Paulo Borges | Universidade de Lisboa (original) (raw)
Books by Paulo Borges
Fernando Pessoa and Philosophy. Countless Lives Inhabit Us, 2021
The purpose of this study is to reinterpret some of the most relevant themes of Fernando Pessoa’s... more The purpose of this study is to reinterpret some of the most relevant themes of Fernando Pessoa’s poetic thought, such as the experience of insubstantiality, emptiness, vagueness and indetermination, in light of the line of Chinese thought of which they constitute the core, Daoism. Although it is not our contention that Fernando Pessoa was directly influenced by Daoism, we believe that the latter is a fruitful hermeneutical approach to several elements of the Pessoan experience that are in evident contrast with the predominant Western culture.
Sophia e o nome das coisas, 2020
Resumo: Propomo-nos interpretar o impulso para a plenitude da coincidência com o infinito e a tot... more Resumo: Propomo-nos interpretar o impulso para a plenitude da coincidência com o infinito e a totalidade da vida nas duas primeiras obras poéticas de Sophia de Mello Breyner Andresen, à luz da sua relação com as tradições espirituais e sapienciais da humanidade.
Abstract: We propose to interpret the impulse towards the fullness of coincidence with the infinite and the totality of life in the first two poetic works by Sophia de Mello Breyner Andresen, in the light of their relationship with the spiritual and wisdom traditions of humanity.
Portugal-Goa: Os Orientes e os Ocidentes (coordenação de Maria Celeste Natário, Renato Epifânio, Maria Luísa Malato e Paulo Borges), 2020
Resumo O objetivo deste estudo é reler um tema marcante da poesia trovadoresca medieval galaico-p... more Resumo
O objetivo deste estudo é reler um tema marcante da poesia trovadoresca medieval galaico-portuguesa e da poesia camoniana (e da experiência humana em geral) – o poder epifânico ou mesmo teofânico da visão da mulher amada e em particular da contemplação dos seus olhos – a partir de fontes que podem alargar o horizonte de compreensão do
sentido espiritual da experiência erótica que assim se desperta e processa. Escolhemos três tradições onde a questão assume contornos mais evidentes: o erotismo platónico e tântrico, hindu e budista.
Palavras-Chave: erotismo, platonismo, tantrismo, poesia galaico-portuguesa, poesia camoniana
Abstract
The aim of this study is to reread a striking theme of Galician-Portuguese medieval troubadour poetry and Camonian poetry (as well as human experience in general) ‒ the epiphanic or even theophanic power of the beloved woman's vision and in particular the contemplation of her eyes ‒ from sources that can broaden the horizon of understanding
of the spiritual meaning of the erotic experience thus awakened and processed. We choose three traditions where the issue takes on more obvious contours: Platonic and Hindu and Buddhist Tantric eroticism.
Keywords: eroticism, platonism, tantrism, Galician-Portuguese poetry, camonian poetry
Aproximações Éticas (ed. António Barbosa e Fernando Araújo), 2019
Resumo: Procuramos pensar criticamente o projecto da modernidade como tentativa de submeter a na... more Resumo:
Procuramos pensar criticamente o projecto da modernidade como tentativa de submeter a natureza e descontextualizar o humano da conexão com o cósmico e o divino. Propomos a experiência do entre-ser e de uma ética sem centro como alternativa superadora do pensamento do ser-no-mundo no sentido de um ser-mundo radicado na abertura à superabundância da Vida no entre-viver de todas as coisas.
Abstract:
We try to think critically the project of the modernity as an attempt to subdue nature and separate the human from the cosmic and the divine. We propose the experience of inter-being and of one ethics without centre as an alternative that goes beyond the thinking of the being-in-the-world in the sense of a being-world rooted in the openness to the overabundance of Life in the inter-living of all things.
Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas, 2018
Pretendemos reflectir sobre a natureza última do real e sua experiência e designação em duas trad... more Pretendemos reflectir sobre a natureza última do real e sua experiência e designação em duas tradições, a budista e a cristã, confrontando dois autores e textos que em ambas são centrais: as Estâncias da Via do Meio , de Nāgārjuna (sécs I-II), e a Teologia Mística, do Pseudo-Dionísio Areopagita (sécs. V-VI) . Entre o sábio da universidade monástica de Nālānda, fundador do Mādhyamika, a Escola do Meio , e um dos mais importantes Padres da Igreja e teólogos cristãos, existe não só o halo lendário associado a uma historicidade indeterminada, mas também a radicalidade do pensamento e da linguagem na tentativa de sugerir e, sobretudo, favorecer uma experiência da realidade última mediante a mais ousada desconstrução das representações dominantes nas suas respectivas tradições, budista e cristã.
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
Este ensaio parte da hipótese de trabalho de que as tradições espirituais e religiosas da humanid... more Este ensaio parte da hipótese de trabalho de que as tradições espirituais e religiosas da humanidade nascem e alimentam-se da experiência de uma revelação de algo que transcende todas as revelações, na medida em que transcende os limites de tudo quanto se manifeste em relação e se possa pensar, imaginar e dizer. Esse fundo sem fundo de todas as revelações é o que, já nos limites do pensamento e da linguagem que o condiciona, se pode filosoficamente designar como o inefável absoluto, infinito e incondicionado que é o âmago do real e do possível, livre das determinações conferidas por todas as perspectivas que o relativizam, particularizam e modalizam. É isso que as tradições espirituais e religiosas designam de modo diverso, num misto de convergências e divergências a respeito dos nomes que dão ao inexprimível e sobretudo do sentido que lhes conferem, fruto das distintas perspectivas ou pontos de vista que o objectivam e definem, delimitando-o em função dos seus condicionamentos, pressupostos e intenções.
