Francisco da Cunha e Silva Filho C S Filho (original) (raw)
Papers Histórias de Évora: uma ficção de erotismo, by Francisco da Cunha e Silva Filho C S Filho
Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza c... more Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza com muito amor ABSTRACT: This article sums up the main biobibliographical information about one of the distinguished co-founders members of Brazilian Academy of Philology (ABRAFIL in Portuguese acronym).I am referring to Major J. de Matos Ibiapina according to his usual way of putting his full name in his published works ("J," short form for "Julio") a teacher of languages (English, French and German), a writer, a philologist, a politican, a journalist, an essayist and a translator who, in all these activities, achieved a higly respected position, chiefly in the field of teaching foreign tongues.Through scholarships, he went to study languages in three European
Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedi... more Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedido e a de ficcionista, se explique a sua produção relativamente pequena. Do pouco que lhe sobra da intensa vida de advogado, penso que fez muito com tão pouco tempo para escrever. Contudo, Garcia é daqueles escritores que sacrificam, muitas vezes, seu lazer em proveito de intenso interesse pela sua produção literária e contínuo e criterioso aperfeiçoamento de sua técnica narrativa.
Um artigo que mais parece um manifesto de um moço ficcionista piauiense, que é o Geovane Monteiro... more Um artigo que mais parece um manifesto de um moço ficcionista piauiense, que é o Geovane Monteiro. Seu artigo pertence àquele tipo de escrita que nos obriga a prestar atenção ao que ele acentua, enfatiza e chama à razão, ao debate, às discussões pertinentes e momentosas. Sim Geovane. V. nos leva, assim, àqueles pontos nevrálgicos da questão maior: como saber lidar com o mínimo espírito de justiça com os escritores regionais, deles alguns de grande valor que ainda não ultrapassaram o apartheid (pegando o seu gancho vocabular) do eixo Rio -São Paulo e de outros estados com intensa produção literária? Precisamos desregionalizar os escritores menos conhecidos e procurar meios de os levar à visibilidade do público brasileiro. Para isso, teremos que enfrentar uma batalha difícil e cheia de meandros conexionados com a realidade editorial brasileira, e com todos os óbices ainda a serem superados nessa luta contra o anonimato. Creio que as universidades deveriam se empenhar nessa campanha de fazer uma espécie de intercâmbio, através de encontros, conferências ou seminários, de escritores regionais menos conhecidos e os aproximarem dos estudantes do ensino médio e superior. O próprio MEC deveria jogar um papel importante nesse sentido, alocando recursos e estabelecendo estratégias e logística a fim de tornarem essas metas em realidades que só fariam avançar o conhecimento de todos os envolvidos -escritores, alunos, professores, pesquisadores -para a diversidade de nossos talentos ainda pouco ou nada visíveis no cenário cultural-literário nacional. Esse assunto precisa ainda ser amadurecido junto a outros interessados nessas novas descobertas de bons e ótimos autores brasileiros. Deixo, pois, em aberto essas sugestões.
Na área da Educação Brasileira, a questão do Ensino Domiciliar, de resto, ainda muita polêmica en... more Na área da Educação Brasileira, a questão do Ensino Domiciliar, de resto, ainda muita polêmica entre educadores, está, a meu ver, necessitando de ser amadurecida, amplamente discutida antes de ser transformada em sistema de ensino alternativo a ser implantado no país. Minha posição é contrária à disseminação dessa abordagem de ensino, porquanto ela suscita muitas indagações como, por exemplo, estas: Lares fechados? Filhos antissociais? Pais se transformam em tutores de seus próprios filhos e ficam, assim, afastados da dinâmica social? Pais não são sempre professores nem tampouco dominam todas as matérias do ensino oficial e o arcabouço da legislação escolar em vigor. Os pais de alunos não foram ensinados a ser professores. Não estudaram nem foram treinado em profundidade em disciplinas tais como alfabetização, língua portuguesa, linguística, filologia, didática, filosofia da educação, psicologia educacional, prática de ensino. A tela do computador ou um celular ou qualquer outro gadget de aprendizagem não são absolutamente equiparáveis à aula ministrada na sala por um professor de carne e osso, um professor graduado e licenciado para ministrar sua disciplina específica. A Escola do Futuro, antes de mais nada, não pode dispensar a presença dos professores. A escola é a escola. O lar é o lar. Este é apenas complemento daquela. E o homem gregário não vale mais? Nem tudo que é novo é bom. A tecnologia é bem-vinda, desde que tenha limites também e não tome o espaço do humanismo.
A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill Este estudo pretende mostrar como João... more A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill Este estudo pretende mostrar como João Antônio , contista paulista, conseguiu imprimir à linguagem uma marca revolucionária a partir mesmo da sua obra de estreia, Malagueta, Perus e Bacanaço (1963). Nas décadas de sessenta a oitenta do século passado, João Antônio foi voz destoante da maioria dos ficcionistas então surgidos, exatamente porque ambientava histórias no submundo da malandragem ou nas camadas sociais mais desvalidas da sociedade brasileira, ao passo que escritores dele contemporâneos situavam histórias sobretudo no ambiente da classe média, com seus conflitos existenciais e suas frustrações sociais e políticas durante a ditadura militar implantada no país em 1964.
O mês de dezembro transcorre com duas comemorações de grande importância no calendário ocidental:... more O mês de dezembro transcorre com duas comemorações de grande importância no calendário ocidental: o Natal e o Ano Novo. Na primeira, celebra-se o nascimento de Jesus Cristo, fundamento do cristianismo; na segunda, festeja-se a abertura de um novo ano deste segundo milênio. Ambas as datas mexem muito com os nossos sentimentos, nossas emoções, nossos desejos, nosso empenho de confraternização, de novos projetos, como se fora mesmo uma nova vida, com uma expectativa de que seja melhor do que a do ano que se finda. No mundo globalizado, mudanças se fizeram com as comunicações relacionadas ao cumprimentos de Natal e Ano Novo: em vez dos consagrados e tradicionais cartões de Natal sempre combinados com os votos de um Feliz Natal e Feliz Ano Novo, os quais estão praticamente fora de circulação, vindo a diminuir a venda de cartões e os gastos com o envio pelos Correios, entraram em cena as redes sociais, quer pelo computador, quer pelo celular ou outro aparelho do universo virtual. Acredito que vieram para ficar. Aqui me lembro de, nessas datas, procurar os endereços das pessoas queridas nas agendas ou em outros lugares já um tanto esquecidos a fim de, nos novos cartões, passar um bom tempo, ainda que cansando a munheca, escrevendo à mão mensagens criadas no instante da escrita, pequenas, médias e longas em tom afetuoso e até mesmo lírico, dependendo do grau de maior ou menor amizade. Entretanto, posso afirmar que os velhos cartões de Natal e Ano Novo ainda me deixam um travo de saudade. O lucro dos Correios sofreram prejuízos com a quebra do hábito dos cartões. As mochilas dos carteiros perdera também peso. O leitor, até aqui, deve estar se perguntando ou me perguntando se tudo o que escrevi acima tem a ver com o título desta crônica. Tem e o fio do novelo se concentra em volta dos festejos natalinos e do novo ano, 2018. Explico-lhe a seguir. Já há algum tempo venho repisando que a realidade social brasileira persiste em ser múltipla e resistente a mudanças para melhor. As modernidades (Eduardo Portella) continuam fortes e firmes. Nenhum sinal de melhoria da estrutura do Estado brasileiro. Ao contrário, na essência, permanece como sempre esteve e ainda pior nos últimos anos para quem toma consciência do que acontece no país em setores vitais a uma Nação que não se corrige, porém mantém-se sólida na resistência férrea de dividir o bolo de suas riquezas com o povo, rigidamente clivado em classes que vão dos milionários – uma minoria a quem cabe as benesses e o paraíso brasílicos-, aos miseráveis e analfabetos que chafurdam no lodaçal dos barracos sujos e fétidos das favelas dos morros e dos casebres insalubres tanto nas grandes cidades quanto no interior do país. Ou seja, os pobres continuam pobres e os ricos se tornam ainda mais ricos segundo o binômio concentração versus miséria, agravado ainda com o pior problema que enfrenta a sociedade, o da violência galopante e sem precedente tomando conta do território nacional e sem perspectiva de solução. A esses problemas se adicionam a ruína da saúde pública, a falência de alguns estados brasileiros, sendo o pior deles o do Rio de Janeiro e, para complementar o quadro da tragédia, a corrupção deslavada no seio da política brasileira. Ao falar de " Céu " e " Inferno " quero aludir ao descompasso do cotidiano brasileiro multifacetado, i.e., o país dispõe de vantagens e privilégios para alguns assim como de agruras e sofrimentos para outros. Para os senhores do poder, até parece que nada de ruim acontece com o povo. Estão indiferentes no aconchego dos palácios das mil e uma noites de prazeres e regalias desmedidas. Sabedor da índole pacata desse povo, o governo federal, vai amansando a população, liberando um beneficiozinhos de quando em quando e, assim, vai amortecendo possíveis atritos sociais, administrando subliminarmente reações de indignação, manifestações do populacho controladas por pão e circo: futebol, carnaval, shows musicais e programas de terceira linha dirigidos ao povo. Ora, diante da riqueza de poucos essas migalhas sociais nada custam aos cofres públicos, principalmente porque tudo o que o governo libera vem do bolso do contribuinte, do mais humilde ao mais aquinhoado financeiramente. Agora, realizar uma redistribuição de renda em escala nacional, taxar os grandes capitalistas, isso nunca. Mais valia e reserva do mercado são determinantes na manutenção concentracionária.
O presente volume é uma seleção de alguns dos melhores contos de José Ribamar Garcia, escritor pi... more O presente volume é uma seleção de alguns dos melhores contos de José Ribamar Garcia, escritor piauiense radicado no Rio de Janeiro, tendo como maior recorte do espaço físico e humano a vida urbana carioca, notadamente das camadas mais baixas da sociedade. O resultado de uma reunião de narrativa curtas, como quase sempre ocorre em trabalho dessa natureza, não deixa de ter o sinete idiossincrático de quem prepara uma coletânea. No obstante essa ressalva, é por elas que o leitor bem pode avaliar o nível literário dos contos, mas também sua capacidade de criar situações diversificadas com personagens que palpitam de vida e sentimentos, que nos provocam catarse, sentido de cumplicidade, ironia, indignação e um prazer de um saudável humorismo muito bem dosado que atinge em cheio a sensibilidade e a atenção dos leitores. Ninguém sai ileso de alguma reação que o texto sintético, dinâmico, enxuto e másculo de Ribamar Garcia provoca na consciência crítica e afetiva do leitor. O leitor atento observará que, com o tempo, o ficcionista lhe vai dando evidências de crescimento no domínio da arte narrativa. É óbvio que, da parte do ficcionista, o zelo, o cuidado, a ânsia de se superar ao longo do tempo, foram, a meu ver, os fatores determinantes a fim de que alcançasse uma condição de apreciável ficcionista, bem aceito pela crítica e pelos leitores. Sua repercussão há muito ultrapassou os limites do Piauí. Basta ver a sua fortuna crítica que só tem crescido com o tempo, posto que sem contar com todo o apoio logístico-publicitário das grandes editoras.
O tempo é a época mais o horizonte diacrônico, o que significa dizer -é a época mais as épocas. O... more O tempo é a época mais o horizonte diacrônico, o que significa dizer -é a época mais as épocas. O isolacionismo espiritual do corte sincrônico, imobiliza, por amnésia e pela incapacidade de pre-ver. De enxergar que cada época carrega consigo outras épocas passadas e futuras.
You are never too old to set another goal or to dream a to dream a new one C. S. LEWIS Em 1940, o... more You are never too old to set another goal or to dream a to dream a new one C. S. LEWIS Em 1940, o então jovem intelectual baiano Afrânio Coutinho publicou no Rio de Janeiro o ensaio A filosofia de Machado de Assis, obra que, na opinião de Tristão de Athayde, o grande crítico do Modernismo da sua primeira fase (1920-1945), o "consagrou." [1] Coutinho, antes, só era mais conhecido na sua província natal, onde exerceu o magistério secundário nas disciplinas de literatura e história, e, ao mesmo tempo, desenvolvia atividade na imprensa. Já dera a lume três ensaios, Daniel Rops e a ânsia do sentido novo da existência, publicado na Bahia em 1935, O humanismo, ideal de vida (1938), e L'Exemple du métissage, editado em Paris, em 1939. O segundo destes ensaios, todavia, não aparece na relação do conjunto de suas obras completas no espaço reservado às edições de sua produção intelectual Como seria natural a qualquer moço estudioso de literatura, história, e filosofia, Coutinho, no ano em que saiu publicado seu ensaio sobre Machado de Assis, enviou exemplares a vários críticos que militavam nos rodapés da imprensa do Rio de Janeiro e certamente de outros estados, alguns já firmados na vida literária brasileira, entre eles, Sérgio Buarque de Holanda e Álvaro Lins. Este último atuava intensamente como crítico literário numa coluna do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro; o primeiro, nos anos 1940 e 1941, fora convidado para exercer a crítica literária no Diário de Notícias do Rio de Janeiro.
Apenas tenho dele o recorte e, por descuido, nem escrevi a data à margem do texto. O artigo é do ... more Apenas tenho dele o recorte e, por descuido, nem escrevi a data à margem do texto. O artigo é do tempo em que escreveu para o Globo numa coluna com título "A vida das ideias," que muito traduz do seu estilo de ensaísta, historiador e pensador brasileiro. Dele também li muitos artigos publicados no velho e extinto Jornal do Brasil, Caderno Ideias. Eu costumo guardar alguns recortes do que me chama a atenção, recorte sobretudo de escritores brasileiros. Muitos perdi em mudanças ou porque não tinha espaço onde guardá-los. Eram muitos. Nem mesmo sei ao certo quantos ainda tenho. Lembro-me de artigos de Tristão de Athayde (artigos, crítica, teoria literária), Afrânio Coutinho (crítica, teoria literária, artigos ), crônicas de Carlos Drummond de Andrade (crônicas, poesia) de Otto Lara Resende (crônicas, artigos) e ultimamente de Ferreira Gullar (crônicas ).
