezes, como um interio... more Na Literatura Brasileira, o espaço narrativo do sertão é concebido, muitas vezes, como um interior longínquo e povoado por uma população mestiça. Nesse ambiente rural, de economia agrária, personagens boiadeiros e retirantes vivem as angústias dessa terra inóspita, de vegetação selvagem, comumente considerada um local bárbaro pelos narradores e escritores. Embora o sertão seja tematizado em romances e contos de cunho realista e documental, as presenças, por um lado, de referências a lendas, crenças e superstições, e por outro, de uma visão de mundo profundamente negativa, contribuem para aproximar tais narrativas da tradição gótica. Se a Literatura Britânica, com autores como Ann Radcliffe, Matthew Lewis, Mary Shelley e Bram Stoker, revela os horrores do passado habitando castelos seculares, com câmaras labirínticas e claustrofóbicas, a Brasileira situa seus terrores e fantasmas nas matas selvagens, nas taperas sertanejas, nos casarões das fazendas abandonadas e à beira de estradas e pântanos, onde mortos são enterrados. Um dos autores brasileiros que se utilizou desse misticismo presente no sertão foi Coelho Neto, que, em seu livro Sertão (1897), evidencia essa tendência por meio de narrativas que exploram eventos sobrenaturais, crimes e tabus culturais, produzindo, assim, o medo como prazer estético em seus leitores. O presente trabalho, fundamentando-se nas considerações de Fred Botting, em Gothic, e de Nick Groom, em The gothic: a very short introduction, propõe, pois, uma análise, sob o viés da estética gótica, da novela “Praga”, primeiro texto do livro Sertão. Busca-se também refletir como se dá a influência exercida pela literatura gótica no ambiente sertanejo de Coelho Neto e da Literatura Brasileira.

Research paper thumbnail of Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto "Inferno verde"

Jornadas Fantásticas – ensaios I. BATISTA, Angélica Maria Santana; SASSE, Pedro Puro (Orgs.) , 2017

O artigo “Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto ‘Inferno verde’” busca co... more O artigo “Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto ‘Inferno verde’” busca compreender como o topos gótico da floresta se manifesta no ambiente amazônico. Sabe-se que o Gótico setecentista prioriza três espaços para suas narrativas: os castelos, os espaços sagrados e as florestas. Em “Inferno verde”, conto do escritor pernambucano Alberto Rangel, a escolha de um foco narrativo em uma personagem alheio à selva amazônica é fundamental para construir um espaço em que a floresta é descrita como claustrofóbica, labiríntica e obscura. A ameaça desse ambiente é, ainda, intensificada pela ameaça das doenças, que acabam por infectar o protagonista da obra. Em delírios causados pelo medo do ambiente hostil e pela febre, a já atemorizante selva se transforma em um espaço de puro horror, que acabará por enlouquecer e trazer a morte ao estrangeiro naquelas terras. Apesar de haver diferenças entre os espaços típicos do Gótico europeu e os ambientes brasileiros, o Gótico encontra, aqui, loci horribiles igualmente eficazes para a produção do medo estético.

Research paper thumbnail of Uma questão de autoria no romance moderno: a história do autor em “Cidade de Vidro”

Revista Philologus, 2014

A literatura sempre foi uma incógnita na história da humanidade, sendo instituída por ser produto... more A literatura sempre foi uma incógnita na história da humanidade, sendo instituída por ser produtora de conhecimentos a partir de certa beleza. Trata-se de construções, (re)criações e preservações de valores éticos e estéticos, respectivamente. Sua importância como formadora humana é, talvez, paradoxalmente, a ausência de importância. E é nessa sem importância que ela permanece e preserva como um dos últimos resquícios de humanidade que sobrevive em cada um de nós, fazendo-nos questionar sobre tudo e sobre todos. Em " Cidade de Vidro " , primeiro romance de Paul Auster em A Trilogia de Nova York, o leitor é levado a questionar sobre aspectos aparentemente triviais da literatura, desde a função do leitor nessa arte até a função do escritor e de suas personagens. O que ocorre nesse romance é, pois, uma explicitação das dúvidas sem respostas que nascem na literatura, em especial nos romances modernos, que dissolvem o ser humano e que são capazes de elevá-lo e sua obra ao mundo dos seres (da) linguagem.