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas, Lisboa, Âncora Editora, 2018., 2018
"Para compreender a fenomenologia e o sentido do desejo e da experiência do Uno em Plotino, há qu... more "Para compreender a fenomenologia e o sentido do desejo e da experiência do Uno em Plotino, há que compreender a natureza do sujeito e do objecto desse desejo e dessa experiência, ou seja, a alma e o Uno, que lhe surge como o Bem último e absoluto e que por vezes também designa como “Deus”. Ou seja, na linguagem do filósofo egípcio, antes de investigar a natureza da conversão (épistrophé) importa esclarecer a da processão (proodos) e da manência (moné) na sua inseparabilidade, bem como a da omni-englobante e transcendente unicidade na qual se processa essa articulação entre a permanência de tudo no Uno, a sua emergência e o seu regresso. Pois, segundo um dos princípios basilares do exemplarismo neoplatónico, tal como o formulou Proclo: “Todo o efeito permanece na sua causa, procede dela e reverte para ela” .
Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
"Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admira... more "Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiração ou maravilhamento (verbo thaumazein) , precisando Aristóteles haver um espanto inicial, comum a todos os humanos, perante as coisas serem o que são, que seria o ponto de partida rumo ao espanto final, “contrário” e “melhor”, de se conhecer a sua “causa” . María Zambrano, contudo, considera que, se o “pensamento” tivesse nascido apenas da “admiração”, seria difícil explicar como se plasmou tão rapidamente em “filosofia sistemática” e abstracta, pois essa “admiração” suscitada pela generosidade da “vida” que nos circunda “não permite tão rápido desprendimento das múltiplas maravilhas que a suscitam” e, sendo tão “infinita” e “insaciável” como a própria vida, “não quer decretar a sua própria morte”. Encontra assim, na platónica alegoria da caverna, outra origem da filosofia: a violência. A filosofia nasceria dessa “dualidade” e “conflito originário” entre “forças contrárias que não se destroem”: “o ser primeiramente pasmo extático ante as coisas e o violentar-se a seguir para libertar-se delas”. A filosofia nasceria de um “primitivo pasmo” ante a imediatez sensível do mundo, logo negado e traído por uma “pressa” de se lançar nos domínios da abstracção. Zambrano define a filosofia como “um êxtase fracassado por um dilaceramento”. O pasmo perante o dom gratuito do que é imediatamente presente volve-se num arrancar-se violento disso para perseguir algo que está ausente e há que capturar, mediante o “afanoso caminho” do “esforço metódico” próprio da mediação do trabalho intelectual e conceptual, como aliás se constata na tese aristotélica que coloca o espanto final do conhecimento da causa das coisas acima do espanto perante a sua presença imediata.
(...)
A esta luz nos interessa explorar a relevância da experiência da perplexidade em Ibn’ Arabî, como culminação na consciência do dinamismo automanifestativo da Realidade plena"
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
Da unidade à vacuidade e interdependência de todos os seres no hinduísmo e no budismo (ou da supe... more Da unidade à vacuidade e interdependência de todos os seres no hinduísmo e no budismo (ou da superação do antropocentrismo numa ética cósmica)
Embora seja redutor e enganador atribuir características gerais e uniformes às “religiões orientais”, dadas a sua grande diversidade e a multiplicidade de perspectivas dentro de cada uma delas, pode-se todavia considerar haver nelas uma forte presença da dimensão universal, total e cósmica da vida que funda o respeito ético-espiritual por todas as suas manifestações e contrasta com o maior centramento dos monoteísmos próximo-orientais, pelo menos na sua leitura e prática dominante, na singularidade e supremacia da vida humana em relação à natureza e aos demais seres vivos, o que tem colocado as “religiões orientais” como inspiradoras ou interlocutoras incontornáveis das preocupações ecológicas e ambientais contemporâneas, particularmente no âmbito da chamada “ecologia profunda” . Ocupar-nos-emos aqui apenas de duas das principais religiões indianas, hinduísmo e budismo, com destaque para o último. No estudo deste alargaremos o âmbito da nossa consideração a tradições derivadas do budismo indiano, como a chinesa, a tibetana e a japonesa.
Descobrir Buda, 2010
Entenda-se este ensaio de reflexão, com um título porventura inesperado, colhido da tradição do b... more Entenda-se este ensaio de reflexão, com um título porventura inesperado, colhido da tradição do budismo Chan, como a tentativa de compreendermos o mais fundo sentido do nosso interesse pelo chamado budismo, devido a parecer ser nele que mais radical, aberta e auto-iconoclasticamente se assume que toda a via para a verdade se cumpre na mesma medida em que a si e às figuras e representações dessa mesma verdade transcende e anula, como instâncias ainda relativas ou ilusórias e idolátricas dessa busca de liberdade e nudez totais que constitui o âmago disso que, nas várias tradições religiosas ou sapienciais, se designa por espiritualidade.