Vocação, humanidades e ciências Cunha e Silva Filho Num ensaio recentemente publicado pelo cadern... more Vocação, humanidades e ciências Cunha e Silva Filho Num ensaio recentemente publicado pelo caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo, o documentarista João Moreira Salles, a convite da Academia Brasileira de Ciências, aborda o relacionamento entre os que fazem ciências e os que produzem trabalhos referentes à cultura humanística. O conferencista, embora pertencente ao grupo dos que militam na área das humanidades, deplora, no entanto, o descompasso comunicativo entre os dois grupos mencionados. Sem tomar partido claro de um dos dois lados, embora o tom do ensaio possa ser entendido como uma crítica ao excesso dos que professam a atividade humanística , Moreira Salles lamenta que no país a porcentagem dos que abraçam a carreira das ciências stricto sensu é numericamente bem menor do que os que optam pelos estudos das humanidades. Esta é a parte nuclear de sua conferência. Ele vê nesse desnível uma lacuna que deveria ser contornada caso se desse maior ênfase, sobretudo no campo de orientação educacional dos jovens brasileiros em direção aos estudos das ciências. As estatísticas aí estão revelando o reduzido número de jovens que ingressam nos curso das áreas científico-,tecnológicas a ponto de nossas universidades apresentarem altos déficits de graduados em matemática, engenharia, física e outras áreas do saber científico. O olhar do conferencista é francamente de reprovação e crítica a esta realidade da educação brasileira. Tocando, porém, no quesito do relacionamento entre cientistas e intelectuais das humanidades, o que mostra o autor não é nada animador Nenhum dos dois campos parece desejar saber do que está acontecendo nos seus respectivos campos de ação produtiva ou de desenvolvimento em pesquisas. Eu me lembro de uma vez alguém da área científica demonstrar pouco caso de quem se encaminha aos estudos de humanidades e, da parte de alguns que estão do lado destas, há até um certo latente complexo de inferioridade quando declaram, em forma de desabafo, que, na realidade, quem atua no terreno científico-tecnológico se julga mesmo superior aos, por exemplo, da área de letras. Quer dizer, um Ph.D. em letras teria menos peso do que um Ph.D. em física, o que é uma insensatez. O certo é que não vejo como um cavalo de batalha tanta preocupação entre os diversos setores da atividade humana. É bem verdade que as autoridades educacionais do país devem ter em mira ensejar todas as condições de orientação junto aos jovens e mesmo de incentivar a importância dos estudos das ciências como determinantes do desenvolvimento e progresso de uma nação. Todavia, não há como
Histórias de Évora: uma ficção do erotismo, amor e saudade O mistério das letras tem isso de atra... more Histórias de Évora: uma ficção do erotismo, amor e saudade O mistério das letras tem isso de atraente: torna-se mais espesso à medida que se tenta dissipá-lo.
This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian w... more This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian writer Geovane Fernandes Monteiro. The stories focus on the sentimental and dramatical memories of characters who face their lives with views that range from past pivotal existential personal incidents to conflicting personal problems of family relationship both in small towns and in modern life styles of people in a fast-growing capital in the northeast Brazil, precisely in the state of Piauí.. However, the most striking features pervading the stories might be those concerned with their innermost personal lives trying to give a meaning to their uncertain existences involving family, friendship, love, old age, childhood, adolescence and young adult period of life. On the other hand, the short stories are written in an orignal way of literary style bringing fresh forms of narrating a story that point to a deep relation with poetical diction as well as paradoxical modes of expressing thoughts and concepts of the narrators' points of view as far as feelings and human dramas are concerned. In my view, the quality of these stories allow me to consider them as a promising start of the author's .literay career. (Abstract) Keywords: short srory, childhood, adolescence, young adult life, family problems, literary diction, original literary language. Escrever sobre um obra de estreia de um jovem ficcionista torna a responsabilidade do crítico ainda bem maior do que escrever sobre um autor já conhecido e bem analisado pela crítica. Desta vez, tenho diante de mim o livro de contos Paradeiro 1[1] do piauiense Geovane Fernandes Monteiro. Segundo breves dados biobibliográficos fornecidos no final do pequeno volume de contos, o autor, formado em Letras, escreve também poesia, crônicas, artigos e já tem a seu favor alguns prêmios conquistados fora do Piauí. Fez parte de várias coletâneas pelo país afora, o que é bom sinal de que o ficcionista pretende mesmo dar continuidade à sua produção e enfileirar-se ao número elevado de outros jovens autores que serão acrescentados à produção ficcional brasileira. O Piauí, quer-me parecer, já vai aumentando, ao contrário do que havia no passado com o predomínio de poetas, substancialmente o número de ficcionistas na contemporaneidade, de tal sorte que muitos escapam ao conhecimento de quem faz crítica literária, o que é, no mínimo, natural nas condições hoje oferecidas a esta atividade que, no passado, foi muito intensa em nosso vida literária. Para um estreante, devem-se acentuar de início alguns pontos fundamentais de construção ficcional nele evidentes: seu domínio narrativo, seu poder descritivo, sua boa dose de imaginação e sua forte tendência de fundir a prosa e a poesia de molde a resultar num texto que envolve o leitor num espaço e tempo tendentes a um mundo ficcional
Na gangorra da corrida para a Casa Branca, Hillary e Trump, com a proximidade da eleição, já dava... more Na gangorra da corrida para a Casa Branca, Hillary e Trump, com a proximidade da eleição, já davam sinais evidentes de que o páreo seria muito competitivo.Campanha acalorada, com ofensas mútuas, fanfarronice de Trump e sorrisos largos e atitudes seguras da ex-primeira dama do governo de Clinton, era de se esperar que ambos poderiam ter elevada chance de governar o país mais importante do mundo, sobretudo no poderio bélico.
ABSTRACT. This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the B... more ABSTRACT. This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian writer Geovane Fernandes Monteiro. The stories focus on the sentimental and dramatical memories of characters who face their lives with views that range from past pivotal existential personal incidents to conflicting personal problems of family relationship both in small towns and in modern life styles of people in a fast-growing capital in the northeast Brazil, precisely in the state of Piauí.. However, the most striking features pervading the stories might be those concerned with their innermost personal lives trying to give a meaning to their uncertain existences involving family, friendship, love, old age, childhood, adolescence and young adult period of life. On the other hand, the short stories are written in an orignal way of literary style bringing fresh forms of narrating a story that point to a deep relation with poetical diction as well as paradoxical modes of expressing thoughts and concepts of the narrators' points of view as far as feelings and human dramas are concerned. In my view, the quality of these stories allow me to consider them as a promising start of the author's .literay career. (Abstract)
Key-words: short srory, childhood, adolescence, young adult life, family problems, literary diction, original literary language.
RESUMO: Este estudo discute o tema da vida literária brasileira entre os anos 1940 aos anos ... more RESUMO: Este estudo discute o tema da vida literária brasileira entre os anos 1940 aos anos 1960 da perspectiva da experiência pessoal do crítico literário, ensaísta e historiador literário Afrânio Coutinho, experiência que resultou no livro No hospital das letras.O próprio Coutinho definiu seu ensaio como um verdadeiro “panfleto” em face da análise irônica e sarcástica daquilo que lhe parecia serem os bastidores do então cenário da vida literária brasileira. Desta forma, descreve um bom número de males, falhas, hipocrisia e arrivismo prevalecentes naqueles anos da vida cultural brasileira. Vai a fundo na dissecação de atos aviltantes e mexericos nas práticas da vida literária, sobretudo quando surgidos nas publicações de importantes rodapés de críticos impressionistas. Ainda desvela as distorções e métodos anacrônicos nos estudos e ensino das escolas secundárias e mesmo nas universidades do país. Neste sentido, em muitos ângulos, sua atuação desempenhou um papel de um erudito pioneiro na introdução de novas e mais fecundas abordagens no enfrentamento de problemas relacionados aos estudos literários brasileiros.
Palavras-chaves: vida literária no Brasil, crítica impressionista, bastidores do ambiente literário brasileiro, práticas maledicentes
ABSTRACT: This paper deals with the theme of literary life in Brazil dating back from 1940s to early 1960s as viewed from Brazilian literay critic, essayst and literary historian Afrânio Coutinho’s personal experience embodied in his book No hospital das letras. Coutinho himself defined his essay as a real “pamphlet” owing to his ironical and sarcastical analysis of what seemed to him the backstage of the then literary environment in Brazil. So, he depicted quite a number of evils, failures, hypocrisy and arrivisme prevailing in those years in Brazilian cultural life. He further goes deep into dissecting the wrongdoings, and gossip of literary practices chiefly when published in the so-called critical footers of outstanding Brazilian impressionistic critics. He still reveals the distorted and old-fashioned methods of studying and teaching literature in Brazilian secondary schools and universities. Thus, in many ways he actually acted as a forerunner scholar who pointed out new approaches to better tackle literary studies problems in Brazil.
Creio que o estado da atividade da crítica literária no país me leva a uma antiga questão ventila... more Creio que o estado da atividade da crítica literária no país me leva a uma antiga questão ventilada com muito interesse pelo crítico impressionista Álvaro Lins a propósito da discussão do estado de crise na poesia em que se encontrava naqueles tempos de militância dele em rodapés de jornais, mormente do Correio da Manhã, no qual atuou, por muito tempo, como seu mais arrojado analista de obras lançadas ao público, quer literárias (ficção, poesia, teatro), quer históricas, filosóficas ou de outra natureza.
Há algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações porque não tinham suficiente ... more Há algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações porque não tinham suficiente prática de exporse pela palavra escrita. Mesmo alguns professores -e me refiro
Você alguma vez já pensou, leitor, por que escrevemos? Antes de tudo, devo empregar o termo escri... more Você alguma vez já pensou, leitor, por que escrevemos? Antes de tudo, devo empregar o termo escrita no sentido mais amplo do domínio literário. E aí se incluem crônicas, diários, memórias, notas de viagens, apontamentos, ensaio, crítica literária (já se está falando por aí que esta está desaparecendo, com o que não concordo. Ainda incluirei os gêneros mais tradicionais embora tenham passado modernamente por grandes mudanças mas sem perder a sua estrutura intrínseca, aquele dado determinante que o torna um gênero e não outro: o conto, a novela, o romance e, no campo teatral, todo o texto escrito com destino certo de ser teatralizado: o drama, a tragédia e a comédia. Até aqui me restringi à escrita literária em prosa. Por fim, coloco em plano sobranceiro, a poesia, tendo já sido considerada a mais pura das artes. O poeta Mallarmé a define como a " suprema forma de beleza. " Não é este o lugar de convocarmos as mais belas definições dapoíesis. O que nos prende a atenção é o tema dos motivos da escrita literária, quer dizer, o que impele alguém dotado do pendor para escrever em linguagem literária sobre algum assunto. Este é o busílis da questão. Não vou discutir tampouco as razões pelas quais alguns escritores são levados aos braços da ficção ou das musas, ou de ambas. Sabe-se que escritores há que são polígrafos e outros que só escolhem um gênero de escrita e permanece nele por toda a vida. Uma vez, numa conferência na Academia Brasileira de Letras, o ensaísta, teórico e crítico Eduardo Portella, confessava, em tom francamente melancólico, como se estivesse a sós com um amigo, que nunca escrevera um só poema e a sua fisionomia um tanto triste no momento acompanhava a declaração. Passara a vida analisando poemas de tantos autores e jamais teve o talento para escrever versos é o que se poderia dizer implicitamente de suas palavras. O certo é que isso é um dado que serviria para ampla discussão entre especialistas ou não, ou seja, o leitor inteligente e amante da literatura, como existem tantos por aí de outras profissões que nada têm a ver com a escrita literária. O mesmo poderia afirmar de profissionais de outras atividades que não viveram apenas do que lhe dava o real sustento da família mas que mostraram ter a vocação literária, o que os fizeram bons e até ótimos escritores. São muitos os exemplos na literatura brasileira e estrangeira. Pouquíssimos são aqueles que só vivem de
Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza c... more Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza com muito amor ABSTRACT: This article sums up the main biobibliographical information about one of the distinguished co-founders members of Brazilian Academy of Philology (ABRAFIL in Portuguese acronym).I am referring to Major J. de Matos Ibiapina according to his usual way of putting his full name in his published works ("J," short form for "Julio") a teacher of languages (English, French and German), a writer, a philologist, a politican, a journalist, an essayist and a translator who, in all these activities, achieved a higly respected position, chiefly in the field of teaching foreign tongues.Through scholarships, he went to study languages in three European
Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedi... more Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedido e a de ficcionista, se explique a sua produção relativamente pequena. Do pouco que lhe sobra da intensa vida de advogado, penso que fez muito com tão pouco tempo para escrever. Contudo, Garcia é daqueles escritores que sacrificam, muitas vezes, seu lazer em proveito de intenso interesse pela sua produção literária e contínuo e criterioso aperfeiçoamento de sua técnica narrativa.
Um artigo que mais parece um manifesto de um moço ficcionista piauiense, que é o Geovane Monteiro... more Um artigo que mais parece um manifesto de um moço ficcionista piauiense, que é o Geovane Monteiro. Seu artigo pertence àquele tipo de escrita que nos obriga a prestar atenção ao que ele acentua, enfatiza e chama à razão, ao debate, às discussões pertinentes e momentosas. Sim Geovane. V. nos leva, assim, àqueles pontos nevrálgicos da questão maior: como saber lidar com o mínimo espírito de justiça com os escritores regionais, deles alguns de grande valor que ainda não ultrapassaram o apartheid (pegando o seu gancho vocabular) do eixo Rio -São Paulo e de outros estados com intensa produção literária? Precisamos desregionalizar os escritores menos conhecidos e procurar meios de os levar à visibilidade do público brasileiro. Para isso, teremos que enfrentar uma batalha difícil e cheia de meandros conexionados com a realidade editorial brasileira, e com todos os óbices ainda a serem superados nessa luta contra o anonimato. Creio que as universidades deveriam se empenhar nessa campanha de fazer uma espécie de intercâmbio, através de encontros, conferências ou seminários, de escritores regionais menos conhecidos e os aproximarem dos estudantes do ensino médio e superior. O próprio MEC deveria jogar um papel importante nesse sentido, alocando recursos e estabelecendo estratégias e logística a fim de tornarem essas metas em realidades que só fariam avançar o conhecimento de todos os envolvidos -escritores, alunos, professores, pesquisadores -para a diversidade de nossos talentos ainda pouco ou nada visíveis no cenário cultural-literário nacional. Esse assunto precisa ainda ser amadurecido junto a outros interessados nessas novas descobertas de bons e ótimos autores brasileiros. Deixo, pois, em aberto essas sugestões.
Na área da Educação Brasileira, a questão do Ensino Domiciliar, de resto, ainda muita polêmica en... more Na área da Educação Brasileira, a questão do Ensino Domiciliar, de resto, ainda muita polêmica entre educadores, está, a meu ver, necessitando de ser amadurecida, amplamente discutida antes de ser transformada em sistema de ensino alternativo a ser implantado no país. Minha posição é contrária à disseminação dessa abordagem de ensino, porquanto ela suscita muitas indagações como, por exemplo, estas: Lares fechados? Filhos antissociais? Pais se transformam em tutores de seus próprios filhos e ficam, assim, afastados da dinâmica social? Pais não são sempre professores nem tampouco dominam todas as matérias do ensino oficial e o arcabouço da legislação escolar em vigor. Os pais de alunos não foram ensinados a ser professores. Não estudaram nem foram treinado em profundidade em disciplinas tais como alfabetização, língua portuguesa, linguística, filologia, didática, filosofia da educação, psicologia educacional, prática de ensino. A tela do computador ou um celular ou qualquer outro gadget de aprendizagem não são absolutamente equiparáveis à aula ministrada na sala por um professor de carne e osso, um professor graduado e licenciado para ministrar sua disciplina específica. A Escola do Futuro, antes de mais nada, não pode dispensar a presença dos professores. A escola é a escola. O lar é o lar. Este é apenas complemento daquela. E o homem gregário não vale mais? Nem tudo que é novo é bom. A tecnologia é bem-vinda, desde que tenha limites também e não tome o espaço do humanismo.
A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill Este estudo pretende mostrar como João... more A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill Este estudo pretende mostrar como João Antônio , contista paulista, conseguiu imprimir à linguagem uma marca revolucionária a partir mesmo da sua obra de estreia, Malagueta, Perus e Bacanaço (1963). Nas décadas de sessenta a oitenta do século passado, João Antônio foi voz destoante da maioria dos ficcionistas então surgidos, exatamente porque ambientava histórias no submundo da malandragem ou nas camadas sociais mais desvalidas da sociedade brasileira, ao passo que escritores dele contemporâneos situavam histórias sobretudo no ambiente da classe média, com seus conflitos existenciais e suas frustrações sociais e políticas durante a ditadura militar implantada no país em 1964.