Research paper thumbnail of Do papel à cidadania: a prática de produção textual como forma de ser cidadão

Cadernos do CNLF. Anais do XVIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia, 2014

Seria esperado que o ensino de língua portuguesa ocorresse de forma a permitir aos alunos o domín... more Seria esperado que o ensino de língua portuguesa ocorresse de forma a permitir aos alunos o domínio das habilidades necessárias para o uso real da língua. No entanto, o que se presencia nas escolas brasileiras é um ensino essencialmente descritivo e normativo, dificultando o desenvolvimento dessas habilidades. É nesse cenário que emerge a relevância de se adotarem novas formas de ensino da língua materna, pautadas essencialmente na natureza sociocomunicativa da linguagem, como acontece neste trabalho. Trata-se de uma experiência em sala de aula ocorrida na disciplina produção textual da classe comunitária pré-técnica da Associação SerCidadão, onde se tentam instaurar momentos que privilegiem o caráter sociointeracional da língua, momentos “autênticos” de interação. Adotou-se, assim, uma sequência didática que pudesse minimizar a visão artificial que os alunos possuem da escrita, fazendo-os vê, na produção textual, a oportunidade de construírem uma opinião própria sobre temas da agenda social.

Books by Hélder Brinate Castro

Research paper thumbnail of O medo n'Os sertões: as figuras monstruosas

Discutindo os sertões: territorialidades e diversidades, 2024

Research paper thumbnail of A prosa poética de Os sertões

Revista De Letras Norte@mento, 2024

Os sertões, de Euclides da Cunha, além de consorciarem ciência e arte, fundem prosa e poesia. Seu... more Os sertões, de Euclides da Cunha, além de consorciarem ciência e arte, fundem prosa e poesia. Seu narrador assume a máscara de poeta e arquiteta um texto em que recorrem procedimentos compositivos da prosa poética. Nesse prisma, objetivamos analisar a presença e o papel da poesia na prosa euclidiana de maneira a desvelar a complexa hibridez presente em Os sertões. Ao examinarmos a interação entre prosa e poesia, buscamos não apenas compreender a estética e a estrutura da narrativa, mas também apreciar a maneira como Cunha utiliza essa fusão para transmitir suas ideias e reflexões sobre a realidade do sertão nordestino.

Research paper thumbnail of Entre a cruz e o rifle: o trágico em Pedra Bonita e Cangaceiros

Inventário, 2023

O Regionalismo surge com a intenção de retratar de forma fiel e objetiva as particularidades e as... more O Regionalismo surge com a intenção de retratar de forma fiel e objetiva as particularidades e as características distintas de determinada região, buscando representar de maneira imediata e documental a realidade rural, com suas nuances culturais e sociais. Assim, a crítica e a historiografia literárias brasileiras costumam interpretar os dramas explorados por essa estética como mera extensão especular de uma realidade local. Relegam-se a um segundo plano os profundos embates emocionais enfrentados pelas personagens, não os compreendendo como causas dos acontecimentos narrados, mas apenas como consequências das ações executadas. Essa perspectiva limitada pode obscurecer a potência trágica e emocional dos dramas vividos pelas personagens. Dessa maneira, a pretensão especular antecipada pela crítica parece embaçar suas lentes, fazendo-a desconsiderar a potência trágica de dramas experimentados por personagens, como as dos romances Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), ambos do escritor José Lins do Rego, sobre os quais este trabalho se debruça.

Research paper thumbnail of Poética gótica e fanatismo religioso: uma leitura d’o reino encantado, de Araripe Júnior

RESUMO: A poetica gotica e, antes de tudo, um fenomeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o I... more RESUMO: A poetica gotica e, antes de tudo, um fenomeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminismo, fomentando sentimentos de assombro e terror, projetou-se para outros paises e epocas. Na literatura brasileira, alguns topoi goticos sao encontrados, sobretudo, em obras que se desenvolvem em torno de tematicas rurais/sertanejas. Em O Reino Encantado: cronica sebastianista , o narrador atribui, como se analisara neste trabalho, aspectos tipicos do vilao gotico as personagens sebastianistas.