Neste novo livro dedicado a Fernando Pessoa, no qual continuamos a explorar a fecundidade filosóf... more Neste novo livro dedicado a Fernando Pessoa, no qual continuamos a explorar a fecundidade filosófica da sua obra e a pensar a partir dela, reunimos estudos sobre as relações explícitas e implícitas do poeta e pensador português com temas centrais da espiritualidade e da cultura orientais e ocidentais. Dotado de um espírito cosmopolita e universalista, Pessoa dialoga directa e indirectamente com as grandes questões do pensamento e da experiência humanos presentes nas tradições planetárias. Cremos ser fundamental investigar e conhecer esta menos atendida mas central dimensão da obra pessoana para uma compreensão mais ampla do seu pensamento, da sua modernidade e da sua fecunda actualidade. No que respeita a esta, cremos que os estudos presentes neste volume mostram como Fernando Pessoa nos lega um poderoso contributo para alguns dos desafios maiores do século XXI, como o conhecimento da natureza e possibilidades profundas da consciência e o encontro e diálogo entre culturas e religiões.
A natureza da mente no pensamento filosófico budista
In Paulo Borges, Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a Via do Despertar, Lisboa, Âncora Edito... more In Paulo Borges, Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a Via do Despertar, Lisboa, Âncora Editora, 2010, pp.155-183.
Lisboa, Temas e Debates, 2013, 368 p.
in Padre António Vieira, Obra Completa, direcção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, Tomo II... more in Padre António Vieira, Obra Completa, direcção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, Tomo III, Volume II, coordenação, introdução e anotação de Paulo Borges, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp.11-47.
BORGES, Paulo, "Teixeira de Pascoaes: Um Pensamento Neognóstico?", in Teixeira de Pascoaes: A Art... more BORGES, Paulo, "Teixeira de Pascoaes: Um Pensamento Neognóstico?", in Teixeira de Pascoaes: A Arte de ser Português e a Renascença Portuguesa, coordenação geral CARVALHO, Sofia A., coordenação científica RITA, Annabela e FRANCO, José Eduardo, II volume, Parte I "Traços do Pensamento de Pascoaes: de Arte de Ser Português à Renascença Portuguesa", Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 21-31 (ISBN: 978-989-689-644-7)
in Teixeira de Pascoaes: As Biografias no Pensamento Português, coordenação geral CARVALHO, Sofia... more in Teixeira de Pascoaes: As Biografias no Pensamento Português, coordenação geral CARVALHO, Sofia A., coordenação científica RITA, Annabela e FRANCO, José Eduardo, I volume, Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 13-34 (ISBN: 978-989-689-643-0)
Fernando Pessoa and Philosophy. Countless Lives Inhabit Us, 2021
The purpose of this study is to reinterpret some of the most relevant themes of Fernando Pessoa’s... more The purpose of this study is to reinterpret some of the most relevant themes of Fernando Pessoa’s poetic thought, such as the experience of insubstantiality, emptiness, vagueness and indetermination, in light of the line of Chinese thought of which they constitute the core, Daoism. Although it is not our contention that Fernando Pessoa was directly influenced by Daoism, we believe that the latter is a fruitful hermeneutical approach to several elements of the Pessoan experience that are in evident contrast with the predominant Western culture.
Sophia e o nome das coisas, 2020
Resumo: Propomo-nos interpretar o impulso para a plenitude da coincidência com o infinito e a tot... more Resumo: Propomo-nos interpretar o impulso para a plenitude da coincidência com o infinito e a totalidade da vida nas duas primeiras obras poéticas de Sophia de Mello Breyner Andresen, à luz da sua relação com as tradições espirituais e sapienciais da humanidade.
Abstract: We propose to interpret the impulse towards the fullness of coincidence with the infinite and the totality of life in the first two poetic works by Sophia de Mello Breyner Andresen, in the light of their relationship with the spiritual and wisdom traditions of humanity.
Portugal-Goa: Os Orientes e os Ocidentes (coordenação de Maria Celeste Natário, Renato Epifânio, Maria Luísa Malato e Paulo Borges), 2020
Resumo O objetivo deste estudo é reler um tema marcante da poesia trovadoresca medieval galaico-p... more Resumo
O objetivo deste estudo é reler um tema marcante da poesia trovadoresca medieval galaico-portuguesa e da poesia camoniana (e da experiência humana em geral) – o poder epifânico ou mesmo teofânico da visão da mulher amada e em particular da contemplação dos seus olhos – a partir de fontes que podem alargar o horizonte de compreensão do
sentido espiritual da experiência erótica que assim se desperta e processa. Escolhemos três tradições onde a questão assume contornos mais evidentes: o erotismo platónico e tântrico, hindu e budista.
Palavras-Chave: erotismo, platonismo, tantrismo, poesia galaico-portuguesa, poesia camoniana
Abstract
The aim of this study is to reread a striking theme of Galician-Portuguese medieval troubadour poetry and Camonian poetry (as well as human experience in general) ‒ the epiphanic or even theophanic power of the beloved woman's vision and in particular the contemplation of her eyes ‒ from sources that can broaden the horizon of understanding
of the spiritual meaning of the erotic experience thus awakened and processed. We choose three traditions where the issue takes on more obvious contours: Platonic and Hindu and Buddhist Tantric eroticism.