O mês de dezembro transcorre com duas comemorações de grande importância no calendário ocidental:... more O mês de dezembro transcorre com duas comemorações de grande importância no calendário ocidental: o Natal e o Ano Novo. Na primeira, celebra-se o nascimento de Jesus Cristo, fundamento do cristianismo; na segunda, festeja-se a abertura de um novo ano deste segundo milênio. Ambas as datas mexem muito com os nossos sentimentos, nossas emoções, nossos desejos, nosso empenho de confraternização, de novos projetos, como se fora mesmo uma nova vida, com uma expectativa de que seja melhor do que a do ano que se finda. No mundo globalizado, mudanças se fizeram com as comunicações relacionadas ao cumprimentos de Natal e Ano Novo: em vez dos consagrados e tradicionais cartões de Natal sempre combinados com os votos de um Feliz Natal e Feliz Ano Novo, os quais estão praticamente fora de circulação, vindo a diminuir a venda de cartões e os gastos com o envio pelos Correios, entraram em cena as redes sociais, quer pelo computador, quer pelo celular ou outro aparelho do universo virtual. Acredito que vieram para ficar. Aqui me lembro de, nessas datas, procurar os endereços das pessoas queridas nas agendas ou em outros lugares já um tanto esquecidos a fim de, nos novos cartões, passar um bom tempo, ainda que cansando a munheca, escrevendo à mão mensagens criadas no instante da escrita, pequenas, médias e longas em tom afetuoso e até mesmo lírico, dependendo do grau de maior ou menor amizade. Entretanto, posso afirmar que os velhos cartões de Natal e Ano Novo ainda me deixam um travo de saudade. O lucro dos Correios sofreram prejuízos com a quebra do hábito dos cartões. As mochilas dos carteiros perdera também peso. O leitor, até aqui, deve estar se perguntando ou me perguntando se tudo o que escrevi acima tem a ver com o título desta crônica. Tem e o fio do novelo se concentra em volta dos festejos natalinos e do novo ano, 2018. Explico-lhe a seguir. Já há algum tempo venho repisando que a realidade social brasileira persiste em ser múltipla e resistente a mudanças para melhor. As modernidades (Eduardo Portella) continuam fortes e firmes. Nenhum sinal de melhoria da estrutura do Estado brasileiro. Ao contrário, na essência, permanece como sempre esteve e ainda pior nos últimos anos para quem toma consciência do que acontece no país em setores vitais a uma Nação que não se corrige, porém mantém-se sólida na resistência férrea de dividir o bolo de suas riquezas com o povo, rigidamente clivado em classes que vão dos milionários – uma minoria a quem cabe as benesses e o paraíso brasílicos-, aos miseráveis e analfabetos que chafurdam no lodaçal dos barracos sujos e fétidos das favelas dos morros e dos casebres insalubres tanto nas grandes cidades quanto no interior do país. Ou seja, os pobres continuam pobres e os ricos se tornam ainda mais ricos segundo o binômio concentração versus miséria, agravado ainda com o pior problema que enfrenta a sociedade, o da violência galopante e sem precedente tomando conta do território nacional e sem perspectiva de solução. A esses problemas se adicionam a ruína da saúde pública, a falência de alguns estados brasileiros, sendo o pior deles o do Rio de Janeiro e, para complementar o quadro da tragédia, a corrupção deslavada no seio da política brasileira. Ao falar de " Céu " e " Inferno " quero aludir ao descompasso do cotidiano brasileiro multifacetado, i.e., o país dispõe de vantagens e privilégios para alguns assim como de agruras e sofrimentos para outros. Para os senhores do poder, até parece que nada de ruim acontece com o povo. Estão indiferentes no aconchego dos palácios das mil e uma noites de prazeres e regalias desmedidas. Sabedor da índole pacata desse povo, o governo federal, vai amansando a população, liberando um beneficiozinhos de quando em quando e, assim, vai amortecendo possíveis atritos sociais, administrando subliminarmente reações de indignação, manifestações do populacho controladas por pão e circo: futebol, carnaval, shows musicais e programas de terceira linha dirigidos ao povo. Ora, diante da riqueza de poucos essas migalhas sociais nada custam aos cofres públicos, principalmente porque tudo o que o governo libera vem do bolso do contribuinte, do mais humilde ao mais aquinhoado financeiramente. Agora, realizar uma redistribuição de renda em escala nacional, taxar os grandes capitalistas, isso nunca. Mais valia e reserva do mercado são determinantes na manutenção concentracionária.
O presente volume é uma seleção de alguns dos melhores contos de José Ribamar Garcia, escritor pi... more O presente volume é uma seleção de alguns dos melhores contos de José Ribamar Garcia, escritor piauiense radicado no Rio de Janeiro, tendo como maior recorte do espaço físico e humano a vida urbana carioca, notadamente das camadas mais baixas da sociedade. O resultado de uma reunião de narrativa curtas, como quase sempre ocorre em trabalho dessa natureza, não deixa de ter o sinete idiossincrático de quem prepara uma coletânea. No obstante essa ressalva, é por elas que o leitor bem pode avaliar o nível literário dos contos, mas também sua capacidade de criar situações diversificadas com personagens que palpitam de vida e sentimentos, que nos provocam catarse, sentido de cumplicidade, ironia, indignação e um prazer de um saudável humorismo muito bem dosado que atinge em cheio a sensibilidade e a atenção dos leitores. Ninguém sai ileso de alguma reação que o texto sintético, dinâmico, enxuto e másculo de Ribamar Garcia provoca na consciência crítica e afetiva do leitor. O leitor atento observará que, com o tempo, o ficcionista lhe vai dando evidências de crescimento no domínio da arte narrativa. É óbvio que, da parte do ficcionista, o zelo, o cuidado, a ânsia de se superar ao longo do tempo, foram, a meu ver, os fatores determinantes a fim de que alcançasse uma condição de apreciável ficcionista, bem aceito pela crítica e pelos leitores. Sua repercussão há muito ultrapassou os limites do Piauí. Basta ver a sua fortuna crítica que só tem crescido com o tempo, posto que sem contar com todo o apoio logístico-publicitário das grandes editoras.
O tempo é a época mais o horizonte diacrônico, o que significa dizer -é a época mais as épocas. O... more O tempo é a época mais o horizonte diacrônico, o que significa dizer -é a época mais as épocas. O isolacionismo espiritual do corte sincrônico, imobiliza, por amnésia e pela incapacidade de pre-ver. De enxergar que cada época carrega consigo outras épocas passadas e futuras.
You are never too old to set another goal or to dream a to dream a new one C. S. LEWIS Em 1940, o... more You are never too old to set another goal or to dream a to dream a new one C. S. LEWIS Em 1940, o então jovem intelectual baiano Afrânio Coutinho publicou no Rio de Janeiro o ensaio A filosofia de Machado de Assis, obra que, na opinião de Tristão de Athayde, o grande crítico do Modernismo da sua primeira fase (1920-1945), o "consagrou." [1] Coutinho, antes, só era mais conhecido na sua província natal, onde exerceu o magistério secundário nas disciplinas de literatura e história, e, ao mesmo tempo, desenvolvia atividade na imprensa. Já dera a lume três ensaios, Daniel Rops e a ânsia do sentido novo da existência, publicado na Bahia em 1935, O humanismo, ideal de vida (1938), e L'Exemple du métissage, editado em Paris, em 1939. O segundo destes ensaios, todavia, não aparece na relação do conjunto de suas obras completas no espaço reservado às edições de sua produção intelectual Como seria natural a qualquer moço estudioso de literatura, história, e filosofia, Coutinho, no ano em que saiu publicado seu ensaio sobre Machado de Assis, enviou exemplares a vários críticos que militavam nos rodapés da imprensa do Rio de Janeiro e certamente de outros estados, alguns já firmados na vida literária brasileira, entre eles, Sérgio Buarque de Holanda e Álvaro Lins. Este último atuava intensamente como crítico literário numa coluna do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro; o primeiro, nos anos 1940 e 1941, fora convidado para exercer a crítica literária no Diário de Notícias do Rio de Janeiro.
Apenas tenho dele o recorte e, por descuido, nem escrevi a data à margem do texto. O artigo é do ... more Apenas tenho dele o recorte e, por descuido, nem escrevi a data à margem do texto. O artigo é do tempo em que escreveu para o Globo numa coluna com título "A vida das ideias," que muito traduz do seu estilo de ensaísta, historiador e pensador brasileiro. Dele também li muitos artigos publicados no velho e extinto Jornal do Brasil, Caderno Ideias. Eu costumo guardar alguns recortes do que me chama a atenção, recorte sobretudo de escritores brasileiros. Muitos perdi em mudanças ou porque não tinha espaço onde guardá-los. Eram muitos. Nem mesmo sei ao certo quantos ainda tenho. Lembro-me de artigos de Tristão de Athayde (artigos, crítica, teoria literária), Afrânio Coutinho (crítica, teoria literária, artigos ), crônicas de Carlos Drummond de Andrade (crônicas, poesia) de Otto Lara Resende (crônicas, artigos) e ultimamente de Ferreira Gullar (crônicas ).
Vocação, humanidades e ciências Cunha e Silva Filho Num ensaio recentemente publicado pelo cadern... more Vocação, humanidades e ciências Cunha e Silva Filho Num ensaio recentemente publicado pelo caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo, o documentarista João Moreira Salles, a convite da Academia Brasileira de Ciências, aborda o relacionamento entre os que fazem ciências e os que produzem trabalhos referentes à cultura humanística. O conferencista, embora pertencente ao grupo dos que militam na área das humanidades, deplora, no entanto, o descompasso comunicativo entre os dois grupos mencionados. Sem tomar partido claro de um dos dois lados, embora o tom do ensaio possa ser entendido como uma crítica ao excesso dos que professam a atividade humanística , Moreira Salles lamenta que no país a porcentagem dos que abraçam a carreira das ciências stricto sensu é numericamente bem menor do que os que optam pelos estudos das humanidades. Esta é a parte nuclear de sua conferência. Ele vê nesse desnível uma lacuna que deveria ser contornada caso se desse maior ênfase, sobretudo no campo de orientação educacional dos jovens brasileiros em direção aos estudos das ciências. As estatísticas aí estão revelando o reduzido número de jovens que ingressam nos curso das áreas científico-,tecnológicas a ponto de nossas universidades apresentarem altos déficits de graduados em matemática, engenharia, física e outras áreas do saber científico. O olhar do conferencista é francamente de reprovação e crítica a esta realidade da educação brasileira. Tocando, porém, no quesito do relacionamento entre cientistas e intelectuais das humanidades, o que mostra o autor não é nada animador Nenhum dos dois campos parece desejar saber do que está acontecendo nos seus respectivos campos de ação produtiva ou de desenvolvimento em pesquisas. Eu me lembro de uma vez alguém da área científica demonstrar pouco caso de quem se encaminha aos estudos de humanidades e, da parte de alguns que estão do lado destas, há até um certo latente complexo de inferioridade quando declaram, em forma de desabafo, que, na realidade, quem atua no terreno científico-tecnológico se julga mesmo superior aos, por exemplo, da área de letras. Quer dizer, um Ph.D. em letras teria menos peso do que um Ph.D. em física, o que é uma insensatez. O certo é que não vejo como um cavalo de batalha tanta preocupação entre os diversos setores da atividade humana. É bem verdade que as autoridades educacionais do país devem ter em mira ensejar todas as condições de orientação junto aos jovens e mesmo de incentivar a importância dos estudos das ciências como determinantes do desenvolvimento e progresso de uma nação. Todavia, não há como
Histórias de Évora: uma ficção do erotismo, amor e saudade O mistério das letras tem isso de atra... more Histórias de Évora: uma ficção do erotismo, amor e saudade O mistério das letras tem isso de atraente: torna-se mais espesso à medida que se tenta dissipá-lo.
This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian w... more This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian writer Geovane Fernandes Monteiro. The stories focus on the sentimental and dramatical memories of characters who face their lives with views that range from past pivotal existential personal incidents to conflicting personal problems of family relationship both in small towns and in modern life styles of people in a fast-growing capital in the northeast Brazil, precisely in the state of Piauí.. However, the most striking features pervading the stories might be those concerned with their innermost personal lives trying to give a meaning to their uncertain existences involving family, friendship, love, old age, childhood, adolescence and young adult period of life. On the other hand, the short stories are written in an orignal way of literary style bringing fresh forms of narrating a story that point to a deep relation with poetical diction as well as paradoxical modes of expressing thoughts and concepts of the narrators' points of view as far as feelings and human dramas are concerned. In my view, the quality of these stories allow me to consider them as a promising start of the author's .literay career. (Abstract) Keywords: short srory, childhood, adolescence, young adult life, family problems, literary diction, original literary language. Escrever sobre um obra de estreia de um jovem ficcionista torna a responsabilidade do crítico ainda bem maior do que escrever sobre um autor já conhecido e bem analisado pela crítica. Desta vez, tenho diante de mim o livro de contos Paradeiro 1[1] do piauiense Geovane Fernandes Monteiro. Segundo breves dados biobibliográficos fornecidos no final do pequeno volume de contos, o autor, formado em Letras, escreve também poesia, crônicas, artigos e já tem a seu favor alguns prêmios conquistados fora do Piauí. Fez parte de várias coletâneas pelo país afora, o que é bom sinal de que o ficcionista pretende mesmo dar continuidade à sua produção e enfileirar-se ao número elevado de outros jovens autores que serão acrescentados à produção ficcional brasileira. O Piauí, quer-me parecer, já vai aumentando, ao contrário do que havia no passado com o predomínio de poetas, substancialmente o número de ficcionistas na contemporaneidade, de tal sorte que muitos escapam ao conhecimento de quem faz crítica literária, o que é, no mínimo, natural nas condições hoje oferecidas a esta atividade que, no passado, foi muito intensa em nosso vida literária. Para um estreante, devem-se acentuar de início alguns pontos fundamentais de construção ficcional nele evidentes: seu domínio narrativo, seu poder descritivo, sua boa dose de imaginação e sua forte tendência de fundir a prosa e a poesia de molde a resultar num texto que envolve o leitor num espaço e tempo tendentes a um mundo ficcional
Na gangorra da corrida para a Casa Branca, Hillary e Trump, com a proximidade da eleição, já dava... more Na gangorra da corrida para a Casa Branca, Hillary e Trump, com a proximidade da eleição, já davam sinais evidentes de que o páreo seria muito competitivo.Campanha acalorada, com ofensas mútuas, fanfarronice de Trump e sorrisos largos e atitudes seguras da ex-primeira dama do governo de Clinton, era de se esperar que ambos poderiam ter elevada chance de governar o país mais importante do mundo, sobretudo no poderio bélico.
ABSTRACT. This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the B... more ABSTRACT. This paper analyses a collection of short stories under the title "Paradeiro," by the Brazilian writer Geovane Fernandes Monteiro. The stories focus on the sentimental and dramatical memories of characters who face their lives with views that range from past pivotal existential personal incidents to conflicting personal problems of family relationship both in small towns and in modern life styles of people in a fast-growing capital in the northeast Brazil, precisely in the state of Piauí.. However, the most striking features pervading the stories might be those concerned with their innermost personal lives trying to give a meaning to their uncertain existences involving family, friendship, love, old age, childhood, adolescence and young adult period of life. On the other hand, the short stories are written in an orignal way of literary style bringing fresh forms of narrating a story that point to a deep relation with poetical diction as well as paradoxical modes of expressing thoughts and concepts of the narrators' points of view as far as feelings and human dramas are concerned. In my view, the quality of these stories allow me to consider them as a promising start of the author's .literay career. (Abstract)
Key-words: short srory, childhood, adolescence, young adult life, family problems, literary diction, original literary language.
