Zaida Maria Lopes Ferreira - Academia.edu (original) (raw)
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Papers by Zaida Maria Lopes Ferreira
Resumo Para o sujeito euro-americano, o Mundo e feito de pares binarios dicotomicos (comecando, d... more Resumo Para o sujeito euro-americano, o Mundo e feito de pares binarios dicotomicos (comecando, desde logo, com a oposicao binaria entre o Bem e o Mal), sendo que e a propria Linguagem que antecipa essas dicotomias, desencadeadas, desde logo, pela distincao, a cisao, entre significante e significado. Para o sujeito nativo-americano, por outro lado, o Mundo e feito de dialeticas, de intercessoes e interdependencia entre diferentes elementos que, estando todos imbuidos de sacralidade, se conjugam harmoniosamante, dando origem a um universo uno, holistico. E a luz destes pressupostos que deve entender-se a obra The Man Made of Words, de Scott Momaday. Na coletânea em apreco, a palavra e entendida como a genese, o sopro espiritual que funde significante e significado, a qual, transmitida de geracao em geracao, gracas a preservacao de uma tradicao oral, da vida a uma mundividencia que permite ao sujeito ultrapassar ruturas e fragmentacoes, identificando-se com a Cultura e tradicoes do se...
Zenith, o lexema escolhido para designar o espaço onde decorre a ação do romance Babbitt, convoca... more Zenith, o lexema escolhido para designar o espaço onde decorre a ação do romance Babbitt, convoca, desde logo, imagens de bem-estar e progresso que a focalização do narrador (heterodiegético) aparentemente corrobora: "THE towers of Zenith aspired above the morning mist […] They were neither citadels nor churches, but frankly and beautifully office-buildings. The whistles rolled out in greeting a chorus cheerful as the April dawn; the song of labor in a city built it seemed for giants" (Babbitt 6). Por contraste com a cidade, supostamente robusta e vibrante de energia, como se de um organismo vivo se tratasse, o protagonista, George F. Babbitt, não ostenta qualquer grandiosidade: "There was nothing of the giant in the aspect of the man who was beginning to awaken on the sleeping porch of a Dutch Colonial house in that residential district of Zenith known as Floral Heights" (6). Na verdade, do ponto de vista físico, Babbitt assemelha-se a um bebé: "His large head was pink […] His face was babyish in slumber" (6). Inúmeras referências a uma fada-criança com quem Babbitt mantém, em sonhos, uma relação afetiva, corroboram a ideia de que o protagonista é uma personagem infantilizada. Considere-se ainda que o encontro com a fada-criança ocorre habitualmente num jardim ou outro espaço próximo da Natureza e que, para além deste aspeto, existe habitualmente uma alusão ao mar. Conjugados, estes espaços remetem para um (re) nascimento e este para o ventre materno, um estádio de dependência anterior ao (re) conhecimento da subjetividade. Babbitt é pois uma espécie de não-sujeito, facto que o torna ainda mais vulnerável aos mecanismos de controlo da comunidade/sociedade. Importa lembrar, a este propósito, que instituições comunitárias como a Igreja, um partido politico, uma associação ou clube social, o clube de futebol, etc, funcionam como um espelho doutrinário ou ideológico, onde o sujeito vê uma imagem gestaltiana de um corpo com o qual se identifica, por ser composto por sujeitos que se assemelham a si próprio, concitando-o a anularse voluntariamente, para poder participar da força que inere ao Todo, seja Deus, a Nação, ou outros grupos/ corpos colectivos. O grupo transforma-se assim numa espécie de Éden, um espaço quase transcendental, onde o sujeito sente que está em segurança (Hinshelwood 74). A construção do espaço subjetivo de Babbitt está, pois, simbiótica e indelevelmente subordinada ao espaço social de Zenith, pelo que, quando do fecho da narrativa, o leitor conclui que a Babbitt apenas lhe resta projetar sobre o seu filho Ted os desejos que um espaço social omnipotente sempre o obrigaria a sublimar: "I´ve never done a single thing I´ve wanted to in my whole life […] Well, those folks in there will try to bully you and tame you down…Tell 'em to go to the devil! […]. Don´t be scared of the family. No, nor all of Zenith.