Keywords: eroticism, platonism, tantrism, Galician-Portuguese poetry, camonian poetry
Aproximações Éticas (ed. António Barbosa e Fernando Araújo), 2019
Resumo: Procuramos pensar criticamente o projecto da modernidade como tentativa de submeter a na... more Resumo:
Procuramos pensar criticamente o projecto da modernidade como tentativa de submeter a natureza e descontextualizar o humano da conexão com o cósmico e o divino. Propomos a experiência do entre-ser e de uma ética sem centro como alternativa superadora do pensamento do ser-no-mundo no sentido de um ser-mundo radicado na abertura à superabundância da Vida no entre-viver de todas as coisas.
Abstract:
We try to think critically the project of the modernity as an attempt to subdue nature and separate the human from the cosmic and the divine. We propose the experience of inter-being and of one ethics without centre as an alternative that goes beyond the thinking of the being-in-the-world in the sense of a being-world rooted in the openness to the overabundance of Life in the inter-living of all things.
Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas, 2018
Pretendemos reflectir sobre a natureza última do real e sua experiência e designação em duas trad... more Pretendemos reflectir sobre a natureza última do real e sua experiência e designação em duas tradições, a budista e a cristã, confrontando dois autores e textos que em ambas são centrais: as Estâncias da Via do Meio , de Nāgārjuna (sécs I-II), e a Teologia Mística, do Pseudo-Dionísio Areopagita (sécs. V-VI) . Entre o sábio da universidade monástica de Nālānda, fundador do Mādhyamika, a Escola do Meio , e um dos mais importantes Padres da Igreja e teólogos cristãos, existe não só o halo lendário associado a uma historicidade indeterminada, mas também a radicalidade do pensamento e da linguagem na tentativa de sugerir e, sobretudo, favorecer uma experiência da realidade última mediante a mais ousada desconstrução das representações dominantes nas suas respectivas tradições, budista e cristã.
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
Este ensaio parte da hipótese de trabalho de que as tradições espirituais e religiosas da humanid... more Este ensaio parte da hipótese de trabalho de que as tradições espirituais e religiosas da humanidade nascem e alimentam-se da experiência de uma revelação de algo que transcende todas as revelações, na medida em que transcende os limites de tudo quanto se manifeste em relação e se possa pensar, imaginar e dizer. Esse fundo sem fundo de todas as revelações é o que, já nos limites do pensamento e da linguagem que o condiciona, se pode filosoficamente designar como o inefável absoluto, infinito e incondicionado que é o âmago do real e do possível, livre das determinações conferidas por todas as perspectivas que o relativizam, particularizam e modalizam. É isso que as tradições espirituais e religiosas designam de modo diverso, num misto de convergências e divergências a respeito dos nomes que dão ao inexprimível e sobretudo do sentido que lhes conferem, fruto das distintas perspectivas ou pontos de vista que o objectivam e definem, delimitando-o em função dos seus condicionamentos, pressupostos e intenções.
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas, Lisboa, Âncora Editora, 2018., 2018
"Para compreender a fenomenologia e o sentido do desejo e da experiência do Uno em Plotino, há qu... more "Para compreender a fenomenologia e o sentido do desejo e da experiência do Uno em Plotino, há que compreender a natureza do sujeito e do objecto desse desejo e dessa experiência, ou seja, a alma e o Uno, que lhe surge como o Bem último e absoluto e que por vezes também designa como “Deus”. Ou seja, na linguagem do filósofo egípcio, antes de investigar a natureza da conversão (épistrophé) importa esclarecer a da processão (proodos) e da manência (moné) na sua inseparabilidade, bem como a da omni-englobante e transcendente unicidade na qual se processa essa articulação entre a permanência de tudo no Uno, a sua emergência e o seu regresso. Pois, segundo um dos princípios basilares do exemplarismo neoplatónico, tal como o formulou Proclo: “Todo o efeito permanece na sua causa, procede dela e reverte para ela” .
Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
"Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admira... more "Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiração ou maravilhamento (verbo thaumazein) , precisando Aristóteles haver um espanto inicial, comum a todos os humanos, perante as coisas serem o que são, que seria o ponto de partida rumo ao espanto final, “contrário” e “melhor”, de se conhecer a sua “causa” . María Zambrano, contudo, considera que, se o “pensamento” tivesse nascido apenas da “admiração”, seria difícil explicar como se plasmou tão rapidamente em “filosofia sistemática” e abstracta, pois essa “admiração” suscitada pela generosidade da “vida” que nos circunda “não permite tão rápido desprendimento das múltiplas maravilhas que a suscitam” e, sendo tão “infinita” e “insaciável” como a própria vida, “não quer decretar a sua própria morte”. Encontra assim, na platónica alegoria da caverna, outra origem da filosofia: a violência. A filosofia nasceria dessa “dualidade” e “conflito originário” entre “forças contrárias que não se destroem”: “o ser primeiramente pasmo extático ante as coisas e o violentar-se a seguir para libertar-se delas”. A filosofia nasceria de um “primitivo pasmo” ante a imediatez sensível do mundo, logo negado e traído por uma “pressa” de se lançar nos domínios da abstracção. Zambrano define a filosofia como “um êxtase fracassado por um dilaceramento”. O pasmo perante o dom gratuito do que é imediatamente presente volve-se num arrancar-se violento disso para perseguir algo que está ausente e há que capturar, mediante o “afanoso caminho” do “esforço metódico” próprio da mediação do trabalho intelectual e conceptual, como aliás se constata na tese aristotélica que coloca o espanto final do conhecimento da causa das coisas acima do espanto perante a sua presença imediata.