RESUMO: Este estudo discute o tema da vida literária brasileira entre os anos 1940 aos anos ... more RESUMO: Este estudo discute o tema da vida literária brasileira entre os anos 1940 aos anos 1960 da perspectiva da experiência pessoal do crítico literário, ensaísta e historiador literário Afrânio Coutinho, experiência que resultou no livro No hospital das letras.O próprio Coutinho definiu seu ensaio como um verdadeiro “panfleto” em face da análise irônica e sarcástica daquilo que lhe parecia serem os bastidores do então cenário da vida literária brasileira. Desta forma, descreve um bom número de males, falhas, hipocrisia e arrivismo prevalecentes naqueles anos da vida cultural brasileira. Vai a fundo na dissecação de atos aviltantes e mexericos nas práticas da vida literária, sobretudo quando surgidos nas publicações de importantes rodapés de críticos impressionistas. Ainda desvela as distorções e métodos anacrônicos nos estudos e ensino das escolas secundárias e mesmo nas universidades do país. Neste sentido, em muitos ângulos, sua atuação desempenhou um papel de um erudito pioneiro na introdução de novas e mais fecundas abordagens no enfrentamento de problemas relacionados aos estudos literários brasileiros.
Palavras-chaves: vida literária no Brasil, crítica impressionista, bastidores do ambiente literário brasileiro, práticas maledicentes
ABSTRACT: This paper deals with the theme of literary life in Brazil dating back from 1940s to early 1960s as viewed from Brazilian literay critic, essayst and literary historian Afrânio Coutinho’s personal experience embodied in his book No hospital das letras. Coutinho himself defined his essay as a real “pamphlet” owing to his ironical and sarcastical analysis of what seemed to him the backstage of the then literary environment in Brazil. So, he depicted quite a number of evils, failures, hypocrisy and arrivisme prevailing in those years in Brazilian cultural life. He further goes deep into dissecting the wrongdoings, and gossip of literary practices chiefly when published in the so-called critical footers of outstanding Brazilian impressionistic critics. He still reveals the distorted and old-fashioned methods of studying and teaching literature in Brazilian secondary schools and universities. Thus, in many ways he actually acted as a forerunner scholar who pointed out new approaches to better tackle literary studies problems in Brazil.
Creio que o estado da atividade da crítica literária no país me leva a uma antiga questão ventila... more Creio que o estado da atividade da crítica literária no país me leva a uma antiga questão ventilada com muito interesse pelo crítico impressionista Álvaro Lins a propósito da discussão do estado de crise na poesia em que se encontrava naqueles tempos de militância dele em rodapés de jornais, mormente do Correio da Manhã, no qual atuou, por muito tempo, como seu mais arrojado analista de obras lançadas ao público, quer literárias (ficção, poesia, teatro), quer históricas, filosóficas ou de outra natureza.
Há algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações porque não tinham suficiente ... more Há algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações porque não tinham suficiente prática de exporse pela palavra escrita. Mesmo alguns professores -e me refiro
Você alguma vez já pensou, leitor, por que escrevemos? Antes de tudo, devo empregar o termo escri... more Você alguma vez já pensou, leitor, por que escrevemos? Antes de tudo, devo empregar o termo escrita no sentido mais amplo do domínio literário. E aí se incluem crônicas, diários, memórias, notas de viagens, apontamentos, ensaio, crítica literária (já se está falando por aí que esta está desaparecendo, com o que não concordo. Ainda incluirei os gêneros mais tradicionais embora tenham passado modernamente por grandes mudanças mas sem perder a sua estrutura intrínseca, aquele dado determinante que o torna um gênero e não outro: o conto, a novela, o romance e, no campo teatral, todo o texto escrito com destino certo de ser teatralizado: o drama, a tragédia e a comédia. Até aqui me restringi à escrita literária em prosa. Por fim, coloco em plano sobranceiro, a poesia, tendo já sido considerada a mais pura das artes. O poeta Mallarmé a define como a " suprema forma de beleza. " Não é este o lugar de convocarmos as mais belas definições dapoíesis. O que nos prende a atenção é o tema dos motivos da escrita literária, quer dizer, o que impele alguém dotado do pendor para escrever em linguagem literária sobre algum assunto. Este é o busílis da questão. Não vou discutir tampouco as razões pelas quais alguns escritores são levados aos braços da ficção ou das musas, ou de ambas. Sabe-se que escritores há que são polígrafos e outros que só escolhem um gênero de escrita e permanece nele por toda a vida. Uma vez, numa conferência na Academia Brasileira de Letras, o ensaísta, teórico e crítico Eduardo Portella, confessava, em tom francamente melancólico, como se estivesse a sós com um amigo, que nunca escrevera um só poema e a sua fisionomia um tanto triste no momento acompanhava a declaração. Passara a vida analisando poemas de tantos autores e jamais teve o talento para escrever versos é o que se poderia dizer implicitamente de suas palavras. O certo é que isso é um dado que serviria para ampla discussão entre especialistas ou não, ou seja, o leitor inteligente e amante da literatura, como existem tantos por aí de outras profissões que nada têm a ver com a escrita literária. O mesmo poderia afirmar de profissionais de outras atividades que não viveram apenas do que lhe dava o real sustento da família mas que mostraram ter a vocação literária, o que os fizeram bons e até ótimos escritores. São muitos os exemplos na literatura brasileira e estrangeira. Pouquíssimos são aqueles que só vivem de
2.3 NO HOSPITAL DAS LETRAS: O REPTO DE AFRÂNIO COUTINHO Afrânio Coutinho, ao classificar os texto... more 2.3 NO HOSPITAL DAS LETRAS: O REPTO DE AFRÂNIO COUTINHO Afrânio Coutinho, ao classificar os textos reunidos em No hospital das letras1 de "panfleto," dá o tom do tipo de discurso que intenta imprimir à obra. Ele próprio declara que foi buscá-lo na obra homônima de Francisco Manuel de Melo (1608-1666), famoso escritor português do período setecentista que, não obstante ter falecido aos cinquenta e oito anos, deixou uma prodigiosa e multifacetada obra. De resto, Coutinho fez uma leve alteração no título da obra de D. Francisco Manuel de Melo, que é Hospital das letras, acrescentando-lhe no início a contração "No" inexistente no título do autor luso. D. Francisco Manuel de Melo foi um intelectual prolífico de vida acidentada e aventureira, que, por sinal, na condição de degredado, viveu três anos no Brasil, no estado da Bahia, punido, ao que tudo indica, por um suposto assassínio de um dos mordomos do conde de Vila Nova de Portimão. Melo foi julgado e condenado, recebendo "desterro perpétuo" a ser cumprido na África e, depois, após ser-lhe comutada a pena, veio ser degredado no Brasil, no estado da Bahia, em 1655, e aqui permaneceu até o final do degredo2. Num memorial dirigido ao rei D. João IV, escrito em linguagem magistral, elogiado até pelo célebre historiador e romancista Alexandre Herculano, Melo pediu ao rei que por ele intercedesse, mas de nada lhe valeu seu esforço. Segundo o historiador Joaquim Ferreira,3 o
Situado entre a crônica e o noticiário, o rodapé era assinado por intelectuais que, a exemplo de ... more Situado entre a crônica e o noticiário, o rodapé era assinado por intelectuais que, a exemplo de Álvaro Lins, cultivavam a eloquência e a erudição com o intuito de convencer rapidamente os leitores num tom subjetivo e personalista. CLÁUDIA NINA Na definição do verbete "rodapé," o dicionário Aurélio consigna quatro acepções, uma das quais nos interessa aos objetivos deste capítulo, a 4, como segue: (...) 4. "A crônica, folhetim, etc. de jornal ou revista, publicação no rodapé da folha e geralmente separado do resto do texto por um filete horizontal." 1 Afrânio Coutinho, o escritor que por tanto tempo verberou contra o rodapé da imprensa nos decênios de 1940 a 1960, considerando estas datas sempre com a devida flexibilidade, é justamente um dos estudiosos brasileiros que mais aprofundou a questão tanto no jornal quanto principalmente nos seguintes livros: Correntes cruzadas (1953), Da crítica e da nova crítica (1957) e Crítica & críticos (1969). Não só o crítico esmiuçou o assunto, mas também procurou situá-lo nos termos que, no juízo dele, ensejaram esclarecimentos isentos de parcialidade, ou seja Coutinho não era contra o rodapé em si, conquanto algumas vezes em livro demonstrasse sinais de contradição, em especial quando polemizava sobre duas questões que o colocavam na defensiva de seus princípios teórico-conceituais: a defesa da Nova Crítica e o combate sem trégua contra o Impressionismo crítico, cuja práxis embutia a questão da crítica de rodapés. Disso fez, durante pelo menos duas décadas um exaustivo exercício de defesa de suas ideias no campo teórico. Empregou um artifício retórico em seus artigos, ensaios e críticos que jamais negou: a retomada de seus temas prediletos na área da crítica literária, da teoria literária e da historiografia literária, mas retomada no sentido progressivo, de alargamento de visões teóricas, de aprofundamento atualizado das questões 1 HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. 1. ed. Rio de
A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill Este estudo pretende mos... more A literatura é uma arte construída com a linguagem A. Hill
Este estudo pretende mostrar como João Antônio (1937-1996), contista paulista, conseguiu imprimir à linguagem uma marca revolucionária a partir mesmo da sua obra de estreia, Malagueta, Perus e Bacanaço (1963). Nas décadas de sessenta a oitenta do século passado, João Antônio foi voz destoante da maioria dos ficcionistas então surgidos, exatamente porque ambientava histórias no submundo da malandragem ou nas camadas sociais mais desvalidas da sociedade brasileira, ao passo que escritores dele contemporâneos situavam histórias sobretudo no ambiente da classe média, com seus conflitos existenciais e suas frustrações sociais e políticas durante a ditadura militar implantada no país em 1964. O autor, uma voz quase solitária, voltando-se aos humildes e à marginália, encontrou uma original e subversora forma de discurso ficcional se contrastada com seus contemporâneos. A primeira parte de nossa análise procura demonstrar que a linguagem do contista vem a ser, na história da literatura brasileira,uma voz rara de um ficcionista que consegue com êxito e originalidade recuperar a fala dos oprimidos , ou melhor, que consegue libertar o texto sequestrado nos termos formulados pelo crítico Donald Schüller, conforme veremos adiante. A segunda parte deste trabalho, considerando um corpus de cinco contos [1], detém-se em quatro aspectos da linguagem do autor: comparação, gíria, frase sentenciosa e um paratexto, a epígrafe. A análise demonstra que, ao mobilizar tais recursos estilísticos, o escritor sempre teve como finalidade romper com práticas ideológico-expressivas do discurso ficcional de estofo burguês.
O objetivo desta Comunicação é demonstrar, através da análise de um conto de João Antônio (1937-1... more O objetivo desta Comunicação é demonstrar, através da análise de um conto de João Antônio (1937-1996, de título "Joãozinho da Babilônia", extraído do livro Leão de chácara (1975), como se processa a formação de um malandro, seu quotidiano, seu mundo interior e sua paixão amorosa. A análise, que não dispensa observações comparativas com outros contos do autor sobre o tema do malandro, se detém sobretudo na explicitação do sentimento amoroso do personagem-título com a prostituta Guiomar. No entanto, há uma outra dimensão que a análise descortina, um dado relevante da ficção joãoantoniana no que respeita à tematização do malandro: a incompatibilidade manifestada antes mais no pensamento do que propriamente nas ações concretas entre o narrador-personagem, o Joãozinho da Babilônia, e o seu rival Batistão com quem forma um hilariante triângulo amoroso.Esta incompatibilidade está embutida no sentimento de aversão do narrador-personagem à condição social privilegiada do rival, um componente reiterativo na ficção do autor sobre a figura do malandro. A análise, fundamentada na dicotomia ordem e desordem formulada por Antonio Candido no conhecido ensaio "Dialética da malandragem (1970) põe a nu uma visão mais ampla de uma sociedade de valores relativizados regulada do alto de uma pirâmide sustentada graças à polaridade do viver entre a ordem e a desordem de uma dinâmica reversível e, o que pior, permanente.
In this paper I discuss the importamce of the Brazilia literary critic,, Álvaro Lins (1912-1070... more In this paper I discuss the importamce of the Brazilia literary critic,, Álvaro Lins (1912-1070), an infuential newspaper critic as well as professor who was in vogue from 1940 to 1950. In particular I emphasize that his approach as a critic superpassed the mere quality he enjoyed as an impressionsitic critic. My analysis shows that this critic was not only what is named as Impressionism but rather as a scholar who was quite familair with the modern approaches of tackling the literay phenomen during his life , i.e. he went up to a postion of being receptive to new ways of understanding literature and appreheding innovative views in the field of criticism. His well-known harsh and lasting polemic with another literay Brazilian critic, Afrânio Coutinho (1911-2000,) who is generally known as having introduced the so-called New Criticism in Brazil, could only show Lins' far-reaching views on the changes that criticism in Brazil would be faced with as academic literary studies began inside the circles of Brazilian universities. From such reasons, one cannot classify Lins as a sheer and talented critical footer ou newspaper critc. My analysis purports to prove it. This paper is a section of the 4th chapter of my research work for obtaining the certificate of Post-doctorate in Comparative Literature from Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).2014 under the supervision of Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Key-words:polemic, criticism, Impressioniosm ad New Criticism
Sinto-me muito honrado e grato com o convite que me fez o Presidente da Academia Brasileira de Fi... more Sinto-me muito honrado e grato com o convite que me fez o Presidente da Academia Brasileira de Filologia, Professor Amós para que fizesse uma palestra sobre o Curso de Letras – tema que me foi sempre caro e muito inter-relacionado com a minha vida tanto de antigo aluno de Letras, modalidade português-inglês da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, quanto na condição de professor de literatura brasileira e de língua inglesa do Curso de Letras da Universidade Castelo Branco, e de Professor Titular aposentado de língua inglesa do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Eis-me aqui álacre e por isso extremamente motivado a desenvolver o tema em cujo título estão paratextualmente indiciadas as fases de desdobramento de minha ideias e visões sobre o assunto em exame. Gostaria de lhes tecer algumas considerações que elucidem melhor o meu entusiasmo jamais arrefecido para tratar de tema tão oportuno como falar do Curso de Letras em geral e sob uma perspectiva da realidade educacional brasileira atual. As minha motivações vêm de longe, tendo como ponto alto aquele momento sublime em que me vi envolvido num dado instante no qual, dando uma aula de literatura brasileira no Instituto de Educação Roberto Silveira, Duque de Caxias, senti como que um espanto epifânico, ou seja, a ideia, surgida num lampejo de luz, de elaborar um livro sobre o ensino de Letras destinado sobretudo a alunos egressos de escolas públicas ou de escolas particulares de ensino deficiente. Obviamente, a ideia-máter já devia estar germinando na minha mente e tinha como leit-motif os anos de estudos na graduação com as alegrias, os sonhos, os ideais e as dificuldades enfrentadas e duramente superadas. O livro a ser escrito seria, em resumo,
The theme that I chose for this meeting belongs to the kind of debate which cannot be left aside ... more The theme that I chose for this meeting belongs to the kind of debate which cannot be left aside having in view its nature of being a topical issue as well as its higly controversial character. I say polemic because it brings up to its main thematic core the question of post-truth which, furthermore, is not something so new and it even could be traced back to a remote past as well as in not so remote past years along the history of mankind, mainly in the political world sphere. In other words, in all the periods of human life in which men in general are called upon to give their opinions on truths and their opposite side i.e., lies. However, for the discussions of my theme now proposed to the emminent partipants of this Virtual Hall, I will not make any exposition of a historical, scientifical and philosophical nature. My interest aims at tackling the question in terms of their effects on present political life in the world and my views are based on concepts here arosen, with the purpose of being as much objective and clear as possible along the unfolding of this text. On the other hand, I do not have the intention of theorizing on politics as woud do political scientists, inasmuch as my special field of researches is literature. Therefore, I simply desire to make some connections between political life and the debate of my main topic. Suppose someone in this meeting asks a professional in the field of medicine, for example, about the concept of post-truth, someone who is not knowlegeable about matters that chiefly concern the role of politicians in today's world, as well as the role of written and virtual press and other kinds of media. It is quite probable that the professional will not know how to answer to it and what is more, he will perhaps say he had never heard about the phrase. As it si, it si high time we put the question for discussion on a world scale, so as to account for the meaning of this phrase which, in 2016, was statistically the most spoken expression to the point of becoming an entry in the well-known Oxford Dictionary. Post-truth is thus explained:
Em agosto de 1996, numa belíssima manhã de sol teresinense, estive aqui na Academia Piauiense de ... more Em agosto de 1996, numa belíssima manhã de sol teresinense, estive aqui na Academia Piauiense de Letras para lançamento de um livro meu. Considero Teresina minha segunda terra natal, porquanto nesta cidade vim morar aos três anos quando papai se transferira definitivamente de Amarante a fim de lecionar em colégios daqui. Por outro lado, as minhas lembranças infantis de Amarante são poucas e fugidias, mesmo porque poucas vezes estive lá. Mas é lá que estão sepultados meus antepassados paternos. Em Amarante está sepultado meu pai, membro ilustre desta instituição. Em Teresina fiquei até completar dezoito anos, quando parti para o Rio de Janeiro onde moro desde fevereiro de 1964. Esta "Cidade Verde", na famosa antonomásia de Coelho Neto (1864-1934) está fincada na minha memória com muito carinho e sempre com ilimitada saudade.