Research paper thumbnail of O Reino Encantado: Diálogos Entre Poética Gótica, Imprensa e Ciência No Brasil Oitocentista

Ao contrario do que a critica e a historiografia literarias dos seculos XIX e XX nos levam a supo... more Ao contrario do que a critica e a historiografia literarias dos seculos XIX e XX nos levam a supor, o Gotico faz-se presente na literatura brasileira. Estudos recentes vem demonstrando que a prosa regionalista desponta como uma ramificacao mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, principalmente devido a tematizacao de crencas e lendas de uma populacao isolada. Dessa forma, narrativas que ficcionalizam movimentos messiânicos emergem como possiveis exemplos de como o Gotico manifestou-se nas Letras brasileiras. Para compreender as relacoes entre a poetica gotica e a ficcionalizacao de messianismos na literatura brasileira oitocentista, o romance O Reino Encantado: cronica sebastianista (1878), de Tristao de Alencar Araripe Junior, sera tomado como objeto de estudo deste trabalho. Investigar-se-ao, pois, as estrategias narrativas e formais das quais o escritor se serviu para suscitar o medo como efeito estetico ao tematizar o movimento messiânico de Pedra...

Research paper thumbnail of As heroínas histéricas e vampíricas de Aluísio Azevedo

outra travessia, 2020

https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/2176-8552.2018n26p77 Este trabalho objet... more https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/2176-8552.2018n26p77

Este trabalho objetiva investigar, na prosa naturalista eivada por influxos da poética gótica, a personagem feminina, comumente descrita como vítima da histeria. Reavaliam-se, assim, tanto o Gótico, compreendido como uma poética que consubstancia uma interpretação pessimista do mundo em uma linguagem artística altamente estetizada, quanto o Naturalismo, cuja pretensão objetivo-científica mescla-se com heranças românticas e revela uma desilusão com os avanços científicos. Debruça-se ainda sobre o conto “Músculos e nervos” (1893) e sobre o romance O homem (1887), ambos de Aluísio Azevedo, de forma a analisar as figurações da personagem histérica na literatura brasileira.

Research paper thumbnail of Sombras gótico-decadentistas em Esquifes, de Dario Veloso

Revista de Estudos de Cultura, 2020

https://seer.ufs.br/index.php/revec/article/view/14168 A literatura gótica e a literatura decad... more https://seer.ufs.br/index.php/revec/article/view/14168

A literatura gótica e a literatura decadentista apresentam origens similares. Como o Gótico, que emergiu na contramão do discurso racionalista do Iluminismo, contrapondo-se a uma literatura com intuito de representação realista do universo burguês, o Decadentismo surgiu como um contraponto ao pensamento racional do Positivismo, tematizando as angústias e os medos decorrentes da pretensão científica e documental das narrativas naturalistas. Desiludidas com a racionalidade e pessimistas com a realidade, ambas as poéticas se ocuparam com a faceta obscura e funesta do homem e encetaram composições capazes de gerar efeitos de recepção negativos. Autores góticos e decadentistas criaram, assim, personagens cruéis e monstruosas, que, além de habitarem mundos viciosos e arruinados, desafiam os limites entre o natural e o sobrenatural, entre a razão e a loucura. Tais procedimentos, embora apagados pela crítica e historiografia literária brasileira, são encontrados em parte de nossa ficção, principalmente a do final do século XIX e a do início do XX. Com o intuito de resgatar os influxos do Gótico e do Decadentismo na literatura brasileira, este ensaio objetiva investigar as convergências entre essas poéticas, bem como suas manifestações na obra de Dario Veloso.