Falar simultaneamente e de forma cotejada de dois autores como Leslie Marmon Silko e James Redfie... more Falar simultaneamente e de forma cotejada de dois autores como Leslie Marmon Silko e James Redfield poderá parecer-nos irrealista se apenas considerarmos as origens sócioculturais dos dois romancistas. É que, enquanto Leslie Silko é de ascendência pluriétnica (em suas veias corre sangue índio, mexicano e branco), James Redfield, por outro lado, é oriundo da "mainstream" de uma sociedade etnocentrista como é a sociedade americana. Porém, em termos de opções de ordem espiritual e de normas condicionantes de uma PRAXIS humana, os laços que os unem são indeléveis, como procuraremos averiguar. Efectivamente, as semelhanças entre as obras de Silko e Redfield são notórias, não obstante reflictam mundividências diferentes, ou seja, ambos privilegiam os mesmos vectores temáticos, embora os abordem de forma diversa, de entre os quais se salienta a questão primordial da espiritualidade e do seu princípio básico-"we are One, we are All Related." Para Silko, o mundo contemporâneo caracteriza-se por ser completamente dessacralizado e destituído de todo o valor numinoso, tal como o descreve, de forma cabal, no seu romance Almanac of the Dead 1. O sentimento do sagrado, seja em relação à natureza ou ao quotidiano do ser humano, está ausente da vida moderna. Mesmo nos templos ou igrejas das religiões institucionalizadas, a vivência do sagrado como experiência interior diluiu-se ou terá mesmo desaparecido. Na maioria das vezes, os ritos terse -ão tornado mecanizados e automatizados, e o significado espiritual transcendente ficou obscurecido e alienado da vida do homem. É por isso que a religiosidade do homem branco é apelidada pelo Índio de "sunday religion". Por sua vez, Redfield, tendo sido terapeuta durante alguns anos, apercebeu-se da perfeita alienação em que vivem muitos jovens, atormentados pelo vazio e angústia
Resumo Para o sujeito euro-americano, o Mundo e feito de pares binarios dicotomicos (comecando, d... more Resumo Para o sujeito euro-americano, o Mundo e feito de pares binarios dicotomicos (comecando, desde logo, com a oposicao binaria entre o Bem e o Mal), sendo que e a propria Linguagem que antecipa essas dicotomias, desencadeadas, desde logo, pela distincao, a cisao, entre significante e significado. Para o sujeito nativo-americano, por outro lado, o Mundo e feito de dialeticas, de intercessoes e interdependencia entre diferentes elementos que, estando todos imbuidos de sacralidade, se conjugam harmoniosamante, dando origem a um universo uno, holistico. E a luz destes pressupostos que deve entender-se a obra The Man Made of Words, de Scott Momaday. Na coletânea em apreco, a palavra e entendida como a genese, o sopro espiritual que funde significante e significado, a qual, transmitida de geracao em geracao, gracas a preservacao de uma tradicao oral, da vida a uma mundividencia que permite ao sujeito ultrapassar ruturas e fragmentacoes, identificando-se com a Cultura e tradicoes do se...