Professor formado em Letras (UFPI), com especialização em Teoria do Texto e em Literatura de Líng... more Professor formado em Letras (UFPI), com especialização em Teoria do Texto e em Literatura de Língua Portuguesa, além de ser advogado e ex-funcionário do Banco do Brasil, José Ribamar Nunes, já maduro, lança um livro de ficção, uma novela para ser mais específico, cujo titulo logo espicaça a curiosidade do leitor pelo seu nome pitoresco e sugestivo, caracterizando, de início, uma narrativa definidora de um determinado espaço social e cultural de Teresina, capital Estado do Piauí: Morro do Querosene (Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2019. 206 p. Coleção Século XXI, nº 24.
Não se pode negar ou ocultar fatos concretos e realidades palpáveis, mas tudo está levando a crer... more Não se pode negar ou ocultar fatos concretos e realidades palpáveis, mas tudo está levando a crer que a produção vertiginosa do poeta e ficcionista Nathan Sousa, natural do Piauí, se encontra em franca ascensão. A princípio. o julguei um tanto narcisista ou autocentrado porque vivia falando de si, dos seus projetos sucessivos, nos dando a impressão de que era uma máquina de fazer literatura que veio para se dedicar de corpo e alma à nobre atividade da poesis, com a qual divide as suas incursões no campo da ficção e do ensaio breve e atilado em que tem a destreza incomum de fazer belos perfis sobre autores/obras em panorâmicas que dão gosto de ler. Ele é desses autores que não dão trégua ao tempo, transformando este em novos trabalhos de sua lavra incansável. Procurou ler o máximo em reduzido tempo do que seja melhor da grande literatura, dos grandes poetas e ficcionistas, até mesmo das respeitadas obras de história da literatura universal. Parece querer devorar o tempo exíguo em tempo de antropofagia literária assimilando rápido e se inteirando célere no meio ainda hostil aos novos quanto é a vida literária e cultural brasileira. Já lhe saíram da sua pena, pelo menos uns 8 livros. Conquistou, por quatro vezes, prêmios da UBE, foi finalista em concursos literários, como o famoso Jabuti e, agora, foi também contemplado entre os finalistas de um concurso literário de peso, o I Prêmio Internacional de Poesia Antonio Salvado, com a obra poética O tecido das águas, reunindo uns 400 concorrentes de outros países e em concurso destinado à obra de estreia em português e espanhol. Natan Sousa atende bem àquele pensamento em inglês que li alhures: "Cuide bem dos seus talentos."´É assim que, a meu ver, ele faz com o que foi dotado literariamente. Digo isso porque geralmente no Piauí, por exemplo, há bons e grandes talentos poéticos que são prejudicados por falta mesmo de dedicação e de continuidade a seus projetos literários. Ora, uma poeta de raça tem que sustentar-se no tempo e no espaço. Faz seu percurso até onde lhe é possível escrever mas
Um Prefácio não pode ser apenas elogios a um autor, mas adiantar algumas observações de natureza ... more Um Prefácio não pode ser apenas elogios a um autor, mas adiantar algumas observações de natureza crítica que a obra lida possa suscitar numa primeira leitura, quer dizer, trazer à baila aquilo que o livro lançado possa oferecer de novo no tocante a livros anteriores do autor. Só os livros de estreia podem ser lidos com uma boa dose de indulgência a fim de que o julgamento não seja apenas negativo, pois quem prefacia, antes de tudo, merece tratar um autor novo com alguma boa vontade, mesmo porque o autor, ao escolher alguém que lhe faça um prefácio, já por si só espera uma boa acolhida à obra. De qualquer forma, o gesto de entregar a uma pessoa a incumbência de um prefácio é um maneira de reconhecer o valor de quem vai escrevê-lo. Seria uma espécie de homenagem ao autor do prefácio.
Não sei se o escritor Carlos Nejar é o primeiro poeta brasileiro contemporâneo que envereda pela ... more Não sei se o escritor Carlos Nejar é o primeiro poeta brasileiro contemporâneo que envereda pela historiografia literária, mas creio que, ao lado de Alexei Bueno (este publicou há pouco Uma História da poesia brasileira), é um dos poucos poetas entre nós que tiveram a coragem física e intelectual de se dar à empreitada exaustiva de mergulhar fundo em nossa produção ficcional e poética do passado até à contemporaneidade. Gilberto Mendonça Teles, em livro, nos prometera também trilhar essa mesma laboriosa estrada que demanda quilômetros de leituras e releituras, pesquisa beneditina e sobretudo tempo disponível e dedicação. Por tudo isso, é sempre auspicioso o lançamento de novas obras de história literária.
O olho mortal: das aventuras a outras questões Cunha e Silva Filho Miguel Carqueija já é uma auto... more O olho mortal: das aventuras a outras questões Cunha e Silva Filho Miguel Carqueija já é uma autor bastante conhecido dos aficionados em ficção científica. Tem produzido neste gênero alguns livros que dão suficiente demonstração do talento do autor para essa vertente de literatura. O olho mortal é uma novela que dá sequência a duas anteriores, O fantasma do apito e O Clube da Luluzinha. Alguns livros do autor nesse gênero, de que tenho notícia são A âncora do argonautas (1999), A esfinge negra ( 2003), As luzes de Alice (2004), Farei o meu destino
Com pouca informação sobre o autor, o poeta piauiense Nathan Sousa, 43 anos, sem lhe conhecer a p... more Com pouca informação sobre o autor, o poeta piauiense Nathan Sousa, 43 anos, sem lhe conhecer a produção até agora editada, me agarro a seu mais recente livro publicado, Dois olhos sobre a louça branca (Guaratinguetá: Penalux, 2016, 85 p.). Essa editora vem publicando outros poetas e ensaístas, alguns dos quais conheço, como Luiz Filho de Oliveira, poeta piauiense, e Valdemar Valente, ensaísta.
É possível um ficcionista, que entrou na casa dos setenta anos, ainda se sustentar ficcionalmente... more É possível um ficcionista, que entrou na casa dos setenta anos, ainda se sustentar ficcionalmente? É, sim, e José Ribamar Garcia não está sozinho na ficção brasileira contemporânea. Não vou citá-los porque o leitor aficionado de literatura já sabe a quem me refiro.
Toda ficção, de certa forma, se parece. O que a diferencia de outra é o nível de qualidade literá... more Toda ficção, de certa forma, se parece. O que a diferencia de outra é o nível de qualidade literária, de invenção e originalidade.Os temas estão aí prontos a serem desenvolvidos
Meu Deus, creio que estais aqui presente!"* Cunha e Silva Filho Será, leitor, que existe crítica ... more Meu Deus, creio que estais aqui presente!"* Cunha e Silva Filho Será, leitor, que existe crítica literária para certos livros? Digamos, assim, para a Bíblia Sagrada, para As confissões, de Santo Agostinho (354 d.C-430 d.C), e para outras obras superiores da cultura universal? Sim e não, não importa. O que releva é a sua grandeza. Livros há que são forjados por inteiro pelo universo fabuloso das subjetividades e sobretudo no terreno das afetividades, lexema do campo semântico que tanto peso tem na obra ora lançada, que é Pulando nuvens (Teresina: Bienal Editora, 2016,148 p), do jornalista e escritor Zózimo Tavares, piauiense de coração mas nascido no Ceará.. A pergunta acima não é uma blague, mas uma constatação que me inclina mais para o não, visto que, no domínio literário, o que prevalece é a qualidade da linguagem e o sentido específico de como o tema foi trabalhado artisticamente pelo autor.
Só conhecia o autor, Milton Borges, dos comentários gerais e breves que lhe faz o poeta, historia... more Só conhecia o autor, Milton Borges, dos comentários gerais e breves que lhe faz o poeta, historiador, literário e ficcionista Francisco Miguel de Moura na sua indispensável obra Literatura do Piauí. (Teresina: EDUFPI, 2 edição revista, ampl. e atualizada, 2013, 387 p). O historiador me informa sobre a produção do ficcionista Milton Borges, sobre o prêmio "Fontes Ibiapina" que lhe foi concedido pela FUNDAC (Fundação Cultural do Piauí, pelos romances Destino sobre rodas (2002) e Vale dos mal amados, este último inédito, segundo o historiador.
Depois do sucesso de Filhos da mãe gentil (Litteris Editora, Rio de Janeiro, 2011), e do bom acol... more Depois do sucesso de Filhos da mãe gentil (Litteris Editora, Rio de Janeiro, 2011), e do bom acolhimento, sobretudo no Piauí, de Contos da minha terra (Nova Aliança, Teresina, PI, 2012, 196 p.),o contista, o romancista e cronista piauiense José Ribamar Garcia lança seu mais recente livro, de título enigmático com certo tom lírico-metafórico, E depois, o trem (Litteris Editora, Rio de Janeiro, 2015.166 p.).
Da última vez em que estive em Teresina levei comigo alguns livros de autores piauienses. Entre e... more Da última vez em que estive em Teresina levei comigo alguns livros de autores piauienses. Entre esses livros, havia um, Tempo contra tempo, (Edições Cirandinha, Teresina, 2007 57 p., prefácio de Altevir Alencar), reunião de sonetos, 50 ao todo, escritos por Hardi Filho e Francisco Miguel de Moura. Desnecessário afirmar que a obra, pequena em número de páginas, é trabalho de dois competentes e calejados poetas, cada qual com uma considerável produção no gênero. De caso pensado, os dois poetas quiseram, pela amizade e pelo amor ao verso, testar até que ponto a poesia podia se realizar da seguinte forma: um escreveria um soneto sobre o mesmo tema, que, no caso, é a complexa categoria do tempo, e o outro daria continuidade através de uma gancho deixado pelo parceiro poético. O resultado foi esse conjunto de sonetos bem urdidos gravitando em torno daquele tema. O fato me faz lembrar o caso de dois dramaturgos ingleses da Renascença, Francis Beaumont (1584-1616) e John Fletcher (1579-1625). Eram ambos tão amigos que, por escreverem juntos, o público ledor terminou por confundi-los, não sabendo, ao final, quem escrevia o quê. No caso de Hardi Filho e Francisco Miguel de Moura, não há essa confusão porque cada soneto leva o nome do respectivo poeta. A única coisa que os une são o tema e o recurso intertextual que, de soneto a soneto, vão sempre ligando um poeta ao outro. Não poderíamos defini-los com poemas feitos a quatro mãos justamente por essa diferença. Na contracapa, há esta afirmação: " Com esta obra os poetas dizem adeus ao século XX e saúdam o novo milênio ". Não há, no entanto, indicação do autor dessa assertiva, mas tudo me leva a supor que também seja da autoria dos dois poetas. Os autores nada dizem acerca da escolha dessa forma de poema, o soneto, forma fixa tradicional que, ao que me parece, não faz parte considerável dos modos de poetar nos dois autores. Hardi Filho e Miguel de Moura são poetas que não ficaram amarrados ao passado. A poesia em ambos enveredou-se para os caminhos do verso com potencial moderno. Não são, pois, poetas passadistas. Antes, são artistas do verso com o olhar no presente e no futuro. Sã poetas, em síntese, sintonizados com o presente, sobretudo Miguel de Moura. Mas, estabelecer em forma de soneto, um diálogo aberto e, muitas vezes, até irônico ou bem-humorado, com o tempo, não deixa de ser um salutar exercício de experimentação poética e de vigor diante do desafio a que se propuseram. Não vou aqui adentrar considerações em torno dos vários tipos de conceituação filosófica que o tempo tem propiciado aos estudos literários no tratamento da prosa de ficção e no domínio da poético. Tempo da durée réelle bergsoniana, tempo cronológico, tempo psicológico, ucronia, tempo triádico gilbertofreiriano (um presente combinando presente, passado e futuro) etc. O tratamento do tema propiciado pelos dois poetas piauienses (aliás, Miguel de Moura é piauiense, mas Hardi Filho o é por opção, já que escolheu viver no o Piauí embora sendo cearense de nascença) é de natureza mais simples e descomplicada., pois os poemas, em forma de soneto, não pretendem transformar-se em peças poéticas filosóficas. Nada disso. Tampouco suponho que os dois poetas tivessem em mira apenas aprofundar a questão do tempo em versos teórico-filosóficos O livro vale é pelo seu lado dominantemente literário, pela mera experiência lúdica de demonstrar que, à semelhança de outros poeta brasileiros, à frente Manuel Bandeira, o próprio Da Costa e Silva, um poeta contemporâneo, com domínio da técnica do verso tradicional, pode muito bem criar pelo talento as várias formas do verso clássico. Basta querer. Foi o que ambos fizeram nesse livro de leitura agradável e ao mesmo tempo feito com dignidade artesanal. Sairam-se bem da empreitada. Tanto num quanto noutro poeta a elaboração do soneto lembra até o modo dos desafios do repentista. Ou seja, de um aspecto do tema comum e constante de um soneto, mediante o gancho a que me referi atrás, passa a palavra poética para o outro, como no primeiro soneto " Retrato " (p.6). E é esse lexema-título que serve como deixa para o soneto seguinte de Miguel de Moura, " Qu é de " (p.7). O tema, sempre voltado para a auto-referência de cada poeta, se manterá inalterável até o fim do livro. Aí então é que ambos os poetas se aproveitam do tema para circunscrevê-lo à sua individualidade de ser. Ao longo dos sonetos, os poetas, revezando-se, vão decantar uma espécie de desnudamento pessoal de cada um, com a sua visão particular de olhar para a passagem do tempo, em que a tônica são todos os sinais deixados pelo fluir do tempo em cada
Leio a última página do romance Reflexões de uma cadela viralata de Rivanildo Feitosa (Rio de Jan... more Leio a última página do romance Reflexões de uma cadela viralata de Rivanildo Feitosa (Rio de Janeiro: Editora Mirabolante, ilustração de Fernanda Barreto e orelha do escritor piauiense José Ribamar Garcia,. 2011, 287 p.). Segundo informações que colho da segunda orelha,com foto do autor, vejo que o estreante atua no meio jornalístico de Teresina, tem 39 anos e nasceu em Pio XI, Piauí. Nada mais sei sobre o autor. Costumo afirmar que o Piauí possui um número reduzido de ficcionistas, mesmo contando com os autores do passado. Portanto, esta é mais uma razão para que o crítico se sinta estimulado com a presença de mais um autor no gênero O último autor piauiense sobre quem escrevi foi o Dílson Lages com seu romance O morro da casa-grande, mais uma estreia que mereceu os elogios da crítica. Reflexões de uma cadela vira-lata narra a história de uma cadela com traços de uma personagem picaresca. Seu nome, Sabiá. Sua ambição maior: tornar-se uma mulher com todas as qualidades e os defeitos de uma bela mulher, cuja obsessão que a acompanha está profundamente enraizada no coito, num ímpeto insaciável que não tem tamanho. Este é o leitmotif da narrativa. De origem desconhecida, desde os primeiros meses de vida Sabiá vive como andarilha, transpõe limites de municípios e vai dar numa cidadezinha de estranho nome, chamada Sem Nome, que acredito não existir senão no universo do imaginário, fica perto de outra cidade piauiense -Mármore -, que, confesso, não sei se existe no mapa do Piauí ou se o nome é mais uma invenção do autor.