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Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, 2019

A obra de Euclides da Cunha, apesar de ofuscada pela grandiosidade de Os sertões (1902), revela q... more A obra de Euclides da Cunha, apesar de ofuscada pela grandiosidade de Os sertões (1902), revela que o vasto conhecimento sociológico, geológico, filosófico, jornalístico, artístico e literário do autor não se limitou às páginas dedicadas à Guerra de Canudos. Nos ensaios publicados aos finais do século XIX e aos princípios do XX, Cunha delibera
sobre assuntos distintos, mobilizando dicções ideológicas diversas e abordagens de variadas disciplinas para perquirir aspectos da realidade humana e invocar análise crítica dos problemas identificados. Como Os sertões, tais escritos evidenciam a acuidade estético-literária do engenheiro que, ao consorciar ciência, crítica e imaginação literária, interpela seus leitores a reexaminarem premissas nacionais a partir da natureza híbrida e inquietante do ensaio. Partindo de uma reflexão sobre a estrutura da prosa ensaística, o presente artigo propõe uma análise do estilo ensaístico de Euclides da Cunha em sua obra prima e em quatro ensaios publicados na imprensa periódica entre 1890 e 1904.

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Gragoatá (UFF), 2018

Gragoatá, Niterói, v.23, n. 47, p. 910-925, set.-dez. 2018 910 Resumo Ao contrário do que a críti... more Gragoatá, Niterói, v.23, n. 47, p. 910-925, set.-dez. 2018 910 Resumo Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a crer, a literatura brasileira apresenta influxos góticos. Nesse contexto, a prosa regionalista desponta como uma ramificação mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, em que o interior do país, especialmente os sertões, se transforma em um autêntico locus horribilis. Nos romances O reino encantado: crônica sebastianista (1878), de Araripe Júnior, e Os Jagunços: novela sertaneja (1898), de Afonso Arinos, os narradores, ao utilizarem uma retórica macabra e horrorizante para descrever, respectivamente, os movimentos messiânicos de Pedra Bonita e de Canudos, constroem uma paisagem nordestina lúgubre e macabra. Em ambas as narrativas, o espaço não é apenas o palco em que se praticam e sofrem as atrocidades das tramas, mas também é o principal responsável pela constituição de uma atmosfera opressora e funesta. Enquanto O reino encantado descreve o sítio dos rituais da seita de Pedra Bonita de forma a provocar sentimentos de horror e ojeriza, Os Jagunços utilizam-se da natureza sertaneja para explicitar o terror dos soldados republicanos diante dos canudenses. Palavras-chave: poética gótica; loci horribiles; literatura brasileira; movimentos messiânicos.

Research paper thumbnail of Poética gótica e movimentos messiânicos: o caso de Canudos

Anais eletrônicos do Congresso Internacional ABRALIC 2018, 2018

A crítica e a historiografia literárias brasileiras, ao examinarem narrativas que tematizam movim... more A crítica e a historiografia literárias brasileiras, ao examinarem narrativas que tematizam movimentos messiânicos, atêm-se mais à documentação de tais organizações sociorreligiosas do que aos recursos formais e estéticos utilizados pelos autores. As análises dos recorrentes eventos sobrenaturais e das descrições lúgubres dos rituais místico-religiosos não costumam, pois, apreender o seu potencial estético e sua possível relação com a poética gótica. Tencionando preencher tal lacuna, pretende-se averiguar técnicas ficcionais do Gótico – sobretudo a conformação de loci horribiles e de personagens monstruosas – manejadas por Afonso Arinos em Os Jagunços: novela sertaneja (1898) e por Euclides da Cunha em Os Sertões (1902).

Research paper thumbnail of O Reino Encantado: diálogos entre poética gótica, imprensa e ciência no Brasil oitocentista