(...)
A esta luz nos interessa explorar a relevância da experiência da perplexidade em Ibn’ Arabî, como culminação na consciência do dinamismo automanifestativo da Realidade plena"
Do Vazio à Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso, 2018
Da unidade à vacuidade e interdependência de todos os seres no hinduísmo e no budismo (ou da supe... more Da unidade à vacuidade e interdependência de todos os seres no hinduísmo e no budismo (ou da superação do antropocentrismo numa ética cósmica)
Embora seja redutor e enganador atribuir características gerais e uniformes às “religiões orientais”, dadas a sua grande diversidade e a multiplicidade de perspectivas dentro de cada uma delas, pode-se todavia considerar haver nelas uma forte presença da dimensão universal, total e cósmica da vida que funda o respeito ético-espiritual por todas as suas manifestações e contrasta com o maior centramento dos monoteísmos próximo-orientais, pelo menos na sua leitura e prática dominante, na singularidade e supremacia da vida humana em relação à natureza e aos demais seres vivos, o que tem colocado as “religiões orientais” como inspiradoras ou interlocutoras incontornáveis das preocupações ecológicas e ambientais contemporâneas, particularmente no âmbito da chamada “ecologia profunda” . Ocupar-nos-emos aqui apenas de duas das principais religiões indianas, hinduísmo e budismo, com destaque para o último. No estudo deste alargaremos o âmbito da nossa consideração a tradições derivadas do budismo indiano, como a chinesa, a tibetana e a japonesa.
Descobrir Buda, 2010
Entenda-se este ensaio de reflexão, com um título porventura inesperado, colhido da tradição do b... more Entenda-se este ensaio de reflexão, com um título porventura inesperado, colhido da tradição do budismo Chan, como a tentativa de compreendermos o mais fundo sentido do nosso interesse pelo chamado budismo, devido a parecer ser nele que mais radical, aberta e auto-iconoclasticamente se assume que toda a via para a verdade se cumpre na mesma medida em que a si e às figuras e representações dessa mesma verdade transcende e anula, como instâncias ainda relativas ou ilusórias e idolátricas dessa busca de liberdade e nudez totais que constitui o âmago disso que, nas várias tradições religiosas ou sapienciais, se designa por espiritualidade.
Neste novo livro dedicado a Fernando Pessoa, no qual continuamos a explorar a fecundidade filosóf... more Neste novo livro dedicado a Fernando Pessoa, no qual continuamos a explorar a fecundidade filosófica da sua obra e a pensar a partir dela, reunimos estudos sobre as relações explícitas e implícitas do poeta e pensador português com temas centrais da espiritualidade e da cultura orientais e ocidentais. Dotado de um espírito cosmopolita e universalista, Pessoa dialoga directa e indirectamente com as grandes questões do pensamento e da experiência humanos presentes nas tradições planetárias. Cremos ser fundamental investigar e conhecer esta menos atendida mas central dimensão da obra pessoana para uma compreensão mais ampla do seu pensamento, da sua modernidade e da sua fecunda actualidade. No que respeita a esta, cremos que os estudos presentes neste volume mostram como Fernando Pessoa nos lega um poderoso contributo para alguns dos desafios maiores do século XXI, como o conhecimento da natureza e possibilidades profundas da consciência e o encontro e diálogo entre culturas e religiões.
A natureza da mente no pensamento filosófico budista
In Paulo Borges, Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a Via do Despertar, Lisboa, Âncora Edito... more In Paulo Borges, Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a Via do Despertar, Lisboa, Âncora Editora, 2010, pp.155-183.
Lisboa, Temas e Debates, 2013, 368 p.
in Padre António Vieira, Obra Completa, direcção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, Tomo II... more in Padre António Vieira, Obra Completa, direcção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, Tomo III, Volume II, coordenação, introdução e anotação de Paulo Borges, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp.11-47.
BORGES, Paulo, "Teixeira de Pascoaes: Um Pensamento Neognóstico?", in Teixeira de Pascoaes: A Art... more BORGES, Paulo, "Teixeira de Pascoaes: Um Pensamento Neognóstico?", in Teixeira de Pascoaes: A Arte de ser Português e a Renascença Portuguesa, coordenação geral CARVALHO, Sofia A., coordenação científica RITA, Annabela e FRANCO, José Eduardo, II volume, Parte I "Traços do Pensamento de Pascoaes: de Arte de Ser Português à Renascença Portuguesa", Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 21-31 (ISBN: 978-989-689-644-7)
in Teixeira de Pascoaes: As Biografias no Pensamento Português, coordenação geral CARVALHO, Sofia... more in Teixeira de Pascoaes: As Biografias no Pensamento Português, coordenação geral CARVALHO, Sofia A., coordenação científica RITA, Annabela e FRANCO, José Eduardo, I volume, Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 13-34 (ISBN: 978-989-689-643-0)
Studia Romanica et Anglica Zagrabiensia
El Azufre Rojo, 2023
We present the conception, which is a hallmark of various indigenous cultures, especially the Ame... more We present the conception, which is a hallmark of various indigenous cultures, especially the Amerindian and Australian ones, of an original Dreamtime, in which everything is possible because all forms of life flow, in the passage from the invisible to the visible, in a constant autopoietic metamorphosis. This Dreamtime, synonymous with the inexhaustible virtuality of the possible, is hidden or forgotten in the triumph of conceptual and categorical thinking, dominant in the West since the Platonic-Aristotelian and epistemic drift of philosophy, which apparently solidifies the world by enclosing the chaosmic flow in the classification of beings into species, genera and individuals, just as in the laws of apparent causality. The Dreamtime can, however, be experienced at any moment through mythicalritual performance, poetic song and the differentiated states of consciousness they induce, as in the intermediation of the shaman who, devoid of identity, moves freely between the multiple perspectives that configure the processes of the multiple beings and worlds.