Descontextualizado, com leve alteração sintática, dos belos e ao mesmo tempo super-ufanistas vers... more Descontextualizado, com leve alteração sintática, dos belos e ao mesmo tempo super-ufanistas versos (na letra, em estribilho) do Hino Nacional Brasileiro, compostos por Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795-1865), o título do romance Filhos da mãe gentil ( Litteris Editora, capa de Ivan Szule, 2011, 142 p.), de José Ribamar Garcia, ficcionista piauiense radicado no Rio de Janeiro, de imediato produz um marca de ambiguidade diante de dois modos de olhar o país: enxergá-lo como uma nação viável e promissora, ou simplesmente encará-lo como um pais conhecido pelos seus defeitos e mazelas crônicos -lugar ideal para oportunistas que colocam os seus interesses individualistas e seus objetivos atingidos, em geral, por meios escusos, sempre acima do bem-estar da sociedade brasileira.
Tenho dúvidas se muita gente sabe que o grande romancista Érico Veríssimo(1905Veríssimo( -1975 pu... more Tenho dúvidas se muita gente sabe que o grande romancista Érico Veríssimo(1905Veríssimo( -1975 publicou, em inglês, uma história da literatura brasileira, vinda a lume em 1945. Seu título no original é Brazilian literature -an outline New York: The Macmillan Company, 1945,164p. Conheci a ficção de Érico, pela primeira vez, adolescente, lendo a bela narrativa, A vida de Joana D\'Arc. Depois, li outra obra, comovente Olhai os lírios do campo(1938).Mais tarde, outros livros dele.
Com sua vasta experiência de teórico da literatura e seu não menos tirocínio como professor de li... more Com sua vasta experiência de teórico da literatura e seu não menos tirocínio como professor de literatura inglesa da Universidade de Manchester, o renomado crítico marxista Terry Eagleton, entre outras obras, é autor de The English novel (. Uma outra obra sua, objeto deste artigo, de título How to read a poem (USA/UK/Austrália: Blackwell Publishing, 2007, 182 p.) foi elaborada tendo como público-alvo estudantes e leitores em geral, i.e., jovens iniciantes nos domínios deste campo de estudos. Uma das premissas do autor teria como finalidade primordial mostrar que é possível quebrar a resistência muitas vezes alegada por algumas pessoas, a considerar a leitura de poesia como algo "temeroso" ou difícil. Reconhecendo, todavia, na brevíssima introdução do livro, que, em alguns capítulos o leitor se defrontará com aspectos expositivos mais intrincados, Eagleton propõe que a leitura deste estudo seja feita na ordem em que os capítulos se apresentam.
Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedi... more Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedido e a de ficcionista, se explique a sua produção relativamente pequena. Do pouco que lhe sobra da intensa vida de advogado, penso que fez muito com tão pouco tempo para escrever. Contudo, Garcia é daqueles escritores que sacrificam, muitas vezes, seu lazer em proveito de intenso interesse pela sua produção literária e contínuo e criterioso aperfeiçoamento de sua técnica narrativa. Leitor voraz de obras literárias nos vários gêneros, estudioso dos temas brasileiros, homem calejado nos vários desafios enfrentados com destemor e paciência, Garcia tem, diante de si, essa gama de vivências e de conhecimento dos homens e da sociedade nos seus mais complexos meandros, mistérios e sortilégios. Sua literatura representa uma maneira de radiografar as ações, conflitos, alegrias, carências, ilusões e desilusões dos sentimentos do brasileiro, sobretudo das camadas menos favorecidas, traço forte de uma visão de autor que se pode encontrar em outros autores brasileiros do passado e do presente.
Ela me deixou sem avisar. Maldade dela! Sempre a encontrava, lá no fundo do longo corredor. Atiça... more Ela me deixou sem avisar. Maldade dela! Sempre a encontrava, lá no fundo do longo corredor. Atiçando-me como um canto de sereia para Ulisses. Antes mesmo de morar no bairro, já se encontrava lá. Todos gostavam dela, acredito Era mesmo a personagem central. Por ela ia sempre lá vê-la, falar com ela e com ela me deleitando. Por que me deixou sem ao mens me comunicar, sem uma palavra, um bilhete, um e-mail, um msg ou mesmo um brevíssimo aviso no Zapp?
Toda escrita, muitas vezes, é circunstancial na extensão e na qualidade. Depois da batalha raivos... more Toda escrita, muitas vezes, é circunstancial na extensão e na qualidade. Depois da batalha raivosa (o termo é, agora, muito usado), numa batalha de trocas de farpas e xingamentos entre esquerdistas e bolsonaristas, ou melhor, entre lulistas e anti-lulistas senti-me extenuado e com vontade de dar um longa pausa sem escrever nada, porquanto julgava que nada valia a pena.
Leitores queridos, não sei se já se detiveram mais demoradamente para refletirem sobre algumas po... more Leitores queridos, não sei se já se detiveram mais demoradamente para refletirem sobre algumas postagens das redes sociais (aqui, me reporto mais ao Facebook e às conversas privadas do Messenger e do WhatsApp, mais conhecido por zapp. Uma visão e um análise, por mais esquemática que sejam, nos vai mostrar indicadores de grande monta para entendermos melhor o que se passa no interior de dessas centenas ou milhares de pessoas que se servem desses veículos de comunicação e interação sociais a fim de, por assim dizer, minimizarem a carga enorme de carência de afeto, carinho, cumplicidade, solidariedade e de muito amor que gostariam de repassar aos milhares ou milhões de usuários pelo mundo afora.
O MUNDO INFANTIL E UM AVÔ BRASILEIRO. "Sinite parvulos venire ad me". CUNHA ESILVA FILHO De um só... more O MUNDO INFANTIL E UM AVÔ BRASILEIRO. "Sinite parvulos venire ad me". CUNHA ESILVA FILHO De um só vez, num só dia, as notícias nos pegam de supetão. Uma significando o protesto universal de crianças e adolescentes clamando, com gritos, palavras de ordem, cartais em vários idiomas, semblantes amargurados ou mesmo carrancudos contra adultos responsáveis, em cada país dito civilizado (que contrassenso!) por maldades que elas, as crianças, eles, os adolescentes, não provocaram: os incêndios nas florestas, ou as queimadas assassinas, as quais, ameaçadoras, parecer crestar a Natureza-Mãe na Amazônia, a Hileia Brasileira, ou outras regiões brasileiras onde se queima para produzir riqueza para poucos e mil desgraças para milhões. Em outras partes, países que continuam poluindo os céus de suas pátrias e o planeta que é de todos, este sim patrimônio da Humanidade. Os níveis de poluição por CO2 aumentando o efeito estufa, embora já considerado por alguns países como o vilão maior, não tem recebido o tratamento eficaz, em escala mundial, porque os países consignatários de acordos mundiais enfrentam outros países, as chamadas grandes potências que, para não perderem profits, shares, investments na base do Time is money, não abrem mão dos seus objetivos insanos da produção que não pode diminuir, mas só crescer, crescer. Crescer, como se a felicidade mundial se resumisse na multiplicidade dos miliardários americanos, chineses etc. Cientistas há até que são contra a ideia de que o efeito estufa não tem origem no aumento gigantesco, descomunal dos poluentes lançados diariamente na atmosfera terrestre, de que o crescente degelo das regiões polares é algo que sempre existiu há milhões de anos e de que a Natureza tudo pode reequilibrar com o tempo. Ora, se cientistas discordam nessa questão crucial, o problema torna-se mais complexo e tende a provocar mais desastres na Terra: aumento perigoso do nível dos
Certas datas de aniversario são importantes como o primeiro ano aniversario, ou a primeira das pr... more Certas datas de aniversario são importantes como o primeiro ano aniversario, ou a primeira das primaveras, segundo se dizia outrora, a data dos quinze anos, sobretudo das mocinhas que iam debutar em engalanadas festas familiares, dos cinquenta, dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero as outras relativas e indeterminadas etapas, Completo 60 anos (estou falando do presente do tempo da escrita do passado, não confundam com a leitura do presente, do agora, do hoje, queridos leitores; Era um sábado porém o dia certo, 7 de dezembro caíra em dia da semana. Todavia, o que realmente vale, leitores, é a intenção, o valor simbólico demarcado. Ou seguir um conselho de minha esposa. Se cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina, Descobriram, ademais, nesta nova fase de vida que a Arte, sem o viver, é incompleta. Já o disseram alguns autores brasileiros ou estrangeiros sobre a relação entre Arte e Vida. Vou, poi, completar a Arte com o viver e viver com alegria, emoção, plenitude, dignidade. Meu velho e saudoso pai, Cunha e Silva (1905-1990), aos sessenta anos, se tornou poeta não obstante nele a poesia tivesse, segundo ele, brotado das "amarguras da vida." Não vou me tornar poeta com certeza. Vou, porém, continuar meus estudos literários aliando o prazer do texto ao da análise e do julgamento estético, No muno o que faz sentido poético, ficcional ou dramático é o risco constante do silêncio da letra diante da possibilidade de não alcançar a construção de uma nova obra da criação artística, cujo ponto final só se daria com a nossa passagem do domínio terreno à dimensão do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias e dos anos, Entretanto, a temporalidade é pejada de subjetividade. Eis por que, no nosso particular mundo interior, não nos percebemos, particularmente na esfera da afetividade, do sentimento do amor, por exemplo, numa idade
As manifestações de carinho para com os oitenta amos Carlos Drummond de Andrade(1902-1987) são um... more As manifestações de carinho para com os oitenta amos Carlos Drummond de Andrade(1902-1987) são um testemunho inequívoco da importância que ainda se dá à Poesia. Algum tempo atrás até se falou na morte da poesia. Mas, os anos não confirmaram isso. A poesia está tão viva aqui como alhures que a circunstância de se prestar merecidas homenagem a um dos grandes poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade, vale como insofismável prova de que o verso é levado em alta conta graças a Deus. E ai de nós se não o fosse! Mais do que muitas análises críticas que se têm feito sobre o vate, o depoimento dele para o especial de televisão da Rede Globo serviu em muito para elucidar pontos obscuros de usa obra, assim como para fazer-nos entender melhor o homem a serviço da poesia ou a poesia a serviço do homem. De tudo, porém, que conseguiu relatar, o que mais me comoveu e dele me tornei ainda maior admirador foi a revelação feita sobre o próprio pai, o qual, fazendo parte da Câmara Municipal da sua cidade natal, Itabira, conseguira para ela o fornecimento de luz e de água encanada. Seu pai, um homem público, nem mesmo mereceu que fosse agraciado com um nome de rua,-desabafou tristemente o nosso poeta maior. Uma outra faceta revelada pelo lírico é a do seu relacionamento com o leitor. Segundo ele, nada mais gratificante do que encontrar num leitor anônimo alguma ressonância ou receptividade de sua poesia. Repare-se, aí, a humildade (à semelhança de Manuel Bandeira, 1886-1968, naquele sentido que lhe deu o notável ensaio de Davi Arrigucci Jr.(1) sobre a lírica bandeiriana), e a preferência demonstrada pelo tipo de leitor que o deixasse mais realizado na sua longa e produtiva atividade de poeta. Não fez, nesse aspecto, menção aos doutos, aos grandes exegetas, aos maiores analistas de sua sólida obra. Preferiu aqueles humildes e desconhecidos leitores que o liam apenas pelo prazer
O que posso dizer, leitor, diante da página branca? Que ela é simplesmente branca. Que não foi es... more O que posso dizer, leitor, diante da página branca? Que ela é simplesmente branca. Que não foi escurecida pelo impiedoso texto novo: que ela simbolize o silêncio dos que sofrem, enfim, o que posso afirmar de especial diante da página branca ? A dor de Ernest Hemingway (1899-1961)? O silêncio de um poeta piauiense que escreveu o mais belo soneto sobre a Saudade em língua portuguesa daqui e de além-mar. Por que um escritor tem medo da página branca se ela não é aquela baleia branca de Moby Dick? O que diria da página branca com referência aos poucos romances de O.G. Rego de Carvalho (1930-2013) um dos quais, se não me engano, Ulisses entre o amor e a morte (Teresina: Meridiano 7 ed .rev., 1989), reformulava ou modificava até à exaustão? Ou o caso de Raduan Nassar que publicou seu primeiro livro (romance) e mais duas obras apenas, deixando, depois, de produzir literatura Lavoura Arcaica (1975). Ou mesmo a história um tanto melancólica de um bom escritor piauiense que deixou de escrever bons e ótimos poemas nas décadas de 1970 a 1990, aproximadamente, e, depois, pouco ou nada produziu nesse gênero quando, pela idade, ainda bem produtiva e relativamente moço, poderia ter dado sequência a mais obras? E a dor da página branca se torna ainda mais lancinante quando vemos, alguns bons, escritores desistirem de escrever outros livros, ou mesmo desistirem de seus interesses literários, preferindo viver a vida natural das pessoas comuns. Eis uma questão de natureza do fenômeno literário que bem poderia ser explorada em pesquisas sobre dados estatísticos de autores que deixaram, por uma outra razão pessoal ou de
Querido pai: Antes de tudo, me permita por esta relembrá-lo de que hoje é seu 114º aniversário de... more Querido pai: Antes de tudo, me permita por esta relembrá-lo de que hoje é seu 114º aniversário de nascimento. Esta data o Sr. não a esquece, não é? Espero que não. Sei que outros familiares possam tê-la lembrado por estas bandas internéticas e que hoje é dia diferente, dia de festejá-lo ainda que pela dimensão do espírito, a qual-seja dita essa verdade-, ao fim e ao cabo, é o que vai mais importar entre a terra e o céu. A notícia que lhe dou é que o meu livro Apenas memórias já foi editado em 2016. Recebeu várias resenhas favoráveis de gente que conhece literatura. Está esgotado e, antes que me esqueça do fato, já o espalhei pelo mundo através das facilidade de sites internacionais, como a www.academia.edu.com-Francisco da Cunha e Silva Filho. Repito o que escrevi na carta anterior: já pode verificar que a sua presença encantadora, em varais passagens da obra, tem lugar sobranceiro por muitos motivos, principalmente pelo amor que sempre manifestei por sua pessoa. Alguns dos seus dados e da família já corrigi. Também aumentei um pouquinho o número de páginas e tentei livrar as Memórias das malditas gralhas do autor (mea culpa) e da editora. Fomos dois grandes amigos, na inocência de três anos em Amarante, na adolescência durante quinze anos em Teresina e, através de uma longa correspondência de mais de duas décadas, com alguns poucas visitas minhas a Teresina e duas visitas suas ao Rio. Quis, contudo, o destino que vivêssemos separados pela distância entre o Rio-cidade que tanto amou e nela permaneceu estudando por seis anos-e Teresina. O único consolo foi a nossa longa correspondência por escrito com tantas cartas, mais suas do que as minhas, trocando carinhos, elogios, contando os sucessos seus e eu relatando os meus, numa amizade que crescia com o passar doa anos e com a chegada da minha mocidade que o Sr. conheceu em boa parte, não o suficiente para ver meus maiores sonhos realizados. Pelo menos um dos seus desejos que almejava para seu filho-fazer o mestrado-se concretizou. Mas, fui muito mais adiante do que o Sr. imaginava. Até mesmo já pertenço à Academia Brasileira de Filologia, Cadeira nº 3, e escrevo para o exterior. "Filho, quando vais fazer o mestrado, quero te ver professor universitário." Não sabia, meu pai, que só um ano depois, em 1991, ingressaria eu no mestrado e que só em 2015, concluiria o Pós-Doutorado.