MEMENTO - Revista de Linguagem, Cultura e Discurso, 2018

Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a supo... more Ao contrário do que a crítica e a historiografia literárias dos séculos XIX e XX nos levam a supor, o Gótico faz-se presente na literatura brasileira. Estudos recentes vêm demonstrando que a prosa regionalista desponta como uma ramificação mais desenvolvida da literatura de terror, horror e suspense no Brasil, principalmente devido à tematização de crenças e lendas de uma população isolada. Dessa forma, narrativas que ficcionalizam movimentos messiânicos emergem como possíveis exemplos de como o Gótico manifestou-se nas Letras brasileiras. Para compreender as relações entre a poética gótica e a ficcionalização de messianismos na literatura brasileira oitocentista, o romance O Reino Encantado: crônica sebastianista (1878), de Tristão de Alencar Araripe Júnior, será tomado como objeto de estudo deste trabalho. Investigar-se-ão, pois, as estratégias narrativas e formais das quais o escritor se serviu para suscitar o medo como efeito estético ao tematizar o movimento messiânico de Pedra do Reino. Ademais, com o objetivo de perquirir prováveis ligações entre o espírito da época e a poética gótica, propõe-se estudar, por meio de análises de tratados antropológicos que versem sobre fanatismos religiosos e de jornais publicados à ocasião do movimento, como a manifestação sociorreligiosa de Pedra Bonita foi recebida e interpretada pelo século XIX.

Research paper thumbnail of O sobrenatural no regionalismo brasileiro do final do século XIX e do início do XX

Revista Versalete, 2018

Na tradição regionalista brasileira, o intenso misticismo da população rural não apenas expressa ... more Na tradição regionalista brasileira, o intenso misticismo da população rural não apenas expressa a discrepância do interior do país em relação a sua costa, mas também se torna fonte para a suscitação do medo como efeito estético. Explorando crenças no sobrenatural e em lendas locais, algumas narrativas desvelam as singularidades das regiões interioranas enquanto as caracterizam como amedrontadoras e ameaçadoras, tal como ocorre no enredo dos contos " Acauã " (1893), de Inglês de Sousa, e " Feiticeira " (1921), de Afonso Arinos.

Research paper thumbnail of O gótico na literatura brasileira: o caso da ficção regionalista

Revista Fantástika 451, 2018

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Research paper thumbnail of Poética gótica e fanatismo religioso: uma leitura d'O reino encantado, de Araripe Júnior

Mosaico, 2017

A poética gótica é, antes de tudo, um fenômeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminism... more A poética gótica é, antes de tudo, um fenômeno moderno. Nascida na Inglaterra durante o Iluminismo, fomentando sentimentos de assombro e terror, projetou-se para outros países e épocas. Na literatura brasileira, alguns topoi góticos são encontrados, sobretudo, em obras que se desenvolvem em torno de temáticas rurais/sertanejas. Em O Reino Encantado: crônica sebastianista, o narrador atribui, como se analisará neste trabalho, aspectos típicos do vilão gótico às personagens sebastianistas.

Research paper thumbnail of “O Sertão é sem Lugar”: Figurações do Gótico Colonial na Literatura Sertanista Brasileira

Revista Rascunhos Culturais, 2016

O sertão constitui-se mais como uma “ideologia geográfica” do que como um espaço geograficamente ... more O sertão constitui-se mais como uma “ideologia geográfica” do que como um espaço geograficamente limitado. Sua concepção é fugidia, dependente do contexto histórico e formulada a partir de uma perspectiva exógena: a do homem citadino. Nos fins do século XIX, a elite intelectual do Brasil, guiada pelos pensamentos positivistas de “ordem e progresso”, voltou-se para o interior do país, vendo-o como uma ameaça ao desenvolvimento, pois se distanciava dos processos de modernização ocorridos no
litoral. Reproduzindo essas ideias, muitos escritores da Literatura Brasileira tematizaram o sertão sob lentes urbanas, transformando-o em um espaço primitivo, supersticioso, habitado por uma população mestiça e selvagem. Não são raras as narrativas que descrevem o sertão como um locus horribilis, palco de atrocidades humanas e sobrenaturais, aproximando a literatura regionalista à poética gótica. Tais narrativas, que caracterizam o sertão como uma ameaça à ordem da cidade e ao homem urbano, possuem aspectos do denominado “Gótico Colonial”, um desenvolvimento da literatura gótica que explora os medos e as ansiedades causados pelas culturas das colônias nas metrópoles. Neste artigo, os contos “Praga” (1890) e
“Os velhos” (1896), ambos de Coelho Neto, serão analisados como demonstração das figurações do Gótico Colonial em terras sertanejas da literatura brasileira.
Palavras-chave: Literatura gótica – Gótico Colonial – Literatura Brasileira – Sertão.