El Azufre Rojo, 2019
Resumo: Procuramos apresentar as noções de «mundo imaginal» e «espaço edénico» no filósofo e míst... more Resumo: Procuramos apresentar as noções de «mundo imaginal» e «espaço edénico» no filósofo e místico murciano e na escritora portuguesa e mostrar as suas relações como via para compreender a experiência da metamorfose da vida enquanto alternativa ao princípio de identidade prevalecente na tradição filosófica ocidental.: We aim to present the notions of «imaginal world» and «Edenic space» in the philosopher and mystic from Murcia, Ibn ʿArabī, and in the perspective of the Portuguese writer Maria Gabriela Llansol, in order to show their relations as a way to understand the experience of the metamorphosis of life as an alternative to the principle of identity, which prevails in the Western philosophical tradition.
El Azufre Rojo, 1970
Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiraç... more Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiração ou maravilhamento (verbo thaumazein), precisando Aristóteles haver um espanto inicial, comum a todos os humanos. María Zambrano, contudo, considera que, se o “pensamento” tivesse nascido apenas da “admiração”, seria difícil explicar como se plasmou tão rapidamente em “filosofia sistemática” e abstrata, pois essa “admiração” suscitada pela generosidade da “vida” que nos circunda “não permite tão rápido desprendimento das múltiplas maravilhas que a suscitam” e, sendo tão “infinita” e “insaciável” como a própria vida, “não quer decretar a sua própria morte”. Na experiência de Álvaro de Campos não há qualquer pacificação do pasmo ou assombro da consciência pelo conhecimento conceptual e objectivante, pois jamais se dá a violência do distanciamento que María Zambrano vê na origem da filosofia. Pelo contrário, o pensamento, se não deixa de emergir sob o signo da interrogação e da especulaçã...
EDUCAÇÃO E FILOSOFIA, 2017
O objectivo do presente artigo e mostrar o estatuto de todas as formas de vida no pensamento hind... more O objectivo do presente artigo e mostrar o estatuto de todas as formas de vida no pensamento hindu e budista. Enquanto no pensamento hindu predomina a visao da procedencia de todos os seres e coisas de uma unidade englobante, simultaneamente transcendente e imanente, no pensamento budista o cosmos surge como uma rede complexa de seres e fenomenos interdependentes, inter-relacionados e interpenetrados, sem existencia em si e por si, sendo a sua natureza o que tradicionalmente se designa como vacuidade, por transcender todos os conceitos e categorias.
Agalia Publicacom Internacional Da Associacom Galega Da Lingua, 2007
Ethos Humano e mundo contemporâneo
El Azufre Rojo - Revista de Estudios sobre Ibn Arabi, n.º especial Ibn Arabi e Llansol (ed. Fabrizio Boscaglia e Luiza Rosa), 42-54, 2019
Resumo: Procuramos apresentar as noções de «mundo imaginal» e «espaço edénico» no filósofo e míst... more Resumo: Procuramos apresentar as noções de «mundo imaginal» e «espaço edénico» no filósofo e místico murciano e na escritora portuguesa e mostrar as suas relações como via para compreender a experiência da metamorfose da vida enquanto alternativa ao princípio de identidade prevalecente na tradição filosófica ocidental.
Palavras-chave: Ibn ʿArabī. Maria Gabriela Llansol. Mundo imaginal. Espaço edénico. Metamorfose.
Abstract: We aim to present the notions of «imaginal world» and «Edenic space» in the philosopher and mystic from Murcia, Ibn ʿArabī, and in the perspective of the Portuguese writer Maria Gabriela Llansol, in order to show their relations as a way to understand the experience of the metamorphosis of life as an alternative to the principle of identity, which prevails in the Western philosophical tradition.
Keywords: Ibn ‘Arabī. Maria Gabriela Llansol. Imaginal world. Edenic space. Metamorphosis.
Revista Educação e Filosofia v.32 n.66 set./dez. - 2018, 2018
Resumo: Um dos temas mais característicos da obra de Fernando Pessoa é a experiência da vida e do... more Resumo: Um dos temas mais característicos da obra de Fernando Pessoa é a experiência da vida e do mundo como uma ilusão ou sonho insubstancial, que por isso é um espaço de criação, alteração e metamorfose, como é particularmente evidente no Livro do Desassossego de Bernardo Soares. O tema tem profundas raízes na tradição literária ocidental, onde é todavia rejeitado pela tradição filosófica dominante, em contraste com várias orientações do pensamento indígena e indiano. Procuramos aqui reler o Livro do Desassossego a esta luz, mostrando as suas afinidades e divergências com uma descoberta da neurociência contemporânea, a possibilidade do sonho lúcido, e com o yoga do sonho, uma prática milenar do budismo indo-tibetano.