É o homem que faz a sua idade. Alceu Amoroso Lima, Idade, sexo e tempo CUNHA E SILVA FILHO Pensan... more É o homem que faz a sua idade. Alceu Amoroso Lima, Idade, sexo e tempo CUNHA E SILVA FILHO Pensando em escrever essa crônica, me deu vontade de reler o magnífico livro, Idade, sexo e tempo (1938), do notável pensador católico brasileiro, crítico literário, teórico da literatura e polígrafo Alceu Amoroso Lima (1893-1983), mais conhecido pelo famoso pseudônimo que começou a usar, se não me engano, a partir de sua estreia, em 1919, como crítico de O Jornal, substituindo o mais mordaz crítico literário brasileiro, Agripino Grieco (1888-1973). O mais curioso é que publicou aquela obra quando tinha só quarenta e cinco anos, o que não quer que dizer que só podemos escrever ou refletir sobre um assunto quando o vivenciamos. Isso me leva também a considerar, por exemplo, a afirmação de um padre a quem se perguntou por que ele se arvorava em discutir sobre o casamento se ele nem mesmo era casado e, por imposição dos votos de castidade, nem poderia tampouco casar-se. Ora, uma coisa não leva forçosamente a outra e, se estendermos o mesmo raciocínio, seria o caso de se perguntar se um ficcionista não poderia criar um romance, um conto, uma novela ou uma peça teatral enfocando determinado tema se ele, o autor, não teve experiência sobre o que tencionava escrever. José de Alencar (1829-1897) escreveu o romance O gaúcho (1870) sem nunca ter vivido ou passado na terra dos pampas. Vou parar de borboletear em outras direções temáticas e volto ao eixo temático desta crônica, que é o de lhe falar sobre sinais da velhice, me cingindo ao meu exemplo. Lá por volta dos vinte e nove anos, pela primeira vez-presumo-, senti um levíssimo sinal de que o tempo havia se lembrado de mim e me havia feito pensar, por uns minutos apenas, na questão pra mim tormentosa, que é o fluir do tempo. Eu me encontrava em Teresina, em julho 1974, aonde fui pra matar a saudade de onze anos de ausência familiar naquela viagem de reencontros e ressignificações em muitas coisas: meus pais, meus irmãos, meus amigos, a minha Teresina, o Piaui. Viagem em que tudo era saudade e transformação: valores familiares, a vida, o futuro, os ganhos e perdas até então, enfim, as transformações que iam sendo sentidas e compreendidas já sob ângulos diferentes e inescapáveis ao meu mundo interior com reflexos dolorosos diante da realidade dura e irrefreável.
Por amor de Deus, seu alcaide Crivella, não deixe o Rio morrer! Seria a desgraça final do país, m... more Por amor de Deus, seu alcaide Crivella, não deixe o Rio morrer! Seria a desgraça final do país, maior ainda do que todas as desgraças reunidas ao um só tempo pelas quais a nação está passando pelo menos há uns quinze nos setores da política, da violência crescente e crônica, da saúde sem rumo, do desemprego resistente, dos transportes e, agora, da educação pública sem perspectivas.
Machado de Assis, cujo centenário de morte está sendo amplamente comemorado, a começar da institu... more Machado de Assis, cujo centenário de morte está sendo amplamente comemorado, a começar da instituição cultural que se tornou, por assim dizer, sinônimo de sua figura, A Academia Brasileira de Letras, que ele ajudou a fundar em 15 de dezembro de 1896, juntamente com, entre outros nomes ilustres da época, Lúcio Mendonça, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, e da qual foi seu primeiro presidente, não pretende ser, a meu ver, uma unanimidade no elogio dos pósteros. Ainda bem, pois, como diria Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra". Extensa é a programação que para este ano a ABL preparou a fim de render as justas homenagens ao escritor que, mercê do legado de sua extensa produção literária, considerando-se todos os gêneros em que se manifestou o seu gênio artístico, tem crescido na admiração e respeito à sua obra, não só no país, como ainda no exterior. É espantosa a bibliografia passiva machadiana, e mais surpreendente ainda tem sido o alto nível de trabalhos que não cessam de ser produzidos entre nós e além-fronteiras, o que faz jus às palavras gravadas no seu monumento erigido à entrada do Petit Trianon, esculpido pelo artista brasileiro Humberto Gozzo: "Esta é a glória que fica e eleva, honra e consola." Ao falar linhas atrás da falta de unanimidade na apreciação da obra de Machado eu quis me referir ao caráter polêmico em torno da obra do célebre romancista brasileiro. Agripino Grieco, no seu tempo de crítico militante e provocador já ironicamente divida os leitores machadianos em duas espécies: os machadólatras e os machadófobos. Mas, o fazia, no seu ensaio Machado de Assis (1959) só para atazanar os fãs machadianos, conquanto o estudo do temido crítico tenha sido desenvolvido com seriedade e respeito ao criador de Capitu e Quincas Borba .Entretanto, permanece a ponta do sarcasmo quando Grieco sinaliza fontes estrangeiras na obra de Machado, principalmente invocando a influência de Lawrence Stern, Swift, Leopardi, entre outros. Machado, como sempre, resiste às alfinetadas autóctones ou além-mar. E por que resiste? Porque sua obra se foi construindo a caminho da perfeição aos poucos, com a perseverança própria dos autodidatas e daqueles espíritos que exibem origem modesta social e economicamente. Basta dizer que de Helena (1876), por exemplo, a Dom Casmurro (1899), a distância de qualidade estética é incomensurável, malgrado, já no início, tenha ele demonstrado traços inegáveis de talento para o domínio da criação literária. Machado, no seu canto, em Cosme Velho e no seu olhar oblíquo, no seu humor, aguentou outros trancos. Já se disse que, na sua ficção, não havia paisagem, não havia consciência política, não havia originalidade, entre outras lacunas que se lhe imputavam como defeitos de estrutura romanesca. Tudo está sendo desmentido em estudos recentes sobre sua produção ficcional. Ora, tudo que se afirmou contra Machado foi posto abaixo. Brito Broca demonstrou que Machado de Assis nunca foi absenteísta, muito menos na obra, segundo se pode ver em Machado de Assis e a política e outros estudos (1957) Astrogildo Pereira antes já estudara Machado sob ótica marxista em Interpretações (1944) e em Machado de Assis (1959). Mais recentemente Roberto Schwarz, eminente crítico de formação marxista, lukacsiano, também situou o romancista no amplo espectro de um autor consciente dos problemas sociais e políticos do Segundo Império, conforme podemos ver nos seus estudos de alta complexidade analítica, Ao vencedor, as batatas , Um mestre na periferia do capitalismo(1990) Raimundo Faoro, da mesma forma, dimensionou-lhe o universo histórico-social e os meandros do poder em A pirâmide e o trapézio (1974). O mesmo diríamos dos ensaios sobre Machado, de Antonio Candido (Vários escritos, 1970) Alfredo Bosi,em Machado de Assis (1982), Ronaldes de Melo e Sousa e de outros estudiosos de Machado. Isso sem levarmos em conta a copiosidade de estudos estrangeiros a respeito do Bruxo do Cosme Velho, como os de John Gledson, em Machado de Assis: ficção e história, 1986. O mais significativo nos estudos sobre Machado é o amplíssimo leque de áreas de abordagem crítica que até hoje têm sido utilizadas na compreensão do escritor carioca: filosofia (com o pioneiro ensaio de Afrânio Coutinho, A filosofia de Machado de Assis, 1940), psiquiatria, sociologia, marxismo, formalismo, estilística, linguística, lexicografia, biografia, história, geografia, psicanálise etc, etc. Isso tudo comprova a perenidade de um mestre da narrativa que soube se aperfeiçoar lentamente pelo estudo, pela disciplina e pela vontade de vencer no movediço, por vezes, frustrante universo da vida literária. Conta-se que Machado de Assis, nos últimos anos de vida, ainda se abalançava a estudar o alemão, segundo anotações que fazia em cadernos guardados entre seus pertences. Machado será como foi Fernando Pessoa, um escritor que se agiganta com o tempo e com o que se vai desbravando no domínio dos estudos teóricos de literatura, não porque os admiradores o desejem assim, mas porque, independente de seus intérpretes, aqui e alhures, a sua obra de romancista, contista, crítico literário, cronista -sempre atento à realidade à sua volta -, e de poeta cuidadoso com a forma e o pensamento, é feita da essência e do mesmo barro de que se valeram os grandes artesãos da arte literária superior e eterna: Shakespeare, Miguel de Cervantes Saavedra, Milton, Dante, Kafka, Homero, Joyce, Fernando Pessoa, Camões, só para citar metonicamente autores que fizeram da alma humana universal a medida de sua inventividade incomum. (REPUBLICADO)
O interesse meu pela língua francesa(1) iniciou com o meu ingresso no ginásio. Naquela época esta... more O interesse meu pela língua francesa(1) iniciou com o meu ingresso no ginásio. Naquela época estava com meus doze anos e, para a minha alegria, era o meu pai o meu professor de francês, Cunha e Silva , nome completo, Francisco da unha e Silva), que, aliás, foi também um destemido jornalista político muito respeitado. No curso científico, tive ainda uma mestra de francês, chamada pelos alunos "Madame."
Existe alguém que, na sua área, não deseje ser valorizado? Julgo que não, salvo se tiver vocação ... more Existe alguém que, na sua área, não deseje ser valorizado? Julgo que não, salvo se tiver vocação para ser santo, cujo desprendimento extrapola os limites humanos: um São Francisco, um Santo Agostinho, a figura magnífica de Jesus entre outros da hagiografia mundial.
O GIGANTE EGOÍSTA(1) Toda tarde, enquanto vinham da escola, as crianças costumavam ir brincar no ... more O GIGANTE EGOÍSTA(1) Toda tarde, enquanto vinham da escola, as crianças costumavam ir brincar no jardim do Gigante egoísta.
Se me posicionar de forma não acadêmica, não distanciada e até apolítica, ou seja, descambando pa... more Se me posicionar de forma não acadêmica, não distanciada e até apolítica, ou seja, descambando para a subjetividade, talvez me seja por enquanto mais cômodo, mas nunca menos próximo do que pretendo neste artigo. Às vezes, um desabafo vale por cem páginas de um ensaio, assim como se diz que, na ficção, existam mais verdades sobre um pais do que as notícias frias de um jornal.
Muita coisa que logo no início deste ano no meu país estão sucedendo no meu país não me deixam tr... more Muita coisa que logo no início deste ano no meu país estão sucedendo no meu país não me deixam tranquilo. Uma delas poderia citar em primeiro lugar: o rompimento da Barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. Mais uma grande tragédia de muitos mortos e poucos culpados.
Dois problemas momentosos almejo discutir aqui nesta página: a) o uso da língua portuguesa dito c... more Dois problemas momentosos almejo discutir aqui nesta página: a) o uso da língua portuguesa dito culto; b) a educação do usuário da língua escrita. Não mesmo pretendo escrever um ensaio linguístico, gramatical, ou filológico.
Não é esta que lhe estou agora escrevendo uma crônica-reportagem nem colhi tampouco dados mais co... more Não é esta que lhe estou agora escrevendo uma crônica-reportagem nem colhi tampouco dados mais consistentes e de natureza policial-investigatória. O que me chamou a atenção de observador para os crimes da Catedral em São Paulo pelo menos, duas coisas básicas: 1) o inusitado do lugar do crime horripilante; 2) uma associação que faço no que diz respeito à poderosa influência que os países hoje sofrem do mundo civilizado e do mundo bárbaro. Sempre tenho meditado muito sobre assassínios cometidos, sobretudo no EUA, com matadores bem armados que, de repente, chegam a um local e começam a atirar em pessoas inocentes, sejam crianças, adultos, adolescentes, idosos, pouco importa. O palco do crime vira uma tragédia sem proporções e ganha manchetes pelo mundo afora. O mais terrível: o culpado comete suicídio e reduz todo poder de punição legal a nada. Só restam mortos, inocentes e, geralmente, um culpado. O ato insano, abominável vira metafísica para filósofos farta matéria investigações e pesquisas de psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos. Óbvio que crimes hediondos sempre houve na Humanidade. Os EUA nem se fala. Tanto assim que lá o cinema americano é muitíssimo fértil na produção de filmes de horror, de crimes inimgináveis, tanto por cineastas menores quanto por gênios como o emblemático Alfred Hitchcock. Uma hipótese minha e que venho há algum tempo amadurecendo é que o fato de uma civilização centrada cada vez mais no locus urbano e num mundo globalizado e virtualizado com crescente aumento de tecnologia e sofisticação de modos de vida e de automatismos tende a exercer uma forte influência deletéria na psique do ser humano, principalmente de indivíduos muito inclinados, seja por tendência inata de desarranjo mental, seja por outros motivos inconfessáveis, a partirem para maquinar atos diabólicos contra inocentes e indefesos. O caso desse homem ainda moço em São Paulo seria um paradigma desse tipo de gente com potencial para atitudes brutais e letais. São verdadeiras armas humanas a serviço de um cérebro estiolado e talvez até sem cura por parte da Medicina, porém que pelo mens poderiam ser tratadas pelos órgãos de saúde do país. O que não pode é ficarem livres nas ruas com um perfil desses de estranhos hábitos. Esse foi o caso do atirador da Catedral. Outra circunstância reveladora é que o atirador que mato quatro ou cinco pessoas, consoante demonstraram as investigações policias e
Alguns escritores nem querem ouvir falar em gralhas, essas coisinhas tipográficas que saem da imp... more Alguns escritores nem querem ouvir falar em gralhas, essas coisinhas tipográficas que saem da impressão de um livro para atormentar ou mesmo atazanar a vida dos autores. Contudo, elas existem e como! Nuns mais que em outros. Colegas de atividade da escrita me falam que não devo me preocupar tanto com esses indesejados defeitos, os quais de resto, já vêm de longa data.
Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza c... more Professor pós-doutor Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ) À minha esposa Elza com muito amor ABSTRACT: This article sums up the main biobibliographical information about one of the distinguished co-founders members of Brazilian Academy of Philology (ABRAFIL in Portuguese acronym).I am referring to Major J. de Matos Ibiapina according to his usual way of putting his full name in his published works ("J," short form for "Julio") a teacher of languages (English, French and German), a writer, a philologist, a politican, a journalist, an essayist and a translator who, in all these activities, achieved a higly respected position, chiefly in the field of teaching foreign tongues.Through scholarships, he went to study languages in three European
A vida é um romance machadiano, e, fosse escolher um dos títulos, não hesitaria em citar Dom Casm... more A vida é um romance machadiano, e, fosse escolher um dos títulos, não hesitaria em citar Dom Casmurro (1899). Nesta crônica, direi por quê. Quero me prevenir de conceitos livrescos ou solenemente eruditos ou highbrow à Aldous Huxley (1894-1963) que tantas vezes nos atrapalham e nos desviam para a ausência de pensamento próprio ou de natureza antropofágica. Está o mundo muito livresco e a acumulação é gigantesca. Há teorias para tudo até para baboseiras aplaudidas aqui e alhures e, se falo em alhures, falo do exterior, dos outros países desse planeta ruidoso e com traços apocalípticos, de vez que, numa palavra, o que muda é só a língua, traço, de resto, que não se modificou por causa da conhecida Torre de Babel sobre a qual até linguistas, como Mario Pei (All about language London: The Bodley Head, 1956, p. 9) não deixam de fazer uma alusão ainda que não seja para corroborar a existência ou não do fato. A alma humana (William Shakespeare, 1564-1616, e o próprio Machado de Assis (1839-1908), mutatis mutandis-que não me deixem mentir-é tão igual quanto todos nós que nos chamamos, amiúde e com alguma arrogância mal disfarçada, de humanos. Que humanos podemos denominar uma pessoa que, por querer disputar ficar com uma cadeira num local e não o conseguindo, mata estupidamente uma outra que desejava também a mesma cadeira? Quanto de humano temos em nós em ações brutais e selvagens como estas? Quanto de verdadeiramente humano somos todos nós? Não sei. Talvez ninguém o saiba. Há uma descida de esgotamentos e exaurimento de traços solidários na natureza humana que há tempos está nos igualando a monstros sociais, tanto em indivíduos ditos escolarizados quanto em pessoas sem instrução. Vejam as duas imagens emblemáticas do que estou tentando passar-lhe aqui, caro leitor. Uma é a conversa dos coveiros da tragédia Hamlet(c. 159801604, segundo Otis & Needleman. An
As ideias no tempo, 2010
A questão do academicismo não é absolutamente um simples problema de beletrismo. É, antes, uma di... more A questão do academicismo não é absolutamente um simples problema de beletrismo. É, antes, uma discussão de um tópico de política cultural pelo ângulo literário. Dessa forma, não é um assunto de importância secundária. Sabemos que as academias científicas ou literárias são instituições antigas que acompanharam a evolução do pensamento civilizado ocidental. Não há nação desenvolvida que não seja representada culturalmente por uma agremiação, uma academia, um cenáculo, como antigamente se costumava chamar a essa reunião de homens sábios e ilustrados. Elas possuem seu estatuto, seus sócios e principalmente seu espírito acadêmico. Seus membros são eleitos em escrutínios, i.e., por votação secreta, pelo menos na aparência secreta. As academias, em geral, são entidades que simbolizam as tradições culturais de uma nação. Não expressam a cultura popular. Seu legado tem um peso aristocratizante. Na história do academicismo brasileiro, há um escritor, romancista e ensaísta, Graça Aranha, que ficou também conhecido pelo escândalo provocado quando rompeu com a Academia Brasileira de Letras e se aliou a um movimento de renovação em nossas letras, o Movimento Modernista de 1922, cujo marco inaugural foi a realização da Semana de Arte Moderna, em São Paulo. O presente trabalho é uma tentativa de analisar a atitude de Graça Aranha no tocante à questão do academicismo. Ou seja, explicitar fatores de natureza ética e, sobretudo, estética, determinantes na sua decisão de romper com seus pares da Academia Brasileira e Letras no momento em que se arvorara como chefe do Movimento Modernista de 22. Na minha exposição irei mostrar que o gesto rebelde de desvincular-se daquela
AS IDEIAS NO TEMPO, 2010
RESUMO Este ensaio análise três aspectos do romance Quincas Borba, de Machado de Assis (1839-1... more RESUMO
Este ensaio análise três aspectos do romance Quincas Borba, de Machado de Assis (1839-1908) Primeiro, aponta um recurso inovador quando mistura narrador de terceira pessoa com um narrador intruso de primeira pessoa, este ultimo funcionando como “ironia romântica” no processo narrativo. Em segundo lugar, o estudo se desdobra em outra técnica narrativa, que é a mudança, na mesma história, do bivocalismo à polifonia. Finalmente, em terceiro lugar, o estudo considera Rubião, no que diz respeito à análise do personagem, considerando-o um perdedor e nunca como um vencedor ao longo do romance. Esta peculiaridade o torna simultaneamente um herói tragicômico.
Palavras-chave: romance – bivocalismo – polifonia – narrador –personagem – inovador ABSTRACT:
This work analyses three aspects of the novel Quinca Borba, by Machado de Assis (1839-1908)). Firstly, it shows the innovative resource of mixing up a third person narrator with an intruder first person narrator, the latter functioning as “romantic irony” in the story-telling process. Secondly, the study unfolds another narratology terchnique, which is the shift in the same story from bivocalism to polyphony. Thridly and lastly, the study considers Rubião, as far as character analysis is concerned, the victim of Humanitism, never being this character a winner but a loser all through the novel. This peculiarity makes him at one time a comical and a tragical hero.
Key-words: novel – bivocalism – polyphony – narrator – characeterr - innovative
Nem é preciso ir a fundo na análise de toda a obra ficcional no gênero conto de Magalhães da Cost... more Nem é preciso ir a fundo na análise de toda a obra ficcional no gênero conto de Magalhães da Costa (1937Costa ( -2012 para emitir um juízo critico muito favorável a ele não só no quadro da literatura produzida no Piauí mas também no nível de sua narrativa considerada nacionalmente. O autor escreveu, pelo menos, cinco livros no gênero que criteriosamente elegeu como o seu principal projeto literário, dado que também exerceu a crítica literária e escreveu poesia.
Existe alguém que, na sua área, não deseje ser valorizado? Julgo que não, salvo se tiver vocação ... more Existe alguém que, na sua área, não deseje ser valorizado? Julgo que não, salvo se tiver vocação para ser santo, cujo desprendimento extrapola os limites humanos: um São Francisco, um Santo Agostinho, a figura magnífica de Jesus entre outros da hagiografia mundial.
This paper intends to examine some metanarrative processes as seen in two Brazilian short stories... more This paper intends to examine some metanarrative processes as seen in two Brazilian short stories: " A dança dos ossos " by Bernardo Guimarães, and " Corpo fechado " by Guimarães Rosa. Our analysis aims at evidencing some ways by which the metanarrative functions in both texts. In " A dança do osso " a metanarrative process may be illustrated when an oral presentation of events is confronted with its written counterpart, or when two oral versions are given to convey a similar experience or still, when an oral report told by a character gains its literay form, In " Corpo fechado " a metanarrative process may be found when the text explicitly gives some hints as to its plot building, By drawing te reader's attention to it, the narrator thus establishes a sort of dialog with its reader as well as with the text iteslf.
This paper analyses two functional studies of Portuguese Language, respectively, Aprenda a falar ... more This paper analyses two functional studies of Portuguese Language, respectively, Aprenda a falar e a escrever corretamente, by Luiz A, P. Victoria, and O poder das palavras, by Walmírio de Macedo, i.e., grammar studies intended to teach a language for practical purposes, with a method quite different from the ones used in writing scholarly advanced grammars which are mostly read by specialists and not perused by the common reader who only wants to learn the basics of his own language and so is not interested in going deep into the realms of intricate grammars couched in a difficult exposition out of the average reader's reach. This kind of studies in Brazil may be roughly traced back to 1960s, 1970s and 1980s with books that were chiefly published by Edições de Ouro and a couple of other Brazilian publishing companies. Moreover, these works (generally thin books) have some traits similar to the approach used by the so-called self-taught grammars and practical studies, mainly in the United States. Keywords: Language – Portuguese – practical – functional – grammars – academic-self-teaching. Resumo: Este ensaio analisa dois estudos de Língua Portuguesa, i.e., estudos gramaticais destinados ao ensino de uma língua com finalidades práticas e com método bem diverso daqueles usados nas gramáticas avançadas e acadêmicas, as quais são, na sua maioria, lidas por especialistas e não compulsadas pelo leitor comum que apenas deseja aprender os fundamentos básicos de sua língua materna e, por isso mesmo não se interessam por aprofundar-se nos domínios intrincados de gramáticas vazadas numa exposição difícil fora do alcance desse leitor comum. Este tipo de estudos aproximadamente remonta às décadas de 1980, 1970 e 1980 com obras que foram na sua grande parte publicadas pelas Edições de Ouro e por algumas outras editora nacionais. A par disso, essas obras (geralmente livros breves) têm características similares às chamadas gramáticas ou estudos autodidáticos, sobretudo de origem norte-americana. Palavras-chaves: Lígua – Português – prático – funcional – gramáticas – acadêmico – autoestudo. Neste ensaio emprego a expressão sintagmática " Gramáticos funcionais " inspirado num título e abordagem funcional de um autor norte-americano, George C. Cevasco que publicou uma breve gramática inglesa intitulada Grammar self-taught. 1 Nos EUA, ao longo do tempo, se editaram numerosíssimas obras mais ou menos enquadradas nos termos propostos por Cevasco, ou seja, uma gramática simplificada, visando, antes de tudo, à facilidade de exposição de usos funcionais ou pragmáticos da língua inglesa, longe da complexidade terminológica de gramáticas acadêmicas, mais destinadas estas últimas aos estudantes do ensino superior de Letras e professores universitários, distantes, assim, dos interesses de outros usuários de gramáticas, seja por não terem ainda nível de conhecimentos linguísticos suficientes como os alunos do junior and senior high school, seja porque tais gramáticas simplificadas atendiam a um público muito mais amplo e diversificado de profissionais de comunicação, jornalistas, vendedores, homens de negócios, apresentadores, radialistas, oradores, advogados, médicos, engenheiros, enfim, um público-alvo para o qual uma exposição avançada de uma gramática não teria muito proveito imediato.
As ideias no tempo, 2010
Empreender um trabalho de pesquisa sobre um escritor consagrado, exaustivamente estudado como poe... more Empreender um trabalho de pesquisa sobre um escritor consagrado, exaustivamente estudado como poeta, contando neste gênero com uma riquíssima bibliografia passiva, inclusive de alguns autores estrangeiros, é uma responsabilidade altíssima, que se torna mais delicada quando se pretende estudar o escritor na condição de cronista-um gênero, ao lado do conto, em que Drummond também deu prova de inquestionável talento. Sabe-se que na prosa ele não foi ainda estudado como merece. A bibliografia sobre a sua prosa é escassa e inexpressiva quando confrontada com a extensa produção por ele deixada, possibilitando, dessa forma, um amplo campo ainda virgem a ser explorado pelos nossos críticos, ensaístas e historiadores literários. É lamentável que nem mesmo a preciosa obra de Otto Maria Carpeaux, Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira, edição atualizada por Assis Brasil, publicada pelas Edições Ouro, faz qualquer registro da produção em prosa do poeta. A sua produção em prosa é tão antiga quanto a sua produção poética. Nos anos vinte e trinta o escritor já dava sinal de vida ainda na sua condição de autor provinciano. Quando se transferiu definitivamente para o Rio de Janeiro, em 1933, aí construiu uma das mais sólidas e festejadas carreiras de escritor. Este ensaio pretende demonstrar que, a partir de uma leitura atenta de algumas crônicas de Drummond, o cronista construiu uma obra reveladora de uma particular tendência a conjugar duas faces da realidade, a tradição e a modernidade. Irei mostrar de que forma o essa tendência bilateral se processou na realização de sua obra em prosa. Para o desenvolvimento de minha argumentação busco inspiração no filósofo Walter Benjamim a fim de explicitar algumas idéias gerais acerca da modernidade. Mostrarei
Breve introdução ao curso de letras, 2009
Ainda me lembro de que vez por outra uma colega de Faculdade me vinha pedir que lhe traduzisse pa... more Ainda me lembro de que vez por outra uma colega de Faculdade me vinha pedir que lhe traduzisse para o português (ela descobriu por acaso e com alegria e surpresa que eu tinha algum conhecimento de francês) trechos ou passagens em francês que ela encontrava em leituras exigidas para algum trabalho de seu curso, modalidade português-literatura. A minha colega não conhecia nenhum outro idioma além da sua própria língua, como acontece a tantos universitários brasileiros que não puderam aprender um idioma estrangeiro moderno e que tanta falta lhes faz na universidade. Quantos deles deixaram de fazer cursos de pós-graduação por não dominarem línguas! Nas aulas de teoria literária era a mesma coisa: apostilas distribuídas, livros indicados, todos escritos em duas ou três línguas. O estudante que não sabia línguas se dava mal e não conseguia acompanhar os colegas. Veja, por exemplo, a obra de Vítor Manuel, Teoria da literatura,17 verdadeira bíblia do estudante de letras. Ao longo desta obra notável, o estudante vai se defrontar com passagens e mais passagens em francês, espanhol, italiano, inglês, latim e até grego! Se não contar com o apoio de bons e prestativos colegas, que é uma raridade, a leitura fica algo falha, incompleta. Por isso mesmo o estudante deveria, logo no princípio do curso de letras, procurar estudar e aprender, pelo menos, uma ou duas línguas estrangeiras modernas. O ideal seria poder, ao final do curso, dominar, pelo menos ao nível de leitura no original, as principais línguas modernas: espanhol, francês, inglês, italiano e alemão. Com relação às línguas mortas, ser-lhe-ia fundamental procurar assenhorear-se do latim e grego. É bom lembrar que sem estas duas línguas clássicas fica difícil, na área de letras, desenvolver estudos de alta complexidade nos domínios da teoria literária, da filologia, da filosofia. O iniciante de letras muito lucrará se aprender aquelas duas línguas clássicas. Estou a me lembrar das palavras do crítico literário e teórico Luís Costa Lima que, certa ocasião, falou da deficiência de conhecimento do estudante brasileiro de letras em não dominar línguas modernas e, por tabela, o latim e o grego. 17Op. Cit. p.28.
Nem é preciso ir a fundo na análise de toda a obra ficcional no gênero conto de Magalhães da Cost... more Nem é preciso ir a fundo na análise de toda a obra ficcional no gênero conto de Magalhães da Costa (1937Costa ( -2012 para emitir um juízo critico muito favorável a ele não só no quadro da literatura produzida no Piauí mas também no nível de sua narrativa considerada nacionalmente. O autor escreveu, pelo menos, cinco livros no gênero que criteriosamente elegeu como o seu principal projeto literário, dado que também exerceu a crítica literária e escreveu poesia.