Research paper thumbnail of Entre árvores e sangue: a natureza sublime do Sertão

Anais do V Colóquio de Estudos em Narrativa: A ficcionalização do medo na narrativa (CENA IV), 2015

Em diversas narrativas góticas, a natureza, por seu caráter grandioso, destruidor e incontrolável... more Em diversas narrativas góticas, a natureza, por seu caráter grandioso, destruidor e incontrolável, reveste-se de um certo terror, podendo se configurar como uma das principais fontes do sublime. São recorrentes, portanto, descrições de cenários naturais intimidadores e aterrorizantes, como vastas paisagens, florestas sombrias e selvagens, estrondosas cachoeiras e abismos colossais, frente aos quais as construções humanas, fadadas a se tornarem ruínas, e o próprio homem, em sua pequenez e fragilidade, sucumbem. Coelho Neto, por meio de uma retórica de excessos, em seu conto “A tapera” (1897), expõe um sertão brasileiro que, além de ser um locus de atraso e inóspito, recobre-se de uma selva arrebatadora, destruindo o que fora uma próspera fazenda e reduzindo o proprietário desta a um ser silvestre. Imponente, essa floresta ganha tons sublimes e sobre-humanos, situando o interior do país como um espaço narrativo favorável à manifestação da poética gótica. O presente trabalho visa, pois, a analisar como se dá o sublime sobrenatural no sertão coelhoneteano e suas consequências na construção e concepção de um cenário interiorano contrário à civilização e ao progresso. Como fundamentação teórica, pautar-se-á na teoria de sublime desenvolvida por Edmund Burke em Uma investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo.

Research paper thumbnail of A “Praga” do Sertão: aspectos do Gótico em Coelho Neto

Estudos do Gótico. SILVA, Alexander Meireles da; BARROS, Fernando Monteiro de; FRANÇA, Júlio; COLUCCI, Luciana (Org.) , 2017

Na Literatura Brasileira, o espaço narrativo do sertão é concebido, muitas vezes, como um interio... more Na Literatura Brasileira, o espaço narrativo do sertão é concebido, muitas vezes, como um interior longínquo e povoado por uma população mestiça. Nesse ambiente rural, de economia agrária, personagens boiadeiros e retirantes vivem as angústias dessa terra inóspita, de vegetação selvagem, comumente considerada um local bárbaro pelos narradores e escritores. Embora o sertão seja tematizado em romances e contos de cunho realista e documental, as presenças, por um lado, de referências a lendas, crenças e superstições, e por outro, de uma visão de mundo profundamente negativa, contribuem para aproximar tais narrativas da tradição gótica. Se a Literatura Britânica, com autores como Ann Radcliffe, Matthew Lewis, Mary Shelley e Bram Stoker, revela os horrores do passado habitando castelos seculares, com câmaras labirínticas e claustrofóbicas, a Brasileira situa seus terrores e fantasmas nas matas selvagens, nas taperas sertanejas, nos casarões das fazendas abandonadas e à beira de estradas e pântanos, onde mortos são enterrados. Um dos autores brasileiros que se utilizou desse misticismo presente no sertão foi Coelho Neto, que, em seu livro Sertão (1897), evidencia essa tendência por meio de narrativas que exploram eventos sobrenaturais, crimes e tabus culturais, produzindo, assim, o medo como prazer estético em seus leitores. O presente trabalho, fundamentando-se nas considerações de Fred Botting, em Gothic, e de Nick Groom, em The gothic: a very short introduction, propõe, pois, uma análise, sob o viés da estética gótica, da novela “Praga”, primeiro texto do livro Sertão. Busca-se também refletir como se dá a influência exercida pela literatura gótica no ambiente sertanejo de Coelho Neto e da Literatura Brasileira.