Palavras-chave: Sonho lúcido. Yoga do sonho. Ilusão. Fernando Pessoa. Budismo indo-tibetano.
Life as Dream. Rereading the Book of Disquiet in the light of "lucid dreaming" and "dream yoga"
Abstract: One of the most characteristic themes of Fernando Pessoa's work is the experience of life and the world as an illusion or insubstantial dream, being this way a space of creation, alteration and metamorphosis, as is particularly evident in Bernardo Soares' Book of Disquiet. The theme has deep roots in the Western literary tradition, where it is however rejected by the mainstream philosophical tradition, in contrast to several orientations of Indigenous and Indian thought. Here we seek to reread the Book of Disquiet in this light, showing its similarities and differences with a discovery of contemporary neuroscience, the possibility of lucid dreaming, and with the dream yoga, an ancient practice of Indo-Tibetan Buddhism.
Keywords: Lucid Dreaming. Dream Yoga. Illusion. Fernando Pessoa. Indo-tibetan Buddhism.
La vie comme un rêve. Relire le Livre de l'Inquiétude à la lumière du "rêve lucide" et du "yoga du rêve"
Résumé: L"un des thèmes les plus caractéristiques de l"oeuvre de Fernando Pessoa est l"expérience de la vie et du monde en tant qu"illusion ou rêve insondable. C"est pourquoi il s"agit d"un espace de création, de changement et de métamorphose, comme le montre particulièrement le Livre de l"Inquiétude de Bernardo Soares. Le thème a des racines profondes dans la tradition littéraire occidentale, où il est toutefois rejeté par la tradition philosophique dominante, contrairement à plusieurs orientations de la pensée indigène et indienne. Nous essayons ici de relire le Livre de l"Inquiétude sous cet éclairage, en montrant ses affinités et ses désaccords avec une découverte de la neuroscience contemporaine, la possibilité du rêve lucide, et aussi avec le yoga du rêve, une ancienne pratique du bouddhisme indo-tibétain.
Mots-clés: Rêve lucide. Yoga du rêve. Illusion. Fernando Pessoa. Bouddhisme indo-tibétain.
Philosophica, 52, 2018
Resumo Apresentamos a visão budista da origem da doença e do sofrimento na ignorância da saúde o... more Resumo
Apresentamos a visão budista da origem da doença e do sofrimento na ignorância da saúde ou sanidade fundamental do ser e da consciência, bem como a via para a reconhecer e reintegrar, que é o processo de cura. Questionamos o que habitualmente se pensa acerca do lugar do sofrimento no budismo, baseados nos aspectos da experiência budista que mais contrastam com a percepção dominante do que são a realidade e a vida humana. Só não os camuflando se pode compreender a especificidade da via do Buda e das propostas de cura e transcensão da doença e do sofrimento que oferece.
Palavras-chave: budismo, saúde, sofrimento, doença, cura
Abstract
We present the Buddhist view of the origin of disease and suffering in the ignorance of the basic health or sanity of being and awareness, as well as the way to recognize and reintegrate it, which is the healing process. We question what is commonly thought about the place of suffering in Buddhism, based on the aspects of the Buddhist view and experience that most contrast with the dominant perception of what reality and human life are. It’s only by not camouflaging them that one can understand the specificity of the Buddha's path and the proposals for healing and transcending disease and suffering it offers.
Key words: Buddhism, health, suffering, disease, healing
Facultatea de Drept şi Administraţie Publică - Tibiscus - Anale. Seria Drept, 2017
Driven by a common rejection or questioning of self-centered individuation, Fernando Pessoa and E... more Driven by a common rejection or questioning of self-centered individuation, Fernando Pessoa and Emil Cioran live, in a different way, what can be considered the most daring and radical adventure, the test that transcends all the limits of thought, life and existence. They are both writers from the margins of the dominant European culture who are conscious of experiencing the end of the civilizational cycle that define them. The topic of nostalgia or violent saudade due to the unconditioned, sensed and experienced as an irreducible instance to the constitution of the subject in the world is frequently encountered.
Poussés par un rejet commun ou questionnement de l'individuation centrée sur elle-même, Fernando Pessoa et Emil Cioran vivent, de manière différente, ce que l'on peut considérer comme étant l'aventure la plus osée et radicale, l'essai de transcender toutes les limites de la pensée, de la vie et de l'existence. Penseurs et écrivains originaires d'endroits en marge de la culture européenne dominante et profondément conscients de vivre la fin du cycle civilisationnel dont ils proviennent, leur force surgit également de l'élan de libération des idoles de cette même culture et civilisation, des normes que l'on suppose mentalement correctes, sans s'arrêter face aux supposées limites de l'homme et de la réalité, dans une titanesque et iconoclaste hybris de dépassement de tout, du sujet et de soi-même, d'une nostalgie ou saudade violente de l'inconditionné, pressenti et expérimenté comme une instance irréductible à la constitution du sujet dans le monde, au monde qui pour lui se constitue et fonde sans avoir en arrière-plan toute l'expérience possible.