Zenith, o lexema escolhido para designar o espaço onde decorre a ação do romance Babbitt, convoca... more Zenith, o lexema escolhido para designar o espaço onde decorre a ação do romance Babbitt, convoca, desde logo, imagens de bem-estar e progresso que a focalização do narrador (heterodiegético) aparentemente corrobora: "THE towers of Zenith aspired above the morning mist […] They were neither citadels nor churches, but frankly and beautifully office-buildings. The whistles rolled out in greeting a chorus cheerful as the April dawn; the song of labor in a city built it seemed for giants" (Babbitt 6). Por contraste com a cidade, supostamente robusta e vibrante de energia, como se de um organismo vivo se tratasse, o protagonista, George F. Babbitt, não ostenta qualquer grandiosidade: "There was nothing of the giant in the aspect of the man who was beginning to awaken on the sleeping porch of a Dutch Colonial house in that residential district of Zenith known as Floral Heights" (6). Na verdade, do ponto de vista físico, Babbitt assemelha-se a um bebé: "His large head was pink […] His face was babyish in slumber" (6). Inúmeras referências a uma fada-criança com quem Babbitt mantém, em sonhos, uma relação afetiva, corroboram a ideia de que o protagonista é uma personagem infantilizada. Considere-se ainda que o encontro com a fada-criança ocorre habitualmente num jardim ou outro espaço próximo da Natureza e que, para além deste aspeto, existe habitualmente uma alusão ao mar. Conjugados, estes espaços remetem para um (re) nascimento e este para o ventre materno, um estádio de dependência anterior ao (re) conhecimento da subjetividade. Babbitt é pois uma espécie de não-sujeito, facto que o torna ainda mais vulnerável aos mecanismos de controlo da comunidade/sociedade. Importa lembrar, a este propósito, que instituições comunitárias como a Igreja, um partido politico, uma associação ou clube social, o clube de futebol, etc, funcionam como um espelho doutrinário ou ideológico, onde o sujeito vê uma imagem gestaltiana de um corpo com o qual se identifica, por ser composto por sujeitos que se assemelham a si próprio, concitando-o a anularse voluntariamente, para poder participar da força que inere ao Todo, seja Deus, a Nação, ou outros grupos/ corpos colectivos. O grupo transforma-se assim numa espécie de Éden, um espaço quase transcendental, onde o sujeito sente que está em segurança (Hinshelwood 74). A construção do espaço subjetivo de Babbitt está, pois, simbiótica e indelevelmente subordinada ao espaço social de Zenith, pelo que, quando do fecho da narrativa, o leitor conclui que a Babbitt apenas lhe resta projetar sobre o seu filho Ted os desejos que um espaço social omnipotente sempre o obrigaria a sublimar: "I´ve never done a single thing I´ve wanted to in my whole life […] Well, those folks in there will try to bully you and tame you down…Tell 'em to go to the devil! […]. Don´t be scared of the family. No, nor all of Zenith.
Falar simultaneamente e de forma cotejada de dois autores como Leslie Marmon Silko e James Redfie... more Falar simultaneamente e de forma cotejada de dois autores como Leslie Marmon Silko e James Redfield poderá parecer-nos irrealista se apenas considerarmos as origens sócioculturais dos dois romancistas. É que, enquanto Leslie Silko é de ascendência pluriétnica (em suas veias corre sangue índio, mexicano e branco), James Redfield, por outro lado, é oriundo da "mainstream" de uma sociedade etnocentrista como é a sociedade americana. Porém, em termos de opções de ordem espiritual e de normas condicionantes de uma PRAXIS humana, os laços que os unem são indeléveis, como procuraremos averiguar. Efectivamente, as semelhanças entre as obras de Silko e Redfield são notórias, não obstante reflictam mundividências diferentes, ou seja, ambos privilegiam os mesmos vectores temáticos, embora os abordem de forma diversa, de entre os quais se salienta a questão primordial da espiritualidade e do seu princípio básico-"we are One, we are All Related." Para Silko, o mundo contemporâneo caracteriza-se por ser completamente dessacralizado e destituído de todo o valor numinoso, tal como o descreve, de forma cabal, no seu romance Almanac of the Dead 1. O sentimento do sagrado, seja em relação à natureza ou ao quotidiano do ser humano, está ausente da vida moderna. Mesmo nos templos ou igrejas das religiões institucionalizadas, a vivência do sagrado como experiência interior diluiu-se ou terá mesmo desaparecido. Na maioria das vezes, os ritos terse -ão tornado mecanizados e automatizados, e o significado espiritual transcendente ficou obscurecido e alienado da vida do homem. É por isso que a religiosidade do homem branco é apelidada pelo Índio de "sunday religion". Por sua vez, Redfield, tendo sido terapeuta durante alguns anos, apercebeu-se da perfeita alienação em que vivem muitos jovens, atormentados pelo vazio e angústia