Research paper thumbnail of Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto "Inferno verde"

Jornadas Fantásticas – ensaios I. BATISTA, Angélica Maria Santana; SASSE, Pedro Puro (Orgs.) , 2017

O artigo “Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto ‘Inferno verde’” busca co... more O artigo “Uma floresta gótica nos trópicos: o locus horribilis no conto ‘Inferno verde’” busca compreender como o topos gótico da floresta se manifesta no ambiente amazônico. Sabe-se que o Gótico setecentista prioriza três espaços para suas narrativas: os castelos, os espaços sagrados e as florestas. Em “Inferno verde”, conto do escritor pernambucano Alberto Rangel, a escolha de um foco narrativo em uma personagem alheio à selva amazônica é fundamental para construir um espaço em que a floresta é descrita como claustrofóbica, labiríntica e obscura. A ameaça desse ambiente é, ainda, intensificada pela ameaça das doenças, que acabam por infectar o protagonista da obra. Em delírios causados pelo medo do ambiente hostil e pela febre, a já atemorizante selva se transforma em um espaço de puro horror, que acabará por enlouquecer e trazer a morte ao estrangeiro naquelas terras. Apesar de haver diferenças entre os espaços típicos do Gótico europeu e os ambientes brasileiros, o Gótico encontra, aqui, loci horribiles igualmente eficazes para a produção do medo estético.

Research paper thumbnail of Uma questão de autoria no romance moderno: a história do autor em “Cidade de Vidro”

Revista Philologus, 2014

A literatura sempre foi uma incógnita na história da humanidade, sendo instituída por ser produto... more A literatura sempre foi uma incógnita na história da humanidade, sendo instituída por ser produtora de conhecimentos a partir de certa beleza. Trata-se de construções, (re)criações e preservações de valores éticos e estéticos, respectivamente. Sua importância como formadora humana é, talvez, paradoxalmente, a ausência de importância. E é nessa sem importância que ela permanece e preserva como um dos últimos resquícios de humanidade que sobrevive em cada um de nós, fazendo-nos questionar sobre tudo e sobre todos. Em " Cidade de Vidro " , primeiro romance de Paul Auster em A Trilogia de Nova York, o leitor é levado a questionar sobre aspectos aparentemente triviais da literatura, desde a função do leitor nessa arte até a função do escritor e de suas personagens. O que ocorre nesse romance é, pois, uma explicitação das dúvidas sem respostas que nascem na literatura, em especial nos romances modernos, que dissolvem o ser humano e que são capazes de elevá-lo e sua obra ao mundo dos seres (da) linguagem.

Research paper thumbnail of Do papel à cidadania: a prática de produção textual como forma de ser cidadão

Cadernos do CNLF. Anais do XVIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia, 2014

Seria esperado que o ensino de língua portuguesa ocorresse de forma a permitir aos alunos o domín... more Seria esperado que o ensino de língua portuguesa ocorresse de forma a permitir aos alunos o domínio das habilidades necessárias para o uso real da língua. No entanto, o que se presencia nas escolas brasileiras é um ensino essencialmente descritivo e normativo, dificultando o desenvolvimento dessas habilidades. É nesse cenário que emerge a relevância de se adotarem novas formas de ensino da língua materna, pautadas essencialmente na natureza sociocomunicativa da linguagem, como acontece neste trabalho. Trata-se de uma experiência em sala de aula ocorrida na disciplina produção textual da classe comunitária pré-técnica da Associação SerCidadão, onde se tentam instaurar momentos que privilegiem o caráter sociointeracional da língua, momentos “autênticos” de interação. Adotou-se, assim, uma sequência didática que pudesse minimizar a visão artificial que os alunos possuem da escrita, fazendo-os vê, na produção textual, a oportunidade de construírem uma opinião própria sobre temas da agenda social.

Research paper thumbnail of O medo n'Os sertões: as figuras monstruosas

Discutindo os sertões: territorialidades e diversidades, 2024

Research paper thumbnail of O horror estético n'Os sertões

Linguagem e literatura: democracia e resistência, 2023

Research paper thumbnail of O sangue de Judas: sobre a violência em Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), de José Lins do Rego

Sobre o medo: o mal na literatura brasileira do século XX, 2020

Research paper thumbnail of SOBRE O MEDO; o mal na literatura brasileira do século XX

É líder do grupo de pesquisa "Interferências: Literatura e Ciência", membro do grupo de pesquisa ... more É líder do grupo de pesquisa "Interferências: Literatura e Ciência", membro do grupo de pesquisa "Estudos do Gótico", ambos cadastrados no Diretório de Grupos do CNPq, e membro do GT da ANPOLL "Vertentes do Insólito Ficcional". Seus interesses de pesquisa são as relações entre o gótico, a ficção distópica e narrativas apocalípticas.