El Azufre Rojo, 2017
Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiraç... more Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de thaumas, o espanto, admiração ou maravilhamento (verbo thaumazein), precisando Aristóteles haver um espanto inicial, comum a todos os humanos. María Zambrano, contudo, considera que, se o “pensamento” tivesse nascido apenas da “admiração”, seria difícil explicar como se plasmou tão rapidamente em “filosofia sistemática” e abstrata, pois essa “admiração” suscitada pela generosidade da “vida” que nos circunda “não permite tão rápido desprendimento das múltiplas maravilhas que a suscitam” e, sendo tão “infinita” e “insaciável” como a própria vida, “não quer decretar a sua própria morte”. Na experiência de Álvaro de Campos não há qualquer pacificação do pasmo ou assombro da consciência pelo conhecimento conceptual e objectivante, pois jamais se dá a violência do distanciamento que María Zambrano vê na origem da filosofia. Pelo contrário, o pensamento, se não deixa de emergir sob o signo da interrogação e da especulação ontológico-metafísica, é sempre conduzido pelo arrebatamento ante a irredutibilidade do “mistério” de “haver ser” que frustra sem apelo esse desejo natural de saber partilhado por todos os humanos, como se consagra na primeira linha da Metafísica de Aristóteles, obra paradigmática da deriva racional e epistemológica da filosofia ocidental.
É a esta luz que nos interessa explorar a relevância da experiência da perplexidade em Ibn ʿArabī, como culminação na consciência do dinamismo automanifestativo da Realidade plena. A perplexidade em Ibn ʿArabī aponta para um regresso ao que María Zambrano considera o arrebatamento extático da experiência antes da violenta separação originadora da filosofia ou dessa filosofia meramente interrogativa e conceptual que define como “um êxtase fracassado por um dilaceramento”. Ibn ʿArabī vai assim no sentido oposto ao da racionalidade ocidental globalmente dominante: não do espanto ou êxtase para a filosofia enquanto teoria racional do mundo, mas desta para o maravilhamento extático da consciência. Na verdade, a ḥayra pode ser vista como afim a esse espanto, admiração, pasmo ou maravilhamento original de uma consciência ainda não cindida da imediata Presença metamórfica dos fenómenos en uma Vida em constante metamorfose. Nesse sentido a ḥayra é afim à experiência poética do mundo, se a virmos não apenas como a que dele têm os poetas humanos, mas antes como a do mundo ser fundamentalmente poesia divina. Ao limite, a fenomenologia da ḥayra pode ser a do vórtice ou vertigem de um Deus que se autodeslumbra a cada instante ao manifestar-se e aparecer de si a si mesmo em modos e formas sempre novos, nessa divina e autopoética imprevisibilidade do Real irredutível a qualquer sistematização religiosa ou teológico-filosófica.
Agalia Publicacom Internacional Da Associacom Galega Da Lingua, 2007
El Pensar Poetico De Fernando Pessoa 2010 Isbn 978 84 92497 56 0 Pags 319 344, 2010
Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies, 2016
BORGES, Paulo, "As coisas são coisas? Alberto Caeiro e o Zen" (2016). Pessoa Plural―A Journal of ... more BORGES, Paulo, "As coisas são coisas? Alberto Caeiro e o Zen" (2016). Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies, No. 9, Spring, pp. 107-127. Brown Digital Repository. Brown University https://doi.org/10.7301/Z0H1307B
Is Part of:
Pessoa Plural―A Journal of Fernando Pessoa Studies, Issue 9
As coisas são coisas? Alberto Caeiro e o Zen
[Are Things Really Things? Alberto Caeiro and Zen]
https://doi.org/10.7301/Z0H1307B
RESUMO
O artigo visa investigar o fundamento e a pertinência das proximidades apontadas entre a poesia de Alberto Caeiro e o budismo Zen por vários intérpretes pessoanos, particularmente a respeito da questão de śūnyatā, a "vacuidade", não-existência intrínseca dos fenómenos ou interdependência universal, cujo reconhecimento na tradição budista se traduz no dinamismo sabedoria-compaixão. Perante a tese caeiriana da existência substancial das "coisas" e a ausência de uma ética da compaixão, cremos haver uma divergência fundamental entre a sua poesia e qualquer forma de visão-experiência budista do mundo, incluindo a Zen. Isto não obsta a que, a um nível formal e mais exterior, sejam compreensíveis várias das afinidades entre Caeiro, o budismo e o Zen apontadas pelos referidos intérpretes.
ABSTRACT
The article aims at investigating the foundation and the relevancy of the closeness pointed out by several interpreters of Fernando Pessoa between Alberto Caeiro's poetry and Zen Buddhism, particularly on what concerns śūnyatā, the "emptiness", the non-intrinsic existence of the phenomena or the universal interdependency, which are recognised by the Buddhist tradition as the wisdom-compassion dynamism. In view of the thesis of Caeiro about the substantial existence of "things" and the absence of an ethics of compassion, we believe that there is a fundamental divergence between his poetry and any form of Buddhist vision or experience of the world, including Zen. This doesn't imply that, at a more formal and outer level, aren't understandable some of the affinities between Caeiro, Buddhism and Zen pointed out by the same interpreters.
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