Research paper thumbnail of Poética gótica e prosa regionalista: o caso de O Reino Encantado (1878), de Araripe Júnior

Dissertação de mestrado, 2020

Declarar que a literatura brasileira possui obras que dialogam com o Gótico pode parecer, a prior... more Declarar que a literatura brasileira possui obras que dialogam com o Gótico pode parecer, a priori, um disparate. O contrassenso deriva, sobretudo, da compreensão que os estudos literários brasileiros têm da tradição gótica, comumente entendida como um fenômeno literário britânico do final do século XVIII e do início do XIX. O Gótico ultrapassa, porém, tais limites espaço-temporais: trata-se de um fenômeno transcultural marcado por uma visão de mundo negativa e desiludida com a realidade. Guiado por um ideal de arte lúgubre, que engendra prazeres estéticos negativos, o Gótico evidencia as angústias do homem moderno. No âmbito da literatura brasileira, estratégias narrativas típicas da poética gótica são recorrentes na prosa regionalista. Entre os temas explorados por essa tradição literária, os movimentos messiânicos emergem como exemplos privilegiados do modo pelo qual o Gótico se manifesta nas Letras brasileiras. Para compreender as relações entre poética gótica, ficção regionalista e ficcionalização de messianismo na literatura brasileira, o romance O Reino Encantado: crônica sebastianista (1878), de Araripe Júnior, será tomado como objeto de estudo desta dissertação. Investigar-se-ão, pois, as estratégias narrativas e formais típicas do Gótico das quais o autor se serviu para suscitar o medo como efeito estético, comparando-as ainda com os procedimentos estéticos da poética gótica empregados em outras narrativas regionalistas com influxos góticos.

Research paper thumbnail of Página sem brilhos: medo e horror em Os sertões (1902), de Euclides da Cunha

Tese de doutorado, 2024

A obra-prima de Euclides da Cunha, Os sertões (1902), não realiza simplesmente uma análise literá... more A obra-prima de Euclides da Cunha, Os sertões (1902), não realiza simplesmente uma análise literária da Guerra contra Canudos, mas a insere na História como o verdadeiro genocídio que foi. Para tal, explora, de maneira intensa, o potencial fóbico e horrífico do conflito bélico, perturbando seus leitores tanto cognitiva quanto emocionalmente. A narrativa ultrapassa os limites dos discursos jornalístico, historiográfico e sociológico para se erguer como literatura e, por isso, ser capaz de comunicar e denunciar o desespero, a dor, o horror e o medo experimentados pelos envolvidos na batalha. Apesar de o narrador euclidiano ser orientado por uma perspectiva cientificista e positivista, ele não se mantém distante, observando o massacre de forma neutra, objetiva e impessoal. Confrontada com a dor extrema, os corpos desmembrados e os atos de violência brutal, a pretensão científica de um narrador cartesiano desmorona, dando lugar a um narrador que, ao se consorciar com os diversos participantes da tragédia de Belo Monte, produz uma narrativa personativa. Na descrição e na narração dos eventos do conflito bélico, Euclides da Cunha expressa, assim, o medo e o horror vivenciados tanto pelos combatentes republicanos quanto pelos canudenses, resultando principalmente na criação de efeitos estéticos negativos, como o horror e o medo artísticos. A partir das contribuições de Carroll (1999a, 1999b), Hills (2003), Knight e McKnight (2003), Nickel (2010) e Russell (1998) sobre o horror artístico, este estudo visa à análise dos diversos elementos estilísticos e narrativos empregados por Euclides da Cunha para criar uma obra perturbadora. Objetiva-se, pois, compreender como Os sertões, por meio de sua narrativa personativa, conseguem evocar sentimentos de medo e horror artísticos ao explorar os eventos históricos da Guerra contra Canudos e a dura realidade dos sertões baianos.